Quando eu conto do parto, todo mundo fica surpreso: “Nossa, mas dá? É possível?” Se tiver tudo bem com a mãe e os bebês, sim, é possível, costumo responder. Mas precisa achar um médico que saiba que dar à luz é normal. E procurar exemplos de outras mulheres, histórias que deram certo.

Parto normal gemelar: nascimento do Theo e do Ian

Nasci de parto normal, apesar de ser do começo da “geração cesárea”. Nunca pensei em ter um filho de cesariana, sempre de parto normal, mas não tinha muitas informações sobre o assunto.

Com a minha primeira filha, tive a sorte de encontrar um médico de convênio que fazia parto normal. Perguntei se tinha mesmo de fazer episiotomia (corte no períneo), e ele disse que sim. Quis saber como era esse negócio de parto natural, e ele me respondeu: “Ah, você quer um parto desumanizado?”

No consultório, via muitas mulheres bem barrigudas, o que me deixava preocupada. “Fica tranquila porque parto normal é só o seu!”, ele me tranquilizava. Ou seja, ele era bem aberto ao parto normal, mas tinha os limites dele.

Na segunda gestação, quando fiquei sabendo que eram gêmeos, já saí do ultrassom preocupada com o nascimento. Não existe parto normal de gêmeos! Fui a uma médica que disse: “É difícil”. Saí para não voltar mais.

Então pedi uma indicação a um pediatra em quem confio muito. Na primeira consulta, esse obstetra falou tanta bobeira… Que não podia pintar unha, cabelo. E eu nunca tive nenhuma preocupação com isso. Só queria saber uma coisa: “Por que não posso ter parto normal?” Isso não foi explicado.

Um dia estava em casa trabalhando, quando recebi um telefonema. Estavam me oferecendo uma oportunidade de vender o meu trabalho num site de mães. Marcamos uma reunião para conversar e uma das sócias da empresa estava gravidíssima. Foi ela que me passou o contato da médica humanizada que acompanhou o parto. Na primeira consulta ela já me tranquilizou sobre a possibilidade de ter sim um parto normal.

A gravidez foi muito difícil para mim, sentia muita dor na virilha e comecei a inchar cedo. Para os bebês, foi maravilhosa. Se desenvolveram igualmente a gravidez toda. No último ultrassom estava tudo bem com eles. Com 34 semanas fiquei resfriada e comecei a tossir. Fui para o hospital umas duas ou três vezes por causa disso. Com 37 semanas entrei em trabalho de parto. Meu marido tinha acabado de operar o pé e estava de muletas. Foi um período difícil…

Estávamos hospedados na casa da minha sogra, a dois quarteirões do hospital. De madrugada, dormindo, fui mudar de posição e… a bolsa estourou. Cheguei ao hospital com três centímetros de dilatação. Preenchi ficha, sentei na maca e não consegui fazer mais nada. Estava sentindo muita dor. Fiquei feliz quando minha médica chegou: “Graças a Deus não vão cortar minha barriga”, pensei.

O trabalho de parto foi rápido. Theo nasceu primeiro, com 2 490g. Senti um grande alívio. E pensei em descansar um pouco para o próximo. Doze minutos depois nasceu Ian, dentro da bolsa amniótica. Ouvi dizer que é sinal de boa sorte! Costumo dizer que ele nasceu dentro da bolsinha.

Meu marido não conseguiu chegar a tempo para ver os nascimentos. Fiquei bem emocionada depois do parto. Continuava com tosse e estava afônica. O raio-X revelou uma pneumonia e comecei a ser medicada no dia seguinte ao parto. Os bebês tiveram alta com três dias e eu com seis. Eles ficaram comigo no hospital enquanto eu me recuperava da doença. Depois, fomos todos juntos para casa.

Quando eu conto do parto, todo mundo fica surpreso: “Nossa, mas dá? É possível?” Se tiver tudo bem com a mãe e os bebês, sim, é possível, costumo responder. Mas precisa achar um médico que saiba que dar à luz é normal. E procurar exemplos de outras mulheres, histórias que deram certo.

É importante ressaltar isso. Eu não conto a minha história para me sentir a mulher maravilha, mas porque foi o depoimento de outra mãe de gêmeos, a Viviane (que conheci na Casa Moara), que me encorajou e me deixou mais animada e feliz. Ela foi o meu exemplo. Por isso relatos de parto são são importantes.

Eu pensava também na minha mãe, na minha irmã, na minha tia, na minha avó. Todas tiveram parto normal. Precisamos de exemplos bons. Para poder pensar: “Vou percorrer o mesmo caminho que elas”. Parir é absolutamente normal!

Fonte: texto publicado no site Casa Moara