De repente a Dra. diz: “Coloca a mão aqui… Sente o cabelinho dela!” Daí pra frente foi muita emoção, como chorei!

Mesmo levemente anestesiada senti o círculo de fogo, senti a passagem do meu bem mais precioso (escrevo essa parte derramando lágrimas). Foi sem dúvidas o momento mais emocionante da minha vida.

Relato de parto normal de cócoras: Nascimento da Sophia

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Foto: Luana Saliba

Minhas amigas diziam para eu parar de usar o anticoncepcional, pois segundo elas, tardaria cerca de 6 meses para “limpar” o organismo. Decidi parar de usar o Nuvaring sem contar para o meu marido, para não gerar ansiedade, visto que ele queria muito ser pai.

No mês seguinte já estava grávida.

E para contar pra ele? Fiz 2 testes de farmácia, esperei ele chegar do trabalho em uma sexta-feira à tarde. Depois dos 2 testes eu ainda não tinha tanta certeza então pedi para não celebrarmos tanto. Mas foi pura emoção. Vi nos olhos do meu marido a realização de um sonho. No sábado de manhã estávamos na clínica fazendo um exame de sangue e confirmando a gestação.

Foram 40 semanas de gestação muito tranquilas (Sophia nasceu de 40+1). Do segundo para o terceiro mês alguns enjôos e muito sono, a partir do 5º mês o cansaço, na reta final muita azia e 17kg a mais, com uma boa retenção de líquido. No entanto, nada a reclamar… Não trabalhei na gestação, apenas segui com o curso de mestrado. Nenhum estresse emocional, apenas uma mudança de cidade no 4º mês. Minha pequena crescia no seu ritmo, hora com percentil dentro da curva, hora mais baixo…

Fiz fisioterapia de períneo, aluguei o epi-no (cheguei a 25cm com ele!), assisti a 10 encontros de gestante, usei o app GentleBirth por muitas e muitas noites, fiz curso de meditação, acupuntura, drenagem, yoga, pilates e caminhadas de 5km com o cachorro. Assisti filmes e li livros sobre o parto. Rezei. Preparei meu corpo, mente e alma para o parto que eu queria.

Na segunda, 27/05, fomos ao hospital pois eu havia detectado uma pressão pré-alta. Levamos as malas para o carro com receio que o parto acontecesse naquela noite. Mas foi alarme falso. Exames protocolares demoraram uma eternidade, mas fui liberada para ir pra casa, pois o medidor de pressão do hospital não apresentou grandes variações. Ufa! Casa e cama quentinha.

Quinta-feira, 30/5, quando completei 40 semanas, a Dra. Andrea pediu para eu ir ao consultório fazer uma massagem no colo do útero (era a terceira massagem). No fim da consulta medimos a pressão e a pré-alta apareceu novamente. Como o último ultrassom indicava que a Sophia não tinha crescido na última semana, percentil 7, e ainda as dúvidas sobre a pressão… Decidimos internar naquele mesmo dia.

Quando a Dra. sugeriu a internação foi um grande susto, porque por mais que as malas já estivessem no carro há dias, tinha me preparado para internar somente de sexta-feira em diante. Incrível como antecipar apenas 1 dia mexeu tanto comigo. Naquela altura eu estava fazendo um exame de proteína na urina por 24 horas e estava andando para todo lado com um galão laranja de 1 litro de xixi dentro de uma sacola de papel da Gucci, para disfarçar… kkkkkk

Esperei meu marido me buscar na Casa Moara, passamos no shopping para buscar minha aliança que estava em manutenção, jantamos em um restaurante ao lado de casa (nosso último jantar a dois), fomos pra casa buscar o cachorro e levar até a casa da minha mãe, e só então partimos para a maternidade.

Demos entrada às 2h da manhã. No exame de toque eu já estava com 5 cm de dilatação e sem dor. A Dra. sugeriu um comprimido de prostaglandina. Às 3h30 da manhã eu já estava ligando para a doula com contrações ritmadas de 1 minuto de dor para 3 minutos sem dor, mal consegui falar com a obstetriz. Cheguei na sala de parto às 4 da manhã já zonza de dor. A enfermeira quase me matou fazendo um exame de toque, o pior e mais dolorido até então. Que mulher má! Nunca vou me esquecer…

Me colocaram no chuveiro, na bola de pilates. Senti que perdi um pouco os sentidos e a partir desse momento lembro de tudo em flashes. Lembro que a primeira pessoa da equipe a chegar foi a Dra. Andrea, serena e sorridente. Vê-la naquele instante me tranquilizou demais… Pensei: ufa, ela não teve outro parto, é toda minha! Graças a Deus.

A Pri, obstetriz, estava em outro parto e a Márcia a substituiu. Nunca liguei para a Márcia para agradecê-la, que mulher maravilhosa, me abraçou, me tranquilizou de tal maneira… Sou muito grata a ela. Um anjo!

Na sequência chegou minha doula Gio e me lembro bem da minha reação: “Que bom que você veio!”… Já chorando horrores.

Mas voltando à parte da dor… Nossa, que dor! Quando me perguntam sobre a intensidade, costumo comparar a um corpo em chamas, mesmo sem ter sido queimada na vida! É forte demais. No meu caso, as contrações vinham com uma intensidade tão grande que eu não conseguia me concentrar para tentar a meditação. Só pensava: “Vai se ferrar, gentle birth”.

Na piscina sentia que a água quente me ajudava muito, mas eu queria mesmo era me afundar na piscina para fazer a dor passar… Rezei para todos os santos, chamei Nossa Senhora, minha mãe, olhei fixamente nos olhos do meu marido para que ele me ajudasse, pedi a Deus, acho até que briguei com Ele ali. Implorei por analgesia. Gritava para a Dra. Andrea me escutar e me tirar daquela situação. A vi chamar a anestesista, que na minha cabeça demorou umas 5 horas para chegar… Achei mesmo que ia morrer ali. Achei que ia partir ao meio. E me lembro de dizer à Dra: Não é essa lembrança que quero ter do meu parto, por favor, preciso da analgesia.

Quando a Márcia anestesista chegou, eu queria xingá-la. Puxa vida, que demora!

Saí da piscina e recebi a anestesia na cama. Nossa, que coisa maravilhosa! Por que não me deram aquele alívio antes? Me questiono até hoje sobre isso! Acho que fiquei realmente ressentida.

Após a anestesia a Dra. Andrea constatou os 9 cm de dilatação! Quase pari naturalmente. Quem sabe o segundo filho, né?

Cochilei por cerca de 10 minutos depois da anestesia e acordei “NOVA”, zerada, como se diz em SP! Estava pronta pra ir para a balada (mesmo que isso não fizesse parte da minha vida há anos). Mas lembrei que ainda faltava algo, ainda não tinha conhecido a Sophia. Vi todos sentados no sofá e disse: “Vamos pessoal, quero parir hoje!”. Ouvi gargalhadas.

Consegui ficar em pé e me movimentar sozinha. Pedi para meu marido ligar para a minha mãe e, incluí: “São 8 da manhã, pede pra ela não esquecer de colocar comida para o meu cachorro”. Ouvi risos. Optei por tentar a posição de cócoras pois tinha lido que era uma das posições que diminuíam o risco de laceração. Agachei 2 vezes segurando na cama, com meu marido ali me dando apoio (logo mais virá um parágrafo dedicado a ele). No terceiro agachamento senti o “puxo”, minha barriga se retorceu e veio uma enorme vontade de fazer força. A Dra. Andrea estava sentada embaixo da cama, de frente pra mim e na posição para agarrar a Sophia.

De repente a Dra. diz: “Coloca a mão aqui… Sente o cabelinho dela!” Daí pra frente foi muita emoção, como chorei!

Mesmo levemente anestesiada senti o círculo de fogo, senti a passagem do meu bem mais precioso (escrevo essa parte derramando lágrimas). Foi sem dúvidas o momento mais emocionante da minha vida.

A Dra. a pegou nos braços por 2 segundos, virou pra lá e pra cá para ver se estava tudo bem e a colocou nos meus braços. Sophia nasceu com olhões arregalados e deu um grito forte de choro. Naquele momento minha vida fez sentido. O mundo girou devagar… As pessoas ficaram desfocadas e eu só via a minha menina… Linda, linda!

Eram 8:52 da manhã quando ela nasceu e eu renasci. Fiz as pazes com Deus naquele momento. Agradeci e agradeci. Também me desculpei com todos que havia xingado durante o parto (risos). Laceração grau 1, sem necessidade de sutura.

Foto: Luana Saliba

Sobre a presença do meu marido… Há 7 anos ele é o meu amor, amante, companheiro e melhor amigo. Nunca tive dúvidas de que ele participaria do parto. Ele foi a 90% das consultas, mesmo tendo uma agenda profissional bem agitada, pois viaja muito. Dado momento virou ativista e incentivava os partos naturais/normais… Cheguei a ouvir ele recomendar o filme Renascimento do Parto para um amigo. Assisti a 10 encontros de gestante na Moara e Curumim e ele me acompanhou a muitos deles.

Na sala de parto fez o papel da doula. Apesar de confiar muito na Gio e gostar muito dela, era nos braços dele que eu me tranquilizava e encontrava forças para continuar. Era meu conforto e segurança.

Na piscina, agarrei ele de tal forma que deixei marcas de unha e mordidas em seus braços. Vi ele sofrer junto comigo. Ainda não sei como aguentou toda aquela situação. Só pode ter sido por amor! Meu amor, muito obrigada!

Sobre a obstetra… Mudei de obstetra no 4º mês de gestação. Minha gineco de anos e anos não me passava seus índices de parto normal vs. cesárias. Passei a não confiar que teria um parto normal com ela. Conheci a Dra. Andrea por indicação de uma amiga que teve um parto gemelar com ela. Logo na primeira consulta ela me respondeu de cara sobre seus índices de parto normal. Senti muita transparência. Achava ela reservada demais, mas muito profissional. Fui descobrir mais sobre o trabalho dela buscando informações na internet e só no fim da gestação soube que ela era bem famosa nessa “era” do parto humanizado/ normal/ natural. Confiei nela e na Pri. Fiz meu plano de parto e estava segura que elas me ajudariam a realizar as minhas preferências.

Confiar na equipe fez com que eu ficasse tranquila em toda a gestação e na sala de parto. Conheci a Gio por recomendação dessa mesma amiga do parto gemelar… Foi um amor desde sempre. Nunca vou me esquecer dela orientando o meu marido durante o trabalho de parto, de colocar a Sophia nos meus braços para o primeiro mamá. De cada dica e pela amizade até hoje.

Obrigada Dra. Andrea, Pri, Márcia obstetriz, Gio, Márcia anestesista, meu marido e a Deus, que permitiu que tudo isso acontecesse.