Quando percebi, estava no centro de uma sala com uma equipe incrível, toda formada por mulheres. As pessoas que eu tinha escolhido com tanto carinho para aquele momento estavam lá se preocupando em fazer o parto mais lindo que poderia existir, sempre me perguntando se eu me sentia bem e se queria algo diferente, afinal, eu era a protagonista ali naquele momento.

Relato de cesárea humanizada e necessária: Nascimento do João Pedro

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Foto: Kátia Ribeiro

Um ano após nossa mudança para São Paulo resolvemos que era o momento de começarmos a tentar engravidar. Nunca me envolvi muito no tema maternidade, parto, etc. Porém, sabia que havia algo de errado com uma taxa de cesáreas tão alta no Brasil e sempre achei que o mais natural era buscar por um parto normal. Pedimos referências a conhecidos e, assim, chegamos até a Casa Moara. Quase um ano após o início das tentativas, eu estava grávida em dezembro de 2018!

Logo na primeira consulta ainda antes da gravidez, a Dra. Andrea havia me indicado assistir O Renascimento do Parto e eu já estava completamente imersa no mundo do parto humanizado. Tivemos uma gravidez tranquila e, juntos, eu e meu marido, mergulharmos em leituras, documentários, cursos e conversas sobre parto humanizado, e nos sentíamos protagonistas de todo o processo com muita informação.

Tive a felicidade de me cercar de uma rede de apoio incrível: obstetra, obstetriz, Doula e minha família.
A Dra. Andrea, a cada consulta, nos guiava na jornada da gestação com muita informação e serenidade, para que pudéssemos participar ativamente de cada decisão. Cadu sempre ao meu lado, em todos os exames e consultas.

No início do terceiro trimestre, porém, percebemos que João Pedro teria um desafio pela frente: as semanas passavam e nada dele virar. Estava lá, sentadinho todo empacotado na minha barriga. Nesse momento, após meses me preparando para o “parto ideal” natural comecei a enfrentar a possível frustração de não termos o nascimento do João Pedro conforme meu grande desejo àquela altura.

Após muitas conversas com a Dra. Andrea, decidimos tentar a VCE (versão cefálica externa). Fizemos uma primeira tentativa no consultório, sem sucesso. Partimos para uma segunda tentativa no hospital, ainda sem anestesia. Acredito ter sido a maior dor que já senti na vida, porém, queria me manter firme, pois era nossa chance de seguirmos para o tão desejado parto normal. Mas João Pedro também não virou.

Mais uma vez conversamos muito e, juntos, eu, meu marido e a Dra. Andrea decidimos que iríamos fazer uma última tentativa com anestesia e, caso JP ainda não virasse, aguardaríamos o trabalho de parto para, tudo fluindo bem, tentar um parto pélvico ou, se necessário, uma cesárea intraparto.

A essa altura eu já estava trabalhando minha cabeça e minhas energias para uma possível cesárea e, nesse ponto, o acompanhamento semanal com a Doula me ajudou muito.

Na 38ª semana minha mãe chegou para ficar comigo, eu me afastei do trabalho e seguimos para a VCE no Einstein. Toda a equipe reunida, anestesia feita e muito esforço para virar o pequeno João Pedro. Após 4 tentativas a Dra. Andrea me olhou de uma maneira muito doce e disse que não tentaria mais. Naquele momento eu fiquei serena, porém, depositei minhas últimas energias num possível parto pélvico, que ainda seria possível.

Meu marido e a Dra. Andrea respeitaram minha vontade em querer entrar em trabalho de parto. Mesmo se tivéssemos que fazer uma cesárea, eu queria muito que o João Pedro escolhesse o melhor momento para vir ao mundo.

Com 39 semanas e 5 dias fui fazer a ultra de rotina e identificamos uma pequena redução no líquido amniótico. Nesse mesmo dia fomos ao consultório da Dra. Andrea à tarde e, pela segunda vez, eu estava com a pressão aumentada (14×9).

Conversamos muito no consultório: eu, Cadu, Dra. Andrea e minha mãe. Desde o início eu dizia que, tendo uma equipe na qual eu confiava 100%, entenderia que, se tivéssemos que seguir para uma cesárea era porque realmente seria o mais seguro e eu precisava confiar.

Porém, quando saí do consultório naquele dia com a cesárea marcada para o dia seguinte às 8h, confesso que tive uma das tardes mais difíceis de toda aquela jornada. Aceitar que tudo o que foi idealizado não seria realizado foi muito difícil. Aqui, tive a minha primeira grande lição da maternidade!

De uma maneira muito sábia minha mãe me disse: “minha filha, sei que passou esses 9 meses planejando como seria seu parto natural, porém, nem sempre as coisas saem como gostaríamos. Por que você não usa um tempinho agora e replaneja o seu dia amanhã e a chegada do JP? Como você gostaria que fosse o seu dia ideal pra chegada do João Pedro?”.

Essa fala da minha mãe me resgatou. Reuni todas as minhas forças e pensei em como realizar o parto mais lindo possível. Afinal, apesar de saber que minha dor era legítima, eu tinha um bebê lindo e super saudável que chegaria em breve em meus braços e esse deveria ser um momento mágico!

Assim fizemos: às 4h da manhã a Doula e a fotógrafa chegaram na minha casa. Uma madrugada serena. Nos preparamos, registramos os últimos momentos do JP na barriga, fizemos uma sessão de massagem e meditação linda no quartinho do João e partimos todos juntos para o hospital. Ao chegar no hospital, meu marido colocou a trilha sonora que preparamos com tanto carinho para o parto e ela só foi parar de tocar quando deixamos o centro cirúrgico.

Quando percebi, estava no centro de uma sala com uma equipe incrível, toda formada por mulheres. As pessoas que eu tinha escolhido com tanto carinho para aquele momento estavam lá se preocupando em fazer o parto mais lindo que poderia existir, sempre me perguntando se eu me sentia bem e se queria algo diferente, afinal, eu era a protagonista ali naquele momento.

amamentação
Foto: Kátia Ribeiro

Às 9h47 do dia 20 de agosto João Pedro nasceu e veio direto para o meu peito, pele a pele desde o primeiro minuto. Me lembro até agora as palavras que disse no momento que ele estava chegando, me lembro da música que estava tocando e me lembro de olhar para o meu marido e dizer: “olha, amor, ele tem a sua boquinha”. Foi o momento mais lindo da minha vida… Tudo registrado, cercado por pessoas incríveis, por profissionais competentes, sensíveis e empáticos que conduziram todo aquele momento com serenidade e plenitude e, acima de tudo, com muito respeito.

As fotos falam por si. Assim, eu passei pelo portal da maternidade já aprendendo que não teremos nunca o controle do que irá acontecer ao longo dessa jornada mas sabendo que temos que nos preparar sempre da melhor maneira para enfrentar cada desafio que virá.

Agradeço ao meu marido por ser o melhor parceiro que eu poderia ter escolhido para viver tudo isso.

E que você seja muito feliz em sua jornada, João Pedro. Estarei sempre ao seu lado e você poderá segurar em minha mão toda vez que precisar.