Ilustração: Marcella Briotto

Durante o período de amamentação, o organismo materno passa por uma série de adaptações e a demanda por alguns nutrientes aumenta. Por isso, para manter uma produção de leite adequada, é importante manter uma alimentação balanceada e se hidratar. Veja como se alimentar na amamentação, o que comer e o que evitar nesse período.

Como se alimentar na amamentação

O organismo é capaz de produzir o alimento mais completo e equilibrado para o desenvolvimento saudável de um bebê: o leite materno. São inúmeros os estudos que comprovam que a amamentação exclusiva até os seis meses de idade diminui as taxas de mortalidade infantil, fortalece o sistema imune e evita diversas complicações, como alergias, diarreia e infecções respiratórias. A longo prazo, o aleitamento também está associado a um efeito positivo na inteligência da criança, e a menores riscos de hipertensão, diabetes e colesterol alto. Para a mãe, o ato de amamentar – sempre respeitando suas possibilidades e desejos – pode trazer diversos benefícios, como fortalecimento do vínculo afetivo entre mãe e bebê, proteção contra o câncer de mama, menores custos financeiros e melhoria na qualidade de vida.

No período da lactação, uma série de mudanças acontecem no organismo. Em consequência, muitas mulheres perdem peso durante os primeiros meses de amamentação, em função da energia envolvida na produção do leite materno (em média, 500 calorias por dia). Além disso, a composição do leite e o volume produzido podem sofrer influências de diversos aspectos, como alimentação, hábitos de vida, necessidades do bebê, entre outros.

O que comer na amamentação

Para a produção adequada de leite materno, a demanda do organismo por alguns nutrientes aumenta – incluindo proteínas, algumas vitaminas (como A, C e E) e sais minerais, como zinco e selênio. Isso não significa que deve-se necessariamente comer em maior quantidade, mas sim atentar-se à qualidade da alimentação.

É importante que as mulheres que estão amamentando tenham uma dieta saudável e equilibrada, que se adeque ao contexto e às possibilidades de cada família. Incluir alimentos frescos (como frutas e verduras), grãos integrais, leguminosas e fontes de proteína (como ovos, frango e peixes), e evitar alimentos industrializados e ultraprocessados são algumas sugestões. Dietas vegetarianas ou veganas não são contraindicadas, mas é recomendado que se dê uma atenção especial à alimentação nesses casos. Estudos apontam que, em casos de dietas mais restritivas, pode ser necessário ingerir suplementos de alguns nutrientes, como cálcio, vitamina D e vitamina B12.

Além de uma alimentação saudável, é fundamental que a mulher beba bastante água, para manter o organismo hidratado e garantir a produção de leite adequada. Uma dica é ter sempre uma garrafa de água por perto, principalmente quando estiver amamentando, e observar os sinais do seu corpo. Se a boca estiver seca ou a urina estiver com uma cor mais escura, deve-se caprichar mais na ingestão de água.

O que deve ser evitado durante o período de amamentação

Foto: Bia Takata

Diferente do que escutamos por aí, não existem alimentos que são, por si só, contraindicados para as mulheres que estão amamentando. A princípio, todos os alimentos são permitidos, mas é importante ficar atenta(o) aos sinais do bebê.

De acordo com um estudo americano sobre o tema, alimentos alergênicos (como leite, ovos, castanhas e farinha de trigo) podem influenciar diretamente na composição do leite materno e, embora seja incomum, podem eventualmente causar problemas digestivos no bebê. Pode-se suspeitar de sensibilidades alimentares se o bebê chorar ou regurgitar uma grande quantidade de leite dentro de uma hora após a mamada, ou se tiver constipação ou diarreia. No caso da alergia a produtos derivados do leite, os sintomas podem incluir eczema, diarreia e vômito. Já bebês alérgicos a proteína do leite de vaca (APLV) podem apresentar sinais como agitação e sangue nas fezes.

Listamos a seguir algumas substâncias que merecem atenção especial quando se trata de amamentação:

  • Bebidas alcoólicas: sabe-se que uma pequena porcentagem de álcool é transferida para o leite materno, mas os estudos são controversos quando se trata de estabelecer a quantidade considerada segura para consumo. Entidades médicas sugerem que a mãe lactante evite expor o bebê ao álcool e, por isso, deve-se evitar amamentar por duas horas após a ingestão de uma dose de álcool – o equivalente a uma lata de cerveja (330 ml), uma taça de vinho (100 ml) ou uma dose de destilado (30 ml). Para cada dose adicional de álcool ingerida, deve-se acrescentar mais duas horas de espera para retomar a amamentação. Outra possibilidade é extrair e armazenar leite com antecedência para a próxima mamada.
  • Cafeína: beber uma quantidade moderada de cafeína – como duas a três xícaras de café por dia – não parece produzir efeitos significativos nos bebês que são amamentados, segundo a Academia Americana de Pediatria. No entanto, é preciso ficar atento, pois alguns bebês mais sensíveis à cafeína podem mostrar-se mais irritados e com dificuldade de dormir.
  • Medicamentos e drogas ilícitas: alguns remédios podem afetar a produção e a composição do leite materno, por isso é importante sempre consultar um profissional de saúde antes de ingerir qualquer medicamento. Além disso, recomenda-se que mulheres lactantes não usem drogas ilícitas, pois podem ser prejudiciais para o bebê.
  • Tabagismo: pesquisas mostram que bebês de pais fumantes pode ser mais propensos a apresentar problemas respiratórios, infecções pulmonares e otite. Além disso, o hábito de fumar pode reduzir o volume de leite materno produzido. O consumo de tabaco é contraindicado para as mulheres que amamentam mas, caso não seja possível largar o hábito, o Ministério da Saúde recomenda continuar amamentando, pois os benefícios superam as outras alternativas (como o uso de fórmulas artificiais, por exemplo).

Amamentação em livre demanda

Para manter a produção de leite materno ativa, não há nada melhor do que a própria sucção que o bebê faz enquanto amamenta. Na amamentação em livre demanda, o bebê regula as mamadas (duração e intervalo entre elas) de acordo com suas necessidades, e a mãe estabelece seus limites e possibilidades. Mulheres saudáveis, com bebês em aleitamento exclusivo, produzem em média 750 a 800 ml de leite diariamente.

Estudos demonstram que variações na alimentação e exercícios aeróbicos não tendem a afetar a fabricação de leite. Por outro lado, alguns fatores que podem diminuir sua produção são tabagismo, estresse materno, ansiedade e uso de contraceptivos combinados de estrogênio e progesterona.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Cadernos de Atenção Básica: Saúde da criança – Aleitamento Materno e Alimentação Complementar. Ministério da Saúde. Brasília (DF), 2015

Butte, PhDAlison Stuebe, MD. Maternal nutrition during lactation. Post TW, ed. UpToDate. Waltham, MA: UpToDate Inc. https://www.uptodate.com (Acessado em Novembro de 2019)

Turner, MD, MEdShea Palamountain, MD. Infantile colic: Management and outcome. Post TW, ed. UpToDate. Waltham, MA: UpToDate Inc. https://www.uptodate.com (Acessado em Novembro de 2019)