Ilustração: Ana Persona
O parto é um evento fisiológico, que acontece naturalmente, pelo qual mãe e bebê passam no final do período da gravidez. Ele é desencadeado pelo bebê, quando este se encontra maduro.
- Amadurecimento de sistemas e órgãos fetais essenciais, especialmente os pulmões, para os desafios na vida fora do útero;
- Transformar o colo do útero duro da mulher numa estrutura mole e prontamente dilatável;
- Iniciar as contrações do útero que direcionarão o bebê através do canal de parto para que aconteça o nascimento.
O corpo da mulher, que nesse momento também já se encontra preparado para esse processo, responde a esse estímulo liberando hormônios que irão preparar o canal de parto e desencadear as contrações uterinas que ajudarão o bebê a descer e nascer.
Durante a gravidez, o órgão responsável pela produção dos hormônios e oxigenação do sangue do bebê é a placenta, pois seu pulmão encontra-se em meio líquido e só fica pronto para realizar a oxigenação do sangue no final da gravidez (de 37 a 42 semanas) pois precisa produzir uma substância chamada surfactante, que impede que os alvéolos pulmonares se fechem com a entrada de ar durante a respiração. Quando acontece essa maturidade pulmonar, são liberados hormônios que vão estimular o corpo da mulher a entrar em trabalho de parto.
Ao passar pelo canal de parto, o tórax do bebê é comprimido e esse líquido que estava dentro do pulmão sai, entrando o ar que fará sua expansão e dará início à sua função de oxigenação do sangue.
Os hormônios liberados durante o trabalho de parto cumprem várias funções, e quando o trabalho de parto se inicia de maneira espontânea e evolui sem interferências externas, eles podem agir de maneira plena.
Os benefícios de esperar esse processo acontecer naturalmente são o respeito pelo momento em que o bebê ficou maduro, evolução mais efetiva do trabalho de parto, diminuição da dor e do stress e melhor adaptação da mulher e do bebê após o parto, aumentando as chances de um aleitamento bem sucedido e melhorando o vínculo entre mãe e bebê.
O Papel dos Hormônios
Cada hormônio tem seu papel e um ajuda na atuação do outro para que tudo aconteça de maneira perfeita. Eles atuam preparando o corpo da mulher para a gravidez, parto e recuperação pós parto, para crescimento e desenvolvimento do bebê e para o fortalecimento do vínculo entre a mãe e o bebê após o parto.
Esses hormônios são a progesterona, o cortisol, o hormônio liberador de corticotropina, o estriol, as prostaglandinas (substâncias semelhantes a hormônios), a relaxina, a ocitocina, as beta-endorfinas, a adrenalina, a noradrenalina e a prolactina.
Progesterona
A progesterona é o hormônio que prepara o corpo da mulher para a gravidez e atua durante toda a gestação para sua manutenção.
Sua ação previne contrações uterinas enquanto o bebê ainda está se desenvolvendo e inibe a produção das prostaglandinas.
Para ocorrer o trabalho de parto, ela é inibida pelo estriol, que é liberado quando o bebê está maduro.
Cortisol e Hormônio Liberador de Corticotropina
São hormônios do estresse, liberados quando acontece o crescimento do bebê a ponto de distender o útero, quando a gravidez está chegando ao final. Eles provocam o aumento da produção do estriol, que vai atuar inibindo a ação da progesterona.
O cortisol ajuda no progresso do trabalho de parto e aumenta a liberação de prostaglandinas. Também promove contrações, aumentando os efeitos centrais da ocitocina na adaptação materna e na criação do vínculo entre mãe e bebê.
Estriol
É o estrogênio predominante na gestação. Ele inibe a síntese de progesterona pela placenta, prepara os músculos do útero para o parto e aumenta a sensibilidade do útero à ocitocina, hormônio que estimula as contrações de forma coordenada.
Prostaglandinas
São substâncias similares a hormônios, que ajudam no início do trabalho de parto.
São liberadas pelo útero quando este é estimulado pelo estrogênio, e atuam diminuindo os níveis de progesterona e no preparo do colo do útero e da pelve materna para o parto (associadas à relaxina).
Elas também estão presentes no sêmen.
Relaxina
Produzida pela placenta e pelo corpo lúteo dos ovários, ajuda a amolecer as articulações e ligamentos pélvicos para ajudar na passagem do bebê. Ela também permite a distensão do útero conforme o bebê cresce.
Ocitocina
É um hormônio reprodutivo que tem grande importância no parto, aleitamento materno, estabelecimento de vínculo afetivo e no prazer sexual.
É produzida pelo hipotálamo e liberada pela neuro-hipófise.
Dentre suas funções estão a ejeção do esperma, promoção das contrações do trabalho de parto, ejeção do leite após o parto e redução do estresse.
Ela reduz o medo e promove calma, conexão, cura, crescimento e sociabilidade.
No decorrer da gravidez, ocorre um aumento dos receptores de ocitocina no útero, cérebro e mama.
Quando o bebê está pronto para nascer, conforme a cabeça fetal empurra o colo, desencadeia o estímulo para o cérebro liberar ocitocina e, com isso, iniciar as contrações do trabalho de parto. Essas contrações uterinas empurram o bebê para baixo. A cabeça dele força o colo e faz liberar ainda mais ocitocina, causando o que chamamos de estímulo por feedback positivo (veja a figura acima).
A ocitocina é a responsável pelas contrações uterinas acontecerem de forma harmônica e regular. Ela também está diretamente ligada ao reflexo da mulher para empurrar o bebê para nascer (puxos) quando o colo está completamente dilatado. A ocitocina atua também para efeitos calmantes e analgésicos
Após o parto, esse hormônio ajuda na adaptação materna e no estímulo do centro de cuidados primais, trazendo prazer no cuidado com o bebê e facilitando o aleitamento. Promove contrações uterinas eficazes que diminuem o risco de hemorragia pós-parto e uma vasodilatação do tórax materno que proporciona um aquecimento natural do bebê.
Beta-endorfinas
São os opióides endógenos, ou seja, analgésicos naturais que ajudam a aliviar a dor, responsáveis pelo estado de consciência alterado da mulher durante o trabalho de parto.
Atuam ativando os centros cerebrais de recompensa e prazer e ajudam na resposta adaptativa ao stress, tanto da mãe quanto do bebê.
São os hormônios que motivam e recompensam os comportamentos reprodutivos e sexuais e ajudam na função imune.
No pós-parto acontece um pico de beta-endorfinas que provoca a euforia materna e um efeito protetor no cérebro fetal para deficiências de oxigênio. Esse pico hormonal também estimula os centros de cuidado primal e o aleitamento materno, e dá suporte ao bebê na transição e estresse pós-parto, pois as beta-endorfinas estão presentes no colostro.
Adrenalina e Noradrenalina
São responsáveis pela resposta ao estresse chamada de “luta ou fuga”: quando a mulher em trabalho de parto percebe um perigo, atuam para diminuir o ritmo ou parar um trabalho de parto, dando tempo para “lutar ou fugir”, ou acelerar o reflexo da expulsão do bebê. Também fazem a mãe e o bebê ficarem alerta logo após o parto.
Têm efeitos importantes sobre o bebê que acabou de nascer, como a adaptação crítica à falta de oxigenação, preservação do fluxo sanguíneo no coração e no cérebro, promoção da transição respiratória e limpeza dos fluidos pulmonares, promoção de energia metabólica para o período neonatal, controle de temperatura e manutenção de um estado de alerta do bebê.
Após o parto, os níveis caem na mãe e no bebê, acontecem as contrações uterinas e uma redução do consumo de energia.
O contato pele a pele quente e sem perturbação é importante para facilitar a queda materna e neonatal dos níveis desses hormônios, ajudando na contração do útero e prevenindo hemorragia.
Prolactina
É o principal hormônio da reprodução e amamentação.
Responsável pela adaptação do corpo da mãe para a gravidez e amamentação e redução do estresse, ansiedade e tensão.
Antes do parto, ajuda no preparo respiratório do bebê. Conforme o parto se aproxima, ocorre seu aumento, que estimula a liberação de ocitocina.
Atua em picos após o parto promovendo adaptação fetal e o aleitamento.