Chorei de boca aberta, como quem tem muito a dizer, agradecer e apreciar. Não queria mais segurar choro, porque era o choro da mais pura emoção.
Veio direto para o meu colo e segurei minha filha agradecendo pela realização desse sonho. Por juntas termos feito um final tão diferente.
Relato de VBAC: Nascimento da Laura
Em 2017 dei a luz ao meu primeiro filho, o Daniel. É preciso que eu fale sobre a gestação e parto dele para compreender como me senti na gestação da Laura.
Na gestação do Daniel eu tive diabetes gestacional (D.G.), mas foi no 3º trimestre e consegui controlar com alimentação e exercícios.
Durante toda a gravidez me preparei física e psicologicamente para o parto normal. Fazia exercícios com agachamento, epi-no, massagem perineal, acupuntura, óleo de prímula e outros, mas com 38 semanas a D.G. começou a descompensar e foi preciso marcar a indução.
Foi uma indução longa, muitas tentativas, dilatação… Mas ele não descia. No final foi necessário realizar uma cesárea. E tenho certeza de que ela foi necessária, pq a dra. Andrea, que já era minha médica, tentou tudo que foi possível.
Na hora senti tristeza e frustração. Pouco capaz de parir verdadeiramente, mesmo sabendo que nós havíamos feito tudo que dava para ser feito.
Em 2018, quando engravidei novamente, o desejo de ter um parto normal se manteve, mas junto com esse desejo estava a insegurança se eu conseguiria. Já sabia que nem tudo dependia só de mim.
A gravidez já começou com dificuldades. Logo no primeiro exame, com 6 semanas, fui diagnosticada com D.G. novamente, porém dessa vez o controle não foi possível apenas com alimentação e exercício. Além disso, precisei usar insulina, meu corpo se mostrou muito resistente à esse medicamento e ajustar as doses levou bastante tempo.
Eu tinha medo da Laura crescer demais, de desenvolver alguma condição anormal… Enfim, além dos medos em relação à saúde dela, havia o medo de não conseguir o parto normal novamente.
Nessa gestação tive muita dificuldade emocional e psicológica. Ainda no 1º trimestre da gravidez, no começo de 2019, perdi uma sobrinha com 10 dias de vida. E com a família vivendo esse grande luto, sentia que não havia espaço para minha alegria. Sofri por sentir que não podia compartilhar com eles esse momento.
Daí para frente fiquei sempre muito nervosa, irritada, e a D.G. mais difícil ainda de controlar.
Com 27 semanas fui afastada do trabalho para poder me cuidar. Na hora eu fiquei triste, porque me sentia fazendo corpo mole, não sendo capaz de conciliar meu trabalho, com a gestação, um filho pequeno e uma casa para cuidar.
Mas após alguns dias afastada, resolvi usar a oportunidade para cuidar do corpo, da mente e enfim curtir a gestação.
Passei a caminhar muito pela cidade e me alimentar melhor. Além de conseguir curtir um pouco mais meu filho. Com isso, me sentindo mais alegre novamente e chorando bem menos, tinha a sensação de que a insegurança sobre o parto estava passando.
Dia-a-dia conversava com ela e rezava para que ela viesse espontaneamente. Não queria chegar a uma outra indução.
Como Daniel é pequeno, decidimos contratar a Kirstin como Doula para que pudesse cuidar de mim, assim meu marido ficaria mais disponível para atender ao Daniel sempre que ele precisasse.
Com 37 e 38 semanas a D.G. descompensou e foi novamente necessário marcar uma indução. Na hora me veio um medo grande de que tudo acabasse da mesma forma. Medo, insegurança e tristeza ao pensar que seria tudo igual.
Dra. Andrea conversou muito comigo e me tranquilizou. Respirei fundo para me dar uma nova chance.
No dia, a indução começou às 9h horas. Kirstin e Priscila, com um super astral, me animaram e fizeram o clima ficar muito gostoso. Estava feliz e à vontade. Me sentindo em casa.
A cada contração a Kirstin me ajudava a aliviar as dores, tanto com massagens e exercícios, quanto com palavras. Foi fundamental.
Muitas vezes me sentia perdendo a lucidez, porque todo o processo de trabalho de parto é muito intenso, e a presença da doula ali me lembrava o que estava acontecendo e que minha bebê estava chegando. Que nosso encontro estava cada vez mais próximo.
Daniel entrou algumas vezes. Conversamos, sorrimos e ver o rostinho dele me dava ânimo e alegria. Queríamos que ele participasse desse processo, como parte da família que é.
Por volta das 18h, já com muitas dores, pedi a analgesia. Pensei muito para pedir, porque no parto do Daniel eu quase não conseguia me mexer depois que recebi a anestesia, passei muito mal.
Enfim, era outro parto e precisei de anestesia novamente. Apesar de cansada, continuamos bem.
Umas 20h, após ficar bastante tempo na banheira, dra. Andrea nos sugeriu tentar algumas posições. Usamos o banquinho e meu marido me ajudou a fazer a força necessária. Ela disse que era apenas um treino, mas felizmente, aquele foi, de fato, o início da expulsão.
Ouvi alguém falar: vou preparar o berço. Outra disse: vou ligar pra Tiemi (pediatra). Estava acontecendo. Meus Deus! Estava acontecendo!
Estava tão cansada, tão exausta, que pedi para deitar um pouco e a dra. Andrea me disse que já era possível ver os cabelinhos dela: “quer pôr a mão para sentir?”. Fiquei paralisada e meu marido colocou minha mão por mim.
E aí eu sabia que não era hora de descansar. A anestesia já estava perdendo o efeito e eu sentia que ela estava saindo.
Deitei na cama de lado e a Kirstin fez um posicionamento com as pernas. Foram mais 3 contrações e ela nasceu! Nasceu! Exatamente às 21h.
Chorei de boca aberta, como quem tem muito a dizer, agradecer e apreciar. Não queria mais segurar choro, porque era o choro da mais pura emoção.
Veio direto para o meu colo e segurei minha filha agradecendo pela realização desse sonho. Por juntas termos feito um final tão diferente.
Ela ficou comigo por duas horas, com calma e plenitude. Que alegria! Que emoção senti. Quase não cabia em mim.