Se eu pudesse dar um conselho para quem sonha com um parto humanizado, o meu conselho seria: escolha a equipe certa, identifique e mate os fantasmas e medos que te assombram e se entregue para o processo com confiança em você, nas pessoas que você escolheu para estarem ali, e principalmente no Universo, que nos permite conceber, gerar e parir uma vida.

Relato de um parto humanizado após fertilização in vitro

Foto: Katia Ribeiro

Dizem que os filhos vêm para mudar os pais. No meu caso, antes do Rafa chegar, eu já tive que mudar completamente. Ser mãe sempre foi um grande sonho para mim, e quando mudei para São Paulo, em 2011, mesmo sem ter nenhum perspectiva nem planos de ter filhos naquele momento, escolhi a casa Moara e a Dra. Andrea como minha médica. Quando eu decidisse ter filhos, eu queria que fosse com um parto humanizado, mesmo sem saber o verdadeiro significado disso direito. Eu idealizava até um parto em casa, sem intervenções e sem anestesia, afinal de contas, eu não curtia hospitais, remédios e médicos.

Depois de muitos anos tentando, fui procurar a ajuda de uma amiga que trabalha numa clinica de fertilização. Já cheguei na consulta falando: “Fertilização não é uma opção para mim, tô aqui para você me ajudar e porque você é minha amiga”. Depois de um ano de reprodução assistida sem sucesso e uma cirurgia de endometriose, cansada de tentativas frustradas, acabei me rendendo aos avanços da medicina e me permiti uma nova possibilidade de tentar. Graças a uma FIV (fertilização in vitro), o meu filho pode ser concebido. Desta forma, o sonho do parto em casa foi deixado de lado, até porque, para o meu marido, isso não era uma possibilidade.

Durante a gestação sem nenhuma intercorrência, fui atrás de muitas informações sobre trabalho de parto, assisti muitos vídeos, participei do grupo de gestantes da Casa Curumim e fiz os cursos de pré e pós parto da Casa Moara. A princípio não queria nenhuma intervenção: um parto humanizado, via vaginal, sem intervenções e sem anestesia era o que eu desejava. Tudo isso estava escrito no meu plano de parto. Mas mal sabia eu o que estava por vir…

Depois de me afogar num mar de informações, numa consulta com a Dra. Andrea cheguei à conclusão de que ela poderia fazer o que fosse necessário para que meu bebê nascesse com saúde. Eu tinha plena certeza de que, se meu parto terminasse em uma cesárea, ela teria sido realmente necessária. A partir daí decidi que eu não precisava mais de nenhuma informação. Depois da FIV, eu passei a ser grata pelos avanços da medicina e tinha plena confiança no trabalho da Dra. Andrea. Eu estava em boas mãos e pronta para o que o que tivesse que ser. Mas, ainda assim, eu não podia imaginar o quão inesperado e maravilhoso seria todo o processo.

relato de parto
Foto: Katia Ribeiro

Dia 27/4 o tampão saiu, dia 28/04 saiu mais ainda e eu comecei a “vazar”. A Dra. Andrea me disse, “calma que a bolsa vai estourar”. Até que chegou o grande dia, 30/04, às 4:40 da manhã, ela estourou mesmo. Ouvi até o barulho, e aquela quantidade de liquido quente e, graças a Deus, transparente e sem cheiro molhou toda a cama. Nessa hora todo mundo fala: “Come alguma coisa e vai dormir para esperar as contrações”, mas e a ansiedade?

Pouco tempo depois começaram as contrações e chegaram a Thais, doula, e a Katia, fotografa. Ficamos em casa fazendo exercícios e utilizando os recursos naturais para ajudar o trabalho de parto a fluir. Só que um fantasma não saía da minha cabeça: A distância da minha casa para o Einstein e o trânsito que a gente poderia pegar numa véspera de feriado. Quando percebi que isso me incomodava muito e estava atrapalhando o processo, às 16:00 decidimos ir para o consultório da Dra. Andrea para fazer uma avaliação e ver quais seriam os próximos passos.

No consultório eu estava com 3 cm de dilatação, ainda era recomendável ficar em casa, mas devido à distância, eu me sentiria mais segura no hospital mesmo. Então, nos dirigimos para lá, com uma paradinha estratégica no McDonald’s para realizar o último desejo de uma gestante faminta. Quanto mais próximos do hospital, mais contrações eu sentia. Aliás, quem precisar entrar em trabalho de parto, pode experimentar um tour de carro nas ruas esburacadas de São Paulo, é tiro e queda.

A ideia era ficar aguardando internada num quarto mas, como as contrações aceleraram no caminho e por sorte as salas de parto estavam vazias, já nos deixaram em uma.

Foto: Katia Ribeiro

Na sala de parto, como em casa, voltamos a fazer os exercícios e tudo estava fluindo até que outro fantasma começou a me assombrar: o risco de 1% de infecção no caso de partos com mais de 24 horas de bolsa rota. Já fazia umas 18 horas que a minha bolsa tinha rompido e eu estava com tanto medo de passar de 24 horas que o processo estagnou. Logo eu, sempre tão positiva, fiquei focada no 1% ao invés de pensar nos 99%. E foi assim que as benditas intervenções tiveram que começar. E graças a Deus elas existem! Tive que colocar o tal do comprimido que ajuda o colo a amolecer e, depois de algumas horas, tudo voltou a fluir.

Com as contrações aceleradas, um outro fantasma apareceu: eu descobri que tinha muito medo da dor no expulsivo. Para quem queria um parto em casa sem anestesia, não imaginava que naquele momento ia gritar na hora das contrações, alem de várias outras coisas bem esdrúxulas: “eu quero anestesiaaaa!”. A dor até então era suportável, mas eu não sabia se ia aguentar muito mais do que eu já estava sentindo.

Aí você entra no chuveiro e tudo passa ate voltar muito mais forte. E então você entra na banheira e é outro alívio mas, quando passa esse efeito, a dor volta insuportável. Nesse momento aparece ele: O Anestesista! Parece que é tudo cronometrado, tudo na hora certa! E quando ele entrou na sala eu gritei: “Eu te amo”, de tanta emoção, rs. Acho que eu já estava com uns 5/6 de dilatação.

Foto: Katia Ribeiro

Depois de receber a analgesia, esse é o nome correto, eu me senti outra pessoa e até pensei: por que eu queria fazer isso sem esse recurso? Analgesia é vida! Voltei a curtir muito todo o processo. Não que não tenha sido importante ter sentido aquela dor até ali, porque foi muito importante sim, mas daí em diante foi ainda mais maravilhoso! Dancei muito com o meu marido, fiz mais exercícios, sorri e parei de gritar. Sim, porque eu estava dando um show à parte mas sem censura, sem medo de “pagar mico”! E foram necessárias mais duas analgesias até o final do trabalho de parto e também a tal da ocitocina. Essa eu não queria de jeito nenhum, tinha o maior preconceito, mas ela foi cuidadosamente administrada pela Dra. Andrea, na dose certa, de acordo com a necessidade de cada momento, e foi fundamental para que as contrações ficassem mais regulares e no ritmo que precisavam ficar.

Com todos os recursos necessários que foram utilizados, eu cheguei a 9 cm de dilatação, mas faltava o Rafa descer. A Dra. Andrea fez algumas tentativas para ajudar ele a descer, mas sem muito progresso. A sala de parto já estava cheia de gente. Acho que não tinha nenhum outro parto rolando e todos do hospital resolveram assistir o meu, ou foram ver de perto quem era a louca que estava gritando daquele jeito.

Sei que a outra Dra. Andrea já estava lá, e a pediatra, Dra. Tiemi, também. Dizem que ela só chega perto da hora H. Então imaginei que já estava chegando a minha hora quando de repente, durante mais uma tentativa de fazer ele descer, reparei que o batimento cardíaco do bebê deu uma desacelerada e rezei para que meu marido não percebesse. A Dra. Andrea então sugeriu que a gente mudasse de posição e fosse para a banqueta. Naquele momento achei que era nossa ultima chance para um parto vaginal, e então eu falei para a Dra Andrea, “Tenho certeza que utilizamos todos os recursos. Seja o que Deus quiser, faça o que for preciso, vai dar tudo certo!”

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Foto: Katia Ribeiro

Comecei a fazer a força junto com as contrações e a Dra. Andrea então, com as suas mãozinhas mágicas, deu seu jeito. Ela fez alguma coisa que ele conseguiu descer e esse foi o momento mais incrível! Eu senti tudo fluir. Senti a vida fluir dentro de mim, foi mágico! Foi uma emoção e uma alegria tão fortes que eu até me desconcentrei totalmente de fazer as forças. Eu só conseguia gritar: “Funcionou!”. Eu fiquei imensamente feliz naquele momento porque tinha certeza que tudo tinha dado certo! Tudo tinha valido a pena e em breve eu teria meu filho nos meus braços.

A Dra. Andrea então falou: “Quer sentir a cabecinha dele? Põe a mão, ele já está aí!”. Ai que alegria! Todos então me incentivaram a voltar a fazer força e a me concentrar para fazer ele nascer.

Recomecei a fazer as forças com toda a minha alma! Na hora que ele passa do primeiro ponto dá um medo danado de não conseguir ir até o final e ele ficar entalado no meio do caminho, mas logo afastei essa ideia da minha cabeça e disse para mim mesma: “Eu vou conseguir sim”, e fiz tanta força que quase apaguei, mas logo me colocaram no oxigênio. Foi incrível como tudo fluiu de modo imperfeitamente perfeito, tudo estava disponível na hora certa. Meu marido tava me segurando e contando junto comigo, todo mundo estava lá focado, a Pri, obstetriz, que foi uma fofa durante todo o processo… Nossa, é muito louco como tudo vai acontecendo e você nem percebe que foram 36 horas. É muito incrível e parece que todos ali estão parindo com você.

Mais algumas forças e ele estava ali, no meu colo! A emoção era tanta que eu tremi inteira. Depois dessa experiência indescritível eu posso afirmar, a partolândia existe e eu estive lá.

Na verdade esse relato de parto não é muito válido porque de fato eu não sei o que realmente aconteceu, eu gostaria até que alguém me contasse como foi. Dor!? Eu não faço a menor ideia de como ela era, sei que senti porque gritei horrores mas, de verdade, não me lembro dela. Sempre duvidei disso nos relatos de parto, mas é a pura verdade! Foi tudo tão mágico, tão incrível, que não dá nem para descrever. Não tem palavras para expressar o que aconteceu e como eu me senti nesse momento.

Aqui estão apenas alguns registros que eu consegui fazer sobre o meu parto, e que Parto! Que equipe maravilhosa regida de forma majestosa, humana, natural e com excelência pela Dra. Andrea. Eu amo e sou eternamente grata a cada um deles por esse momento extraordinário e único na minha vida.

Foto: Katia Ribeiro

Depois dessa experiência incrível eu descobri o real significado de parto humanizado. Humano é ser tratada com muito amor, dignidade, respeito e dedicação. Você se sente realmente amparada, acolhida pelas pessoas que estão ali se empenhando, se dedicando para que tudo ocorra da melhor forma possível para você e para o seu bebê.

Se eu pudesse dar um conselho para quem sonha com um parto humanizado, o meu conselho seria: escolha a equipe certa, identifique e mate os fantasmas e medos que te assombram e se entregue para o processo com confiança em você, nas pessoas que você escolheu para estarem ali, e principalmente no Universo, que nos permite conceber, gerar e parir uma vida.