O sonho de um parto respeitoso era intenso e latente em nós. Não fui picada, não tive acesso, nada absolutamente nada. Era um parto!!! Apenas um parto.

Nascimento do Kalel por parto natural

Um parto não é apenas um nascimento. Para uma família este é um momento intenso, cheio de emoção, expectativa e sonhos. Para nós esta segunda gestação não era diferente. O sonho de um parto respeitoso era intenso e latente em nós. Sonhávamos com um parto respeitoso, que para nós seria um parto duplo do passado e presente.

Desde o finalzinho da gravidez estávamos em ritmo intenso, nos preparando para a chegada do nosso menino já no carnaval. Eu estaria entre 37 e 38 semanas e meu coração me dizia desde a 20ª semana de gestação que ele chegaria entre dia 24 de fevereiro e 4 de março. Conversei com o André meu esposo sobre isto, a Janie nossa doula. Combinamos com a nossa amiga Jackie que ficaria com a Giulia, caso o Kalel chegasse antes, pois a data prevista era 17 de março. Se minha mãe não conseguisse chegar a tempo a Jackie estaria disposta a nos ajudar.

A chegada do segundo filho é complexa, existe uma demanda, a gente se preocupa com o primeiro filho, já que eles não podem estar com a gente na hora do parto, em um parto hospitalar. Meu parto necessariamente deveria ser num hospital, pois no primeiro parto sofri violência obstétrica e como consequência tive uma hemorragia. Um parto domiciliar seria arriscado.

Tudo organizado com 36 semanas, malas prontas, documentos separados, casa abastecida. Minha mãe chegou para ficar com a Giulia. Conversei com o Kalel “filho está tudo pronto para sua chegada! Pode vir” E o garoto ouviu, rs

Como o meu coração intuía no dia 24/02 acordei com cólicas, dores nas costas. Já tínhamos estudado nos encontros com a Janie (e que aula) toda a fisiologia do trabalho de parto e os processos. Agora eu entendia o que estava acontecendo com meu corpo. Ele foi me dizendo dia a dia que meu bebê estava chegando. Paciência apenas paciência. A cada dia eu avisava a minha médica dra Andrea Campos, Janie e a Priscila (nossa obstetriz Márcia estava viajando e a Priscila ficou em seu lugar) da evolução do processo.

As dores duraram apenas a madrugada do dia 24. Amanheceu e tudo parou. Passamos o carnaval em calmaria. No dia 01/03 as dores voltaram perto da hora do almoço. Como eu tinha consulta as 16h, liguei na Casa Moara, pedi para antecipar a consulta com a dra Andrea. Chegando perto do consultório as dores pararam. Não senti mais nada. Na consulta pouco mais 2cm de dilatação. O corpo trabalhava…fomos fazer alguns exames e depois voltamos para casa. Ainda não era hora.

Às 2h da madrugada as dores voltaram. Agora contrações a cada 12m. Ligamos pra Janie por volta das 5h que preferiu me ver. Impressionante, mas novamente, o trabalho parou. Quando a Janie entrou no quarto, eu ali com a luz baixa, deitada de lado a melhor posição, senti a última contração, meu corpo relaxou, eu dormi. A Janie ficou ali do meu lado por algumas horas. E combinamos de que se voltasse as contrações ela voltaria.

Passamos o dia bem. Eu estava em processo fiquei no quarto o tempo todo, no escuro, deitada de lado. Me alimentei, estava perto da minha família (muito importante). Estava confortável! Minha filhota por ali, percebendo tudo, parece que ela sabia o que estava acontecendo. A noite a Priscila foi me ver por volta das 21h. Verificou como eu estava e como evoluía o trabalho de parto. Neste momento eu estava bem apenas com dores nas costas, porém sem contrações. Quando iniciavam vinham de 10 em 10 minutos (12 em 12) e era necessário que o tempo ficasse menor. Pelo menos, 2 contrações a cada 5 minutos. Eu estava apenas com 4 cm e meio de dilatação e teria que aguardar ritmar as contrações. A Priscila voltou para casa. No segundo bebê este tempo pode ser de horas ou dias. Não tem como saber, apenas respeitar o corpo, a decisão do bebê e esperar o tempo certo. Era o que estávamos fazendo, com muita paciência e segurança na nossa equipe que era maravilhosa e estava atenta.

Por volta das 22h30 as contrações voltaram, minha filha e minha mãe dormiam. A casa em silêncio. Estávamos no quarto, o André começou anotar as contrações, o tempo e duração. Na hora o cansaço e com a dor a gente sai do ar e começamos a entrar na Partolândia. Esta conexão com nosso corpo, com o bebê é importante. Eu sabia que a dor neste momento era necessária e que a cada contração o Kalel estava mais perto. Por volta das 2h da manhã as dores mudaram. Eu senti uma vontade imensa de urinar e não conseguia. Entrei no chuveiro enquanto o André ligou pra Priscila. As dores neste momento mudaram. Ficaram mais intensas. No chuveiro as contrações vinham a cada 3 minutos. A Priscila chegou rápido em casa. Fez o toque eu estava com 7 e meio de dilatação. Era hora de ir para o hospital. Pegamos as malas, acordei minha mãe, que me abençoou antes de sairmos. O trajeto no carro foi o pior momento, as dores intensificaram e as contrações vinham de minuto a minuto. Não tinha uma posição que aliviasse eu apenas desejava chegar logo no hospital.

Ao chegar no hospital as dores pararam, eu não sentia mais nada. Encontramos a Janie e a Lela nossa amiga e fotografa na entrada do Samaritano. Chegamos juntos a entrada foi rápida. Logo fui para o consultório, para os primeiros procedimentos, a Dra Andrea chegou neste momento, me examinou e dilatação total, bebê bem posicionado, verificaram os batimentos do bebê. Tudo perfeito!!! Hora de correr para o cento cirúrgico, onde ocorreria o meu parto, pois o Hospital Samaritano não possui uma sala de parto.

Esperei todos chegarem a equipe chegou primeiro. O André em seguida. A dra Andrea me perguntou se eu sentia vontade de fazer força, mas eu estava tranquila. Apenas sentia uma onda que vinha na minha barriga. Quando as ondas vinham eu fazia força. Na segunda vez a bolsa estourou. A Janie foi muito importante neste momento, ao meu lado sussurrava no meu ouvido, que eu iria conseguir, que meu bebê estava chegando. Me deu água, secou meu suor, usou o leque para abanar, segurou minha mão. Colocou uma música suave e um perfume que me lembro que quando senti a sala toda tinha aquele cheiro. Eu ouvia as vozes de longe, eu estava conectada com o Kalel, com Deus, estava totalmente na Partolândia. Fechei os olhos e a cada vez que sentia a hora exata de fazer força eu sentia meu bebê descendo e chegando. Até ouvir a voz da dra Andrea dizendo que o bebê estava coroando, e mais uma força o Kalel chegou.

Foi o melhor momento de todo este processo. Peguei meu bebê no colo. Um choro de alívio e dever cumprido. Meu filho estava ali, nos meus braços, saudável, bem. Toda a equipe em silêncio contemplando este momento. Eu e o André nos abraçamos com nosso filho. Choramos juntos. André cortou o cordão umbilical quando parou de pulsar totalmente. Nascemos no parto da Giulia e Renascemos no parto do Kalel.

Todo o procedimento feito em nosso filho foi enquanto eu amamentava. Ele ficou no meu peito mais de 1 hora mamando, me olhando. Olhando o pai. Fizemos apenas os procedimentos necessários, pesar, medir, André acompanhou o bebê o tempo todo, ele ficou com o pai e foram para o quarto. Eu cheguei logo em seguida. Não fui picada, não tive acesso, nada absolutamente nada. Era um parto!!! Apenas um parto.

O André foi buscar nossa filha Giulia e minha mãe para conhecerem o Kalel. A alegria da Giulia ao conhecer o irmão foi incrível e emocionante. Ter meus dois bebês no meu colo, me senti realizada. A vovó babando no primeiro netinho, depois de duas netas. Nosso bebê tomou banho apenas no dia seguinte, no balde. Nós demos o banho com a nossa pediatra dra Ana Paula e a Giulia ajudando cuidando do bebê. Escolhemos junto com ela o que era realmente necessário para o nosso filho. Era um momento nosso, da nossa família. As vacinas foram dadas com o bebê no meu colo, amamentei em seguida. Fomos muito respeitados e cuidados. Ficamos no hospital apenas 48h para descansar e voltamos pra casa com nossos pequenos. De volta à vida!!!

Fonte: Texto publicado no site www.relatosdeparto.com