Acho que o parto nos uniu muito. A gente jogou junto, descobriu uma força que a gente não tinha, e saiu dessa experiência muito mais forte. A chegada da Laurinha transformou completamente a nossa vida e mostrou uma força que eu não sabia que eu tinha. É uma memória que guardamos com muito carinho.

Relato de um parto normal sem anestesia: Nascimento da Laurinha

Foto: Celine de Kerchove

 

Quando engravidei da minha filha, fiz o pré-natal com a ginecologista que me acompanhava desde a época da adolescência. Sempre expressava minha vontade de ter um parto normal e ela sempre validava como uma possibilidade, dado que a minha gestação não teve riscos e complicações.

Já no finalzinho, com 35 semanas mais ou menos, assisti O Renascimento do Parto. A partir daí comecei a prestar atenção nessa questão da violência obstétrica e no fato de muitas mulheres terem uma cesariana indesejada, e quando fui à consulta seguinte com a minha médica eu perguntei algumas coisas mais específicas em relação ao parto, que até então eu não tinha questionado. Algumas respostas dela me espantaram. Ela começou a colocar para mim que eu era uma pessoa muito magra, que a minha bebê era grande, enfim, questões que poderiam sugerir que talvez fosse melhor uma cesariana.

Eu tinha um ultrassom marcado para dali a uns dias, com um médico que também tinha acompanhado toda a minha gestação e que era da equipe da minha obstetra. E ele fez uma observação sobre a minha filha estar com três voltas de cordão no pescoço, e que talvez fosse melhor internar no dia seguinte para fazer uma cesariana. Eu estava com 36 semanas.

Fiquei muito desesperada e liguei para uma amiga que teve parto domiciliar. Ela conhecia bastante a equipe humanizada da Casa Moara, e eu sabia que ela poderia ser um contraponto e me indicar outros profissionais para uma segunda opinião.

Essa amiga prontamente me ajudou a entender um pouco mais o parto humanizado, para eu decidir o que eu gostaria de fazer, e me indicou a Dra. Andrea. Ela mesma ligou para tentar um encaixe e no dia seguinte fui lá com meu marido e todos os exames.

Foi uma consulta muito diferente, tanto por tê-la conseguido imediatamente como por ela se mobilizar pelo caso, pelo tratamento na consulta, pelo consultório… Ao invés de ser uma médica que tem todas as verdades e recomendações, ela olhou todos os meus exames e foi muito tranquila, me deu todas as informações, respondeu tudo que perguntei sem nenhuma parcialidade no sentido do que seria melhor para ela. Senti que deixou muito o protagonismo na minha mão.

Eu e meu marido nos sentimos muito acolhidos. Saímos de lá seguros e, por incrível que pareça, depois de uma hora conhecendo a Dra. Andrea eu já me sentia mais confortável em fazer o parto com ela do que com a médica que acompanhou minha gestação toda e a minha vida desde os 15 anos. Foi uma mudança muito brusca e muito boa de tratamento, em relação às nossas dúvidas e questionamentos.

Eu não tive muita preparação para o parto da Laura porque acho que não estava nos planos da minha médica me preparar para um parto normal. Já a Dra. Andrea me recomendou fazer uma massagem perineal e conhecer uma doula, que foi indicada pela minha amiga.

Apesar de ter sido bem em cima da hora, porque a Laura nasceu com 38 semanas e 5 dias, eu pude me preparar com informações. Cheguei no parto bem segura da escolha que eu estava fazendo e com a mente muito tranquila.

Tive um parto natural sem nenhuma intervenção, e foi uma experiência muito positiva e satisfatória, para mim e para o meu marido. A gente se sentiu tratado com muito respeito, todas as nossas escolhas foram escutadas e o mundo se abriu para a gente.

Eu tinha sido madrinha do casamento do meu primo no sábado à noite, tinha dançado um pouco, e faltavam dez dias para a DPP. Estava bem grande e um pouco inchada. No domingo, no final do dia, depois de almoçarmos com amigos, eu estava ajudando meu marido no trabalho dele e, a cada 5 minutos, levantava com vontade de ir ao banheiro. Só que nada acontecia. Eu ia e voltava, ia e voltava, até que meu marido falou “Rê, será que você não está entrando em trabalho de parto e tendo contração?”. Respondi “Não, imagina, estou com vontade de ir ao banheiro, mesmo!”. Fui de novo e ele começou a marcar no aplicativo de contar contrações. Percebeu que eu ia a cada 3 minutos, e depois que ele me falou isso fui ao banheiro outra vez e saiu o tampão.

A partir daí as contrações começaram a ficar mais fortes. Meu marido perguntou se ligava para a médica original ou para a Dra. Andrea, e eu pedi para ligar para a Dra. Andrea e para a Celine, que foi a doula que acompanhou a gente. A Celine foi para a nossa casa e eu já estava com o trabalho de parto bem intenso, sentindo bastante dor e bem enlouquecida.

A Natália, obstetriz, também foi para a minha casa e confirmou que eu estava com 6 para 7 centímetros de dilatação. No carro, a caminho do hospital, foi super difícil. Eu estava vendo estrela, não encontrava posição.

Eu lembro da evolução das contrações ser bem dolorosa, mas eu também estava muito focada nas informações que tinha lido, então nem me passou pela cabeça pedir uma anestesia. Eu também estava muito curiosa e até comentei com o meu marido, entre uma dor e outra, “Gente, que loucura, isso é muito forte mesmo!”.

A Celine me ajudou muito com posições, me ajudou a ir para o chuveiro para aliviar a dor, e acho que foi muito interessante a forma como elas foram me ajudando a lidar com isso ao longo da madrugada. Meu marido também estava muito intensamente envolvido e não saiu do meu lado nem por um minuto. Quando chegou no finalzinho e eu não aguentava mais, a Dra. Andrea veio examinar e falou: “A cabecinha dela já está aqui!”.

Eu empurrei mais umas três vezes e a Laurinha nasceu dentro da banheira. Foi a coisa mais linda. Meu marido estava atrás de mim e ela veio para o meu colo, ficou comigo, abraçadinha. Foi muito especial.

Chegamos à maternidade à 1h30 da manhã e a Laura nasceu às 6h30. Meu marido gosta muito de rugby e descreveu esse momento como entrar para jogar contra os All Blacks, a melhor seleção do mundo, e só poder sair do campo quando ganhar, não quando acabar o jogo.

Acho que o parto nos uniu muito. A gente jogou junto, descobriu uma força que a gente não tinha, e saiu dessa experiência muito mais forte. A chegada da Laurinha transformou completamente a nossa vida e mostrou uma força que eu não sabia que eu tinha. É uma memória que guardamos com muito carinho.