Investi muito na minha gestação. Foram vários cursos e muitas horas de pesquisa e dedicação nos encontros gratuitos dos grupos de gestantes semanais na Casa Moara (que recomendo também). Eu fui a protagonista da minha gestação. Não deixei nas mãos de ninguém.

HypnoBirthing: nascimento da Maria Antônia

Por que as estatísticas não funcionam com partos?

Eu tinha muita certeza de que minha gestação passaria fácil das 40 semanas. Eu sou publicitária de formação porém com alma de engenheira, ou seja, adoro números e estatísticas. Pesquisei muito durante toda a gestação e “entrevistei” minha médica várias vezes sobre as milhares de estatísticas do mundo da gravidez. E o fato era: a maioria das mulheres passa de 40 semanas, principalmente na primeira gestação (nos próximos filhos tudo fica muito mais rápido já que o útero cria uma “memória”, foi como me explicaram).

E foi por essa estatística que eu estava muito tranquila na 38º semana de gravidez. Estava até dirigindo de tão segura dos números (antes de você me criticar por eu estar dirigindo com 38 semanas… O que me disseram é que existem 2 perigos de dirigir grávida: um deles é sofrer algum acidente e o air bag disparar, mas considerando o curto trajeto em baixa velocidade da minha casa ao meu trabalho as chances eram muito pequenas, além disso, meu carro é automático; o outro é você entrar em trabalho de parto dirigindo, ou seja, quem vai te acudir? Quem?). A tranquilidade era tanta que o colchão do berço ainda estava no plástico e a mala da maternidade estava “meio” feita (apenas a parte da Maria Antônia), afinal, eu tinha, pelos meus cálculos, ainda pelo menos 2 semanas pela frente.

A minha tranquilidade estava totalmente embasada na preparação que eu fiz durante quase 9 meses (e também nos 12 meses que demorei para conseguir engravidar). Descobri tanta coisa sobre o mundo da gestação, principalmente sobre o mundo do nascimento. Pesquisei tanto que resolvi mudar de obstetra com 24 semanas de gravidez. O papo inicial era que “tentaríamos” (prestem atenção neste verbo que vou explicar melhor adiante) o parto normal, mas que se não desse faríamos cesárea.

Eu me encantei pelo mundo do parto humanizado, principalmente depois de assistir ao documentário O Renascimento do Parto (que recomendo que todas as tentantes e gestantes assistam bem no início da gestação) e de ler uma frase de que “o parto era um processo natural e não um processo cirúrgico” (faz sentido, não faz?! Em só 10% dos casos a cesárea é recomendada). Numa das consultas de pré-natal fiz 2 perguntas decisivas (e que recomendo que todas as gestantes façam a seus obstetras caso queiram ter realmente um parto normal): 1) Qual é sua recomendação caso eu passe das 40 semanas de gestação? E 2) Qual sua estatística de parto cesárea versus parto normal? Surpresa: a resposta foi que depois das 40 semanas ele poderia tentar induzir o parto com medicação, se eu que quisesse, e se demorasse muito, iríamos para a cesárea (“não arrisco minha carreira mesmo com um risco ínfimo de mecônio” foi o que escutei). Daí eu perguntei quantas mulheres passaram das 40 semanas, e fui informada que entre 50-70% das mulheres em primeira gestação passam (se a gravidez não tiver nenhum problema a mulher pode ir acompanhando a evolução da gestação quase que diariamente até completar 42 semanas). Bingo! Tá explicado porque nos sistema privado no Brasil quase 90% dos partos são cesárea! Sobre a segunda pergunta, a estatística dele era de 90% de cesárea. Ele era o médico errado para o meu sonho do parto humanizado (e olha que é um médico particular renomado). Penei para conseguir um novo obstetra (a maioria deles não te aceita depois da 20 semana… é algum código moral deles, acho). Depois de muito pesquisar os profissionais famosos pelo parto humanizado (e chorar com vários relatos de parto), descobri a Dra. Andrea Campos da Casa Moara, que só tinha horário para 2 meses depois do dia da minha ligação (é isso mesmo, tinham muitas “doidas” como eu querendo fazer parto normal), mas com muito jeitinho, consegui ser encaixada em poucas semanas.

Descobri uma coisa, a maioria dos obstetras no Brasil, principalmente os com menos de 50 anos, não sabe mais fazer parto normal porque deixaram de ensinar exaustivamente na faculdade as manobras desta quase “arte do nascimento” (e também porque a cesárea é mais fácil e conveniente). Eu considero perigoso insistir no parto normal com um médico, com menos de 50 anos, que não seja pró-parto-normal. Tem muita lenda nesse assunto. Lendas do tipo que bebê não pode nascer sentado… Sim, existe uma manobra que dá para que o bebê nasça pelo bumbum, você sabia? Porém o médico tem que saber fazer essa manobra. A Dra. Andrea sabia, e o melhor, sabia fazer manobras para virar o bebê antes de tentar um parto com o bebê sentado. Sonho de médica (com apenas 12% de cesáreas no currículo e muitos partos realizados). Felicidade pura: Dra. Andrea me aceitou prontamente como paciente na primeira consulta que tive com ela ?.

E foi a Dra. Andrea que comentou comigo sobre o curso de Hypnobirthing nesta mesma consulta inicial. Pesquisei na internet e encontrei o contato da Lucia e me encaixei na primeira turma que ela tinha livre. Foram 5 segundas-feiras a noite. Adorei o curso. Eu já estava bem segura do parto normal e dos benefícios que ele tinha no curto, médio e longo prazo, mas o curso me ajudou a deixar tudo ainda mais “normal” e natural. Confesso que meu marido se assustou com o nome do curso: “hipnose” é uma palavra com um estigma meio charlatão no Brasil (talvez resquício das aparições televisivas do hipnólogo Fabio Puentes). Não teve hipnose com relógio lá não. O que teve foi muita técnica de desconstrução da semiótica negativa dos termos do parto normal (exemplo: “contração” é chamada de “onda”), de meditação orientada, de mentalização positiva, de técnicas de massagem e relaxamento… e muitos vídeos de parto natural e tranquilo. Lá descobri que “vou tentar parto normal” é diferente de falar “vou fazer parto normal” (a primeira vai acabar na cesárea). Li o livro e escutei o áudio de meditação do Hypnobirthing durante muitas noites antes de dormir. Recomendo. Dica: Leve seu marido com a mente aberta e sem preconceitos que ele vai engajar 100% na onda do parto humanizado.

No dia 30 de julho de 2014, com 38 semanas e 1 dia de gestação, fui trabalhar normalmente. Antes de sair de casa, meu marido, como se estivesse pressentindo algo, perguntou “não quer que eu te leve e busque no trabalho?” e eu respondi “relax, estou super bem pra dirigir… ainda faltam algumas semanas para a Maria Antônia chegar”. Fiz minhas reuniões que tinha cedo e sai pra almoçar com algumas pessoas da minha equipe. Antes de sair para o almoço passei no banheiro. Senti algo estranho… uma cólica forte que parecia ser intestinal. Sentei na privada e nada. Pensei: “será que essa é uma contração de verdade?” Até aquele dia só tinha sentido contrações de treinamento (a barriga ficava dura, mas eu não sentia nenhuma dor). Durante o almoço senti mais 2 contrações e depois voltando para o escritório, senti mais uma contração… Pelas minhas contas elas tinham 10 minutos de intervalo… Será? Será que era o dia da Maria Antônia chegar? Mas eu estava muito tranquila já que (mais) uma estatística dizia que as pessoas ficavam horas em trabalho de parto. Pensei que se aquilo era o início do trabalho de parto, iria demorar ainda horas (a média é de mais de 12 horas) e ela provavelmente nasceria no dia seguinte. Comentei com uma pessoa da minha equipe que estava com contrações e que iria trabalhar de casa a tarde (pedi para ela não fazer alarde). Ela se ofereceu para me levar em casa, mas eu, confiante que ainda faltavam semanas ou que, no pior dos cenários, o trabalho de parto demoraria muitas horas ainda, recusei e fui dirigindo. Liguei para meu marido dizendo que estava sentindo algumas contrações e que estava indo pra casa trabalhar de lá.

No meio do caminho de casa, vieram contrações MUITO fortes. E olha que eu tenho alta resistência a dor. A dor era tão forte que era impossível dirigir. Sorte que eu costumo fazer caminhos alternativos para voltar pra casa. Parei o carro na frente de uma das mansões do Jardim Europa e liguei para meu marido ir me buscar lá. Pedi para ele não correr… Só sei que ele fez o milagre de chegar em menos de 10 minutos lá (risos) e deixou o carro estacionado num lugar proibido (sorte que não foi multado). Devia ser umas 13h30. As contrações já estavam de 6 em 6 minutos nesse momento. Eu estava acompanhando por um aplicativo de celular que eu tinha baixado dias antes. Liguei a Natalia Rea, enfermeira obstétrica que faria parte da minha equipe de parto e disse que teria que furar a consulta de pré-natal com ela naquele mesmo dia as 16h30 já que eu achava que estava em trabalho de parto. Confesso que ela não acreditou muito já que tem muita mulher que sente uma pequena dor e já acha que está em trabalho de parto. O combinado era que ela iria ficar comigo em casa quando as contrações tivessem regulares e de 4 em 4 minutos (para ir para o Hospital apenas quando já estivessem bem na hora do nascimento). Assim que cheguei em casa as contrações já estavam de 4 em 4 minutos. Liguei para ela e pedi para ela ir lá para casa. Mais uma vez, acho que ela não botou muita fé na minha contagem, pediu para falar com meu marido que começou a acompanhar as contrações e confirmou que já estavam quase de 3 em 3 minutos. Ela chegou super rápido em casa. Sorte que ela morava pertinho. A faxineira estava em casa naquela quarta-feira. Tentava ajudar, mas mais atrapalhava que ajudava. Quase cômico.

Depois de um tempo em casa, a Natalia pediu para fazer um exame de toque que constatou que eu já estava com 6 centímetros de dilatação (com 10 cm a Maria Antônia nasceria). Ela disse com toda calma do mundo: “Você é uma parideira, vamos para o hospital” (devo ter puxado a minha avó que teve 12 filhos). Devia ser umas 15h e pouco. Ela foi trocando mensagens com a Dra. Andrea, que parecia também não acreditar num trabalho de parto tão rápido assim, principalmente por ser minha primeira gestação. Na garagem do prédio aconteceu uma cena de filme… Eu gemendo de dor com a cabeça encostada no carro enquanto o vizinho da garagem ao lado, que tinha acabado de estacionar e estava junto com a mãe dele, queria mostrar a foto da filha dele que tinha nascido dias antes. Deu vontade de mandar ele enviar o celular naquele lugar, coitado. As contrações eram muito fortes. Confesso que em alguns momentos no início das contrações pensei… “Dane-se o parto humanizado, eu quero muita anestesia!” Mas por milagre divino, as contrações duravam exatos 60 segundos… Quando eu ia enlouquecer, elas davam uma trégua. A natureza é sábia.

Demoramos mais de 40 minutos para chegar no hospital (em condições normais é cerca de 20 minutos). Estava um mega trânsito na Av. Paulista (sorte que cortamos pela Al. Santos). A Natalia foi no carro com a gente (eu pedi… vai que a Maria Antônia nascia no carro, né?!). Durante todo o trajeto ela apertava o meu quadril para ajudar na dor das contrações. Santa ajuda. Um anjo. Chegamos no hospital Santa Catarina pouco antes das 16h. Logo que chegamos no estacionamento, sentei numa cadeira de rodas e saímos correndo para o centro obstétrico. Foi engraçado ver os seguranças do hospital se falando pelo rádio para agilizar a chamada dos elevadores. E eu gemendo de dor pelos corredores. Todos olhando. Cena de filme. A Dra. Andrea chegou junto com a gente lá no hospital. Não passei por nenhum procedimento regular do hospital, tipo abertura de fichas e afins… Já fomos para a sala de triagem do PS obstétrico. Uma enfermeira de lá fez mais um exame de toque e constatou que eu estava com dilatação total. A Maria Antônia estava pronta para nascer. Nem dava mais para tomar anestesia (apesar de já ter desistido da ideia no meio do caminho, pensei em toda a preparação que eu fiz e em todas as implicações que a anestesia poderia trazer junto com ela). As contrações estavam com menos de 1 minuto de intervalo.

Da triagem fomos direto para a sala de parto humanizado e a Dra. Andrea perguntou se eu queria fazer força. Sinceramente eu não sabia o que queria naquela hora. Daí ela sugeriu que eu fosse para a banqueta de parto. Santa banqueta. A gravidade ajuda muito no nascimento. Meu marido sentou numa poltrona atrás de mim, que estava sentada na banqueta. Dra. Andrea estava sentada no chão, com uns panos embaixo, só esperando a Maria Antônia sair. A Dra. Tiemi Yoshida, pediatra que iria acompanhar o meu parto, chegou uns 15 minutos depois que nós no hospital. Quase que ela não pega o parto. Mais alguns minutos, às 16h23, e 4 “forças” depois, nasceu a Maria Antônia com 47 centímetros e 2,955 kg. E o mais importante, na hora que ela quis nascer (por isso condeno cesáreas eletivas desnecessárias). O parto foi tão tranquilo que ela nem chorou quando nasceu, já foi direto para o meu colo e ficou lá comigo amamentando até a saída da placenta. O papai cortou o cordão umbilical, só depois que ele parou de “bater”. Um sonho. Em pouco mais de 3 horas de trabalho de parto intenso e 100% natural, a Maria Antônia estava ali nos meus braços. O parto foi do jeito que eu queria, só que eu brinco que foi na velocidade 16x do DVD (risos). Foi num ambiente tranquilo a meia luz, com meu marido acompanhando tudo e com a equipe dos sonhos. Foi uma equipe particular, mas que valeu cada centavo. Repetiria tudo novamente.

Investi muito na minha gestação. Foram vários cursos e muitas horas de pesquisa e dedicação nos encontros gratuitos dos grupos de gestantes semanais na Casa Moara (que recomendo também). Eu fui a protagonista da minha gestação. Não deixei nas mãos de ninguém (principalmente de um obstetra que me conduziria para uma cesárea). Estava muito consciente sobre tudo. Acho que foi tudo muito rápido e tranquilo porque eu me preparei muito e não tinha um pingo de medo do parto normal (não usei muito as meditações do Hypnobirthing durante o trabalho de parto, já que ele foi super rápido, mas acho que a “filosofia” dele me ajudou muito a ter um parto rápido e tranquilo). Afinal, como diria o Dr. Jorge Kuhn, “o parto não é um ato cirúrgico, é um ato natural” e deve ser por isso que números e estatísticas não funcionam com ele (risos). ?

Relato de parto escrito por MN, mãe da Maria Antônia, primeira filha. Participou da turma de Preparação para o Parto HypnoBirthing em Maio, o que possibilitou seu rápido parto natural hospitalar, em Julho de 2014.

Publicado originalmente no site HypnoBirthing no Brasil.