Para mim o parto foi libertador. E isso só foi possível pelo pré-natal que eu tive, com toda a preparação e bagagem necessária para aquele momento, e pela equipe humanizada que me possibilitou essa experiência. Parir sem anestesia foi possível para mim porque foi com respeito, cuidado e informação.

Parto normal induzido: A chegada da Marina

parto normal induzido
Foto: Arquivo Pessoal

Eu encontrei a doutora Andrea Campos através da casa Curumim. Estava na minha segunda gestação e queria uma experiência diferente do meu primeiro parto (um parto normal com uma série de intervenções).

De forma inconsciente, eu, grávida de uma menina, buscava uma equipe totalmente feminina para me acompanhar. Foi numa roda de parto que conheci a equipe toda. O tema era justamente intervenções no parto.

As consultas seguiram de forma muito acolhedora e extremamente informativas. Não existia uma hierarquia medico-paciente. Eu me senti sempre muito a vontade para colocar minhas dúvidas e expectativas, medos e inseguranças. E foi com essas informações que fomos nos preparando para o meu parto. A decisão de ter o acompanhamento de uma fisio pélvica, mesmo já tendo tido um parto vaginal, me ajudou a trazer mais conciência para o períneo, a encarar meu medo do expulsivo e a lidar e superar minha aflição com uma epsiotomia feita anteriormente. Conversamos também sobre meditação, exercícios físicos e a fisiologia do parto. Era como se eu fosse preparando a bagagem que iria comigo para o momento crucial do trabalho de parto. Em uma das últimas consultas antes da Marina nascer, a Dra Andrea me perguntou sobre o anestesista. Precisei de uns dias pensando se queria garantir a presença dele no dia mesmo sem saber se iria precisar. Conversei com meu marido, com a doula, a parteira, checamos a cobertura do plano e optamos por chamá-lo. Pensei que se eu chegasse no meu limite e pedisse por anestesia, seria bom tê-lo ali de prontidão. Pedi apenas para que ele não ficasse na sala de parto.

Marina nasceu com 41 semanas e 2 dias. Eu comecei a ter contrações com 37 semanas, praticamente toda noite. Mas as contrações vinham e não evoluiam. Assim foi até as 40 semanas, quando começamos a fazer algumas intervenções naturais para me ajudar a entrar em trabalho de parto. Fizemos massagem no colo do útero, descolamento da membrana, acupuntura…nesse processo meu corpo estava lentamente trabalhando. Cheguei a 6 de dilatação, sem dor, com vida normal. Impressionante. No parto anterior internei com 3 de dilatação e logo induziram. Tão bom ter essa delicadeza de escutar o corpo da mulher, saber que está tudo bem e deixar a vida seguir seu curso naturalmente sem transformar tudo num evento medico e hospitalar.  A todo tempo a equipe me falava que estava tudo indo bem, que era assim mesmo numa segunda gestação. Isso trouxe leveza e calma para essa fase.

Como minhas contrações continuaram sem evoluir apesar das intervenções, decidimos induzir. Eu tinha uma experiência ruim com a indução no meu primeiro parto, estava apreensiva, mas correu tudo muito bem dessa vez. A dra Andrea me explicou os detalhes e fomos para o hospital.

Na minha memória foi tudo muito rápido no trabalho de parto. Internamos, começamos com a ocitocina no mínimo e a Nati (parteira) e a Janie (doula) foram me conduzindo, sugerindo posições e exercícios que ajudavam e estimulavam. Quando as contrações estavam mais intensas eu fiquei muito tempo na bola de pilates, me ajudava bastante. Eu tentava escutar meu corpo e relaxar o períneo. Lembro da sensação boa entre uma contração e outra. A Janie chamava de recompensa esse momento que vinha depois de cada contração. E era mesmo uma recompensa. Em algum momento fui parar em pé na frente da cama hospitalar, ali tinha uma alça para segurar e me ajudou muito. Lembro de algo ter mudado nesse momento, a movimentação da sala de parto, a luz. A Janie estava mais ativa comigo, fazendo massagem com oleo. Eu já estava totalmente voltada para dentro. Eu escutava duas vozes na minha cabeça. Uma me repetia as informações que eu havia adquirido durante o pré-natal (você está no expulsivo, relaxa o períneo, não contrai…) e a outra me mandava sair correndo da dor. O que me ajudou a enfrentar esse momento foi justamente a voz que me informava e isso só foi possível por conta do acompanhamento que eu tive. Está tudo bem, dizia a voz. A calma da equipe e do ambiente também me mostravam isso. Que estava tudo bem.

Quando a Marina estava coroando, essa mulherada incrível, estava embaixo da cama (Já que eu grudei naquela alça e não soltei mais), me olhando de forma serena e confiante dizendo frases de apoio e suporte. Lembro de algumas frases que ajudavam muito: “Se está difícil é porque está acabando”, Seu períneo está ótimo, Já estou vendo a cabecinha, é cabeluda, Assim vai nascer, Vai junto com essa força…

A cabecinha da Marina saiu  e essa para mim foi a parte mais desafiadora do parto. Doía muito e eu lembrava do anestesista. Mas a minha voz informativa ia me dizendo o que conversamos nas consultas: é mais rápido nascer nessa fase do que pedir anestesia. E eu não pedia anestesia e me entregava àquela força. Mas quando a cabeça saiu, o mais bonito foi ouvir a Nati dizendo: ela é linda. E eu lembro de uma cólica muito forte depois disso e uma última contração que fez ela nascer. Eu estava apoiada no meu marido, a equipe toda ali na minha frente com um olhar acolhedor e seguro. Eu falei: filha! Bem-vinda minha querida, bem-vinda. Eu consegui!

Para mim o parto foi libertador. E isso só foi possível pelo pré-natal que eu tive, com toda a preparação e bagagem necessária para aquele momento, e pela equipe humanizada que me possibilitou essa experiência. Parir sem anestesia foi possível para mim porque foi com respeito, cuidado e informação.

Marina nasceu com 3.700 kg e períneo íntegro.