Foram quase 10 meses de conexão direta e o mais puro amor, e nesse dia não poderia ser diferente. Me apegava ao meu filho, e a tudo que vivemos juntos. Minha força maior, tanto que em muitos momentos eu pedia a ajuda dele. E meu marido, sempre ao meu lado me elogiando e me incentivando a não desistir. Nós três, diretamente conectados naquela sala, trabalhando juntos como uma bela equipe. O que me fazia ter mais certeza da minha escolha.
Relato de um parto natural humanizado (sem analgesia)
Antes de engravidar, eu nunca havia me interessado pelo mundo gestacional/maternidade e tudo o que ele envolve. Não tinha ideia do que era parto humanizado a fundo, somente o que as pessoas me contavam. A única coisa que sabia é que não queria cesárea. E ponto.
Quando engravidei, tudo mudou e minha busca começou. Li muito sobre e assisti vários vídeos. Fora o tanto que enchi de perguntas minha amiga Sabrina, já com 3 filhos de parto normal.
Fiquei até 33a semana fazendo o pré natal com uma médica que inicialmente julgava humanizada, e na última sessão, eu e meu marido saímos com a sensação de que ela não estava alinhada com o nosso plano de parto. Ela se mostrou aberta a determinadas intervenções que eu não queria de jeito nenhum. Foi quando decidimos mudar para a Dra. Andrea Campos. Havíamos conhecido ela em uma roda gratuita de gestantes na Casa Curumim, em um relato de parto que gostamos muito. Fizemos uma consulta com ela e desde então, a tranquilidade quanto ao dia do parto foi total. Estávamos 100% alinhadas sobre o que eu queria para o grande dia.
Domingo, dia 17/02
Acordei e vi que meu tampão mucoso havia saído. Chamei meu marido para ver e enviamos uma foto para minha doula. Nessa hora fiquei muito feliz por perceber que meu corpo estava começando a trabalhar para o parto mas, ao mesmo tempo, fiquei tranquila porque sabia que a saída do tampão não queria dizer que seria logo. Segui meu dia, peguei o carro, fui na Kalunga comprar algumas coisas que faltavam, depois fui na Decathlon e, quando cheguei lá, percebi que estava andando com mais dificuldade, um cansaço e um peso maior do que o normal, e contrações de treinamento mais recorrentes. Comecei a entender na minha cabeça que meu corpo estava enviando sinais, então achei mais prudente ir embora.
Cheguei em casa umas 6pm e mandei mensagem para meu marido dizendo que estava em casa e daria um cochilo mas que achava que nosso filhote estava próximo de chegar. Dormi até umas 19:30, que foi quando comecei a acordar com contrações leves de 10 em 10 min. Comecei a monitorar a partir daí. Tínhamos combinado de sair para jantar e seguimos o plano. Jantamos, voltamos para casa, assistimos Netflix, contrações leves indo e voltando. Fomos dormir.
Segunda, dia 18/02
Consegui dormir até umas 4am, quando as dores da contração intensificaram. Decidi levantar porque já não conseguia mais dormir, coei café, contração, coloquei a mesa, contração, fiz torrada, contração, e assim foi até umas 7am, quando aumentou a intensidade e uma delas acordou meu marido que me ouviu gritando da sala. Daí em diante foi só acompanhar. Eu gritava e meu marido monitorava os intervalos.
Avisamos a doula, que começou a nos acompanhar por celular. Nos instruiu a ir para o chuveiro pra ver se as contrações melhoravam. Fiquei intercalando chuveiro e bolsa de água quente até as 12:30pm, quando ela chegou. As contrações intensificaram e os intervalos diminuíram, estavam a cada 5 min, com duração de 1 min pelo menos. Chuveiro, bolsa de água quente, massagem, meu marido me preparou um açaí porque era a única coisa que conseguia comer.
Umas 2pm a doula decidiu ligar para minha obstetriz para avisá-la. Qdo ela chegou em casa, eu estava no chuveiro com contrações recorrentes. Saí do chuveiro para que ela medisse minha dilatação do colo. Eu já estava com 7 centímetros, então fomos para a maternidade.
De casa até o Einstein são 40 min, fomos no carro com meu marido dirigindo, eu e a doula atrás. No caminho tive três contrações e chegando lá tive mais duas, uma no saguão de entrada e outro na recepção da ala da maternidade.
No Einstein foi incrivelmente rápido, entramos no quarto de parto humanizado em 10 min sem nenhuma burocracia. Enquanto eu tinha contrações, a equipe do hospital enchia a piscina e organizava o quarto para mim. Demos entrada às 15:30.
Quando entrei na sala, senti uma energia inexplicável, fiquei imaginando quantas mulheres haviam tido seus filhos naquela sala. Que coisa incrível.
Daí pra frente não conseguia falar muito. Era uma dor muito intensa. Entre cócoras, agachamentos, piscina e chuveiro, doula me dando água, exportando um cheirinho delicioso no banheiro, jogando água nas minhas costas, meu marido também, eu só conseguia pensar que a cada contração meu filhote estava mais perto de chegar.
Minha bolsa estourou a primeira vez na banheira, eu estava com 8 cm de dilatação. A segunda e última vez estourou no chuveiro com 9 de dilatação. Nem sabia que a bolsa poderia estourar parcialmente. Depois disso, as dores só aumentavam ficando quase que insuportáveis. Fui para o pé da cama e a única posição que conseguia ficar era de cócoras.
Entre uma contração e outra, inexplicavelmente voltei para 8 dedos de dilatação. Fiquei mais um tempo tendo as contrações no pé da cama, até chegar aos 10 de dilatação. A maneira como estava tendo as contrações, somada à posição do bebê, começou a afetar o batimento fetal. Então, devido a isso, a Dra. Andrea sugeriu que chamássemos o anestesista caso o quadro não evoluísse, e me explicou que a analgesia seria uma maneira de eu relaxar e facilitar a passagem do bebê.
Respondi: se você está dizendo que é melhor, eu acredito. Se ela, que desde o início estava alinhada 100% com o meu plano de parto, que é focada em parto natural humanizado, está dizendo que é o melhor para o bebê, quem sou eu?! Mas na minha cabeça estava: não acredito que cheguei até aqui e precisarei de analgesia. Mesmo diante das maiores dores, eu estava firme sobre a minha decisão de não ter nenhum tipo de intervenção, analgesia, etc, então quando ouvi estas palavras dela decidi focar e trabalhar junto do filhote para que conseguíssemos.
E foi aí que, com o direcionamento da Dra. Andrea, foquei e trabalhei fortemente para parir. Foi o tempo dela mandar mensagem para o anestesista ir até o hospital e em seguida tudo mudou, questão de 1 min e ela já mandou mensagem de volta para ele dizendo que não precisava mais. Acho que foram 3 contrações até meu filho nascer.
Nessa hora não via mais nada, estava concentrada no processo. Dores, círculo de fogo, força do cocô. Só ouvia meu marido dizendo atrás de mim: força, meu amor, que nosso filhote tá vindo. O mesmo das minhas médicas. E em seguida ouvi a Dra Andrea dizendo: tá nascendo, tá nascendo, pode chamar o pessoal.
Comecei escutar vozes, pessoas entrando, e pronto, filhote veio ao mundo com tudo. Quando ele nasceu, ele estava molinho e apagadinho, sem movimento. Fiquei desesperada. Então ele veio para meu colo e rapidamente a médica disse, agora vou ter que pegá-lo porque ele vai precisar de estímulo. Entreguei, mas a minha agonia era grande, eu só perguntava: como tá meu filho, como tá meu filho?! Fiquei assim até que eu escutei o primeiro gemidinho, o que não demorou muito. Infelizmente por isso tivemos que cortar o cordão umbilical logo que ele nasceu, diferente do que eu havia imaginado. Queria expelir a placenta com ele ligado a mim. Mas do todo, isso não foi nada. O importante é que ele estava bem. Ele teve o apgar nota 7 no primeiro minuto e 9 no quinto.
Pronto, logo o filhote estava novamente nos meu braços. A pediatra, Dra. Ana Paula, nos ajudou com a primeira mamada. Demorou um pouco até ele pegar o bico certinho. Mas com a ajuda dela e do meu marido ele mamou. Logo em seguida, expeli a placenta naturalmente. Tive que dar dois pontinhos de laceração natural, o que foi bem tranquilo. Não tinha nem percebido que tinha tido essa laceração.
Foram quase 10 meses de conexão direta e o mais puro amor, e nesse dia não poderia ser diferente. Me apegava ao meu filho, e a tudo que vivemos juntos. Minha força maior, tanto que em muitos momentos eu pedia a ajuda dele. E meu marido, sempre ao meu lado me elogiando e me incentivando a não desistir. Nós três, diretamente conectados naquela sala, trabalhando juntos como uma bela equipe. O que me fazia ter mais certeza da minha escolha.
E neste dia, 18/02/2019, às 19:06, nasceu nosso filhote. Nasceu uma nova mulher. Eu, mulher, esposa e agora, Mãe. Que sentimento incrível. Foram quase 4 horas de trabalho de parto ativo, com direito ao melhor picolé de limão do mundo, graças à minha maravilhosa doula @carladieguez, o acompanhamento da minha obstetriz Priscila @parteirascasamoara e o incrível direcionamento da minha obstetra Dra. Andréa Campos, que com sua competência e tranquilidade, principalmente nos minutos finais, fez com que a minha vontade se tornasse realidade.
Parto natural sem analgesia o mais humanizado possível. Não tenho palavras para agradecê-las. Foi incrivelmente emocionante, forte e intenso. Como diria meu marido: “Que noite, senhores”.