O parto do Felipe trouxe muitas coisas boas para nossa familia. Temos mais respeito um com o outro, com o jeito que cada um é, com o tempo das coisas. Eu aprendi a confiar mais em Deus. Sempre fui uma pessoa espiritualizada, mas o parto me fez ver na prática como é importante ter fé e acreditar que as coisas vão dar certo. E a gente acaba levando esse aprendizado para a vida, em outros assuntos em ambientes.

VBAC após Versão Cefálica Externa: Nascimento do Felipe

Meu primeiro filho, Theo, nasceu há quatro anos em uma cesárea agendada. Na época eu era acompanhada por uma médica que não tinha quase nada de parto normal no histórico. Eu já tinha tido dois abortos antes do Theo nascer, então estava fragilizada e insegura, confiando 100% no que a médica falava. Só queria que meu filho nascesse.

Tive uma gravidez bem tranquila, mas como o Theo estava sentado, fomos chegando perto da DPP e a médica ficou com medo dele nascer sentado, falou que era muito perigoso. Hoje eu vejo que podia ter esperado, porque o parto não acontece de uma hora para outra e o trabalho de parto é demorado. Mas, naquele momento, fiz o melhor que eu podia fazer.

Theo nasceu em uma cesárea agendada, de 38 para 39 semanas. Foi ótimo, ele mamou bem, eu não senti que talvez isso tenha afetado ele naquele momento, e também não fico me culpando. Mas depois disso comecei a repensar algumas questões, a sentir com meu filho sobre os momentos certos de fazer as coisas, a conviver com mais pessoas que tiveram um parto humanizado, e decidi que na segunda gestação eu queria fazer diferente. Optei por confiar mais no movimento das coisas e na natureza. Acho que a gente foi feita para parir, então dá conta se for bem acompanhada e estiver tudo bem.

Como uma prima minha era paciente da Dra. Andrea, tive essa indicação e a adorei desde a primeira consulta. Aos poucos fomos construindo uma relação e vi que estava no lugar certo. Achei as consultas mais descontraídas, ela faz a gente se sentir tranquila, mostra sempre que está tudo bem, conversa bastante e quer que a gente conheça o máximo possível do assunto. Ela é muito carinhosa, atenciosa, e tem um jeito muito legal de tratar as coisas. Com 3 meses de gravidez eu tive apendicite e a Dra. Andrea foi brilhante e me indicou a melhor pessoa para fazer a cirurgia. Hoje tenho muito carinho por ela.

Ao longo da gravidez eu me preparei para o parto normal buscando informação, vendo vídeos, conversando com amigas e indo a rodas de conversa. Mas não tive muito tempo de frequentá-las porque estava desmamando meu filho, ele até hoje é muito grudado comigo, então para nós foi todo um processo de preparação para a vinda de outra criança.

Meu marido também se preparou. Ele é muito aberto, sempre me apoiou. Assistimos juntos O Renascimento do Parto e pensamos juntos como queríamos que fosse esse momento.
Também fiz um trabalho de me acalmar e não ficar ansiosa, porque acho que o nervosismo é o que mais atrapalha a gestação. O Felipe nasceu com 41 semanas e 4 dias então foi uma espera muito longa que nos trouxe muitos aprendizados sobre confiar na natureza e não querer ter o controle sobre tudo. Ao mesmo tempo, foi um tempo muito importante para eu me fortalecer mais e conseguir abrir espaço dentro de mim para um ser novo que chegaria à nossa família.

Fiz um pouco do trabalho do períneo, mas confesso que não me dediquei muito porque no final da gestação estava cansada, depois do repouso de 40 dias para me recuperar da cirurgia de apendicite senti que meu físico deu uma baqueada. Tive laceração no parto, mas me recuperei bem e acho que na próxima gravidez vou me preparar mais fisicamente.

Eu sinto que eu realmente acreditei que era possível ter um parto normal, e acho que isso serve de incentivo para as pessoas, porque eu tinha passado por uma cesárea 2 anos e meio antes, e Felipe também era um bebê pélvico. Ele estava sentado até a 36a semana, quando fiz a versão cefálica externa. E quando ele virou as sensações foram muito diferentes: eu nao tinha mais azia, ele mexia em lugares diferentes dos que eu estava acostumada a sentir. Não foi tão doloroso quanto eu imaginava e, depois da VCE, ele ficou para baixo e ficou certinho até o momento de nascer.

O parto do Felipe foi muito especial, foi um renascimento para mim. Eu era uma antes dele nascer e me tornei outra, parece que passei por um portal. No nascimento do Theo também mudei, mas esse foi um momento diferente, eu estava mais no controle das coisas, foi do jeito que eu queria e eu me superei muito.

Eu tive muita dor, não estava totalmente entregue, estava nervosa, preocupada se daria tudo certo, tive contrações durante várias noites, mas tudo aconteceu no tempo certo para que a gente trabalhasse o que precisava ser trabalhado.

Com 41 semanas e 2 dias fui ao consultório para a Dra. Andrea colocar um balão cervical. Meu colo estava muito duro e precisava dilatar. O balão foi colocado às duas tarde e o Felipe nasceu ao meio-dia, no dia seguinte. Eu já saí do consultório com muita dor e passei a tarde no chuveiro para aliviar. Umas 7 da noite o balão saiu e eu relaxei um pouco. A dor diminuiu, as contrações ficaram constantes, mas espaçadas.

Eu sabia que a partir dali o trabalho de parto tinha que engrenar, e estávamos com o pensamento de que daria tudo certo. Às 2 da manhã a obstetriz veio à minha casa e viu que meu colo ainda estava duro e tinha dilatado uns 4 centímetros. Ela voltou para casa, a doula decidiu não vir e me falou para dormir um pouco.

Eu queria que ele nascesse logo, tinha outro filho que estava com a minha mãe, ele não estava acostumado a ficar fora, não queria que as coisas se estendessem muito. Então a doula me indicou descansar e, umas 5 da manhã, fazer um shake de óleo de ricino. Segui a recomendação e, umas duas horas depois de tomar o shake, pulei da cama com muita dor. Já sabia que o trabalho de parto tinha engrenado.

Tive um pouco de sangramento, e como era sangue vivo a Dra. Andrea achou que seria melhor ir para o hospital. Fui no carro com meu marido dirigindo e eu berrando de dor.

Cheguei à maternidade de vestido, sem calcinha, pingando sangue. A bolsa estourou no carro. Antes de sair já pedi anestesia, mas depois que entrei no quarto, com a obstetriz e a doula, dei uma relaxada. Eu me senti segura e muito bem assistida. Fiquei no chuveiro, na banheira, me enrolaram o máximo que deu, mas às 10 e meia da manhã eu já não tinha mais forças. Estava sentindo dor desde as 2 da tarde do dia anterior. Então, me deram anestesia.

Eu apaguei por uns 20 minutos porque estava exausta, e a Dra. Andrea falou para o meu marido ir comer alguma coisa.

Passado esse momento, comecei a ter mais contrações. Mas os batimentos do Felipe diminuíram e a Dra. Andrea já chamou uma auxiliar para o caso de precisar ir para a cesárea. Depois do Felipe nascer ela me contou que quando a mulher tem histórico de cesárea e de VCE nem sempre o parto normal dá certo, mas eu estava bem confiante e quase convicta de que teria um parto normal. Isso foi impressionante e me trouxe coisas boas, pois eu consegui me superar, acreditar em mim e descobrir que o meu limite é muito maior do que eu imaginava. Aprendi que o pensamento da gente é a maior ferramenta que a gente tem.

Depois de dormir um pouco, voltei a sentir mais meu corpo e veio a vontade de fazer força. Comecei a ficar desesperada, perguntei se o Felipe estava bem, falei ao meu marido que queria chorar. E, nessa hora, ele foi super importante. Falou “Vai dar tudo certo, se liga no Superior. A gente batalhou tanto e ele está chegando, está bem, com saúde”.

Quando falei à Andrea que queria fazer força, ela me indicou sentar na banqueta. Meu marido ficou atrás de mim me segurando e quando vinha a vontade, eu empurrava. Acho que o momento mais especial foi quando a Dra. Andrea, que estava posicionada na minha frente, falou: “Ele precisa nascer agora, nessa sua respiração”. Ela falou de um jeito, como se a gente fosse para uma cesárea caso o Felipe não nascesse naquela hora. O tom dela, olhando dentro do meu olho, me fez respirar com toda a força que eu tinha no Universo. Eu estava totalmente ligada àquele momento de fazê-lo nascer. E nessa respiração, fazendo força, a cabeça dele saiu. Quando coloquei a mão, não acreditei. O momento em que meu filho saiu inteiro foi muito sagrado. Nós não acreditávamos. Tudo o que queríamos estava acontecendo ali. Felipe veio direto para os meus braços e ali ele ficou.

Depois dessa experiência eu renasci totalmente. Eu não tinha como continuar a mesma pessoa depois de tudo que passei. E fisicamente também mudei, sinto as estruturas diferentes, sinto a força que a gente passa a carregar depois de parir. Depois de vermos uma criança saindo de dentro de nós, passamos a perceber como somos fortes, como aguentamos as coisas.

O parto do Felipe trouxe muitas coisas boas para nossa familia. Temos mais respeito um com o outro, com o jeito que cada um é, com o tempo das coisas. Eu aprendi a confiar mais em Deus. Sempre fui uma pessoa espiritualizada, mas o parto me fez ver na prática como é importante ter fé e acreditar que as coisas vão dar certo. E a gente acaba levando esse aprendizado para a vida, em outros assuntos em ambientes.

Foi bem especial para nós o Felipe ter nascido do jeito que nasceu e ter por perto as pessoas que estiveram lá. Não sei se a Andrea e a Priscila, obstetriz, têm noção disso, mas elas são pessoas que estão gravadas para sempre nos nossos corações. Sempre, na minha vida, eu vou lembrar delas, do que passei com elas e da força que elas me deram.