E então aconteceu: depois de alguns anos desejando ter um filho com a minha esposa e depois de exatas 39 semanas imaginando como seria nosso filho e como seria tocar nele pela primeira vez, Andrea me deu o privilégio e a honra de ajudá-la a pegar o meu filho logo após ele deixar a barriga a mãe. Tom nasceu nos meus braços, às 00:36 de um domingo, 13 de maio, Dias das Mães.

Relato de um pai: Nascimento do Tom

Foto: Bia Takata

“Isso, muito bem!! Muito bem!!!”

“Isso mesmo… Você está indo muito bem!!”

Passados 10 meses, lembro como se fosse hoje da Andrea Campos dizendo essas palavras, bem ali, ao nosso lado, na sala de parto. E ali, ao ouvir a Andrea motivando minha esposa, eu sabia que o Tom estava chegando!

Porém, eu só fui ouvir a Andrea dizendo aquelas palavras apenas 21 horas depois que Tom bateu pela primeira vez na porta da vida, querendo entrar. Depois de exatas 39 semanas de gravidez, passava pouco mais das 3hs da madrugada, da noite anterior ao parto, de sexta-feira para sábado, quando minha esposa acordou e também me acordou, dizendo que estava com um dor “estranha” nas costas. Como no dia anterior ela e o Tom haviam nadado 1.200 metros, pensamos que era uma dor muscular decorrente da atividade física. Mas mal sabíamos que era Tom… Provavelmente cansado de nadar apenas na barriga da mãe dele e já querendo nadar por conta própria.

O fato é que esse incômodo nas costas não foi embora e, depois de algumas tentativas frustrantes de voltar a dormir, acordamos de vez às 5 da matina e sabíamos exatamente o que estava acontecendo. No início da manhã, ligamos para a nossa doula, a Lúcia DeJú, que, por acaso, tinha um curso de hypnobirthing naquele mesmo final de semana. Tom não quis saber de cumprir o acordo com ela – Lucia havia pedido para ele chegar em qualquer dia, MENOS nesse em que ela daria curso. Mas a Lucia, porreta do jeito que é, já tinha um “backup” e pediu para uma outra doula, a Pati Campbell, nos acompanhar. Enquanto eu ligava para a Pati e para a nossa obstetriz, Márcia Koiffman, minha esposa partiu para o chuveiro para tentar amenizar aquele incômodo e já praticar o que aprendera no curso de hypnobirthing.

Próximo à hora do almoço, chegaram a Paty e a Nathalia Rea, também da Casa Moara, a pedido da Márcia, que estava fora da SP naquele instante. Logo em seguida, chegou também a nossa fotografa, a Bia Takata. Assim, nosso apartamento ficou mais movimentado que o usual. Bia começou a registrar os primeiros momentos com sua câmera, Paty iniciou seu trabalho de doula e a Nathalia fez um exame de toque que nos trouxe a notícia de que, das 3 da manhã até as 13hs do sábado, ela estava com 1 cm de dilatação! Ali eu já pensei: “Xiiiii, o dia vai ser mesmo longo!”. E minha esposa, já um pouco cansada das primeiras contrações e já querendo “descer do brinquedo”, pensou: “Só 1 cm???? Jééééééééésuis…”. Volta já para o brinquedo que a festa só estava começando!!!

Começando mesmo: vieram as contrações e mais contrações, a bola de pilates, as mãos e palavras carinhosas da Paty, as lentes da Bia e um aplicativo de celular sensacional para contar as contrações. Enquanto eu ajudava a Paty na contagem, observava minha esposa ali, na bola, gemendo algumas vezes de dor e respirando.

Foto: Bia Takata

Nesse momento, apesar de toda a preparação e estudos de parto natural que tivemos, eu olhava para a pessoa que eu amo trabalhando para a chegada do nosso filho e vinha um mix de dois sentimentos: 1). Admiração e orgulho, uma vez que o que estava acontecendo era exatamente o que havíamos planejado, com nossa equipe por perto e sem correrias para salas de cirurgia e 2.) Proteção: você quer fazer de tudo para que as contrações terminem logo e abraçá-la para dizer: “Eu não vou deixar essas contrações “machucarem” você”. E isso é muito louco por que, apesar de tudo o que havíamos lido e estudado sobre como seria o processo todo e eu sabia exatamente que as coisas estavam acontecendo de maneira natural, do fundo do meu coração, eu queria que aquilo terminasse logo. Eu queria trocar de lugar com ela, só para que ela pudesse descansar por algum tempo. Eu queria dizer: “As contrações foram embora… Você não vai mais sentir dor!”. Mas sabia que ainda era cedo para dar essa notícia a ela.

Porém, entre gemidos e contrações, quando essas estavam bem frequentes, ouço minha esposa dizer: “Ahhhh…preciso fazer minha unha!!!”. WHAT???? Eu aqui todo preocupado com essas “maleditas” contrações e a ela quer fazer as unhas???? Pois é, essa é a síntese do primeiro sentimento (1) sobrepondo o segundo! Nesse instante eu sabia que não havia sofrimento algum e que ela estava vivenciando algo que foi estudado e planejado há longos meses atrás.

Ah, e o almoço? Já eram quase 3 da tarde e os estômagos fazendo barulho! E eu sabia que em casa não tinha “muita coisa” para oferecer (na verdade, não tinha nada em casa!). Mas tinha a Bia, que logo deixou suas lentes de lado e se transformou numa cozinheira alquimista. (Eu não sei de onde saíram os ingredientes, mas o fato é que 20 minutos depois saiu do forno um cuscuz marroquino sensacional que foi a nossa salvação! Pelo menos, para mim e para a equipe, já que minha esposa não conseguiu comer nada.

Às 18hs chega em casa a Márcia, para fazer um outro exame! Sabe quantos centímetros de dilatação? Toquem os tambores… 5 centímetros! Para mim, pelo ritmo das contrações, estava chegando nos 10 cm fááááácil! Mas nãããão! O Tom estava vindo bem devagar!

Após o término do exame, a bolsa se rompeu e a Márcia sugeriu então que fossemos para o hospital, sem pressa, sem correria! As contrações estavam ficando mais intensas e bem mais frequentes.

Foto: Bia Takata

Fomos para o Einstein no meu carro, eu dirigindo, a Bia no banco do passageiro e, atrás do carro, minha esposa com a Pati. Se você acha que dirigir nas ruas de São Paulo é muito semelhante a dirigir numa estrada de terra cheia de buracos, imagina agora você, passageiro, dentro de um carro em SP sentindo contrações fortíssimas! Não me lembro de levar tanto “esporro” na minha vida em tão pouco tempo. Minha eposa foi me xingando e implorando para eu ir mais devagar em todos os 25 minutos que levamos para chegar ao hospital. E olha que eu estava a 40 km/h! Mas não teve jeito: tome esporro!!!

Chegando no Einstein, por volta das 19hs, o pessoal da recepção ofereceu uma cadeira de rodas para ela e fomos nós 4 para a sala de parto, onde a Andrea Campos já nos aguardava. E aí, a tranquilidade e a informalidade da nossa casa foram substituídas por um vai e vem de enfermeiros do hospital, saindo e chegando na sala de parto, aplicando antibiótico na veia dela, que por sinal doeu mais a aplicação da agulha no punho do que as próprias contrações daquele momento.

Porém, pouco tempo depois, as contrações chegaram no seu auge. A dor que minha esposa sentia era indescritível. Pude ver nos olhos dela que a dor ultrapassou o limite dela. Foi nesse momento que ela, deitada na cama, me chamou e me disse bem baixinho: “Acho que vou querer anestesia!”.

Eu sabia que, para ela, era uma decisão difícil de ser tomada, pois no nosso plano de parto a anestesia não estava incluída no pacote. Mas sabíamos que a dor passou, e muito, do limite que ela poderia suportar. E eu pensei comigo mesmo: “Como ela pode ser tão forte? Como pode pedir anestesia somente agora, no pico dos picos das contrações, depois de mais de 9 horas sentindo as ondas? Como não pediu antes?”. Mas, tempos depois, ela me confessou que, naquele momento, o processo todo deixou de ser prazeroso! E uma das coisas que a Márcia sempre falava para a gente nas consultas era exatamente isso: tem que ser prazeroso para nós. E foi, mas só até aquele momento.

A Andrea ligou então para o anestesista Carlos Martins, que faz parte da equipe dela, mas que não estava no hospital naquele momento. Enquanto ele estava a caminho, a Andrea sugeriu que minha esposa entrasse na banheira de plástico que levamos para o quarto para checar se a água quente poderia aliviar a dor.

Concordamos, e minha esposa e eu entramos juntos na banheira. Como ela sempre foi apaixonada por água, pensei que realmente a dor pudesse ser suavizada. Mas não aliviou! Os 30 minutos que o Carlos levou para chegar no quarto foram os piores momentos daquele dia em termos de dor. Lembro que, dentro da água, eu falava repetidamente no ouvido dela: “O anestesista está chegando, ele já está vindo, só mais um pouco”. E, em determinado instante, ela de olhos fechados me respondeu: “Mas você já me disse isso antes”. Novamente, eu queria trocar de lugar com ela, só para ela sorrir novamente. E ela sorriu!

O anestesista chegou (meio rabugento no início ao ver parte do quarto molhado por causa da piscina) e, depois a que a Márcia e a Paty ajudaram minha esposa a se enxugar e a voltar para a cama, Carlos aplicou a anestesia na dose perfeita, de modo que a dor fosse embora e ela pudesse andar pelo quarto, falar e se exercitar! Aí, para mim, vendo que ela não sentia mais dor, o clima mudou completamente no quarto do hospital.

Minha esposa então começou a andar pelo quarto de um lado e de outro, a se alongar, a falar com a equipe, majoritariamente feminina, sobre os modelos de sapatos em liquidação que ela tinha visto numa loja, a ouvir piadas, a rir, e até ficou felicíssima por poder saborear uma barra de gelo que o anestesista permitiu para ela matar a sede. Ali, gelo e chocolate Lindt estavam no mesmo patamar!

Após fazer o último exame, Andrea mediu 9 cm de dilatação e, com aquele sorriso carismático de molequinha que ela tem, falou para mim: “Antônio está chegando”. E eu comecei a preparar meu coração para aquele momento.

Como o Tom estava numa posição um pouco desfavorável na barriga da mãe (e por isso mesmo as dores foram tão intensas), Andrea precisou fazer alguns exercícios na barriga da minha esposa para que ele voltasse para uma posição mais apropriada, o que logo aconteceu. Depois, pediu para que eu sentasse atrás da minha esposa, que já estava sentada num banquinho, para eu abraçá-la, enquanto a Andrea pedia para ela fazer um pouquinho de força, pois o Tom já estava chegando! Ali, abraçado com ela, eu fazia força junto com ela, respirava junto com ela e sentíamos juntos que nosso filho estava chegando.

Foto: Bia Takata

Ela então voltou para a cama para, finalmente, se preparar para a chegada do Tom, pouco depois da meia noite de sábado para domingo. Naquele momento fiquei ao lado dela, segurando sua mão. Foi então que a Andrea começou a falar aquelas palavras inesquecíveis do início desse texto: “Isso, você está indo muito bem”.

Pouco tempo depois, Andrea me perguntou: “Você quer vir aqui pegar ele?”. Já imaginou sua médica perguntar isso para você? Demais, não é? Eu arregalei o olho para a Andrea e me virei para a minha esposa, pois eu não queria sair do lado dela, não queria soltar a mão dela. Mas, ao ouvir também a pergunta da Andrea, ela me disse toda feliz e empolgada: “Vai lá, vai lá…Vá pegar o nosso Tom”.

E então aconteceu: depois de alguns anos desejando ter um filho com a minha esposa e depois de exatas 39 semanas imaginando como seria nosso filho e como seria tocar nele pela primeira vez, Andrea me deu o privilégio e a honra de ajudá-la a pegar o meu filho logo após ele deixar a barriga a mãe. Tom nasceu nos meus braços, às 00:36 de um domingo, 13 de maio, Dias das Mães.

E foi assim o nosso parto. Aconteceu como planejamos: um parto natural, rodeado de pessoas queridas e competentíssimas, rodeado de muito amor e muita energia boa! Foi assim que escolhemos. E, para mim, pai de primeira viagem, a opção pelo parto natural representou uma mudança na concepção sobre o que é o nascimento natural.

Foto: Bia Takata

Explico: venho de uma família do interior de SP com a cultura da cesárea, a cultura da hora marcada, da cirurgia, de não ter contrações. Para mim, isso era o “normal”. E para que eu pudesse mudar a minha percepção, foi preciso não só muita leitura sobre o parto natural, muita leitura de relatos de outros pais e muitas conversas com a Andrea e com a Márcia na Casa Moara. Foi preciso também, e principalmente, muita, muita paciência da minha esposa, que desde o início havia escolhido o parto natural, mas que não tinha o meu apoio incondicional no começo da gravidez. Foi preciso tempo para eu mudar de opinião.

Hoje, relembrando como foi, imagino o quão difícil foi para ela essa ausência de apoio no início, mas hoje sou muito grato pela sua paciência que precisou ter até eu aprender sobre o parto natural. E, felizmente, eu aprendi e compreendi. Aprendi que a cesárea é uma tremenda evolução na medicina e uma extraordinária opção quando necessária. Repito: quando necessária! Hoje, não imagino o nascimento do meu filho de outra maneira. Não imagino prazer maior do que recebe-lo para a vida nos meus braços. Não imagino cena mais fantástica do que ele amamentando no peito da Lari segundos depois que nasceu.

Agradeço a Andrea, Bia, Paty, Lucia, Nathalia, Márcia ao Carlos por terem compartilhado comigo essa experiência fantástica. E obrigado a minha esposa, porque sem o seu amor, eu nada seria.