Minhas amigas ainda me perguntam: “Mas sem anestesia? Dói muito?”. Sim, dói muito. E foi a natureza que criou esta dor e por isso eu me vi totalmente capaz de passar por ela. Foram algumas horinhas de dor e uma recompensa emocional, física, espiritual que agora faz parte da minha vida.
Antes de eu conhecer o que era parto humanizado e sem saber sequer que era possível dar à luz sem intervenções, eu engravidei da minha primeira filha em dezembro de 2012. Uma gravidez linda, fazendo yoga em casa, saudável e feliz. Foi quando tudo se reverteu e, com 28 semanas, meu colo encurtou e ficou com 14mm. Ao mesmo tempo, minha obstetra estava de 38 semanas e saindo de um mês de licença, com a cesárea agendada para dali a dois dias.
A mãe dela, profissional super respeitada, mas “das antigas”, seguiu comigo. Mas, para “não arriscar”, me internou numa semi-intensiva e me manteve de repouso absoluto até nascer. Após quase 3 meses, quando eu estava de 37 semanas e 3 dias minha bolsa rompeu. Corri para o hospital onde minha médica original (a filha) me aguardava. A esta altura eu já tinha feito plano de parto e queria um parto normal bacana, cheio de hormônio do amor.
Mas, ao chegar, já percebi que teria que entrar num embate para que eu conseguisse ter um parto, e não uma cirurgia. Logo de cara já tentaram me colocar no “sorinho” (ocitocina sintética, desnecessária àquela altura, já que minha bolsa tinha acabado de romper). Depois, exame de toque antes mesmo de eu ter a primeira contração. Tiraram o tampão no exame e já foram me alertando que eu não estava dilatando. Mas eu sabia que poderia levar horas até começarem as contrações, e só com elas eu teria dilatação. Lá fomos eu e meu marido brigar para que aguardassem.
Conseguimos ficar sem sofrer pressão por 4 horas, quando dilatei 4 cm. Mas as intervenções continuariam. Eu não podia beber água, meu marido era o único autorizado a entrar na sala – e paramentado – e os médicos começaram a me pressionar para receber anestesia porque “eu não ia aguentar”.
Quando vi, eu tinha dilatado mais 6 cm em apenas 1 hora, chegando à dilatação total. Ao questionar esta dilatação extra rápida, me informaram que haviam colocado ocitocina sintética na analgesia. Sem minha autorização…
Completamente anestesiada e deitada numa posição ginecológica nada favorável ao parto vaginal, eu não conseguia fazer nenhuma força. Assim, um dos médicos empurrava brutalmente minha barriga pra baixo enquanto pedia para meu marido puxar meus joelhos, meus pés, e pedia força. A minha obstetra de frente para o canal do parto chamava a enfermeira toda hora para “higienizar” a área. Após 10 minutos de tentativas, a médica me avisou que usaria o fórceps.
Eu confiava nela, eu estava cansada e me sentindo incapaz, então fui aceitando.
Quando terminou o parto, soube que havia tido episiotomia também sem me avisarem. Depois, ainda me deram ocitocina nasal dizendo que era para estimular a descida do leite.
Todos estes procedimentos acabaram trazendo vários problemas no meu pós-parto. Fiquei com um enorme edema vaginal que levou vários dias para desinchar. Minha barriga ficou toda roxa, cheia de mãos, de tanto que me apertaram. A minha descida do leite me deu febre, baby blues e levei 3 dias de muita dor para estabilizar o leite. Mas após 30 dias meu baby blues não passou e se converteu em depressão pós-parto, e hoje sei que a ocitocina sintética mal utilizada é capaz de gerar isso, além de todos os momentos em que fui fragilizada e me retiraram a capacidade de parir por ser “loirinha, frágil”, por “demorar pra dilatar”, “não ter força pra empurrar”, etc…
Foram uns 3 anos para eu entender toda a confusão deste dia. Demorei para compreender que tudo isso era inabilidade, falta de contato com parto normal. E outras questões também…
Quase 5 anos depois, quando decidi engravidar de novo, resolvi visitar a Casa Moara, que fazia parto humanizado. Dez dias depois da primeira consulta eu estava grávida e começando uma nova jornada cheia de ressignificações que mudariam minha vida para sempre.
Minha segunda gestação também teve algumas “emoções”, mas a minha médica, Dra Andrea Campos, me manteve calma e com repouso leve. Sem neura, sem estresse. Ou talvez, com maior conhecimento e sabedoria.
Foi quando às 36 semanas e 4 dias minha bolsa rompeu na madrugada do dia 28/12/18.
Estava prestes a viver uma experiência totalmente diferente do meu primeiro parto. E eu tanto sabia disso que não fiquei nem ansiosa. Sem perceber, deixei meu marido se arrumar com calma, minha sogra chegou para cuidar da nossa filha mais velha e, conversando e sentindo alguma dor das contrações, cheguei ao hospital com 4 cm de dilatação.
Na sala de parto, a equipe de parto humanizado foi só me orientando como gerenciar a dor. Sem sorinho, sem pressa, sem pressão. Meu marido descalço me dando suporte a cada contração, minha mãe filmando (e chorando! Kkk), minha médica calmamente trabalhando no computador e me vigiando enquanto a obstetriz me orientava a molhar a barriga, respirar, vocalizar, esticar a perna… Tudo isso enquanto me oferecia água, me fazia massagem, me dava a mão, me olhava nos olhos e dizia: “Você está indo muito bem”. Eu via algumas pessoas da equipe passando e a Dra. Andrea vinha me dizer que sabia que estavam fortes as contrações e que isso era um ótimo trabalho de parto: “Logo vai nascer”. E sorria.
Que experiência! A dor literalmente diminuía e eu me sentia cuidada e empoderada ao mesmo tempo.
Não teve pressão, não teve pressa, não teve neura.
Inclusive, mesmo meu bebê sendo prematuro, ninguém me deixou tensa por isso. Quando chegamos à fase expulsiva fomos monitorar o batimento, que estava caindo um pouco nas contrações. A médica disse: “Isso é perfeitamente normal, tá? E mais duas contrações, ele nasce”.
Então sentei no banquinho de cócoras e comecei a fazer força. Mas não me senti confortável. Lembrei da Dra. Andrea me dizendo que eu tinha liberdade pra ficar em qualquer posição, então meu corpo se jogou pra 4 apoios. Já sem dor, senti a cabeça do bebê saindo. Mais uma força e meu pequeno nasceu! Eu quase não acreditei como era possível eu ter conseguido! E aquele choro forte tomando conta da sala encheu meu coração. Fiquei paralisada alguns segundos e, sem eu nem me dar conta, me colocaram deitada com o meu novo amor no meu peito… Não dá nem para explicar a sensação que eu sentia…
Os minutos que se seguiram foram só de boas notícias. Meu períneo estava íntegro, não precisei de pontos. Meu bebê estava prematuro e pequeno, mas saudável e veio direto para o meu peito até sair a placenta. Só 30 minutos depois meu marido cortou o cordão. Depois, fomos juntos para o quarto.
Duas horas depois do parto eu estava tomando banho sozinha, me sentindo ótima. Três dias depois meu leite desceu e, diferente da outra vez, só tive um dia de desconforto, e não 3. Não experimentei baby blues e, mesmo com meus bicos dos seios feridos, amamentar estava delicioso.
Em 7 dias minha barriga já tinha retornado quase totalmente e eu me sentia ótima, cozinhando, cuidando da casa, brincando com a minha filha mais velha. Não tive inchaço, edema, antibiótico, analgésico, anti-inflamatório.
Meu parto humanizado havia ressignificado minha vida. Mudou minha experiência de parir de algo pesado e intenso para algo feminino, forte e livre. Além do fato do meu corpo estar já recuperado, o que tornava muito mais fácil cuidar do meu bebê.
Minhas amigas ainda me perguntam: “Mas sem anestesia? Dói muito?”. Sim, dói muito. E foi a natureza que criou esta dor e por isso eu me vi totalmente capaz de passar por ela. Foram algumas horinhas de dor e uma recompensa emocional, física, espiritual que agora faz parte da minha vida.
Sou eternamente grata às minhas amigas que me indicaram a Dra. Andrea, e ao trabalho desta médica que sabe esperar, ouvir, que confia e respeita.
À minha doce obstetriz, Priscila Raspantini, que te abraça com os olhos.
E à toda casa Moara que faz este lindo trabalho.
Eu, minha família e meu filhinho guardamos vocês nos nossos corações. Para sempre.