E assim você chegou, filha. Depois de umas 30 horas de trabalho de parto, depois do dia todo presa na saída do meu colo do útero, a força visceral da mamãe te conduziu com todo amor aqui pra fora. Você já saiu chorando e fazendo cocô na mamãe, hehe. Veio direto pro meu colo, e aqui ficou. Um sentimento doido de paz tomou conta de mim, porque você sempre esteve aqui, você só atravessou uma parede. E eu, cruzei um portal. Um portal que não tem mais volta, um portal que nos leva pro resto das nossas vidas, juntas.

Relato de parto normal induzido: Nascimento da Júlia

Foto: Arquivo Pessoal

 

Eu sempre sonhei com um parto natural, no tempo que a Júlia escolhesse chegar, mas logo de cara já comecei a entender que ser mãe não é fazer as coisas como a gente quer, e sim como for melhor pros nossos filhos.

Engravidei em janeiro de 2019, e junto com essa notícia veio o diagnóstico de diabetes gestacional, o que caracterizava uma gestação de risco.

Imediatamente comecei a fazer dieta, medir a glicemia várias vezes ao dia e tomar injeções de insulina antes de cada refeição.

Mas esses não foram os únicos obstáculos da gestação. Nos quatro primeiros meses tive tanto enjoo, que vomitei praticamente tudo que comi. Fiquei muito fraca, perdi muito peso, e no meio de tudo isso ainda passei por uma dengue.

No oitavo mês, parecia que finalmente as dificuldades tinham diminuído. Apesar das dores nas costas, eu estava me sentindo bem, me alimentando bem, fazendo exercícios, a diabetes estava controlada e a Júlia estava se desenvolvendo muito bem.

Até que veio a notícia: “Bia, você está com a pressão alta. A essa altura da gestação, isso é mais um fator de risco pra você e para a bebê. Então, se prepare, a Júlia precisa nascer assim que completar 37 semanas, ou seja, daqui a oito dias”, disse a Dra Andrea Campos.

Sete dias depois, lá estávamos eu e o meu marido dando entrada no hospital. Me botaram uns comprimidos para induzir o parto e, na quinta, dia 12/9, às 14h, tive minha primeira contração dolorida. Eram os primeiros sinais do trabalho de parto.

As dores se prolongaram ao longo do dia, à noite deram uma trégua, e voltaram na sexta de manhã.
Foram piorando progressivamente com o passar do tempo, e eu achei que não passaria muito daquilo. Hehehe, doce ilusão.

Às 10h45, a doula estava me fazendo uma massagem com o rebozo (tecido longo), quando eu sinto um CRÉC dentro da barriga, parecia um estralo de osso… mas não tem osso na barriga, né? Achei estranho, e levantei. CHUÁ, escorreu uma água quente pelas minhas pernas. Era a bolsa que tinha estourado!

Daí pra frente, entrei no que chamam de partolândia. Um lugar muito profundo, onde a gente encara de frente todas as nossas piores sombras. A partir daí, as lembranças são escassas e confusas. Só sei que as dores se tornaram insuportáveis. Meu marido, a doula e a obstetriz tentavam fazer de tudo para me trazer mais conforto: massagens, carinho, chuveiro quente, buscopam, banheira quente… e nada! A dor só piorava, e o meu desespero também. Eu gritava pedindo anestesia.

Às 14h, quando eu já não suportava mais, chegou o anestesista e me trouxe de volta à vida!
As horas seguintes foram de muita força física (tipo agachamentos e abdominais com muito peso) e doses extras de anestesia, pra segurar a bronca.

Ao anoitecer, a Júlia ainda estava muito alta na barriga e havia sangue no líquido amniótico, então a equipe médica começou a considerar a hipótese de uma cesárea (isso só me contaram depois!). Eu não sabia, mas a anestesia dificulta o período expulsivo do parto, ou seja, quando o corpo faz força sozinho para o bebê descer.

Então, a equipe sugeriu mais um recurso: me colocaram sentada num banquinho, com meu marido me dando suporte nas costas, e eu fiz toda a força do mundo! Dado momento, comecei a sentir a anestesia passando e as dores voltando, e isso me apavorou. Foi então que a Dra Andrea me disse: “não tenha medo, leve sua força de encontro com essa dor”, e eu fui. Até que, finalmente, eu ouço: “tira o top, que ela vai nascer agora!”

E assim você chegou, filha. Depois de umas 30 horas de trabalho de parto, depois do dia todo presa na saída do meu colo do útero, a força visceral da mamãe te conduziu com todo amor aqui pra fora. Você já saiu chorando e fazendo cocô na mamãe, hehe. Veio direto pro meu colo, e aqui ficou. Um sentimento doido de paz tomou conta de mim, porque você sempre esteve aqui, você só atravessou uma parede. E eu, cruzei um portal. Um portal que não tem mais volta, um portal que nos leva pro resto das nossas vidas, juntas.

Toda a gratidão do mundo a todas as mulheres que me ajudaram a realizar o maior ato de amor e coragem da minha vida: um emocionante e intenso parto normal. Agradecimentos especiais à minha amada obstetra Dra Andrea Campos e à querida obstetriz Natalia Rea, que nos conduziram com tanto carinho e segurança por esse percurso.

Ah sim, filha, o seu pai! Ele estava com a gente o tempo todo. Nosso alicerce, nosso amparo, nossa força externa, nosso colo amoroso, nossa mente sã nos momentos de apuros. Ele chorou que nem criança quando você chegou, e não parava de repetir “Ela é linda! Ela é linda!”. E você é linda mesmo!

Bem vinda, Júlia. Esse mundão é todo seu. E o colo da mamãe e do papai também.

Te amo.

Sexta, 13/09/2019, 20h22
37 semanas e 1 dia
2,980kg, 48cm
Virgem com ascendente em áries e lua em peixes