Senti saindo então o resto do líquido da bolsa, e meu marido então entrou em ação pegando a pequena Maria em suas mãos. Às 10h42 da manhã do dia 5 de março nasceu a pequena Maria, com 3,8kg e 51cm, em um parto natural, com períneo íntegro.
Relato do segundo parto natural: Nascimento da Maria
Acabo de dar à luz a minha filha Maria. Segunda gestação, segundo parto, segundo filho em meus braços. Segundo processo meu de morte, e renascimento. E agora uma nova configuração de nossa família começa a tomar forma, cheia de amor e curiosidade pra se ressignificar…
Vivenciei uma primeira experiência de parto há quase quatro anos, mas que até hoje me causava desconforto. Com outra equipe médica, apesar do parto natural e um bebê lindo e saudável em meu colo, tive um pós parto complicado com uma laceração de períneo que demorou além da conta pra ser cuidada, e um começo de amamentação também nada fácil que – depois de nos atentarmos pra perda de peso – nos fez seguir com a translactação por 3 meses.
Isso tudo construiu em mim uma sombra de toda aquela primeira experiência de parto e puerpério… Mas, dessa vez, munidos de muito mais informação, tranquilidade e maturidade, meu marido e eu decidimos que construiríamos outra história para a chegada da pequena Maria.
Depois de algumas consultas, encontramos a equipe que nos acompanharia nessa nova jornada. Dessa vez, fiz questão de escolher apenas mulheres pra me acompanharem: a querida Dra. Andrea Campos (obstetra); minha professora de yoga desde a outra gestação e que novamente me acompanhou desde o começo dessa gestação, Cris Balzano (obstetriz); a nova amiga descoberta em meu primeiro puerpério, Janie Paula (doula); e a surpresinha que conhecemos só mais recentemente, super especial também, Dra. Ana Paula (pediatra neonatal).
Essa segunda gestação foi toda tranquila. Muito mais concreta e serena, com exceção do meu velho conhecido enjoo do início da gravidez (que mais uma vez me fez perder bons quilos, me deixando sempre atenta a meu peso e ao desenvolvimento da bebê).
As semanas foram passando, umas mais vagarosas, outras num piscar de olhos… E assim fomos chegando ao momento tão esperado: o parto da Maria! Com 40 semanas optamos por alguns procedimentos naturais para tentar começar a despertar a pequena e lembrá-la que a hora de desembarcar estava chegando…
Fizemos duas tentativas de massagem de períneo e descolamento de membrana e mais algumas sessões de acupuntura – já pensando numa indução natural. Com isso cheguei a 6 cm de dilatação, mas, ainda assim, nada de Maria despertar. Os dias foram passando, e o carnaval chegou! Tito, meu filho mais velho, com 3a9m, dizia: “Mamãe, a Malia tá esperando a voz do aniversário chamar ela. E esse ano a gente vai ter que pular carnaval no hospital!”
Sábado de carnaval…
Domingo de carnaval…
Equipe toda a postos, de plantão, enquanto a gente aqui em casa se esbaldava nos bloquinhos, esperando que alguma marchinha despertasse nossa pequena.
Naquela semana, tudo que eu sentia era – sempre à noite – algumas cólicas/contrações ainda sem dor e sem ritmo. E sempre que acordava pela manhã, sem ter entrado em TP, ficava triste de ainda não ter chegado a hora de ter minha filhota no colo.
Segunda-feira de carnaval… E o coração apertando e a ansiedade batendo mais forte. Depois de um dia tranquilo em casa com muita meditação, yoga, um banho gostoso – sempre com meu marido e Tito bem pertinho – decidimos dar mais um passo nas possibilidades de indução natural. Depois de deixar Tito dormindo nos meus sogros, já prevendo o que estava por vir, preparamos o tal “shake natural” que a Dra. Andrea tinha nos orientado. Uma geleca de óleo de rícino, damasco e farinha de amêndoa, que deu início à nossa jornada de trazer Maria ao mundo!
Tomei o shake às 21hs do dia 4 de março (segunda-feira). Nem cheguei a ter muita diarreia, como esperado, e consegui dormir. Por volta da meia noite, acordei com contrações leves. Mas já me animei – a hora estava chegando! – entrei no banho, me arrumei toda achando que já iríamos sair pra maternidade, mas meu marido (que falava com Janie por telefone) me disse pra esperarmos as contrações engrenarem mais… Nessa hora, eu deitei pra esperar, e adormeci.
E só então às 3h da manhã de fato acordei, com as contrações bem mais fortes e ritmadas. Aquilo sim era meu trabalho de parto começando! Contrações que iam e vinham, e me levavam pra algum lugar longe desse planeta, mas logo que acabavam eu estava de volta, aterrada e presente naquele momento. A dor em si não era nem de longe uma questão. Estava muito consciente do que estava acontecendo no meu corpo e pra que serviam aqueles movimentos do meu útero, que vagarosamente se preparava pra se despedir da minha bebê e trazê-la aos meus braços.
Fomos para a maternidade por volta das 5h da manhã do dia 5 de março (terça-feira). Janie já nos aguardava na porta do PS, e só lembro dela falando com uma enfermeira do Centro Obstétrico: “praticamente uma Buda essa mulher em pleno TP!”. Acho que eu estava pronta, de corpo e alma, pra iniciar aquele mergulho. E eu sabia que sairia outra mulher daquela experiência.
Já no quarto, com toda aquela mulherada ao meu lado – Andrea, Janie, Cris e Ana Paula – cada uma com sua fala, mas todas me orientando e empoderando para aquela experiência que estava prestes a acontecer, começamos o mergulho. Cheguei com 6/7 cm de dilatação, contrações moderadas. E a cada nova contração que chegava, Cris me dizia: “uma a menos até sua bebê chegar!”. E assim fomos. Cris ensinou meu marido a me ajudar nas contrações, me segurando de costas com as mãos em minha barriga, e facilitando a abertura do colo útero empurrando meu quadril pra frente e a barriga pra cima.
Vimos o dia raiar, e depois de quase 4hs de TP, já passadas as 9hs da manhã, e ainda 8 cm de dilatação, a Dra. Andrea veio conversar comigo sobre a possibilidade de rompermos a bolsa pra facilitar a descida da bebê (a grande quantidade de líquido entre a cabeça da bebê e o colo do útero impedia que o colo fosse mais estimulado, para liberar mais ocitocina, facilitar a dilatação do colo, e ajudar o parto).
Rompemos a bolsa às 9h40 da manhã. E entramos rapidamente na fase expulsiva do parto. Quando urrei o primeiro palavrão, meu marido olhou pra todas que estavam na sala, como se dissesse: “Agora vai!”. Tentamos algumas posições diferentes, sempre com Cris e Janie me ajudando a melhor entender o que meu corpo estava precisando. Usamos as barras do espaldar, depois meu marido e Cris me seguraram com o tecido em meu quadril. Mas fui cansando… E então fomos pra cama.
Estava cansada, mas sentia que estava em frente a um portal onde deixaria a velha “mãe de um” para trás, e daria início a um novo eu, “mãe de dois”.
Janie me ajudou muito nessa hora também. O medo baixou, meu corpo parecia se reprimir… Paniquei achando que não daria conta. Mas nessa hora as palavras de Janie foram precisas: “Coragem. Sinta sua bebê saindo agora. Faça diferente dessa vez. Você está com essa chance aqui em suas mãos. Traga sua bebê pra você. Coragem!”. Aquelas palavras me fortaleceram, eu me reorganizei, lembrei dos exercícios de meditação do GentleBirth, pensei em coisas boas e como queria ter minha bebê no meu colo! E resolvi dar aquele último passo.
Foi então que, com mais três contrações, Maria chegou. Na primeira, “a cabecinha dela apareceu”, disse meu marido, “e ela tem os cabelinhos pretos como os seus, do jeito que você imaginava”. Na segunda, “ela tá chegando. Olha os olhinhos dela! Ela tá tranquila!”. Na terceira, senti ela descendo pelo meu corpo, como um peixinho mergulhando numa nova imensidão, e que me levava junto. Ficava pirando em como era tão pequena aquela distância que minha bebê tinha que percorrer, mas só aquilo já era suficiente pra me transformar tanto!
Senti saindo então o resto do líquido da bolsa, e meu marido então entrou em ação pegando a pequena Maria em suas mãos. Às 10h42 da manhã do dia 5 de março nasceu a pequena Maria, com 3,8kg e 51cm, em um parto natural, com períneo íntegro (!).
E assim eu (re)nasci mãe!