Eu tinha muito medo da dor do parto mas tinha total ciência que o parto normal, se possível, seria a melhor opção para nos 3. Por isso, durante a gestação, me preparei psicológica e fisicamente para isso. Me informei através do youtube, vi documentários (a trilogia o renascimento do parto é mandatório para quem quer se informar!), li livros, escutei relatos, e, claro, escolhi a minha equipe com muito cuidado. Não tenho palavras pra agradecer o apoio que recebi da equipe maravilhosa que permitiu que a chegada deles se desse de uma forma respeitosa e tranquila como deveria sempre ser…
Parto normal de gêmeos: Nascimento da Celeste e do Martin
Minha gestação foi muito tranquila. Exceto pelas dores no púbis e lombar, e o incomodo do peso da barriga, estava me sentindo bem. Engordei apenas 13 quilos e todos os exames estavam ótimos. Crianças cefálicas e ganhando peso a cada semana. Ou seja, não havia nada que indicasse que um parto normal não seria possível. Então, quando completei 36 semanas, Dra. Andrea começou um trabalho de preparar o colo do útero. Segundo ela, o termo para gestação gemelar é de 37 semanas mas que ela esperaria até 39 semanas para os bebês nascerem espontaneamente. Então comecei a fazer acupuntura e tomar óleo de prímula. Só não consegui comer as tais 6 tâmaras por dia porque era muito doce e me enjoava. Além disso, Dra. Andrea fez massagem no colo do meu útero. Eu não tinha nenhuma dilatação até então, e na semana seguinte já estava com 2 para 3 centímetros.
Quando estava com 38 semanas de gestação, a Dra. Andrea falou: “Agora que você está com 4 para 5 de dilatação e já está perto do prazo, vamos focar em induzir o trabalho de parto. Se a gente conseguir, ótimo. Se não, com 38 semanas+6 (domingo 13 de outubro), a gente interna para induzir o parto com ocitocina sintética”.
O plano era eu ir ao consultório dela dia sim, dia não, para fazer massagem no colo do útero e descolar membrana, e seguir fazendo acupuntura. E assim foi… Meu colo já estava 50% apagado, e segundo a Dra. Andrea já estava bem preparado.
Na sexta-feira (11 de outubro), fui novamente no consultório de Dra Andrea, mas nos desencontramos porque ela havia ido acompanhar um parto. Ela até me sugeriu ir até o hospital onde ela estava, mas eu não quis ir. Já estava cansada e falei: “prefiro ir pra casa, estou fazendo tudo isso e até agora nada aconteceu, então vou descansar e nos encontramos domingo no hospital”.
Nós havíamos combinado que, caso nada acontecesse, no sábado eu tomaria o shake de óleo de rícino, que as pessoas tomavam antigamente quando queriam induzir. O problema é que, além de induzir, pode dar enjoo e dor de barriga. Pensei direitinho e falei pra Dra Andrea: “como eu já tenho estômago sensível, acho melhor não tomar não. Não acho uma boa ideia correr o risco de entrar em trabalho de parto com diarreia e vomitando. Nos vemos no domingo no Einstein”.
A essa altura do campeonato eu achava que não ia entrar em trabalho de parto e teríamos de induzir, batia uma frustraçãozinha por não esperar eles decidirem a hora de nascer mas preferia não correr riscos em arrastar uma gestação gemelar e no fundo estava aliviada que a gravidez estava chegando ao fim e com ela seus incômodos e barrigão. Também estava feliz de carrega-los por tanto tempo e afastar o fantasma do “bebes prematuros na UTI”. Eu queria muito que fossemos todos juntos para o quarto depois do parto.
Na sexta à noite, eu e meu marido fizemos planos pro sábado: lavar o carro, fazer compras no mercado, instalar as cadeirinhas e ter uma boa noite de sono para estar domingo cedinho no hospital. Era lua cheia e os bebês mexiam muito. A família toda hora perguntava “Cadê?” E nada. No sábado, 12 de outubro, era aniversário da minha irmã Jackeline, e estava aquela farra: todo mundo falando que ia nascer. Haviam feito uma brincadeira para ver quem acertava a data do nascimento e quase todo mundo havia perdido pois ninguém acreditava que a gravidez chegaria tão longe.
Tive um pouco de cólica durante a noite mas não dei muita importância pois já havia sentido isso antes. Por volta das 7 da manhã do sábado eu levantei para fazer xixi, me enxuguei e continuou derramando. Enxuguei, enxuguei e nada. Não parava de derramar, não tinha cheiro de xixi e era transparente. Aí acordei meu marido: “estourou a bolsa!”, eu disse. Ele levantou assustado, mas feliz porque os bebês iam nascer.
Mandei mensagem no grupo de WhatsApp da equipe do parto formado por Dra Andrea, fisioterapeutas, obstetriz e pediatra, e Dra Andrea falou para acompanharmos as contrações. Explicou que após 18 horas de bolsa rota tinha risco mínimo de infecção, então se nada acontecesse em 12 horas nós conversaríamos sobre o que poderíamos fazer, mas que era para eu relaxar, comer, e marcar as contrações.
Tive que colocar uma toalha no meio das pernas pois a sensação que eu tinha era que estava com um saco furado na barriga e de vez em quando alguém apertava. Era contração. Eu não sentia dor, mas a barriga ficava dura, o útero contraía e a água escorria.
Ficamos em casa e aos poucos a coliquinha foi ficando mais forte e virando dorzinha e fui sentindo as contrações. Avisei que estava em trabalho de parto à minha irmã Maria e ela apareceu em casa com uma malinha bem providencial com suquinhos e lanches pra gente levar pro hospital. Todos os planos do sábado foram por água abaixo, a gente não tinha nada na cozinha e meu marido foi a um mercadinho perto de casa comprar algo pra preparar o almoço e a gente comer. Por volta das 4 horas da tarde a dor começou a me incomodar. Vi que o negócio era real, estava acontecendo. Falei com a minha médica e ela disse que se não engrenasse até as 19h, Priscila, a obstetriz, viria me examinar, para ver se estaria na hora de ir para o hospital. Falei “quer saber? eu quero ir para o hospital logo”, o Einstein é longe de casa e eu tinha muito medo de sair com uma dor muito incômoda e sofrer no caminho. Além do mais, já estava de saco cheio de passar o dia todo em casa , então quis tomar um banho e ir para o hospital.
Cheguei lá por volta das 18h, Priscila já estava me esperando e fez um exame de toque e eu continuava com 4 centímetros. As contrações aumentavam, mas as dilatações não. Aí chegou a Alessandra, a fisioterapeuta. Eu não contratei doula, preferi contratar Ale e Thalita (que ficou dando aquele apoio virtual via telefone pois estava com conjuntivite), fisioterapeutas que estavam me acompanhando durante a gestação com sessões de fortalecimento do assoalho pélvico, acupuntura, drenagem e fisioterapia para as dores da lombar e púbis. Ale fez aromaterapia, acendeu velas, deixou o quarto à meia luz… Meu marido colocou música, E esses “mimos” fizeram toda a diferença para o meu conforto.
Não tive fotógrafa, porque não queria muita gente na sala de parto, mas meu marido e irmã tiraram umas fotos e foi bem bom para eu ver depois a coisa toda por outro ponto de vista.
Alê começou a fazer massagem em mim e depois fomos para a bola. Também dei umas caminhadas pelo corredor do hospital. Aí, por volta das 20h, comecei a ficar muito dolorida e pedi a banheira. Demorou uns 40 minutos para encher e eu já estava bem dolorida. Quando fui pra água foi maravilhoso, fiquei um tempão na banheira, as contrações vinham de 3 em 3 minutos e eu estava aguentando bem na água. Depois de um tempo já não estava tão confortável, começou a me incomodar ficar ali e pedi pra chamarem o anestesia. A Dra. Andrea já tinha chegado, ficou conversando comigo.
A anestesia foi um momento muito esquisito pra mim. Dr. Carlos mandou virar de costas e falou para eu não me mexer. Que iria sentir um choquinho, mas não era pra mexer. Ele fez tudo muito rápido, o que foi ótimo, porém eu fiquei meio nervosa, assustada, me deu uns calafrios, uma angústia e eu tive vontade de chorar. E depois pronto, passou. As dores passaram, eu fiquei deitada descansando por uns 10 minutos, eu acho.
Aí a Alê me chamou e falou pra eu quicar na bola, rebolar, fazer agachamento e outros exercícios. Nunca fiz tanto exercício na minha vida. Daí em diante o tempo passou muito rápido. De meia noite até as 3 da manhã passou num piscar de olhos. Dra. Andrea fez novo exame de toque e eu estava com 7 cm de dilatação. Dr. Carlos pediu pra eu avisar quando começasse a sentir as contrações para ele reaplicar pois demora uns 10 minutos para a anestesia fazer efeito de novo. E deu certinho: eu avisava para ele, e ele aplicava mais e eu não senti dor.
Não muito tempo depois, Dra. Andrea fez outro exame de toque e falou que eu estava com 9,5 cm. Havia evoluído muito rápido! Ela perguntou se eu não estava sentindo vontade de fazer força, mas eu não estava! Sentei na banqueta e comecei a fazer força, aí começou a passar a anestesia e pedi mais. O anestesista falou que se eu tomasse mais teria que parir na cama, e falei que tudo bem. Como eu não estava sentindo dor, não tinha posição melhor ou pior.
Importante destacar que as crianças e eu estávamos o tempo todo monitoradas e estava tudo bem, sempre. Minha irmã e meu marido todo o tempo comigo também me passava muita calma e segurança.
Através do cardiotoco, Dra Andrea e Priscila viam as contrações, me avisavam e eu empurrava. Priscila disse que o expulsivo demora em média 1h30 mas foram mais ou menos 3 puxos até Celeste nascer. Eu fiz toda a força que eu tinha, e logo no primeiro puxo Celeste coroou. A Dra. Andrea disse: “Não acredito! Não para, não. Incrível como ela já está coroando”. Falou para eu colocar a mão, eu senti a cabeça e, dois puxos a mais e nasceu Celeste, às 4h da manhã.
Celeste foi colocada em cima de mim mas como o cordão estava meio curto ficou na minha barriga até que o cordão parou de pulsar e meu marido o cortou. Daí ela veio pro meu peito. Nessa hora parou tudo. Eu fiquei com ela no peito e perdi o foco no parto. Então lembro do meu marido pegando ela e fazendo pele a pele, enquanto eu voltava minha atenção para o parto para Martin nascer.
Dra. Andrea fez um ultrassom, conferiu que ele continuava cefálico e perguntou se podia estourar a bolsa. Falei que sim, e ela disse para fazer força. Aí foi rapidinho: semelhante a Celeste, com mais ou menos 3 puxos, Martin nasceu! Pra mim foi muito rápido, mas os dois nasceram com um intervalo de exatos 35 minutos.
Quando o cordão dele parou de pulsar eu mesma cortei já que meu marido estava com Celeste no colo. Ele veio para o meu peito e fizemos pele a pele. Na sequência nasceram as duas placentas inteiras e agarradas, parecia um morcego.
Martin nasceu com 2,800kg e Celeste com 2,500 kg. Ela tinha a boquinha muito miudinha, não conseguia abocanhar o mamilo e de cara machucou o meu seio. Foi bem sofrido amamentar nesse início.
Dra Andrea comentou que tive laceração grau 1 e que por isso não foi necessário levar ponto. A enfermeira comentou que iria sentir um incomodo como um ardor quando fosse ao banheiro mas não senti nem isso. Apenas fiquei sensível e inchada o que passou depois de compressa de gelo no primeiro dia. Estava me sentindo muito bem. Só estava cansada e com dor no corpo depois de tantos exercícios. Tenho certeza que se manter ativa durante a gestação e fazer exercícios pro assoalho pélvico foram essenciais para minha quase zero laceração.
Eu tinha muito medo da dor do parto mas tinha total ciência que o parto normal, se possível, seria a melhor opção para nos 3. Por isso, durante a gestação, me preparei psicológica e fisicamente para isso. Me informei através do youtube, vi documentários (a trilogia o renascimento do parto é mandatório para quem quer se informar!), li livros, escutei relatos, e, claro, escolhi a minha equipe com muito cuidado. Não tenho palavras pra agradecer o apoio que recebi da equipe maravilhosa que permitiu que a chegada deles se desse de uma forma respeitosa e tranquila como deveria sempre ser…