Tomei analgesia, a dor passou, mas mantive os movimentos, podia ficar em pé, sentia as contrações. Nesse momento eu retomei o equilíbrio, e me deu uma paz enorme. Colocamos a música que coloquei na barriga por meses durante a gestação do meu primeiro filho, um momento muito especial e emocionante. Percebi ali que não importava o fato de ter tido que induzir, de não ter acontecido como eu tinha planejado duas vezes, porque o sentimento de paz naquele momento era tão grande que me fez entender que a minha busca não era de um parto natural, mas de paz no momento que eu fosse receber meu filho.

As coisas podem não sair como desejamos, mas podem ser igualmente incríveis

parto induzido com ocitocina, foto do momento em que a mãe pega o bebê no colo

Pra falar sobre o parto do meu segundo filho, preciso contar o que aconteceu no nascimento do primeiro.

Escolhi o obstetra por indicação de várias mulheres, sem ter a menor noção do que era um parto. Achei que era só chegar lá, tirar o bebê e pronto. Como sou uma pessoa curiosa, comecei a ler e entender o que era o parto normal, cesárea, humanizado e natural. Me encantei pela humanização do parto e decidi que faria de tudo para ter um parto natural. Durante as consultas eu sempre expus as minhas vontades, e sempre o obstetra tentava diminuir os meus desejos: “Parto na banheira? Credo, é horrível parir com um cocô boiando na água!”. “Plano de parto? Isso é coisa de americano, pra poder processar o médico!”. Mas eu segui firme na minha idéia do parto natural e humanizado, achando que ele seria capaz de fazer, já que todas as vezes ele afirmava que faria.

Com 39 semanas + 4 dias, acordei de madrugada com dores mas achei normal, já que tive muitas contrações de treinamento desde o começo do segundo trimestre. Percebi que era a hora quando fui fazer xixi e vi que estava sangrando. As dores foram aumentando, então comecei a marcar no aplicativo para saber a duração e o intervalo. Avisei o médico umas horas depois por pressão do marido (que é ansioso), e de cara ele me mandou ir para o hospital dizendo que eu estava bem porque a bolsa ainda não tinha estourado, e que se estourasse eu iria morrer de dor, então era melhor eu estar no hospital. Pra mim a violência obstétrica já começou ali! Ele sabia que eu queria um parto natural, não deveria me assustar desnecessariamente.

As contrações ainda estavam irregulares, com intervalo grande, de 5 a 7 minutos, e eu queria esperar mais tempo em casa para não ter risco de passar por intervenções desnecessárias no hospital. Então enrolei, comecei a preparar a mala de maternidade (planejei de fazer a mala na hora justamente por isso, rsrs), mas meu marido, ansioso, começou a me acelerar. Chegamos no hospital, fizeram o toque eu eu estava com quase 5 cm de dilatação. Chegou a enfermeira da equipe do meu médico e ela me orientou a fazer força em TODAS as contrações, dizendo que isso ajudaria na dor. Completamente diferente de tudo que tinha lido. Mas ali na hora a gente fica vulnerável, então fiz o que ela falou. O médico chegou e logo já começou a falar que teria um jantar naquela noite, e que tudo estava correndo rápido para ele poder participar do evento.

Em pouco tempo cheguei a 9cm, trabalhando a minha dor, me equilibrando, mas incomodada com a equipe que estava toda dentro do quarto puxando meu marido para conversar sobre o churrasco do final de semana, voz alta e risadas por todo lado, enquanto o que eu queria era silêncio, tranquilidade e apenas meu marido do meu lado me dando suporte. Me escondi no banheiro durante um tempo fingindo que queria fazer cocô, só pra ter paz, mas mesmo assim ficavam batendo na porta o tempo todo. O médico continuava falando que eu só estava aguentando porque a bolsa não tinha estourado, e num determinado momento disse que eu deveria escolher se queria tomar a analgesia porque o anestesista tinha uma cirurgia e ia ter que ir embora.

Eu queria um parto natural, mas queria ter a opção de tomar analgesia se eu achasse que deveria. Mais pressão e acabei cedendo. Tomei a analgesia sem querer, sabendo que estava aguentando e que não era a hora. O efeito durou cerca de 30 min, e durante esse tempo eu fiz agachamentos para acelerar o processo, ou seja, me cansei ainda mais.

Eu saí de horas de evolução da dor de zero a 9cm de dilatação equilibrada, para minutos de uma dor de zero a 10. Ou seja, perdi a estabilidade e equilíbrio que me mantiveram bem todo o tempo. Depois disso, as intervenções não pararam mais. Era uma desculpa atrás da outra para fazerem tudo que eu não queria. Era toque o tempo todo durante as contrações (o que dóooooooooi demais), me deram ocitocina, que eu não queria, estouraram a bolsa, que eu não queria… Foi um show de horrores! O anestesista continuava aplicando analgesia, mas nada funcionava.

Saímos do quarto de parto humanizado do Einstein e fomos para a sala de cirurgia. A cara do médico era de pânico, ele claramente não sabia o que estava fazendo! No final das contas me deram uma raq, eu perdi todos os movimentos, estava completamente exausta porque o expulsivo durou 4,5 horas e me cansei desnecessariamente antes da hora, até que a enfermeira e o anestesista subiram na minha barriga e meu filho foi retirado com fórceps. Não preciso nem falar da episiotomia gigante que ele me deu de presente.

Eu, que queria um parto natural, sofri todas as intervenções possíveis, além da violência obstétrica durante todo o período em que estive assistida pela equipe do médico. Um detalhe que só percebi depois foi que as mulheres que indicaram o tal médico fizeram cesárea.

Fiquei mal por uns meses, mas nunca desisti de ter um novo parto normal. Engravidei do meu segundo filho, e nesse momento eu já sabia que os médicos não sabem fazer parto normal, por isso tudo acaba em cesárea. Consultei um médico famosinho que dizia ser humanizado, mas não me senti segura, parecia que eu estava caindo no mesmo conto que o médico anterior me vendeu. Então perguntei no instagram se alguém conhecia um obstetra humanizado e uma amiga me indicou a Dra. Andrea Campos.

A primeira coisa que fiz foi pesquisar o currículo dela, formação, índice de partos normais, cursos e me senti segura de que estaria nas mãos de uma pessoa experiente naquilo que eu desejava. Fiz a primeira consulta e constatei que ela estaria na hora do parto como coadjuvante, que respeitaria meu jeito diferente. Durante as consultas percebi que ela é um camaleão, se molda às necessidades de quem está sentada ali na sua frente. Naquele momento eu sabia que teria um parto natural do jeito que eu queria, em silêncio, só eu e meu marido, sem ninguém enchendo o saco!

No final da gravidez meu líquido amniótico diminuiu de 18 para 2 em 3 dias, e o bebê atingiu um percentil muito baixo. Esse quadro é chamado de oligoâmnio, ou seja, volume de líquido amniótico abaixo do esperado. Então, com 38 semanas + 6 dias, a Dra. Andrea achou melhor induzir o parto com ocitocina.

Fiquei triste no primeiro momento por ver que mais uma vez eu não ia conseguir meu parto natural, mas estava segura e tranquila porque confiava na experiência dela.

Fiz a internação, e a ocitocina foi sendo aplicada de forma gradativa, pra ver se meu corpo entendia que precisava começar a trabalhar para tirar o bebê dali. As contrações começaram em seguida, foram se intensificando, os intervalos diminuindo. Eu sempre li que as contrações são como ondas, elas começam, a dor vai subindo, tem o pico e começa a diminuir até parar. Eu me arrisco a dizer que um segundo depois do pico vem uma sensação de prazer enorme! A contração começava, eu me preparava, e só pensava que ela ia chegar no pico rapidinho e logo ia diminuir. Mas chegou um momento em que eu comecei a me sentir fraca depois das contrações, com sensação de desmaio. E eu odeio essa sensação! Costumo dizer que é sensação de morte! Aguentei mais um pouco até que parei pra refletir que aquilo não estava sendo bom pra mim.

Na última consulta, por acaso, eu conversei com a Dra. Andrea e disse que se tivesse que aplicar ocitocina por qualquer motivo (até então tudo corria bem com a gravidez), eu tomaria analgesia porque a ocitocina atrapalha a evolução natural e me tiraria o equilíbrio. E sim, eu estava conseguindo pensar. Meu marido até tentou me encorajar a continuar (eu tinha pedido pra ele fazer isso caso eu pedisse anestesia), mas olhei no olho dele, completamente consciente, e o lembrei do que tinha falado sobre a ocitocina e expliquei que aquela sensação de desmaio não estava sendo legal pra mim, estava tornando todo aquele processo ruim e não era daquele jeito que queria me lembrar desse dia.

Tomei analgesia, a dor passou, mas mantive os movimentos, podia ficar em pé, sentia as contrações. Nesse momento eu retomei o equilíbrio, e me deu uma paz enorme. Colocamos a música que coloquei na barriga por meses durante a gestação do meu primeiro filho, um momento muito especial e emocionante. Percebi ali que não importava o fato de ter tido que induzir, de não ter acontecido como eu tinha planejado duas vezes, porque o sentimento de paz naquele momento era tão grande que me fez entender que a minha busca não era de um parto natural, mas de paz no momento que eu fosse receber meu filho. Aprendi ali que mesmo que as coisas não aconteçam como a gente quer, temos que ter a capacidade de enxergar que ainda podemos ter um resultado incrível. Enquanto a música tocava, eu e meu marido nos olhávamos chorando com uma sensação tão maravilhosa que nem consigo descrever.

Um tempo depois meu filho nasceu. Em um ambiente tranquilo, com uma equipe médica extremamente respeitosa, sem dor emocional, na posição que eu me senti mais confortável (de cócoras), foi direto para o meu colo, recebido a 4 mãos. Foi diferente do que eu queria mas imensamente melhor do que eu imaginava.