Como faz diferença esse contato, essa ligação que temos no momento em que o bebê chega ao mundo! Foi de extrema importância. Foi intenso, foi renovador. Me senti uma mulher muito mais forte por ter vivido aquele momento de trazer a minha filha ao mundo. Deixei medos de lado e lutei por algo muito maior que eu. Achei força que não sabia que existia.

Parto humanizado: nascimento da Catarina

Como descrever tamanha emoção, tamanha explosão de sentimentos?! Vou contar um pouquinho como cheguei e por que decidi pelo parto humanizado.

Acho que o desejo de muitas mães é fazer um parto natural, mas o que é um parto natural? É aquele vaginal, apenas isso? Para mim tinha que ser muito mais além disso. Sou fotógrafa e já acompanhei muitos partos por aí, cesárea e o que dizem normal… Aquele deitada na maca com a perna presa. O parto em si é um momento muito emocionante, nascimento de uma nova vida. É lindo, sim. Seja como for.

Mas, ainda assim, eu queria algo a mais. Queria estar à frente deste meu momento, o nascimento da minha filha, o meu nascimento como mãe.

O que sempre pensei sobre o parto é que era algo de que eu não sabia o que esperar, não tinha ideia se sentiria dor, da grandeza dessa dor, mas sabia que, como mulher, meu corpo era preparado para aquele momento, e o que eu pudesse fazer para estar mais bem preparada eu faria.

Primeira coisa que fiz foi buscar uma equipe, uma obstetra, que tivesse como sua base de trabalho o parto humanizado, que a forma natural não fosse um “ah, sim, eu faço parto normal”, pois sabia que na hora H esse profissional estaria do meu lado, teria paciência, que me tranquilizaria, que estaria sempre de olho em mim e no meu bebê. E que qualquer intervenção (cesárea ou episiotomia) só seriam feitos se realmente fosse necessário, e não porque meu parto estava demorando ou qualquer outro porém que seria me dado para mudar aquele meu momento.

Fui pesquisar, ler, e li muito, assisti filmes e videos sobre o parto humanizado. E cada vez mais entendi que aquele era o certo. As pessoas me chamavam de corajosa. Eu? Por que? Apenas queria algo que a natureza me preparou para viver. Perguntavam se ela nasceria na água, se não poderia tomar anestesia, diziam “Meu D’us, mas sem anestesia?!”. Não, pessoal, espera aí. Não é bem assim… Posso tomar anestesia sim, é só eu pedir, ela pode nascer na água, mas a água também é uma forma de ajudar a relaxar (e como relaxa, viu!). Pode nascer na posição que eu, mãe, acho mais confortável ficar naquele momento, seja de cócoras, em pé, quatro apoios, deitada, como eu me sentir melhor.

Encontrei, por volta de 28 a 30 semanas, a equipe ideal. Aquela que me fez sentir confiança de que meu parto seria com todo cuidado e humano, mesmo que se por algum motivo tivesse que fazer uma cesariana.

Digo mais humano pois sabia que assim que minha bebê saísse da minha barriga ela seria no mesmo momento entregue aos meus braços, que o cordão umbilical seria cortado apenas quando parasse de pulsar (porque assim ela trocaria a respiração de forma sutil, de cordão para natural), não seria enfiado vários canos para sucção, nem colírio que arde os olhos dela (apenas se necessário e depois de um tempinho que nasceu), que teria uma luz baixa, e não um foco de luz em seus olhinhos que ainda nem se acostumaram com esse novo mundo.

Encontrei na Casa Moara a Dra. Andrea Campos, e vendo a a segurança no olhar e firmeza na fala dela entendi que estaria comigo no nascimento da minha Catarina.

Junto a ela, Cristina Balzano como minha obstetriz e Cassia Tozo como minha doula, que traria todas as técnicas de relaxamento e massagem para os momentos de maior dor.

Bom, com 39 semanas e 3 dias as tais das contrações começaram a aparecer. Minha barriga contraía e umas leves dores na lombar apareciam junto. Ainda não tinha certeza, mas estava entrando em trabalho de parto. Às 18h30 as dores começaram a se intensificar e acionei toda a equipe, monitorei por uma hora mais ou menos os intervalos e estavam de 10 em 10 min.

A noite foi caindo e as contrações foram ficando um pouco mais fortes e com intervalos mais curtos. Por volta de 2h da manhã pedi para a minha doula vir até minha casa, para me ajudar com as dores, que neste momento já estavam mais chatas. É engraçado que nesta fase que vem a contração, dói e passa. Quando passa, podemos até sair dançando. Daí ela volta…

Quando a doula chegou, me ajudou com massagem na lombar e me sugeriu alguns movimentos circulares para relaxar. Passaram-se mais duas horas com contrações a cada 3 min em média, e decidimos por fim ir ao hospital. Avisamos à obstetriz, que nos receberia no próprio hospital.

Ainda bem que era de madrugada, 4:30 da manhã aproximadamente, pois moramos a quase 40 min e com o trânsito de SP poderia ser muito pior.

No hospital, os batimentos cardíacos da neném estavam ótimos, e eu já estava com mais ou menos 7 cm de dilatação. Sim, as dores estavam mais chatinhas, bem mais chatinhas, com intervalos de 2 min ou menos.

Fui encaminhada para um quarto especial chamado Labor, que nada mais é do que um quarto com banheira, chuveiro, maca e aparelhagem para o parto.

Preferi ficar embaixo d’agua, água quente realmente me relaxa e me ajudava muito com as dores. Revezei entre banheira e chuveiro.

Quando finalmente cheguei aos 10cm de dilatação e meu corpo já estava “expulsando”, percebi que nosso corpo é tão sábio que naturalmente nos induz a fazer força. As contrações chegavam e eu sentia muita vontade de fazer força.

Sol nascendo (estava um dia lindo), momento perfeito. Por volta de 7 da manhã, a Dra. Andrea me indicou ir para uma banqueta que parece um “U”. Ali eu ficaria sentada, praticamente de cócoras, com meu marido atrás de mim (estava quase chegando o grande momento).

Não falei muito do papai até aqui, mas ele teve papel fundamental em todo o processo. Desde a gestação, em me apoiar no tipo de parto que achava mais adequado, na escolha da equipe, e no momento do parto, então! O apoio e a confiança dele em mim foram extremamente importante.

Chegou o grande momento e, confesso, nessa hora me bateu um certo desespero, pois a dor era muito intensa e minha concentração estava um pouco mais abalada. Até aquele momento não senti a necessidade de uma anestesia, eu realmente não achei que seria necessário, porque as dores iam e vinham e achei que poderia seguir suportando.  Mas a passagem pelo colo do útero foi o momento em que a dor para mim foi muito forte, e eu já estava cansada. Foi aí que a equipe entrou com toda força. Tanto a doula como a obstetra e a obstetriz me olhavam e diziam “Vamos, está quase, ela está quase chegando. Está tudo certo, está tudo muito bem”.

Os batimentos da neném estavam ótimos, sendo monitorados a cada instante, e isso traz uma calma enorme. Depois que passou pelo colo do útero chegamos no chamado círculo de fogo, quando a cabeça da bebê começa a coroar e já é possível sentir até o cabelinho. Eu senti muito medo, estava muito cansada e fiquei com receio de ter uma laceração e sentir a dor da laceração. Mas aí novamente chegou mais uma contração e meu corpo me ordenou fazer força… Após duas ou três dessas Catarina nasceu!

Saiu a cabeça e, em mais uma força, saiu o corpinho e acabou, como se nada tivesse acontecido, as dores passaram e passaram mesmo, sem exagero algum.

A Dra. Andrea a colocou em meus braços e a mistura de adrenalina, emoção e amor tomaram conta da sala. Sorrisos apareceram. Alívio. Foi um momento sensacional. Ainda não acho palavras para descrever este momento com exatidão.

Ainda de cócoras me levantei com a Catarina nos braços e fui deitar na maca para descansar. Sim, levantei – sem dor – e andei até a maca.

Dei de mamar, ela pegou rapidinho, não chorou nenhum minuto. Nasceu de olhos abertos, olhando para a mamãe e o papai. Segurou no primeiro minuto de vida o dedo do papai, que não se aguentava de tanta emoção.

Após aproximadamente 10 min (eu acho) a placenta saiu, totalmente indolor, esperamos parar de pulsar e cortamos o cordão.

Catarina estava mamando, não saiu do meu colo em nenhum momento. Apenas cerca de 1h30 depois ela foi para o colo do papai e eu levantei para tomar um banho, em pé e sozinha, me sentindo super bem.

Como faz diferença esse contato, essa ligação que temos no momento em que o bebê chega ao mundo! Foi de extrema importância. Foi intenso, foi renovador. Me senti uma mulher muito mais forte por ter vivido aquele momento de trazer a minha filha ao mundo. Deixei medos de lado e lutei por algo muito maior que eu. Achei força que não sabia que existia.

Não tive laceração nenhuma, zero! Devo isso também aos exercícios de fortalecimento de períneo que a minha obstetriz me ensinou e ao Epi-no, outro exercício de alongamento da região.

Foi um conjunto para que tudo isso fosse possível: cabeça e corpo conscientes e certos do que querem, equipe que te dê tranquilidade e segurança de que respeitarão sua escolha, e um parceiro para te dar a mão e caminhar contigo.

Catarina nasceu com 2.875kg e 48 cm, um bebê tranquilo, meigo, que mama e dorme muito bem. Estamos apaixonados por ela e esse amor só aumenta e enche meu coração a cada hora!

Obrigada a toda a equipe:

Doula: Cassia Tozo – Casa Amaya
Obstetra: Andrea Campos – Casa Moara
Obstetriz: Cristina Balzano