Saiba quais são os direitos da mulher na gravidez, parto e pós-parto

Foto: Marcelo Min

Os direitos da mulher na gravidez, parto e pós-parto precisam ser conhecidos, para que ela possa exigir o cumprimento deles e ter uma experiência positiva.

Para que a mulher tenha um pós-parto emocionalmente saudável, para que a produção de leite não seja comprometida e as oscilações hormonais e de humor típicas dessa fase não se tornem uma depressão pós-parto, é muito importante que ela vivencie uma gravidez e parto respeitosos e tranquilos. Portanto, é fundamental que os direitos dela sejam resguardados, tanto no trabalho quando no atendimento médico que receber.

Infelizmente, nem sempre as empresas e os hospitais cumprem a legislação vigente. Por isso, é importante conhecer os direitos da mulher na gravidez, parto e pós-parto para que ela ou sua rede de apoio possam usufruir dos benefícios que lhes são assegurados, exigir seus direitos e recorrer aos órgãos competentes quando necessário.

Direitos da mulher durante a gravidez

Toda mulher tem direito a um acompanhamento especializado durante a gestação. É o que determina a Lei n. 9.263/1996, que estabelece que toda a rede de serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) tem a obrigação de garantir atenção integral à saúde, tendo a assistência à concepção e contracepção, o atendimento pré-natal e a assistência ao parto, ao puerpério e ao neonato como atividades básicas.

Pelo SUS, a mulher tem direito a pelo menos seis consultas de acompanhamento pré-natal, sendo, preferencialmente, uma no primeiro trimestre, duas no segundo e três no terceiro trimestre de gestação.

Também é um direito da mulher ter à disposição todos os recursos para que o parto normal aconteça, já que o Ministério da Saúde aponta esta como a via de parto mais aconselhada e segura.

No âmbito trabalhista, os direitos da mulher começam antes mesmo da gestação. Nenhuma empresa pode exigir teste, exame, perícia, laudo, atestado ou qualquer outro procedimento para se certificar de que uma possível nova funcionária não esteja grávida. Assim como uma mulher grávida não pode ser discriminada em processos de admissão e nem de permanência. Ou seja: caso engravide durante o período de experiência, a mulher não pode deixar de ser efetivada por isso.

Uma mulher grávida tem direito a estabilidade garantida por até 5 meses depois do parto, mesmo que esteja cumprindo aviso prévio, e só pode perdê-lo se cometer falta grave.

Caso exerça função que possa comprometer sua saúde, a gestante tem direito a mudar de cargo sem alteração no salário e benefícios. E, quando retornar da licença-maternidade, deverá ter a vaga que preenchia antes da gestação garantida.

Ao longo da gestação, ela poderá se ausentar da empresa, durante o horário de trabalho, pelo tempo necessário para a realização de, no mínimo, seis consultas médicas e exames complementares. Ela não poderá ter as horas descontadas do salário nem qualquer outro prejuízo.

Direitos da mulher durante o parto

Nenhuma mulher pode ser privada de um acompanhante escolhido por ela, em nenhum momento do trabalho de parto, parto e pós-parto. O hospital tem a obrigação de informar à paciente que ela tem direito a ser acompanhada por uma pessoa indicada por ela, e isso é assegurado pela Lei n. 11.108, de 2005, e pela Portaria n. 2.418, de 2 de dezembro de 2005.

Também é um direito de toda mulher ter acesso a um atendimento digno e de qualidade na gestação, parto e puerpério.

Direitos da mulher no pós-parto

A mulher tem direito a licença-maternidade remunerada, que pode começar até 28 dias antes da Data Provável do Parto (DPP), e tem 120 dias de duração, podendo ser extendida para até 180 dias. Mães de crianças que foram adotadas têm o mesmo direito.

Caso esteja desempregada, possua emprego informal ou seja empreendedora, tem direito a receber o salário-maternidade pago pela Previdência Social e se afastar do trabalho durante o período. O valor do benefício será calculado a partir do salário da mulher nos últimos 6 meses.

Mulheres que tiveram aborto espontâneo podem receber o salário-maternidade e se afastar do trabalho por duas semanas.

A Organização Mundial de Saúde recomenda o aleitamento exclusivo nos seis primeiro meses de vida do bebê. Para tanto, o artigo 396 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) garante o direito a dois intervalos, de meia hora cada, durante o expediente, à mulher que retornar ao trabalho antes de o bebê completar seis meses.

Amamentar o bebê em público também é um direito previsto em lei. Alguns estados brasileiros têm multas para estabelecimentos que constrangerem uma mulher que amamenta, seja sugerindo que ela vá a um lugar reservado para fazê-lo, seja solicitando a ela que não amamente em determinado local.

Direitos do pais

Durante a gestação, o pai do bebê tem direito a duas faltas sem desconto no salário para acompanhar consultas médicas.

Quando o filho nasce, o pai tem direito a 5 dias de licença remunerada, que começa a ser contada na data de nascimento da criança. No caso das empresas participantes do Programa Empresa Cidadã, são 20 dias de licença para os pais.

Pais de crianças até 6 anos também têm direito a uma falta ao ano para acompanhar consultas médicas.

Para casais homoafetivos, não há leis específicas concedendo o direito a licença para a mãe que não gestou o bebê. No entanto, é possível que ela possa se afastar sem prejuízo de salário pelo tempo equivalente ao da licença-paternidade.

Além da legislação específica para as relações trabalhistas, a mulher conta com direitos que dizem respeito especificamente ao atendimento que recebem na gestação, parto e pós-parto. É importante saber quais são esses direitos para exigir que sejam respeitados e, caso não sejam, denunciar os profissionais e hospitais aos órgãos competentes.

Referências

Lei 11239/18 garante afastamento de trabalhos insalubres

Lei 12873 garante o salário-maternidade, inclusive para mães que adotaram seus filhos

Artigo 396 da CLT garante que a mulher possa fazer pausas para amamentar durante expediente

Artigo 473 da CLT garante direito a licença-paternidade

Lei estabelece que SUS deve garantir atendimento integral à saúde

Lei 11.108 assegura direito a acompanhante

Senado aprova multa para quem impedir amamentação em local público

Quando a cesárea é indicada?

Saiba os riscos associados à cirurgia e as situações nas quais a cesárea realmente é indicada

cesarea
Foto: Fernanda Sophia

Quando a cesárea é indicada, ela é uma cirurgia que pode salvar a vida de mulheres e bebês. Enquanto em países mais vulneráveis a falta de acesso a esse recurso está associada a um aumento das taxas de morbimortalidade materna e neonatal, em outros contextos, o excesso de cesáreas também associa-se a piores desfechos para a mãe e para o bebê.

Segundo dados publicados em 2018 na revista médica Lancet, o Brasil é o segundo país que mais realiza esta cirurgia no mundo, com uma taxa de 55,5%, ficando atrás apenas da República Dominicana (58,1%). Já na Europa, a taxa de cesáreas é, em média, de 25% e, nos Estados Unidos, 32,8%. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que a taxa de cesáreas fique entre 10 a 15% dos nascimentos.

De acordo com a OMS, a epidemia de cesáreas é uma questão complexa, que envolve tanto fatores clínicos (associados a mudanças no perfil das gestantes), como fatores culturais – entre eles a crença errônea de que o parto normal seria pouco seguro, o medo da dor e a desinformação.

Saiba os riscos associados à cirurgia e as principais indicações obstétricas para realização do procedimento.

Riscos da cesariana a curto e longo prazo

A cesariana é uma cirurgia que apresenta riscos não só imediatos, como também a longo prazo, podendo impactar futuras gestações. Quando comparamos o procedimento a um parto vaginal, a cesariana está associada a maiores riscos de lesão acidental de vasos sanguíneos e órgãos da cavidade abdominal, como bexiga e intestino; sangramento aumentado e necessidade de transfusão sanguínea; infecção da ferida operatória; complicações anestésicas; dificuldade respiratória do recém nascido (muitas vezes associada ao parto prematuro); fragilidade do vínculo entre mãe e bebê e maior tempo de recuperação para a mãe após o nascimento.

A longo prazo, a cirurgia está associada a diversas complicações em gestações futuras, como ruptura uterina, placenta prévia, gravidez ectópica (quando o embrião se forma fora do útero), infertilidade, histerectomia (remoção de parte ou da totalidade do útero) e acretismo placentário (quando a placenta se fixa profundamente na parede uterina, ultrapassando o limite normal de inserção).

Quando a cesárea é indicada e quando a indicação é mito?

Tendo em vista os desfechos associados à cesariana, é importante que a indicação clínica esteja baseada em evidências científicas, considerando situações nas quais os benefícios da cirurgia superam os possíveis riscos. Algumas indicações de cesárea são:

  • prolapso de cordão, com dilatação não completa: é uma complicação rara, que ocorre quando o cordão umbilical exterioriza-se pelo colo uterino antes da cabeça do feto – trata-se de uma emergência obstétrica, pois o bebê pode comprimir o cordão umbilical comprometendo o aporte sanguíneo;
  • descolamento prematuro da placenta: quando a placenta se desprende da parede interna do útero antes do parto – pode acontecer em decorrência de síndromes hipertensivas, trauma ou não ter uma causa definida.
  • placenta prévia parcial ou total: condição na qual a placenta se implanta na parte inferior do útero, cobrindo parcial ou totalmente o colo do útero;
  • apresentação córmica durante o trabalho de parto: a situação transversa ocorre em menos de 1% das gestações – lembrando que até a 37ª semana pode ser tentada a versão externa;
  • ruptura de vasa prévia: condição em que os vasos umbilicais cruzam o segmento inferior uterino, colocando-se na frente do feto;
  • herpes genital com lesão ativa no momento do trabalho de parto;
  • desproporção céfalo-pélvica, sendo que o diagnóstico só pode ser realizado durante a fase ativa do trabalho de parto e depois de várias horas – lembrando que não há nenhum método capaz de predizer a desproporção antes do trabalho de parto, como pelvimetria clínica, raio x ou ultrassom;
  • frequência cardíaca fetal não tranquilizadora (ou sofrimento fetal agudo): antes da cesárea, devem ser realizadas manobras de ressuscitação intra útero;
  • falha na progressão do trabalho de parto, após tentativa de outras medidas (como correção da hipoatividade uterina com ocitocina e ruptura artificial das membranas). No caso de cesáreas anteriores, o parto vaginal deve ser tentado, pois apresenta uma taxa de sucesso de 70% e baixa incidência de ruptura uterina (leia mais aqui). Em gestações gemelares, o parto vaginal é recomendado quando o primeiro gemelar se encontrar em apresentação cefálica, independentemente do segundo gemelar. A cesariana é preferível quando o primeiro gemelar não for cefálico, e nas gestações gemelares com estimativa de peso baixa e nas com mais de dois fetos. Já para fetos em apresentação pélvica, além da versão cefálica externa até a 37ª semana de gestação, é recomendado levar em consideração o desejo da mãe e a experiência da equipe para a decisão da via de parto.

    Vale reforçar que existem por aí muitos mitos quando o assunto é cesárea. Um dos mais comuns é o “cordão enrolado no pescoço”. A circular de cordão é muito comum, e é resultado da própria movimentação do feto na barriga, estando presente em ⅓ dos bebês no final da gravidez. Essa condição não afeta o bem estar fetal e, portanto, o parto vaginal é perfeitamente possível. Após o nascimento, o profissional de saúde pode desfazer gentilmente a circular, sem apresentar riscos para o feto. Algumas outras indicações fictícias que as gestantes escutam são: obesidade materna, baixa estatura, líquido amniótico reduzido ou em excesso, “bebê muito grande”, entre outros. Na dúvida, é importante sempre procurar a opinião de diferentes profissionais, e pesquisar o assunto em fontes confiáveis.

Medidas para reduzir a “epidemia” de cesáreas

Com o objetivo de reduzir o número de cesáreas realizadas no mundo, a OMS publicou, em 2018, um documento com intervenções não clínicas voltadas para a população em geral, profissionais de saúde e políticas públicas. Dentre as principais recomendações, destacam-se: ações de educação em saúde (como workshops e palestras para gestantes e seus acompanhantes, com conteúdos como fisiologia do parto, métodos não farmacológicos de alívio da dor e vantagens e riscos da cesárea); implementação de diretrizes baseadas em evidências científicas voltadas para profissionais de saúde e políticas públicas que privilegiem modelos colaborativos, envolvendo obstetrizes/enfermeiros obstetras e médicos obstetras, oferecendo um cuidado centrado na mulher.

Como saber as taxas de cesárea dos médicos e hospitais

Caso a gestante esteja sendo acompanhada por um obstetra conveniado a algum plano de saúde, desde 2015 está em vigor uma resolução da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) que obriga os planos de saúde a fornecerem às usuárias as taxas de cesárea do plano, dos hospitais ou dos obstetras conveniados ao plano. É possível realizar essa consulta pelo site, telefone ou e-mail. Para consultar as taxas dos hospitais públicos e privados do Brasil, visite o painel da Secretaria de Vigilância em Saúde. A Dra. Andrea Campos tem uma taxa de cesárea de 14%, baseada em um total de 1427 partos assistidos no setor privado, no período de 2004 a 2018. Saiba mais detalhes sobre suas taxas e os grupos de Robson.

REFERÊNCIAS

ACOG. Safe Prevention of the Primary Cesarean Delivery. Número 1, março de 2014, reafirmado em 2019

Errol R Norwitz, MD, PhD, MBA. Cesarean delivery on maternal request. Post TW, ed. UpToDate. Waltham, MA: UpToDate Inc. https://www.uptodate.com (acessado em dezembro de 2019)

Souza ASR, Amorim MMR, Porto AMF. Indicações de cesariana baseadas em evidências: parte I. FEMINA, Agosto 2010, vol 38, nº8

WHO recommendations non-clinical interventions to reduce unnecessary caesarean sections. Geneva: World Health Organization; 2018.

Médica e obstetra de Parto Humanizado

Como são os aspectos emocionais da mulher no puerpério

Conheça a diferença entre baby blues, depressão pós parto e psicose puerperal, e saiba o que pode ser feito em cada caso

Foto: Katia Ribeiro

O período pós-parto, também conhecido como puerpério, refere-se a um momento de transição em que ocorrem intensas alterações fisiológicas e psicológicas nas mulheres, envolvendo tanto aspectos hormonais, como questões familiares e culturais. Ele começa após o nascimento do bebê, e seu fim não é bem delimitado, podendo abranger até 12 meses após o nascimento.

Alterações hormonais, amamentação, demandas em tempo integral do bebê, perda do corpo gravídico e não retorno imediato ao corpo anterior à gestação, privação do sono, pressões sociais – as mudanças após o parto são muitas, e cada mulher irá vivenciá-las de uma maneira singular e única.

Ainda que o nascimento de um bebê seja um evento comumente associado a celebração e alegria, sentir cansaço, solidão, tristeza e desamparo faz parte da experiência de muitas mulheres. Por isso, é necessário ficar atento(a) para reconhecer quando esses sentimentos deixam de ser algo fisiológico e passam a merecer maior atenção e acompanhamento especializado.

Baby blues

O baby blues (ou blues pós parto) se manifesta em aproximadamente 50% ou mais das mulheres dentro de uma semana após o parto, e sua origem está associada tanto a questões hormonais – como a queda nos níveis de estrogênio, que afeta indiretamente o metabolismo de neurotransmissores como dopamina, noradrenalina e serotonina – como aspectos socioculturais.

Trata-se de uma condição transitória caracterizada por sintomas depressivos leves, como tristeza, choro, irritabilidade, ansiedade, insônia, exaustão e diminuição da concentração, bem como instabilidade do humor. Os sintomas geralmente se desenvolvem dentro de dois a três dias após o parto, atingem o pico nos próximos dias e desaparecem dentro de duas semanas.

O baby blues é comum e é conceituado como um nível subclínico de depressão, ou seja, que não é patológico. Alguns fatores de risco associados ao quadro são: histórico de mudanças de humor pré-menstruais, sintomas depressivos anteriores à gravidez ou no pré parto; via de parto cesárea; não amamentação; comprometimento psicossocial e história familiar de depressão.

Geralmente o quadro não requer tratamento clínico, e as mulheres devem receber conforto, segurança e amparo por parte de familiares e de suas redes de apoio. O reconhecimento do baby blues é importante pois, de acordo com dois estudos prospectivos realizados na Alemanha e na Nigéria, o risco de depressão pós-parto é aproximadamente 4 a 11 vezes maior entre as mulheres que sofrem de baby blues.

Depressão pós parto

Embora os sintomas de baby blues e depressão pós parto sejam parecidos, na depressão eles costumam ser mais profundos, intensos e duradouros (podendo durar pelo menos um ano em 30 a 50% dos pacientes). Algumas manifestações são: ansiedade sobre a saúde do bebê, preocupação com a capacidade de cuidar dele, desânimo, desinteresse, insônia, culpa, transtornos por uso de substâncias e ideação suicida. Suas características clínicas e sintomas são parecidos com os episódios depressivos que ocorrem fora do período pós-parto.

A depressão tem início antes ou durante a gravidez em aproximadamente 50% das pacientes, e também pode se desenvolver como um agravamento do baby blues, ou então aparecer meses depois do parto, e o principal fator de risco é histórico prévio de depressão. Nesse sentido, ela pode ser evitada, cabendo à mulher, à família e aos profissionais de saúde um cuidado redobrado para acompanhar de perto possíveis alterações comportamentais e intervir quando necessário.

A incidência estimada de depressão pós parto é incerta. Estudos conduzidos na população geral dos Estados Unidos e da Europa apontam uma prevalência de aproximadamente 9%; no entanto, a taxa parece ser maior nos países de baixa e média renda. Apesar de pouco falada, a depressão também pode atingir de 3 a 5% dos pais e também merece atenção, pois pode interferir na construção do vínculo paterno-infantil.

Os tratamentos usuais para depressão também podem ser usados para tratar a depressão pós parto, e podem incluir o uso de antidepressivos e o acompanhamento terapêutico com psicólogo ou psiquiatra. As mulheres que estão amamentando devem evitar certos medicamentos, mas existem opções seguras que permitem manter a lactação durante o tratamento.

O acompanhamento profissional é fundamental, pois estudos mostram que a depressão pós parto está associada à má nutrição e saúde do bebê, e pode interferir na amamentação, na construção do vínculo entre a mãe e a criança, nos cuidados com o filho e no relacionamento com o(a) parceiro(a) da mulher.

Psicose puerperal

A psicose puerperal, por sua vez, é o transtorno mental mais grave que pode ocorrer no puerpério. Ela tem prevalência de 0,1% a 0,2%, costuma ter início rápido e os sintomas se instalam já nos primeiros dias até duas semanas após o parto. Apesar de poder apresentar sintomas parecidos com a depressão pós parto (como irritação, agitação e insônia), se diferencia desta na medida em que provoca um afastamento ou ruptura com a realidade, envolvendo delírios, alucinações, ideias persecutórias e confusão mental. Em quadros graves, a mulher pode não ser capaz de reconhecer seu bebê como “seu”, e ideias de infanticídio podem surgir.

Alguns casos podem ser tratados com medicação e psicoterapia, enquanto outros mais graves envolvem internação.

A importância da rede de apoio

O puerpério pode ser bastante desafiador e, por isso, todas as mulheres podem se beneficiar de uma rede neste período, formada por pessoas próximas (familiares, amigos e profissionais) que possam oferecer acolhimento e apoio para atender às necessidades específicas de cada mulher. Esse suporte pode vir de diversas formas, como: oferecer cuidados com a casa e com as questões práticas do dia a dia, ficar um tempo com o bebê para que a mulher possa ter um tempo para si, respeitar as escolhas da mãe e oferecer uma escuta sensível e empática. Grupos de mulheres no pós parto (presenciais ou virtuais) podem ser muito valiosos nesse período. Além disso, é importante que existam pessoas próximas que estejam atentas ao estado emocional da mulher no pós parto, para encaminhar a profissionais especializados quando necessário. Como diz um conhecido provérbio africano, “é preciso uma aldeia para criar uma criança”. Compartilhar os cuidados e as responsabilidades com as mães nos primeiros meses de vida de um bebê é, portanto, uma tarefa coletiva.

REFERÊNCIAS

Adele Viguera, MD. Postpartum blues. Post TW, ed. UpToDate. Waltham, MA: UpToDate Inc. https://www.uptodate.com (acessado em dezembro de 2019)

Adele Viguera, MD. Postpartum unipolar major depression: Epidemiology, clinical features, assessment, and diagnosis. Post TW, ed. UpToDate. Waltham, MA: UpToDate Inc. https://www.uptodate.com (acessado em dezembro de 2019)

Médica e obstetra de Parto Humanizado

Quais são os sinais de início do trabalho de parto?

Perda do tampão, ruptura da bolsa, contrações uterinas: saiba reconhecer os sinais de que seu corpo está entrando em trabalho de parto e o momento adequado de ir para o hospital

Foto: Katia Ribeiro

Saber identificar os sinais de início do trabalho de parto é importante para se preparar e definir quando é a hora de acionar a equipe que está te acompanhando ou ir para o hospital (no caso de um parto hospitalar).

Do início do trabalho de parto até o nascimento do bebê, o corpo passa por diversos processos: as contrações uterinas vão ficando cada vez mais frequentes e intensas, o colo do útero afina e dilata até alcançar uma abertura de 10 cm e ocorre a descida do feto pela pelve materna.

Veja abaixo alguns dos indícios que revelam que seu corpo está se preparando para o início do trabalho de parto.


Saída do tampão mucoso


O tampão mucoso é uma secreção gelatinosa, produzida no início da gestação, que fica no orifício do colo do útero. Sua cor pode ser transparente, esbranquiçada, amarelada ou até mesmo avermelhada, por conta da eventual presença de sangue misturado ao muco. O tampão tem como função formar uma barreira de proteção entre o canal vaginal e o útero, impedindo que bactérias e outros microorganismos entrem em contato com o feto.

Normalmente, o tampão mucoso é expelido quando a gestação está a termo (ou seja, entre 37 e 42 semanas), e sua saída pode indicar que o colo do útero está se preparando para o trabalho de parto. No entanto, é importante ressaltar que a perda do tampão pode ocorrer semanas ou dias antes do início do trabalho de parto, e esse intervalo varia bastante de acordo com cada gestação. Por isso, recomenda-se que a mulher fique calma e preste atenção a outros sinais associados, como contrações regulares e saída de líquido amniótico pela vagina.

Perda de líquido pela vagina

A perda de líquido amniótico pela vagina indica que a “bolsa das águas” se rompeu. Normalmente, as mulheres relatam a sensação de uma grande quantidade de líquido morno escorrendo pelas pernas, com odor semelhante ao de água sanitária. Na maioria das vezes, a ruptura das membranas acontece durante a fase ativa do trabalho de parto, mas é possível ocorrer antes, ou até no momento do nascimento.

Caso a mulher ainda não esteja em trabalho de parto e perceba que sua bolsa rompeu, esse é um sinal de que as contrações devem se intensificar – mas não é preciso correr ou se desesperar. Segundo dados do Colégio Americano de Ginecologistas e Obstetras (ACOG), 80% das mulheres com ruptura precoce de membranas entrará em trabalho de parto espontâneo nas primeiras 12 horas, e 95% dentro de 24 horas. Portanto, nesses casos, é indicado que a mulher comunique sua equipe para definir os próximos cuidados, ou se dirija a um serviço de saúde para que ela e o bebê sejam avaliados. Caso o líquido apresente uma coloração escura ou tenha odor muito forte, sugestivo de infecção, deve-se procurar imediatamente o hospital.

Contrações uterinas

Foto: Kátia Ribeiro

As contrações uterinas podem ser descritas como uma sensação de enrijecimento da barriga, provocado pelo estiramento das fibras musculares, que começa na parte alta do útero e irradia para a parte baixa da barriga. Elas são responsáveis pela dilatação do colo uterino e pela descida do bebê na pelve, associadas a hormônios específicos do trabalho de parto. Tais contrações não devem ser confundidas com as “contrações de treinamento” (ou contrações de Braxton Hicks), que podem ser percebidas a partir do segundo trimestre de gestação e preparam o útero para a atividade intensa do trabalho de parto.

Mas como diferenciar as contrações de treinamento das contrações de trabalho de parto? Aqui vão algumas dicas:

  • Frequência e duração: enquanto as contrações de Braxton Hicks costumam ser irregulares e “espaçadas” umas das outras, as verdadeiras contrações ocorrem em intervalos regulares e, com o passar do tempo, ficam cada vez mais longas (maior tempo de duração) e mais frequentes (menor intervalo entre elas).
  • Intensidade: as contrações de treinamento costumam ser fracas e não aumentam sua intensidade, já as contrações de trabalho de parto ficam cada vez mais fortes.
  • Sensação de dor: as contrações de Braxton Hicks costumam ser pouco doloridas, e normalmente são sentidas na parte da frente da barriga. Elas costumam passar quando a mulher descansa ou toma um banho com água morna, por exemplo. Já as contrações de trabalho de parto continuam presentes, independente do que a gestante faça, e a dor normalmente é sentida na lombar, irradiando para a parte baixa da barriga.


Quando ir para o hospital?

Se tudo estiver correndo bem, é possível aguardar em casa até que o trabalho de parto entre na fase mais avançada (fase ativa), para então ir ao hospital. Estudos observacionais demonstram que a admissão na fase inicial do trabalho de parto está associada a maiores taxas de cesariana, maior uso de ocitocina e de antibióticos por febre materna intraparto. Já um estudo randomizado controlado comparou desfechos de mulheres admitidas na fase latente com as admitidas em fase ativa e concluiu que, nas admissões em fase ativa, as taxas de analgesia, uso de ocitocina e o tempo de permanência no hospital foram menores, enquanto a satisfação das parturientes foi maior.

Portanto, é indicado que se aproveite o início do trabalho de parto para tomar um banho, tentar descansar um pouco ou relaxar fazendo alguma atividade prazerosa.

Embora não haja consenso nesse sentido, uma das recomendações é de que a mulher procure o hospital ou avise a equipe que irá acompanhá-la quando tiver 2 a 3 contrações em 10 minutos, com duração de pelo menos 45 segundos. É possível monitorar as contrações cronometrando e anotando em um papel, ou então por meio de aplicativos para celular.

Também é importante procurar um hospital caso a gestante apresente algum sinal de alerta, como sangramento, febre ou diminuição dos movimentos fetais.

REFERÊNCIAS

ACOG. How to tell when labor begins. FAQ 004, 2011
ACOG Committee Opinion number 766 – Approaches to limit intervention during labor and birth. 2019
BRASIL. Diretriz Nacional de Assistência ao Parto Normal. Ministério da Saúde. Brasília (DF). 2016

Médica e obstetra de Parto Humanizado

Como se alimentar na amamentação: o que comer e o que evitar nesse período

Ilustração: Marcella Briotto

Durante o período de amamentação, o organismo materno passa por uma série de adaptações e a demanda por alguns nutrientes aumenta. Por isso, para manter uma produção de leite adequada, é importante manter uma alimentação balanceada e se hidratar. Veja como se alimentar na amamentação, o que comer e o que evitar nesse período.

Como se alimentar na amamentação

O organismo é capaz de produzir o alimento mais completo e equilibrado para o desenvolvimento saudável de um bebê: o leite materno. São inúmeros os estudos que comprovam que a amamentação exclusiva até os seis meses de idade diminui as taxas de mortalidade infantil, fortalece o sistema imune e evita diversas complicações, como alergias, diarreia e infecções respiratórias. A longo prazo, o aleitamento também está associado a um efeito positivo na inteligência da criança, e a menores riscos de hipertensão, diabetes e colesterol alto. Para a mãe, o ato de amamentar – sempre respeitando suas possibilidades e desejos – pode trazer diversos benefícios, como fortalecimento do vínculo afetivo entre mãe e bebê, proteção contra o câncer de mama, menores custos financeiros e melhoria na qualidade de vida.

No período da lactação, uma série de mudanças acontecem no organismo. Em consequência, muitas mulheres perdem peso durante os primeiros meses de amamentação, em função da energia envolvida na produção do leite materno (em média, 500 calorias por dia). Além disso, a composição do leite e o volume produzido podem sofrer influências de diversos aspectos, como alimentação, hábitos de vida, necessidades do bebê, entre outros.

O que comer na amamentação

Para a produção adequada de leite materno, a demanda do organismo por alguns nutrientes aumenta – incluindo proteínas, algumas vitaminas (como A, C e E) e sais minerais, como zinco e selênio. Isso não significa que deve-se necessariamente comer em maior quantidade, mas sim atentar-se à qualidade da alimentação.

É importante que as mulheres que estão amamentando tenham uma dieta saudável e equilibrada, que se adeque ao contexto e às possibilidades de cada família. Incluir alimentos frescos (como frutas e verduras), grãos integrais, leguminosas e fontes de proteína (como ovos, frango e peixes), e evitar alimentos industrializados e ultraprocessados são algumas sugestões. Dietas vegetarianas ou veganas não são contraindicadas, mas é recomendado que se dê uma atenção especial à alimentação nesses casos. Estudos apontam que, em casos de dietas mais restritivas, pode ser necessário ingerir suplementos de alguns nutrientes, como cálcio, vitamina D e vitamina B12.

Além de uma alimentação saudável, é fundamental que a mulher beba bastante água, para manter o organismo hidratado e garantir a produção de leite adequada. Uma dica é ter sempre uma garrafa de água por perto, principalmente quando estiver amamentando, e observar os sinais do seu corpo. Se a boca estiver seca ou a urina estiver com uma cor mais escura, deve-se caprichar mais na ingestão de água.

O que deve ser evitado durante o período de amamentação

Foto: Bia Takata

Diferente do que escutamos por aí, não existem alimentos que são, por si só, contraindicados para as mulheres que estão amamentando. A princípio, todos os alimentos são permitidos, mas é importante ficar atenta(o) aos sinais do bebê.

De acordo com um estudo americano sobre o tema, alimentos alergênicos (como leite, ovos, castanhas e farinha de trigo) podem influenciar diretamente na composição do leite materno e, embora seja incomum, podem eventualmente causar problemas digestivos no bebê. Pode-se suspeitar de sensibilidades alimentares se o bebê chorar ou regurgitar uma grande quantidade de leite dentro de uma hora após a mamada, ou se tiver constipação ou diarreia. No caso da alergia a produtos derivados do leite, os sintomas podem incluir eczema, diarreia e vômito. Já bebês alérgicos a proteína do leite de vaca (APLV) podem apresentar sinais como agitação e sangue nas fezes.

Listamos a seguir algumas substâncias que merecem atenção especial quando se trata de amamentação:

  • Bebidas alcoólicas: sabe-se que uma pequena porcentagem de álcool é transferida para o leite materno, mas os estudos são controversos quando se trata de estabelecer a quantidade considerada segura para consumo. Entidades médicas sugerem que a mãe lactante evite expor o bebê ao álcool e, por isso, deve-se evitar amamentar por duas horas após a ingestão de uma dose de álcool – o equivalente a uma lata de cerveja (330 ml), uma taça de vinho (100 ml) ou uma dose de destilado (30 ml). Para cada dose adicional de álcool ingerida, deve-se acrescentar mais duas horas de espera para retomar a amamentação. Outra possibilidade é extrair e armazenar leite com antecedência para a próxima mamada.
  • Cafeína: beber uma quantidade moderada de cafeína – como duas a três xícaras de café por dia – não parece produzir efeitos significativos nos bebês que são amamentados, segundo a Academia Americana de Pediatria. No entanto, é preciso ficar atento, pois alguns bebês mais sensíveis à cafeína podem mostrar-se mais irritados e com dificuldade de dormir.
  • Medicamentos e drogas ilícitas: alguns remédios podem afetar a produção e a composição do leite materno, por isso é importante sempre consultar um profissional de saúde antes de ingerir qualquer medicamento. Além disso, recomenda-se que mulheres lactantes não usem drogas ilícitas, pois podem ser prejudiciais para o bebê.
  • Tabagismo: pesquisas mostram que bebês de pais fumantes pode ser mais propensos a apresentar problemas respiratórios, infecções pulmonares e otite. Além disso, o hábito de fumar pode reduzir o volume de leite materno produzido. O consumo de tabaco é contraindicado para as mulheres que amamentam mas, caso não seja possível largar o hábito, o Ministério da Saúde recomenda continuar amamentando, pois os benefícios superam as outras alternativas (como o uso de fórmulas artificiais, por exemplo).

Amamentação em livre demanda

Para manter a produção de leite materno ativa, não há nada melhor do que a própria sucção que o bebê faz enquanto amamenta. Na amamentação em livre demanda, o bebê regula as mamadas (duração e intervalo entre elas) de acordo com suas necessidades, e a mãe estabelece seus limites e possibilidades. Mulheres saudáveis, com bebês em aleitamento exclusivo, produzem em média 750 a 800 ml de leite diariamente.

Estudos demonstram que variações na alimentação e exercícios aeróbicos não tendem a afetar a fabricação de leite. Por outro lado, alguns fatores que podem diminuir sua produção são tabagismo, estresse materno, ansiedade e uso de contraceptivos combinados de estrogênio e progesterona.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Cadernos de Atenção Básica: Saúde da criança – Aleitamento Materno e Alimentação Complementar. Ministério da Saúde. Brasília (DF), 2015

Butte, PhDAlison Stuebe, MD. Maternal nutrition during lactation. Post TW, ed. UpToDate. Waltham, MA: UpToDate Inc. https://www.uptodate.com (Acessado em Novembro de 2019)

Turner, MD, MEdShea Palamountain, MD. Infantile colic: Management and outcome. Post TW, ed. UpToDate. Waltham, MA: UpToDate Inc. https://www.uptodate.com (Acessado em Novembro de 2019)

Exercícios físicos na gestação e após o parto: como fazer

Ilustração: Marcella Briotto

A prática de atividades físicas pode trazer uma série de benefícios à saúde, inclusive para as mulheres que estão grávidas ou que tiveram um parto recentemente. Alguns questionamentos que costumam surgir nesse período são: “será que é seguro eu me exercitar estando grávida? Quais exercícios posso fazer? E após o parto, quando estarei liberada para voltar a praticar atividades físicas?”

Para gestações de risco habitual (ou seja, que não são de alto risco), os exercícios físicos não só estão liberados, como são altamente recomendados. Diversos estudos demonstram que a prática regular de atividade física traz inúmeros benefícios, como melhoria da capacidade cardiorrespiratória, força muscular, flexibilidade, coordenação motora e equilíbrio. Além disso, a prática de exercícios está associada a uma melhoria dos desfechos da gestação, na medida em que evita o risco de ganho de peso excessivo; reduz a incidência de complicações como diabetes gestacional e pré eclâmpsia; diminui os desconfortos relacionados a queixas como dor na lombar e dor pélvica e previne ou diminui os riscos de incontinência urinária. 

Já no pós parto, algumas das vantagens de fazer atividades físicas são: melhorar a disposição, dormir melhor, aliviar o estresse, ter mais energia, fortalecer os músculos abdominais, melhorar a postura e perder peso (caso a mulher tenha ganhado quilos além do recomendado durante a gestação). 

Estou grávida: quais exercícios posso fazer? 

Se você está esperando um bebê e deseja iniciar um programa de exercícios físicos, é importante se consultar com um profissional de saúde, para que seja realizada uma avaliação clínica, incluindo histórico médico, condição atual, uso de medicamentos, nível de atividade física etc. No caso de mulheres que já estavam acostumadas a se exercitar antes da gravidez, vale salientar que é possível que a rotina de exercícios tenha que ser modificada para se adaptar às mudanças físicas e psicológicas que ocorrem ao longo desse período, preservando assim o bem estar materno e fetal. 

A maioria dos protocolos e diretrizes internacionais (como o American College of Obstetricians and Gynecologists – ACOG) sugerem a prática de 30 minutos de exercícios diariamente, de cinco a sete vezes por semana. Mulheres grávidas que não estavam acostumadas a se exercitar devem iniciar com uma rotina de 10 minutos, três vezes por semana, e ir aumentando progressivamente. 

O ideal é que a atividade trabalhe tanto a capacidade cardiorrespiratória (exercícios aeróbicos) como a força muscular (exercícios de resistência). Algumas sugestões são: caminhada, dança, pilates, yoga, natação, hidroginástica, musculação leve, entre outros. As possibilidades são muitas, o importante é escolher algo que dê prazer e que seja possível de ser encaixado dentro da rotina. 

Vale dizer que alguns exercícios estão contraindicados, incluindo atividades com alto risco de queda, desequilíbrio ou de trauma abdominal. É importante lembrar de alongar o corpo antes e após o exercício, e manter-se hidratada durante toda a atividade. Além disso, deve-se fazer um lanche leve antes e após o exercício, para evitar um quadro de hipoglicemia. Caso a mulher apresente algum desconforto (como tontura, dor de cabeça, dor no peito ou falta de ar), perda de líquido amniótico ou sangue pela vagina, ou presença de contrações uterinas regulares, deve-se descontinuar a atividade e procurar um profissional de saúde. 

Foto: Kátia Ribeiro

Mantendo-se ativa após o parto: quando começar? 

O puerpério é um período marcado por grandes transformações na vida da mulher, tanto físicas quanto emocionais. Alterações hormonais e corporais, necessidade de adaptação a uma nova rotina com um recém nascido e reorganização dos papeis sociais e familiares são algumas das mudanças associadas a esse período. 

Nesse contexto, a prática de atividades físicas pode trazer uma série de benefícios à saúde da mulher, na medida em que ajuda o corpo a se recuperar e a deixar a mente mais focada e tranquila. Estudos demonstram que há uma associação entre uma frequência menor de depressão pós parto nos casos em que houve retorno à prática de atividade física. 

Mulheres que tiveram um parto normal sem intercorrências estão liberadas para a prática de atividades físicas alguns dias depois do bebê nascer, ou quando se sentirem dispostas. Já quem passou por uma cesárea precisa de mais tempo de repouso e, por isso, é indicado conversar com um médico. Vale dizer que a maioria das mulheres estará apta a se exercitar em quatro a seis semanas após a cirurgia. Em ambos os casos, alguns fatores que precisam ser levados em conta antes de retomar a prática de exercícios são: perda sanguínea no parto (para investigar se há anemia); presença de trauma perineal (lacerações espontâneas ou episiotomia) e intercorrências na gestação ou no parto. 

Assim como no período gestacional, recomenda-se a prática de, em média, 150 minutos de atividades físicas por semana. Esse tempo pode ser dividido de diferentes maneiras, como 30 minutos de exercícios durante 5 dias na semana, ou 3 sessões de 10 minutos de atividades por dia, como 3 caminhadas diárias, por exemplo.

Além dos exercícios aeróbicos diários, é importante fazer algum tipo de atividade muscular, pelo menos duas vezes por semana. Pode ser musculação, pilates, yoga, hidroginástica ou outra atividade que trabalhe o fortalecimento dos músculos. 

Há também exercícios específicos para fortalecer o assoalho pélvico, como os exercícios de Kegel, que podem ser muito benéficos no pós-parto pois ajudam a combater a perda involuntária de urina ou fezes (incontinência urinária e/ou fecal). Os exercícios de Kegel podem ser feitos com a orientação de um fisioterapeuta, e estão liberados uma a duas semanas após o parto.   

De acordo com o ACOG, as atividades físicas no pós-parto devem ter intensidade moderada. Isso significa que a mulher deve suar e acelerar os batimentos cardíacos, mas a atividade não pode ser tão pesada a ponto dela não conseguir falar normalmente. Caminhadas rápidas e pedalar em superfícies planas são exemplos de exercícios de intensidade moderada para o pós-parto.

Para as mulheres que estão amamentando, cabe reforçar que a prática de atividade física não altera a composição ou produção do leite materno. Uma dica interessante é amamentar o seu bebê antes de exercitar-se, evitando assim o desconforto de que as mamas fiquem ingurgitadas durante a atividade física.

Como começar a fazer exercícios físicos na gestação e após o parto?

No início, o mais indicado é readaptar o corpo às atividades físicas, fazendo exercícios mais leves na primeira semana e aumentando a intensidade de maneira gradual. Se sentir dor, pare imediatamente. Nas academias, educadores físicos podem preparar treinos específicos para esse caso. 

Mas se você não gosta da ideia de se matricular em uma, pode se exercitar em um parque, e até procurar grupos de mulheres que malham juntas em áreas comuns de condomínios ou espaços públicos. Alguns grupos são só de mulheres mães, e neles há muitas que estão no período pós-parto.  

Os exercícios físicos durante a gestação e após o parto podem beneficiar muito a mulher sob vários aspectos. Ouvindo o próprio corpo e respeitando seus limites, ela desestressa, desanuvia a mente, melhora a disposição e ainda garante um tempo dedicado exclusivamente a si mesma, ou a socializar com novas pessoas. 

REFERÊNCIAS:

ACOG Committee Opinion No. 650: Physical Activity and Exercise During Pregnancy and the Postpartum Period. 2015  

American College of Sports Medicine. ACSM’s Health-Related Physical Fitness Assessment Manual, 4th ed, 2014

Raul Artal, MD, FACOG, FACSM. Exercise during pregnancy and the postpartum period. Post TW, ed. UpToDate. Waltham, MA: UpToDate Inc. Acessado em novembro de 2019

Médica e obstetra de Parto Humanizado

“Hora dourada”: saiba por que a primeira hora de vida do bebê é tão importante

Ilustração: Marcella Briotto

A hora dourada, também conhecida como “golden hour”, corresponde à primeira hora de vida do bebê e, como o próprio nome diz, é muito valiosa para a saúde e bem estar da mãe e do recém-nascido.

Imagine sair de um lugar protegido, com regulação da temperatura, da iluminação e dos estímulos sonoros e com oferta constante de nutrientes, e se deparar com um ambiente com temperatura mais baixa, sob luz intensa e cheio de estímulos desconhecidos? A transição do ambiente intrauterino para a vida extrauterina não é uma tarefa simples, mas é possível adotar algumas medidas para que essa passagem seja feita de forma gentil e suave.

Nos primeiros 60 minutos após o nascimento, tanto a mãe quanto o bebê costumam estar mais alertas e atentos, por isso é tão importante aproveitar esse período para promover o vínculo entre a mãe e a criança. A seguir, apresentamos algumas recomendações feitas por órgãos como o Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde para a “hora dourada”.

Hora dourada no aconchego da mãe

Após o nascimento de um bebê saudável, o melhor lugar para ele estar é no aconchego do colo da mãe (desde que esse seja o desejo dela, é claro). O recém-nascido deve ser colocado de bruços e sem roupa, diretamente no abdome ou ventre materno, apenas com o dorso coberto. Esse contato pele a pele na primeira hora de vida é precioso e ajuda o recém nascido a regular a temperatura corporal e manter-se aquecido, fortalece o sistema imune por meio do contato com a microbiota materna, além de favorecer a construção do vínculo mãe-bebê, por meio do cheiro, toque e contato visual.

Independentemente da via de parto (parto vaginal ou cesárea), o contato pele a pele deve ser priorizado, e a avaliação inicial do recém-nascido pode ser realizada no ventre materno. Procedimentos de rotina (como pesagem, vacinas, entre outros) podem ser realizados após essa primeira hora.

Também é importante cuidar do ambiente em que o recém nascido vem ao mundo, para que essa chegada possa ser suave e confortável. Algumas práticas possíveis são: diminuir a luz ambiente, evitando o uso de lâmpadas muito claras (como é comum nos ambientes hospitalares); diminuir o barulho no local do parto, construindo um ambiente calmo; e assegurar que a temperatura da sala não esteja muito baixa.

hora dourada
Foto: Kátia Ribeiro

Amamentação na hora dourada

O contato pele a pele também permite que a amamentação possa ser estimulada na primeira hora de vida, o que é benéfico tanto para a saúde materna quanto do bebê.

Por um lado, a sucção da criança no seio materno faz com que o organismo materno libere ocitocina, um hormônio que auxilia na contração do útero, o que ajuda na expulsão da placenta de forma fisiológica, além de diminuir a perda sanguínea no pós-parto, protegendo a mãe de uma hemorragia uterina – uma das principais causas de mortalidade materna.

Para o bebê, a amamentação na primeira hora permite que ele se alimente do colostro, um líquido de cor amarelada que desce antes do leite materno, e é rico em anticorpos e nutrientes – tanto é que é considerado por muitos como a “primeira vacina” do bebê. Caso o bebê não mame neste momento, não se preocupe: os recém-nascidos possuem uma reserva energética que os protege durante as primeiras horas de vida. Lembre-se de não oferecer fórmulas e bicos artificiais sem indicação clínica, pois eles dificultam o estabelecimento da amamentação de forma eficaz.

Além disso, nessa fase o reflexo de sucção do bebê está mais ativo, e esse estímulo favorece a descida do leite, contribuindo para uma experiência de amamentação mais satisfatória. Pesquisas apontam que o ato de amamentar o bebê na primeira hora de vida aumenta significativamente as chances da amamentação prosseguir até os seis meses de vida, além de diminuir os índices de mortalidade infantil.

A exceção para esta recomendação aplica-se às mães com HIV/HTLV positivo. Nesses casos, o Ministério da Saúde contraindica a amamentação.

Quando cortar o cordão umbilical

É pelo cordão umbilical que acontecem as trocas entre a mãe e o bebê durante a gestação. O cordão é formado por duas artérias e uma veia, e é revestido pela geleia de Wharton, substância mucosa e espessa que protege seus vasos. Pelo cordão, o feto recebe oxigênio e nutrientes para se desenvolver de forma saudável. Após o nascimento, o fluxo sanguíneo da placenta para o bebê continua ativo durante alguns minutos, até que sua pulsação cessa.

Então, qual seria o momento ideal para realizar o clampeamento, ou seja, a secção do cordão? Evidências recentes recomendam que o clampeamento seja realizado após 1 a 3 minutos do nascimento, ou até que a pulsação do cordão tenha cessado. Isso porque o volume adicional de sangue circulante entre a placenta e o bebê – que pode variar entre 30 e 150 ml – aumenta a reserva de ferro por até 6 meses após o nascimento, diminuindo a incidência de anemia no recém-nascido.

Agora que você já sabe todos os benefícios da “hora dourada”, que tal conversar sobre isso com a equipe que te acompanha e expressar seus desejos no plano de parto?

hora dourada
Foto: Kátia Ribeiro

Fontes

PORTARIA Nº 371, DE 7 DE MAIO DE 2014 – Ministério da Saúde

Sociedade Brasileira de Pediatria: Documento Científico: Nascimento Seguro – 2018

WHO Intrapartum care for a positive childbirth experience – 2018

WHO. Guideline: delayed umbilical cord clamping for improved maternal and infant health and nutrition Outcomes. 2014

Livro: Nascer Sorrindo, de Frederick Leboyer – 1974

Médica e obstetra de Parto Humanizado

Gravidez de gêmeos: Entenda como é e quais são os cuidados necessários

gêmeos
Ilustração: Marcella Briotto

A gravidez de gêmeos pode ocorrer de duas maneiras. A possibilidade mais comum é mais de um óvulo ser liberado durante o ciclo, cada um ser fecundado por um espermatozóide, e todos implantarem e se desenvolverem no útero. Nesse caso, os gêmeos serão bivitelinos, trivitelinos, ou mais. Eles não serão idênticos e podem ser de sexos diferentes. As placentas são diferentes e a gestação gemelar é também chamada de dicoriônica (duas placentas).

A outra maneira de ocorrer uma gravidez de gêmeos é um óvulo fecundado se dividir, dando origem a dois ou mais embriões. Eles terão a mesma carga genética, o mesmo sexo e as mesmas características físicas. Quando isso acontece, é apenas uma placenta para os dois fetos, e isso implica em alguns riscos adicionais para a gestação.

O uso de medicamentos para estimular a ovulação pode fazer com que mais de um óvulo seja liberado no mesmo ciclo e, com isso, ocorrer a gravidez de gêmeos. A fertilização in vitro também tem mais chances de gestação gemelar, quando mais de um embrião é implantado no útero. Além disso, mulheres com mais de 35 anos têm maiores chances de liberar mais de um óvulo em um mesmo ciclo e de ter uma gravidez de gêmeos.

A maioria das gestações gemelares são descobertas em exames de ultrassom, mas alguns sintomas sutis podem ser sentidos, como enjôos matinais mais fortes e ganho muito rápido de peso.

Cuidados durante a gravidez de gêmeos

A mulher que descobre uma gravidez de gêmeos precisa consumir 600 calorias a mais por dia do que uma gestante de apenas um feto. Além disso, é necessário consumir 300 calorias a mais por bebê, portanto, se a gestação for de dois fetos, são 900 calorias por dia. Se for de três fetos, 1.200 calorias a mais por dia, e assim sucessivamente.

Durante uma gravidez sem intercorrências, é importante fazer exercícios durante 30 minutos, todos os dias. Entretanto, as atividades físicas devem ser leves: yoga, caminhada e natação são boas pedidas.

Combinados com uma alimentação balanceada, os exercícios ajudam a prevenir a diabetes gestacional, mais frequente em gravidezes de gêmeos.

A gravidez de gêmeos também requer mais atenção: as consultas de pré-natal devem ser mais frequentes, e os exames de ultrassom também. Se houver qualquer alteração, exames adicionais podem ser necessários para avaliar o bem estar dos bebês.

Riscos de uma gravidez de gêmeos

O maior risco de uma gravidez de gêmeos é o parto prematuro: de acordo com o American College of Obstetricians and Gynecologists – Acog, em metade das gestações gemelares o parto acontece antes da 37ª semana, e as chances aumentam quando há mais de dois bebês.

A gravidez de gêmeos também tem um risco maior de pré-eclâmpsia, um aumento na pressão arterial da mulher e de diabetes gestacional.

Uma gestação múltipla pode cursar também com uma divergência entre o crescimento dos bebês, por isso existe a necessidade de um acompanhamento mais de perto com exames de ultrassom.

É possível ter parto normal em gravidez de gêmeos?

Embora as chances de uma cesárea necessária sejam maiores em uma gestação múltipla, é perfeitamente possível um parto normal em uma gravidez de gêmeos. Para que isso aconteça, é um pré requisito que o primeiro bebê esteja cefálico e que não exista uma contra indicação para o parto normal.

Se o primeiro bebê está cefálico (de cabeça pra baixo) e existe uma indicação de resolução da gravidez (por pré eclampsia, por exemplo), uma indução pode ser realizada com um controle adequado da vitalidade dos bebês.

Aqui você pode ler um relato de parto gemelar.

No Brasil, o índice de cesáreas entre mulheres do Grupo de Robson 8 (gestação gemelar) é de 94,6%. A taxa de cesárea da Dra. Andrea Campos nesse grupo é de 52,9%, enquanto a da Suécia (país referência em bons resultados perinatais) é de 54%.

A amamentação de gêmeos também é possível e muito recomendada. Com uma alta ingestão de água e a orientação de uma consultora de amamentação se necessário, a amamentação em livre demanda pode acontecer pelo tempo em que mãe e bebês desejarem.

Médica e obstetra de Parto Humanizado

Indução do trabalho de parto: como e por que é feita

Foto: Kátia Ribeiro

Indução do trabalho de parto é o uso de métodos medicamentosos para fazer com que o trabalho de parto tenha início, ou seja, para que as contrações do útero comecem a acontecer.

A indução do trabalho de parto é recomendada quando algo na saúde do bebê ou da mulher inspira preocupação, e o trabalho de parto não começou espontaneamente.

De acordo com o Ministério da Saúde, a indução é uma prática aceitável e recomendável quando há indicação. Induzir o trabalho de parto pode evitar resultados desfavoráveis para a mãe ou o bebê, além de uma cesárea desnecessária e suas possíveis consequências.

Fases do trabalho de parto

Primeiro, é importante esclarecer como o trabalho de parto se desenvolve. Ele tem três estágios, e uma indução só é feita quando a mulher não está ainda no primeiro deles.

Veja quais são as fases do trabalho de parto:

  • Primeiro estágio: a mulher apresenta contrações regulares a cada 3 a 5 minutos por mais de 1 hora. As contrações são geralmente com dor e duram em torno de 50 a 60 segundos. Ele se divide em duas fases:
    • Fase de Latência: Mudança gradual do colo do útero. Pode chegar até 6 cm de dilatação.
    • Fase Ativa: Mudança rápida do colo do útero. Se inicia após 4 a 6 cm de dilatação e vai até a dilatação total ou 10 cm, quando o colo desaparece completamente e o útero e a vagina se transformam no canal de parto.
  • Segundo estágio: da dilatação total até o nascimento. É quando a cabeça do bebê desce pelo canal de parto. Se divide em duas fases:
    • Fase Passiva: da dilatação total até os puxos involuntários (quando a mulher sente vontade de fazer força, como a vontade de evacuar);
    • Fase Ativa: do início dos puxos até o nascimento do bebê.
  • Terceiro estágio: do nascimento do bebê até a saída da placenta, chamada de dequitação.

Por que fazer indução do trabalho de parto

No Brasil, o Ministério da Saúde indica que a indução do parto seja feita após a 41ª semana de gestação, com a concordância da mulher.

Outros motivos para realizar a indução do parto é o oligoâmnio, ou seja, diminuição da quantidade de líquido amniótico, bolsa rota sem que a mulher tenha entrado em trabalho de parto, hipertensão na gestação ou alguma outra condição que esperar o parto espontâneo traga riscos associados.

Qualquer que seja o motivo, a mulher deve ser informada, esclarecida e concordar com o procedimento.

Foto:Kátia Ribeiro

Como é feita a indução do trabalho de parto

Antes da indução ser efetivamente realizada, o ideal é tentar alguns métodos de preparo do colo do útero, que vão ajudar a deixá-lo mais amolecido e um pouco dilatado, para facilitar a dilatação que acontecerá quando as contrações ficarem ritmadas.

Existem maneiras farmacológicas e não farmacológicas de realizar esse preparo. Dentre os métodos não-farmacológicos estão o descolamento de membranas (que pode ser complementado com alguns pontos de acupuntura) e o uso do balão intracervical. O método farmacológico consiste no uso de prostaglandinas via vaginal.

Ilustração do uso de balão intracervical

O descolamento de membranas, embora um pouco desconfortável, é um método seguro e eficaz, pois promove a liberação de prostaglandina, hormônio que ajuda a maturar o colo do útero e as vezes acaba desencadeando as contrações. Ele consiste num exame de toque e de uma massagem no colo do útero, que acaba descolando a parte da bolsa que esta em contato com o colo.

O balão intracervical consiste na introdução da um catéter com um balão cheio de água ou soro na ponta que é colocado no canal do colo do útero e que ajuda a deixá-lo mais mole e dilatado, preparando o terreno para a ação das contrações. O intuito é que o balão cervical vá massageando o colo até que o mesmo se abra e o balão saia, deixando o caminho preparado.

As prostaglandinas via vaginal são a alternativa farmacológica para o preparo do colo, e no Brasil existem em forma de comprimido ou de fita. Elas são utilizadas com a paciente já internada e muitas vezes podem acabar desencadeando as contrações (além de preparar o colo, que é a função desejada). Elas são contra-indicadas para mulheres com cesárea anterior devido a aumentarem o risco de uma ruptura uterina.

Descolamento de membranas. Ilustração: Marcella Briotto

Depois do colo preparado, a indução continua com o uso da ocitocina intravenosa, um hormônio sintético que provoca as contrações. Idealmente ela é utilizada com uma bomba de infusão para que sua dose seja minuciosamente controlada para ser a dose mínima necessária para que a mulher tenha 3 contrações em cada 10 minutos, que é o ritmo ideal e fisiológico das contrações do trabalho de parto. Quando as contrações se regularizam, assim que possível é realizada a ruptura da bolsa, pois isso ajuda o corpo da mulher liberar a ocitocina endógena. A partir daí, muitas vezes é possível até retirar a ocitocina sintética e deixar o parto evoluir normalmente.

A indução do trabalho de parto só é contra-indicada quando há uma contra-indicação ao parto normal, como em casos onde o bebê não está bem ou casos de algum outro impeditivo para que o parto aconteça (placenta prévia, que recobre o colo do útero, por exemplo).

O que diz a Organização Mundial de Saúde

No documento “WHO Recommendations for Augmentation of Labour”, ou “Recomendações da OMS para intensificar o trabalho de parto”, a Organização Mundial de Saúde oferece algumas orientações aos profissionais de assistência ao parto. A intenção do documento é estimular condutas baseadas em evidências científicas e que respeitem o protagonismo da mulher para uma experiência positiva de parto.

A OMS afirma, neste documento, que exames de toque não são a maneira mais indicada de detectar o início ou atraso do trabalho de parto. A orientação é que isso seja avaliado por meio de um partograma com linha de ação de quatro horas.

A Organização Mundial de Saúde também não recomenda o uso de fluídos intravenosos e nem de misoprostol por via oral para acelerar o trabalho de parto. Em vez disso, ela indica que a mulher tenha liberdade de movimentos e seja encorajada a ficar na vertical, para que a força da gravidade auxilie o bebê a descer.

A presença de uma acompanhante também é uma boa prática recomendada pela OMS como recurso para intensificar o trabalho de parto. A segurança que o acompanhante provoca na mulher aumenta os níveis de ocitocina e ajuda o trabalho de parto a fluir.

Fontes:

Parto, aborto e puerpério: Assistência humanizada à mulher

WHO recommendations for augmentation of labour

Médica e obstetra de Parto Humanizado

Parto normal após cesárea é possível e seguro. Saiba mais sobre o VBAC

Foto: Lela Beltrão

O parto normal após cesárea ainda assusta muita gente que acredita que depois de uma cesárea a mulher só poderá ter outros filhos também via cesárea. Mas isso não é verdade. Há quem tenha uma ou mais cesáreas e consiga parir naturalmente e sem nenhuma intercorrência. O parto normal após cesárea é possível e até indicado, por ser mais seguro e ter grandes chances de sucesso.

Risco de rompimento do útero é mínimo

Também chamado de VBAC (Vaginal Birth After Cesarean Delivery), o parto normal após cesárea é erroneamente desencorajado, sob pretexto do risco da cicatriz da cirurgia romper. Na verdade, embora não seja impossível que isso aconteça, a ruptura do útero é uma complicação rara.

O risco de que a cicatriz rompa em um VBAC varia de 0,2 a 0,7%, ou seja, as chances são pequenas e não justificam a realização de outra cesárea. Esse risco é um pouco maior quando o intervalo entre a primeira cesárea e o parto é menor que 18 meses, por isso, é recomendado que a espera seja superior a esse tempo. Entretanto, intervalos menores entre a cesárea e o parto não contraindicam o parto normal.

De acordo com o American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG), quando o corte da cesárea é baixo e transverso, ou seja, feito na horizontal e na parte mais baixa do útero, o risco de rompimento é mínimo. O corte baixo e vertical, que é menos comum, tem maiores chances de romper. Mas a maior probabilidade desse tipo de complicação ocorrer é em mulheres que tiveram o corte da cesárea feito na vertical e na parte mais alta do útero, geralmente para o nascimento de bebês muito prematuros.

A ACOG recomenda consultar os registros médicos das cesáreas anteriores para saber o tipo de incisão feita no útero. Com essa informação, o obstetra que acompanhará o parto poderá avaliar se os riscos de rompimento durante o parto são consideráveis.

Foto: Lela Beltrão

Parto normal após cesárea é indicado

Ter um parto normal após ter vivido uma ou mais cesáreas tem benefícios. O parto normal tem menor risco de infecção, menor perda de sangue e uma recuperação mais rápida.

Além dessas vantagens, o VBAC não tem alguns riscos que aumentam conforme o número de cesáreas cresce. Múltiplas cesáreas têm chances consideráveis de ocasionar lesões na bexiga e no intestino, histerectomia (retirada do útero) e problemas com a placenta em futuras gestações.

O VBAC deve ser considerado até mesmo por mulheres que optaram pela cesárea mas entraram em trabalho de parto e o bebê está saudável. Em casos assim, a ACOG indica que a mulher e a equipe de assistência deixem que o trabalho de parto evolua naturalmente, pois será melhor para a saúde da mulher e do bebê.

Algumas situações podem fazer com que o planejado VBAC se torne uma cesárea necessária. Caso seja necessário induzir o parto com medicamentos, as chances de sucesso no VBAC diminuem, embora não seja impossível ter um parto normal induzido após cesárea. É importante que a equipe de assistência se mantenha atenta e informe a mulher sobre a evolução do trabalho de parto e a necessidade de intervenções, para que ela seja protagonista desse processo e tome as decisões mais adequadas.

Para saber mais sobre as taxas de cesárea entre as mulheres com cesárea anterior e comparar com outros grupos de mulheres, acesse o post sobre as Categorias de Robson.

Relatos de parto normal após cesárea

Veja algumas histórias de mulheres que conseguiram ter um parto normal após terem passado pela experiência de uma ou mais cesáreas.

VBAC induzido: Nascimento da Mariana

VBAC após Versão Cefálica Externa: Nascimento do Felipe

Relato de VBA2C: Nascimento da Teresa

VBAC: a experiência dos dois partos e meu amor pela humanização


Pré-natal: Veja recomendações da OMS para uma experiência positiva na gravidez

Barriga de mulher grávida sendo tocada gentilmente durante trabalho de parto
Foto: Kátia Ribeiro

A base de uma maternidade saudável é uma experiência positiva não só no parto, mas também ao longo do pré-natal. É isso que defende a Organização Mundial de Saúde (OMS), que em 2016 lançou “Recomendações da OMS sobre cuidados pré-natais para uma experiência positiva na gravidez”, um guia com orientações para que os cuidados pré-natais (CPN) vão além de salvar vidas, e também garantam qualidade de vida às gestantes e seus bebês.

A OMS estimula que as práticas dos profissionais envolvidos na assistência à gestante sejam baseadas em evidências. E, também, que priorizem a saúde e o bem-estar centrados nas pessoas, de acordo com uma abordagem baseada nos direitos humanos.

Na prática, isso significa que durante o pré-natal a gestante deve ser orientada e informada, de maneira efetiva, sobre a própria saúde, os exames necessários e os cuidados que deve tomar. As mulheres e as adolescentes grávidas também precisam ser apoiadas de maneira respeitosa e efetiva, sempre levando em consideração os aspectos sociais, culturais, emocionais e psicológicos de cada uma.

Para orientar os profissionais envolvidos na assistência à mulher durante o pré-natal, a Organização Mundial de Saúde pontuou os principais cuidados e práticas a serem adotados.

Saiba quais são as recomendações da OMS para um parto positivo e seguro

Nutrição da mulher durante a gestação

A OMS preconiza que uma alimentação balanceada, rica em energia, proteínas, vitaminas e sais minerais adequados, combinada à prática de atividades físicas, é essencial para que as mulheres se mantenham saudáveis e evitem o ganho de peso excessivo durante a gravidez. É recomendado que o cardápio da gestante seja diversificado, e inclua vegetais verdes, carne, peixe, feijão, frutos secos, cereais integrais e frutas.

Além da boa alimentação, recomenda-se que a mulher faça uso de suplementação oral diária de ferro e ácido fólico. Essa medida evita anemia das mães, infecção puerperal, baixo peso do bebê e parto prematuro.

Também é indicado, apenas para mulheres que consomem mais de 300 mg de cafeína por dia, reduzir a ingestão da substância para evitar o risco de aborto espontâneo e recém-nascidos com baixo peso.

Avaliações necessárias no pré-natal

Para analisar a saúde da mãe, a OMS recomenda, em contextos específicos, que a mulher faça alguns exames. Um deles é o hemograma, para diagnosticar anemia. Outro recomendado é o de cultura da urina, para verificar a presença de bacteriúria assintomática (ASB).

Também é indicado que todas as gestantes meçam o índice glicêmico, para detectar diabetes gestacional, e façam testes de HIV e sífilis.

Além desses cuidados, é importante que a gestante faça uma ecografia antes das 24 semanas. Esse exame vai estimar a idade gestacional, melhorar a detecção de anomalias fetais e gravidezes múltiplas, reduzir a indução do trabalho de parto para gestações pós-termo e melhorar a experiência da mulher na gravidez.

Como medida preventiva, a Organização Mundial de Saúde indica o uso de antibiótico durante sete dias para tratamento de bacteriúria assintomática (bactérias na urina mesmo sem infecção), para evitar infecção urinária persistente, que pode ocasionar parto prematuro e baixo peso do bebê ao nascer. Também é indicada a vacinação com toxóide tetânico, uma maneira de evitar a mortalidade neonatal por tétano.

Os profissionais da saúde devem sondar as pacientes sobre a eventualidade da violência doméstica, para que recebam a assistência necessária. Também devem perguntar a todas as mulheres grávidas se usam ou usaram álcool e outras substâncias, e se fumam, fumaram ou convivem com fumantes.

Recomendações da OMS para amenizar sintomas fisiológicos comuns

Náuseas, azias e dores são comuns durante a gestação. Para amenizá-las, a Organização Mundial de Saúde faz algumas recomendações, a maioria baseada em métodos naturais.

As náuseas e vômitos podem ser reduzidos com gengibre, camomila, vitamina B6 e/ou acupuntura. Já para a azia, uma mudança na alimentação pode ajudar. Se não for suficiente, o uso de antiácido está liberado.

Outro problema comum na gravidez é a cãibra, especialmente nas pernas. Esse incômodo pode ser reduzido com o uso de magnésio, cálcio ou opções de tratamentos não farmacológicos de preferência da mulher.

Para as dores lombares e pélvicas, além de atividades físicas durante toda a gestação, a OMS indica fisioterapia, cintas de suporte e acupuntura.

A constipação pode diminuir com sêmola de trigo ou equivalentes, e para as veias varicosas o guia indica meias de descanso, elevação das pernas e imersão em água.

Foto: Marcelo Min / Fotogarrafa

Intervenções para melhorar a qualidade de vida da mulher durante o pré-natal

Evitar a mortalidade é importante, mas não deve ser a única finalidade dos cuidados de pré-natal. É importante garantir que a mulher se sinta acolhida, orientada e informada. Que seu bem-estar seja garantido e que ela e a equipe tenham a quem recorrer caso necessário. Para isso, a cartilha sugere que cada mulher tenha um caderno de anotações para melhorar a continuidade e qualidade dos cuidados recebidos.

Outra indicação é que, em programas de obstetrícia que funcionem devidamente, alguns cuidados sejam prestados por parteiras, e também em grupos de pré-natal.

Se os profissionais de assistência à saúde da mulher e do bebê durante o pré-natal seguirem essas premissas, todas as mulheres grávidas estarão bem amparadas para que vivam uma experiência positiva. Isso é essencial para uma maternidade saudável e famílias prósperas.

Veja aqui o guia Recomendações da OMS sobre cuidados pré-natais para uma experiência positiva na gravidez

Hypnobirthing: Hipnose ajuda a relaxar no trabalho de parto

Mulher durante o trabalho de parto relaxando sob o chuveiro
Foto: Katia Ribeiro

Embora muito se fale sobre as dores do parto, é possível trazer um filho ao mundo respirando profunda e lentamente, concentrada, relaxada e sentindo pouca ou nenhuma dor. E uma das maneiras de conseguir esse parto tão sereno, talvez até indolor, é utilizando o método Hypnobirthing.

O Hypnobirthing foi criado nos Estados Unidos, na década de 90, e desde então tem sido difundido pelo mundo. De acordo com os tabloides ingleses, até as duquesas Kate Middleton e Meghan Markle teriam utilizado o Hypnobirthing para dar à luz.

Hypnobirthing no Brasil

Trazido ao Brasil pela fisioterapeuta e doula Lúcia DeJu, o método tem início com um curso de 12 horas e meia de duração. Quem começa a praticar também tem um material de apoio, com áudios e leituras, para se preparar para o parto.

A instrutora recomenda começar a partir da 14ª semana, e conta que todo o conteúdo do Hypnobirthing é focado no parto, mas que muitas mulheres acabam levando as técnicas para a vida. Afinal, a capacidade de concentração e foco adquiridos durante o treinamento podem ser úteis em diferentes situações, e continuam fazendo parte do repertório da mulher depois que o bebê nasce.

Mulher de roupa preta, olhos fechados, deitada de lado, sendo amparada por integrante da equipe de assistência ao parto
Foto: Katia Ribeiro

Abaixo, Lúcia DeJu conta mais sobre o Hypnobirthing e como pode ser praticado.

Como o método funciona?
Lucia DeJu:
O Hypnobirthing é um método que envolve uma série de técnicas. A principal delas é a hipnose, mas também envolve afirmações positivas, relaxamentos conduzidos, meditações conduzidas, visualizações e algumas respirações que ajudam a gestante a se manter tranquila e relaxada durante o trabalho de parto. A ideia principal é que, relaxada, ela consegue ouvir os próprios instintos e, com o corpo funcionando muito bem, ela valida esses instintos e consegue ter um conforto e um trabalho de parto com bastante fluidez.

Como e quando começar?
Lucia DeJu:
A gente indica começar a praticar a partir da 14ª semana, porque o Hypnobirthing é bem focado na preparação para o parto, embora tenha benefícios ao longo de toda a gestação. Então a gente recomenda que inicie nesse momento em que a pessoa começa a pensar um pouco mais no parto. Ela pode fazer o curso de 12 horas e meia direcionado para gestantes e acompanhantes, mas pode começar também lendo o livro do método, que reúne todas as técnicas e explica bastante a filosofia do método, é muito legal.

A mulher deve ouvir os áudios durante o parto?
Lucia DeJu:
Uma das formas de se manter concentrada é recorrer aos áudios, mas não necessariamente. Como ela vai ter praticado muito ao longo da gestação, vai conseguir se concentrar a partir das visualizações, das afirmações positivas, sem estar sendo conduzida por um áudio.

A mulher fica de fato hipnotizada?
Lucia DeJu:
Ela fica hipnotizada, mas é importante entender o que é hipnose. É uma estratégia de foco mental, então qualquer coisa que envolve estar concentrado, prestando atenção em uma única coisa, é hipnose. Se a gestante estiver concentrada na respiração, na parte positiva daquela experiência, no relaxamento do corpo dela, na conexão com o bebê, ela fica realmente hipnotizada. E isso significa que as coisas em volta dela vão ter pouca importância, e é isso que vai ajudá-la a se manter ainda mais relaxada e permitir que o corpo funcione melhor. Quando a gente fala, por exemplo, que uma pessoa está hipnotizada pela televisão e não ouve a campainha, não vê quem passa na frente, está correto, é uma hipnose mesmo. Você escolhe colocar sua atenção em uma única coisa, e você abstrai o restante das coisas. É uma escolha, por isso que a gente fala que toda hipnose é uma auto hipnose, e você dá atenção exclusiva a uma coisa.

Como é possível que a concentração elimine a dor? O que acontece com o corpo da mulher que se preparou utilizando o hypnobirthing?
Lucia DeJu:
É possível eliminar a sensação de dor justamente porque está colocando a atenção dela em outras coisas, às vezes no relaxamento, por exemplo, e a sensação dolorosa pode desaparecer. Mas a gente acredita que não necessariamente existe a dor. Em um processo natural, um corpo saudável, um bebê saudável, não necessariamente existe a dor. Vai ser a fluidez do processo que vai garantir que a mulher vivencie essa experiência sem dor.

Um outro ponto é que se a mulher está muito relaxada, está liberando endorfina no corpo, o hormônio do bem estar. Então, quanto mais relaxada, mais endorfina, e mais sensação de bem estar. E ela conta com o efeito anestésico da endorfina, que pode ser muito útil nessa questão da dor.

Mulher grávida de biquíni, sentada no chão, de frente para um cachorro grande e peludo que delicadamente encosta o focinho na barriga dela
Foto: Katia Ribeiro

É possível usar o método em outras situações além do parto?
Lucia DeJu:
Sim, é super possível. Inclusive, muitas mulheres que utilizam no preparo para o parto costumam usar também, facilmente, em outras situações da vida, porque já entenderam as técnicas. Uma vez que você aprende a relaxar e entende que o relaxamento ajuda seu corpo a funcionar melhor, acaba sendo uma ferramenta super útil para outros momentos da vida também.

Você se lembra de alguma história marcante?
Lucia DeJu:
Eu lembro de muitas, muitas histórias! Mas uma que aconteceu recentemente foi de uma pessoa que começou o curso com 35 semanas e terminaria com 38 semanas, mas entrou em trabalho de parto com 37 semanas. Foi um susto, uma intercorrência, ela acabou precisando de uma cesárea de emergência, e essa pessoa depois me falou: ‘Foi muito bom para mim. Mesmo não sendo o parto que eu sonhei, mesmo não sendo uma situação em que eu pudesse ficar super tranquila, super feliz com o que estava acontecendo, o método e as técnicas me ajudaram muito. Eu pude permanecer tranquila, o meu corpo funcionou da melhor maneira possível’. Isso já aconteceu outras vezes e para mim é um tipo de história que anima a continuar ensinando a técnica, e que mostra que dá pra usar em outras situações além do parto natural.

O mais frequente é as pessoas se surpreenderem com a rapidez e a fluidez do trabalho de parto. Costuma ser mais tranquilo, a pessoa não costuma expressar ou sentir tanto a dor, a equipe acha que o trabalho de parto ainda não está tão evoluído, e quando vão ver, a pessoa já está no finalzinho. Mais de uma aluna teve o bebê no carro, a caminho do hospital.

Quem tiver interesse deve procurar um profissional com qual formação?
Lucia DeJu:
É importante que procure um instrutor de Hypnobirthing certificado. Eu sou a pessoa que trouxe o Hypnobirthing para o Brasil e começou a lecionar o método em português. Tem outras duas pessoas que recém se formaram, uma nos EUA e outra na Inglaterra, então também podem utilizar o método agora. E em breve vou formar outros instrutores. Então é importante ser um instrutor certificado, independente da formação de base. Mas precisa ser uma doula, enfermeira, assistente, ter um conhecimento na área de parto humanizado, e também de hipnose.

Leia também: Conheça o GentleBirth, método que ajuda a lidar com a dor do parto

Conheça o GentleBirth, método que ajuda a lidar com a dor do parto

Foto: Katia Ribeiro

Estamos acostumados a evitar situações que nos provoquem dor. Isso é natural, e uma maneira de se preservar, já que a dor é associada ao perigo e ao risco à integridade física. Mas e se conseguíssemos sentir a dor de uma outra perspectiva, sem entendê-la como algo nocivo? É o que propõe o método GentleBirth, que treina a mente da mulher para experienciar a dor e possíveis reviravoltas do parto com serenidade e resiliência.

Desenvolvido em 2006, o método GentleBirth nasceu a partir das vivências e do conhecimento científico da parteira irlandesa Tracy Donegan. Ele alia ferramentas e conteúdos de psicologia do esporte, terapia cognitivo comportamental, fisiologia do parto, mindfulness e hipnose para preparar a mulher para tudo aquilo que nossa cultura trata como amedrontador: dores, nervosismo, acontecimentos imprevisíveis e até a necessidade de realizar uma cesárea.

O método também oferece ferramentas para dormir melhor, estimular o vínculo com o bebê e lidar com outras questões mais difíceis, como a perda gestacional.

Como é o GentleBirth na prática

O primeiro passo para quem quer utilizar o método é participar de um workshop presencial. Nele, a mulher aprende mais sobre os assuntos abordados pelo método e descobre quais são seus medos e crenças limitantes relacionadas ao parto. Depois disso, vem o treinamento diário: um aplicativo que reúne sequências de áudios com diversas práticas que criam sinapses neurológicas positivas sobre os temas.

Para começar, não é preciso nem esperar o positivo no teste de gravidez. O GentleBirth tem a Jornada da Fertilidade, para ser praticada na pré-concepção. Depois que o bebê nasce, também há conteúdos focados no pós-parto.

O GentleBirth funciona mesmo?

Se você precisa de aval científico para começar, aqui vai: a University College Cork, da Irlanda, fez um estudo comparativo com 200 grávidas. Metade se preparou para o parto com aulas tradicionais, e a outra metade ouviu os áudios do GentleBirth. A constatação dos pesquisadores foi que o grupo que utilizou o método teve uma experiência de parto mais positiva, pois estava mais preparado para lidar com a dor. Além disso, as 100 mulheres da pesquisa que utilizaram o GentleBirth também precisaram de menos intervenções e puderam contar com mais apoio dos respectivos parceiros. Portanto, está cientificamente comprovado, o GentleBirth funciona.

Foto: Katia Ribeiro

Entrevista com a instrutora de GentleBirth Marianna Muradas

Abaixo, um bate-papo com a instrutora de GentleBirth Marianna Muradas, que é educadora Feldenkrais e parceira da Casa Moara.

Como é a prática do GentleBirth?
Marianna Muradas: Através do workshop presencial a gestante tem a possibilidade de se aprofundar nos temas e principalmente entender quais são seus medos e crenças limitantes relacionadas ao parto e ao medo da dor do parto. Junto com o workshop, o aplicativo possui áudios com diversas práticas para que ela crie novas sinapses neurológicas positivas sobre o tema. Não existe semana ideal para se começar a praticar, inclusive o método começa no período de pré-concepção, com a Jornada da Fertilidade, e continua no pós-parto com a Jornada de Parentalidade. É recomendado um treinamento diário das práticas, e é algo que é simples e super possível de ser incorporado numa rotina de vida corrida.

Existe uma maneira correta de ouvir os áudios?
Marianna Muradas:
Há áudios de Mindfulness, hipnoses, técnicas de respiração e afirmações. As hipnoses devem ser sempre feitas em local seguro e com tranquilidade, então recomendo sempre fazer ao ir deitar para dormir. Todas as outras podem ser realizadas durante o dia. A atenção plena é algo que conseguimos praticar durante o banho, ao lavar uma louça, tomando um café ou almoçando, por exemplo. As minhas preferidas para ouvir no trânsito ou enquanto caminho com os meus cachorros são as afirmações.

Como é o conteúdo dos áudios e como auxiliam a mulher a lidar com a dor do parto?
Marianna Muradas:
As hipnoses funcionam muito para auxiliar a mulher a lidar com as sensações do parto de uma maneira mais confortável, mudando o foco da dor, direcionando sua atenção para um outro lugar. Porém, estar em auto hipnose no parto não é estar insconsciente ou passiva. Muito pelo contrário, é apenas utilizar a habilidade de se focar plenamente para lidar melhor e com protagonismo durante todo o processo.

O GentleBirth abrange outras questões relacionadas?
Marianna Muradas:
Ele abrange outras áreas. Pois sabemos, através da neurociência, que o nosso foco altera a nossa fisiologia. Dessa maneira, há práticas para a mulher e o homem lidarem com a ansiedade quando estão tentando engravidar, para os medos relacionados ao parto, para a escolha da via de parto (natural, normal ou cesárea), para a amamentação, para a volta ao trabalho, sexualidade e parentalidade. Para casais hetero e homoafetivos.

O método funciona com todas as mulheres?
Marianna Muradas:
Todas que praticaram, mesmo quando não vivenciaram o parto idealizado, se beneficiaram do método em algum momento ou de alguma forma. Pois não há garantias de um parto rápido e indolor, e sim a construção da resiliência emocional e a conquista da habilidade de lidar melhor com as adversidades da vida. Na metodologia dizemos que controlamos só o que é controlável, e que só podemos controlar o nosso estado emocional. Compreender isso é algo que pode beneficiar a todos.

Você lembra de alguma história marcante de paciente que usou o GentleBirth?
Marianna Muradas:
Tenho tantas! Fico sempre extremamente emocionada quando recebo um relato de uma mãe que tinha vivenciado partos anteriores em que não tinha se sentindo respeitada, e teve uma experiência positiva de parto com o método. Eu também fui auxiliada pelo método na minha experiência de parto, e a lidar com o luto e uma perda gestacional anterior.
Mas uma história que me marcou demais foi de uma paciente da Dra. Andrea que, antes mesmo de eu começar a ministrar os cursos na Moara, teve um parto gemelar e tinha utilizado os áudios. A Andrea tinha me dito que ela tinha tido um parto lindo e eu erroneamente deduzi que tinha sido um parto normal. Quando ela me enviou o relato soube que foi uma cesárea intraparto de emergência, e aquela mãe estava extremamente tranquila e tinha vivido uma experiência positiva de parto. Com esse relato eu entendi que o principal objetivo é construir resiliência emocional e acolher todas as vias de parto, e que só a opinião da mãe importa sobre a sua experiência de parto.
Meses depois essa mesma mãe me escreveu contando que uma das bebês tinha passado por uma cirurgia cardíaca e que as práticas de Mindfulness do método estavam a auxiliando demais a lidar com esse grande desafio.

Marianna Muradas
Instagram: @vidafeldenkrais
Site: www.gentlebirth.com/mariannamuradas

Glossário do parto humanizado: Saiba o significado de termos mais usados

Foto: Kátia Ribeiro

Se você está em busca de informações para se preparar para o parto, certamente já se deparou com alguma palavra desconhecida em um artigo ou relato de parto. O significado impossível de ser deduzido muito provavelmente te levou ao Google, em busca de algum glossário do parto humanizado capaz de sanar essa e todas as outras dúvidas que viriam.

Alguns termos comuns a quem está envolvido com a humanização do parto são mais técnicos, e por isso, quem chega agora pode estranhar. Mas o conhecimento é essencial para se empoderar, portanto, toda dúvida deve ser esclarecida.

Para que ninguém chegue ao parto com pontos de interrogação na cabeça, preparamos esse glossário do parto humanizado, que reúne os termos que geram mais dúvidas e os respectivos significados.

Se você não encontrar aqui a palavra que procura, não deixe de mandar sua dúvida pelo Facebook ou Instagram.

Foto: Katia Ribeiro

Glossário do Parto Humanizado

  • Apojadura: É a descida do leite. Acontece por volta de 72 horas após o parto;
  • Balão cervical: Trata-se de um catéter de borracha ou silicone com um balão na ponta. É utilizado para ajudar na preparação do colo do útero, em casos com necessidade de indução do parto;
  • Bolsa rota: Termo usado quando a bolsa das águas se rompe. A bolsa romper não necessariamente indica que a mulher está em trabalho de parto, nem é necessário que ela se rompa ou seja rompida artificialmente para que o bebê nasça. A bolsa pode romper antes das contrações começarem em 8% dos casos, no nono mês, e a maioria dessas mulheres entrará em trabalho de parto espontaneamente nas próximas 24 horas (50% em 17 horas, 75% em 75 horas de acordo com um trabalho que estudou 5041 mulheres). Na maioria dos casos (92%), o trabalho de parto se inicia sem a bolsa se romper, ocorrendo sua ruptura em seu decorrer, podendo até em raros casos o bebê nascer dentro da bolsa, o que chamamos de parto empelicado. Quando a bolsa se rompe, são liberados mais hormônios que estimulam o parto, podendo ocorrer um aumento do ritmo das contrações, motivo pelo qual em alguns casos, realizar a ruptura artificial pode ser benéfica (é uma das intervenções no parto que só devem ser feitas em caso de necessidade).
  • Cardiotocografia: Exame que avalia o bem estar do bebê através da monitorização das contrações uterinas e dos batimentos cardíacos;
  • Colo apagado: Colo fino, já preparado para o parto;
  • Colostro: Secreção que precede a descida do leite. Serve de alimento e fonte de anticorpos para o bebê nas primeiras 72 horas de vida;
  • Descolamento de membranas: Técnica utilizada para preparar o colo do útero em casos onde pode ser necessária uma indução de parto. É introduzido um dedo dentro do colo do útero e feito um movimento circular que descola a bolsa da área próxima ao colo do útero;
  • Epi-no: Aparelho usado no final da gravidez para ajudar no alongamento da musculatura perineal. Ele diminui as chances de laceração do períneo na hora do parto;
  • Gentlebirth: Técnica utilizada para preparo emocional da mulher para uma experiência positiva no parto. Nela são utilizadas ferramentas da terapia cognitivo-comportamental, hipnose, psicologia do esporte e mindfullness;
  • Golden hour: Hora dourada, a primeira hora após o parto, quando há a predominância de vários hormônios que vão atuar para estimular a criação de vínculo entre a mãe e o bebê e favorecer o aleitamento materno;
  • Hypnobirthing: Técnica de hipnose utilizada para relaxamento e alívio da dor no trabalho de parto;
  • Mecônio: Em alguns partos, o líquido amniótico pode ser esverdeado por conter o que chamamos de mecônio. O mecônio é a primeira evacuação do bebê e pode acontecer ainda dentro do útero quando ele está maduro (aumentando sua ocorrência após 41 semanas) ou em situações de diminuição se sua oxigenação. O mecônio é estéril e é normalmente engolido e digerido pelo bebê sem oferecer riscos por isso. O que oferece riscos é a aspiração do mecônio (quando o mecônio vai para o pulmão e causa as complicações chamadas de síndrome de aspiração meconial), e isso pode acontecer principalmente quando o bebê não nasce bem e respira pela primeira vez. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o mecônio por si só não é uma indicação de cesárea. Quando detectamos a presença de mecônio, o que fazemos é monitorar o bebê com um aparelho chamado cardiotocografia, que vai avaliar seu bem estar. Se estiver tudo bem, o trabalho de parto é acompanhado normalmente e será até melhor que o bebê nasça por parto normal, pois a passagem pelo canal de parto eliminará o mecônio das vias aéreas superiores do bebê, ajudando a diminuir o risco dele aspirar quando respirar pela primeira vez. A cesárea deve ser indicada nos casos em que o monitoramento mostrar que o bebê não está bem e ela for o meio mais rápido para seu nascimento, pois nessas situações a aspiração pode acontecer ainda dentro do útero. Num estudo americano avaliando 20.047 nascimentos, a presença de mecônio ocorreu em 9,2% e a síndrome de aspiração meconial em 0,1% dos nascimentos;
  • Misoprostol: Comprimido de prostaglandina usada para o preparo do colo do útero para indução do trabalho de parto;
  • Nascimento empelicado: Quando a bolsa não se rompe durante o trabalho de parto e o bebê nasce dentro dela;
  • Períneo íntegro: Dizemos que foi períneo íntegro quando o bebê nasce sem que aconteça nenhuma laceração e a mulher não precisa levar nenhum ponto na vagina. Isso só é possível acontecer quando não é realizada a episiotomia de rotina (corte na vagina na hora do nascimento), conforme recomendação da OMS;
  • Propess: Fita de prostaglandina sintética usada para preparar o colo do útero em casos de indução de parto com colo desfavorável;
  • Spinning babies: Técnicas posturais que auxiliam no alongamento dos ligamentos da bacia e no melhor posicionamento do bebê;
  • Tampão: Muco produzido pelas glândulas do colo do útero. Conforme o colo do útero se prepara para o parto, o tampão vai se soltando;
  • VBAC: VBAC é o termo usado para mulheres que tiveram um parto normal depois de terem tido uma cesárea (do inglês, Vaginal Birth After Cesarean Delivery). Apesar de uma maior chance de cesárea em relação a mulheres sem cesárea anterior, a tentativa de parto normal após uma cesárea é segura e tem altas taxas de sucesso. Num VBAC existe um risco de ruptura uterina que varia de 0,2 a 0,7%. Por ser um risco pequeno, não justifica a realização de outra cesárea por esse motivo. Esse risco é um pouco maior quando o intervalo entre a primeira cesárea e o parto é menor que 18 meses, por isso a recomendação de uma espera superior a esse tempo (mas intervalos menores não contraindicam o parto normal);
  • VCE: sigla de Versão Cefálica Externa, uma manobra feita no final da gravidez para virar de cabeça pra baixo um bebê que está sentado;
  • Vernix: Sebinho branco que recobre a pele de alguns recém nascidos que tem um papel importante na sua proteção. É produzido pelas glândulas sebáceas por volta da vigésima semana de gestação, e aparece principalmente nos bebês nascidos no nono mês de gravidez. Bebês prematuros ou após 42 semanas geralmente não apresentam vernix, o que pode justificar a pele flácida e descamativa destes bebês. O vernix é basicamente uma secreção sebácea, composta por gordura, aminoácidos e células que se desprenderam da pele do bebê no período intrauterino. Dentre as principais funções do vernix estão hidratar a pele do bebê, facilitar a passagem pelo canal do parto, proteger a pele do estresse ambiental e de bactérias nocivas e prevenir a perda de calor nas primeiras horas de vida. Estudos recentes também o relacionam ao desenvolvimento da microbiota intestinal humana. Por esses benefícios, o vernix não deve ser removido imediatamente e o banho deve ser adiado por pelo menos seis horas após o nascimento, de acordo com as Diretrizes da Organização Mundial de Saúde para os cuidados com o recém-nascido.
Foto: Lela Beltrão

Colo do útero: Saiba como ele fica preparado para o parto

Ilustração: Marcella Briotto

O parto é um evento fisiológico, que acontece naturalmente, e pelo qual mãe e bebê passam no final do período da gravidez. Uma das mudanças importantes que ocorrem no corpo da mulher para que o parto tenha início é a do colo do útero. Conforme o parto se aproxima, o colo do útero começa a se preparar, dilatando e amolecendo.

Quem desencadeia o trabalho de parto é o bebê, quando fica maduro. Isso acontece entre 37 e 42 semanas. É o cérebro dele que inicia uma cascata de alterações endócrinas que ativam substâncias hormonais e inflamatórias. Essas substâncias coordenam três eventos essenciais para o parto:

  • Amadurecimento de sistemas e órgãos fetais essenciais, especialmente os pulmões, para os desafios na vida fora do útero;
  • Transformação o colo do útero duro da mulher numa estrutura mole e prontamente dilatável;
  • Início das contrações do útero, que direcionarão o bebê através do canal de parto para que aconteça o nascimento.

Semanas antes do parto acontecer, o corpo da mulher, por ação de hormônios e outras substâncias como as prostaglandinas, já começa a se preparar para que ocorra a dilatação e a passagem do bebê pelo canal de parto, que vai se formar durante o trabalho de parto.

Ilustração: Marcella Briotto

Leia mais sobre o papel dos hormônios durante o parto

Como é o útero

O útero é um órgão muscular que fica dentro da pelve, entre a bexiga e o reto. Numa mulher não grávida, tem a forma de pêra de cabeça para baixo e tem o tamanho de um punho.

Ele é composto pelo fundo do útero (parte em forma de cúpula), corpo (maior porção central afilada) e o colo do útero (abertura na vagina).

O colo do útero é a parte mais baixa do útero, que se estende para a vagina e conecta o útero ao topo da parede vaginal. Se uma mulher inserir um espéculo em sua vagina e abrir, ela verá o colo do útero, que parece um rosquinha rosa a cerca de 7 a 15 cm da abertura de sua vagina. Ela também pode senti-lo no fundo da vagina se introduzir os dedos médio e indicador.

O colo do útero se abre para a vagina através de um orifício interno e de um orifício externo, embora o orifício externo seja o único visível – é o pequeno orifício no centro do colo.

O canal interno do colo do útero, que também não é visível no exame de espéculo, é revestido por glândulas que produzem secreções que variam em consistência e qualidade ao longo do ciclo e no decorrer da gravidez.

Ilustração: Marcella Briotto

Preparo do colo para que aconteça o parto

Conforme vão acontecendo as mudanças hormonais do final da gravidez, principalmente pela ação de uma substância inflamatória chamada prostaglandina, mudanças no colo do útero começam a acontecer:

  • Amolecimento: a consistência do colo, que era semelhante a de um nariz, vai amolecendo e ficando parecida com consistência de um lábio;
  • Afinamento: o comprimento ou espessura do colo, que era longo (em média 3 cm), vai afinando, chegando a 1 mm de espessura;
  • Mudança de posição: de uma posição virada para trás em relação à vagina, ele vai se anteriorizando e ficando no mesmo eixo que a vagina;
  • Dilatação: em associação com todas essas mudanças, o colo acaba dilatando um pouco, chegando em alguns casos a dilatar de 4 a 6 cm, sem que a mulher esteja em trabalho de parto. Ele pode permanecer assim por dias, até que o bebê dê o estímulo inicial para que as contrações do trabalho de parto comecem a agir e façam a dilatação progredir para que aconteça o parto.

Essas modificações no colo uterino geralmente acontecem sem que a mulher perceba, e algumas vezes pode ser eliminado o tampão (substância gelatinosa parecida com um catarro) que estava no interior do orifício do colo, e que sai conforme ele começa a se preparar.

Ilustração: Marcella Briotto

Fazendo um exame de toque vaginal, um profissional de assistência ao parto pode avaliar como está o colo. Entretanto, ele não precisa ser checado rotineiramente, pois não indica quando o parto vai acontecer: o colo pode estar totalmente preparado e demorar semanas para o bebê nascer, assim como pode estar totalmente despreparado e o bebê nascer no dia seguinte.

Relatos de parto derrubam mitos e passam segurança sobre o parto normal

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Foto: Katia Ribeiro

Os relatos de parto têm ganhado espaço em grupos de apoio a gestantes e na internet como forma de incentivo ao parto normal. Escritos em primeira pessoa, por mulheres que vivenciaram um parto respeitoso, os relatos de parto mostram, passo a passo, como o parto acontece. São exemplos reais de como é possível encarar a dor, o medo, se empoderar e lidar com o imprevisível.

Relatos de parto num país com altas taxas de cesáreas

O Brasil é o segundo país com maior taxa de cesáreas no mundo: 44,3% dos nascimentos acontece por via cirúrgica. Em São Paulo, no setor privado, esse índice é de 88%. Para chegar a números tão superiores ao recomendado pela Organização Mundial de Saúde, foi preciso décadas de fomentação de alguns mitos sobre o parto normal. Quadril estreito demais, bebê grande, bebê pequeno, circular de cordão e cesárea prévia são alguns dos motivos que, erroneamente, empurram uma mulher para a cesárea.

Durante a gestação, as mulheres escutam inúmeras informações equivocadas, tanto de profissionais da saúde como de amigos e familiares sobre o parto. Esses mitos causam preocupação e medo. Em consequência, mulheres se sentem incapazes de ter um parto normal, ou temem que vivenciar um trabalho de parto e um período expulsivo seja perigoso para elas e para o bebê.

Para desconstruir esses medos que são passados de geração em geração, e para combater a desinformação acerca do parto normal, é preciso disseminar informações verdadeiras e baseadas em evidências científicas. Por isso, muitos profissionais envolvidos na assistência ao parto e muitas mulheres que tiveram uma boa experiência com o parto têm usado as redes sociais para compartilhar artigos, livros, reportagens, vídeos e todo o tipo de material que possa elucidar velhas questões sobre gestar e parir.

relato de parto, parto normal
Foto: Katia Ribeiro

Histórias reais de mulheres que se empoderaram

Os relatos de parto se somam a esse conteúdo. Eles falam de igual para igual com mulheres que buscam informações e empoderamento. Por serem histórias reais, narradas em primeira pessoa e escritas voluntariamente por mulheres que passaram pela experiência de um parto respeitoso, normal ou cesárea, os relatos ampliam a compreensão de quem se prepara para esse momento.

Nos relatos de parto, as autoras e protagonistas descrevem como o parto que vivenciaram aconteceu, desde os estudos e preparativos na gestação até as primeiras horas de nascimento do bebê. Contam cada etapa do trabalho de parto, da fase latente à ativa. Descrevem o expulsivo, explicam o que sentiram em cada momento e quais foram suas necessidades. Também narram como cada integrante da equipe de assistência ao parto contribuiu, para que fique mais fácil entender o papel da doula, da enfermeira obstétrica ou obstetriz, do obstetra e do pediatra. Relatam como se prepararam emocionalmente e a caminhada até se despirem dos medos e crenças limitantes. E, por fim, demonstram como é possível soltar o controle e deixar a vida seguir seu curso, confiando na natureza, na equipe de assistência e no próprio corpo, e aceitando o imprevisível.

Ler relatos de parto é uma maneira de a mulher se preparar para o parto. E compartilhar o próprio relato é passar adiante a força e o estímulo necessários para que cada mulher desconstrua antigas ideias, se empodere e siga em frente na busca pela realização do parto que deseja ter.

Leia os relatos de partos acompanhados pela Dra. Andrea Campos

Gravidez semana a semana: Saiba como o bebê se desenvolve

Ilustração: Marcella Briotto

Quando um óvulo e um espermatozóide se unem em uma única célula, em um evento chamado de fecundação ou fertilização, começa uma série complexa de eventos que leva à gravidez.

A fecundação acontece na trompa de falópio, também chamada de tuba uterina. Nos dias seguintes à fecundação, a única célula se divide em várias. Ao mesmo tempo, esse pequeno aglomerado de células em divisão se move através da trompa de falópio e chega ao revestimento do útero.

Lá, esse aglomerado implanta, ou seja, “gruda” e começa a crescer. A partir desse momento, passa a se chamar embrião. Ele permanece sendo um embrião até o final da oitava semana de gravidez. Da nona semana em diante, até o momento do nascimento, é chamado de feto.

O que é a placenta

A placenta é formada por algumas dessas células que se dividem rapidamente. Ela é um órgão do feto que só é necessário durante o período da gestação. É essencial para o crescimento e o desenvolvimento do bebê, e também para a manutenção de uma gravidez saudável.

A placenta faz uma interface entre mãe e bebê, evitando sua rejeição pelo organismo materno. Ela realiza as trocas gasosas e elimina produtos residuais do bebê. Também transporta nutrientes e secreta hormônios que regulam tanto o metabolismo materno quanto o crescimento e desenvolvimento fetal.

Ela é composta de um parênquima, do cordão umbilical e das membranas (que circulam a cavidade do líquido amniótico). Uma placenta no nono mês tem 2 a 4 cm de espessura, cerca de 20 cm de diâmetro e pesa em torno de 14% do peso do bebê.

Ela tem sua formação completa no primeiro trimestre e é eliminada após o nascimento do bebê, conforme o útero se contrai e ela se desprende.

Foto: Bia Takata

Como o útero se modifica

Durante a gravidez, o revestimento do útero se torna mais espesso e seus vasos sanguíneos se ampliam para nutrir o feto. Conforme a gravidez progride, o útero se expande para dar lugar ao feto em crescimento. Quando o bebê nasce, o útero já se expandiu muitas vezes seu tamanho normal.

Duração da gravidez

Uma gravidez normal dura cerca de 40 semanas. Essas semanas começam a ser contadas a partir do primeiro dia do seu último período menstrual (DUM). Presume-se que a gravidez comece 2 semanas após o primeiro dia do DUM. Portanto, um extra de 2 semanas é contado no início de sua gravidez, quando você não está realmente grávida. A gravidez “oficialmente” dura 10 meses (40 semanas), e não 9 meses, por causa dessas semanas extras.

Saiba como calcular a data provável do parto

Como o tempo de gravidez é medido

A gravidez pode ser dividida em semanas, e às vezes em dias. Quando alguém diz que a gravidez é de 36 e 3/7 semanas, significa que a mulher está grávida há 36 semanas e 3 dias.

As 40 semanas de gravidez geralmente são agrupadas em três trimestres. Cada trimestre dura cerca de 12 a 13 semanas (ou cerca de 3 meses):

Primeiro trimestre: 0 semanas – 13 e 6/7 semanas (meses 1–3)

Segundo trimestre: 14 e 0/7 semanas – 27 e 6/7 semanas (Meses 4 a 7)

Terceiro trimestre: 28 e 0/7 semanas – 40 e 6/7 semanas (meses 7 a 9)

Como essa divisão costuma causar uma certa confusão na hora de dizer qual a idade gestacional em meses, esta tabela pode auxiliar na conversão:

O que é a data provável de parto (DPP) e como ela é calculada

É uma data calculada a partir da última menstruação, ou do ultrassom, que indica quando a gravidez completa 40 semanas. Apenas uma em cada 20 mulheres dá à luz nessa data.

Ainda assim, a DPP é útil por vários motivos, pois determina a idade gestacional do feto ao longo da gravidez, para que seu crescimento possa ser monitorado. Ela também fornece uma linha do tempo para certos exames que a mulher terá que fazer durante a gravidez.

Saiba mais sobre a DPP e como ela é calculada

Acontecimentos por períodos de gravidez

Entre as semanas 1 e 2 da gravidez:

  • Nessas primeiras duas semanas após a menstruação, ainda não aconteceu a fecundação. É a fase de preparo do óvulo e do útero para a concepção, que acontece no 14º dia.

Entre as semanas 3 e 4 da gravidez:

  • Ovulação, fecundação do óvulo, formação do blastocisto, implantação no útero e desenvolvimento das vilosidades coriônicas, que darão origem ao embrião. A mulher ainda não sabe que está grávida e os sintomas são parecidos com sintomas pré-menstruais.

Semana 5 da gravidez:

  • A gravidez só é descoberta a partir de quatro semanas após a última menstruação;
  • Nessa fase, o embrião tem duas semanas de desenvolvimento, o que coincide com o momento em que a mulher percebe o atraso menstrual, faz o teste e o resultado vem positivo;
  • Por enquanto existe apenas um saco gestacional de 1 cm;
  • Pela ação do hormônio Beta HCG, algumas mulheres podem sentir náuseas e vômitos nesse período, melhorando após doze semanas;
  • A ação hormonal também estimula as glândulas mamárias e as mamas ficam doloridas. Outro efeito dos hormônios é sobre o trânsito intestinal, que fica mais lento e com predisposição a formar mais gases.

Entre as semanas 6 e 8 da gravidez:

  • A placenta começa a se formar;
  • O cérebro e a medula espinhal começam a se formar;
  • Os tecidos que formarão o coração começam a bater. O batimento cardíaco pode ser detectado com ultrassom em cerca de 6 semanas de gravidez;
  • Os brotos para membros aparecem, com as mãos e os pés em forma de remo;
  • Os olhos, ouvidos e nariz começam a se desenvolver. As pálpebras se formam, mas permanecem fechadas;
  • Os genitais começam a se desenvolver;
  • No final da oitava semana, todos os principais órgãos e sistemas do corpo começaram a se desenvolver.

Entre as semanas 9-12 da gravidez:

  • Brotos para os dentes futuros aparecem;
  • Dedos e dedos dos pés começam a se formar. Unhas macias começam a se formar;
  • Ossos e músculos começam a crescer;
  • Os intestinos começam a se formar;
  • A coluna vertebral é macia e pode flexionar;
  • A pele é fina e transparente;
  • As mãos são mais desenvolvidas que os pés;
  • Os braços são mais compridos que as pernas.

Entre as semanas 13 a 16 da gravidez:

  • Braços e pernas podem flexionar;
  • Órgãos sexuais externos são formados;
  • O ouvido externo começa a se desenvolver;
  • O feto pode engolir e ouvir;
  • O pescoço é formado;
  • Os rins estão funcionando e começam a produzir urina.

Entre as semanas 17 e 20 da gravidez:

  • O reflexo de sucção se desenvolve. Se a mão flutuar até a boca, o feto pode chupar o polegar;
  • A pele está enrugada e o corpo é coberto com uma camada de cera (vernix) e cabelos finos (lanugo);
  • O feto é mais ativo. A mulher pode sentir o movimento dele ou dela;
  • O feto dorme e acorda regularmente;
  • As unhas crescem até as pontas dos dedos;
  • A vesícula biliar começa a produzir bile, necessária para digerir nutrientes;
  • Nos fetos femininos, os ovos se formaram nos ovários. Nos fetos masculinos, os testículos começaram a descer;
  • Pode ser possível dizer o sexo do feto em um exame de ultra-som;

Entre as semanas 21 e 24 da gravidez:

  • O feto pode soluçar;
  • O cérebro está se desenvolvendo rapidamente;
  • Os canais lacrimais estão se desenvolvendo;
  • Dedos das mãos e pés com impressões digitais;
  • Os pulmões estão completamente formados, mas ainda não estão prontos para funcionar fora do útero.

Entre as semanas 25 e 28 da gravidez:

  • Os olhos podem abrir e fechar e sentir mudanças na luz;
  • O feto chuta e se alonga;
  • O feto pode fazer movimentos de agarrar e responde ao som;
  • Células pulmonares começam a produzir uma substância que permitirá a respiração.

Entre as semanas 29 e 32 da gravidez:

  • Com seu principal desenvolvimento finalizado, o feto ganha peso muito rapidamente;
  • Os ossos endurecem, mas o crânio permanece macio e flexível para o parto;
  • As diferentes regiões do cérebro continuam a se formar;
  • O cabelo na cabeça começa a crescer;
  • O lanugo começa a desaparecer.

Entre as semanas 33 e 36 da gravidez:

  • O feto geralmente se coloca em uma posição de cabeça para baixo para o nascimento;
  • O cérebro continua a se desenvolver;
  • A pele está menos enrugada;
  • Os pulmões estão amadurecendo e se preparando para funcionar fora do útero;
  • Padrões de sono se desenvolvem.

Entre as semanas 37 e 40 da gravidez:

  • O feto começa a se encaixar na pelve da mulher;
  • Mais gordura se acumula, especialmente em torno dos cotovelos, joelhos e ombros;
  • O feto ganha cerca de duzentos a quinhentos gramas por semana durante este último mês de gravidez.

Fonte: Colégio Americano de Ginecologia e Obstetrícia (ACOG), FAQ156, abril de 2018

Toxoplasmose na gravidez: Conheça os riscos e saiba como evitar

toxoplasmose na gravidez
Ilustração: Marcella Briotto

A toxoplasmose é uma doença causada por um parasita, o Toxoplasma gondii. Ele infecta seres humanos e é geralmente adquirido durante a infância e adolescência.

Quando a toxoplasmose é adquirida pela primeira vez durante a gravidez, os parasitas podem ser transmitidos para o bebê, causando a toxoplasmose congênita.

Os fetos infectados podem apresentar restrição do crescimento e prematuridade. Outras consequências podem ocorrer, como deficiência visual, surdez, macrocefalia, microcefalia, crises convulsivas e deficiência mental.

Probabilidade de infecção

Quanto maior a idade gestacional no momento da infecção materna, maiores as chances do bebê ter toxoplasmose congênita. Entretanto, a freqüência de sequelas graves no bebê é maior quando a infecção ocorre no início da gestação.

Uma metanálise estimou a probabilidade de transmissão da doença da mãe para o bebê em três fases da gravidez. Com 13 semanas, as chances são de 15%. Com 26 semanas de gravidez, há 44% de probabilidade de o bebê ser infectado. E com 36 semanas essa probabilidade aumenta para 71%.

Já a chance de desenvolver sequelas clínicas diminuiu 4% por semana adicional de gestação, de acordo com a a Revisão Sistemática de Toxoplasmose Congênita (SYROCOT).

No entanto, esses números são só estimativas. Um outro estudo concluiu que as chances de doença provocar sequelas graves quando a contaminação ocorre com 13, 26 e 36 semanas são outras: 61, 25 e 9%, respectivamente.

Sintomas da toxoplasmose

A infecção materna aguda geralmente é assintomática em mais de 80% dos casos. Quando os sintomas da infecção ocorrem, eles são tipicamente inespecíficos e leves: febre, calafrios, suores, dores de cabeça, dor muscular, dor de garganta, aumento do fígado e do baço e/ou uma erupção de pele avermelhada e sem coceira. Os episódios febris geralmente duram de dois a três dias.

Aumento dos gânglios é o sintoma mais comum. É tipicamente bilateral, simétrica, não dolorosa e na região do pescoço. Os linfonodos são geralmente menores que 3 centímetros de tamanho. Ao contrário da febre, que dura alguns dias, esse aumento dos linfonodos pode persistir por semanas.

Uma doença ocular pode ocorrer com doença aguda, mas é mais comum quando existe uma reativação de uma doença antiga. Apresenta-se com perda visual ou visualização de manchas móveis.

Quando a doença é diagnosticada na gravidez, o tipo de tratamento utilizado é baseado na idade gestacional no momento do diagnóstico. O tratamento pode continuar se a infecção do bebê acontecer, mas a eficácia ainda é controversa.

A evidência mais confiável vem da revisão sistemática sobre toxoplasmose congênita (SYROCOT), feita com 1438 mulheres. Nesse estudo, a conclusão foi que o tratamento iniciado precocemente, após a infecção ser detectada, reduziu a transmissão de mãe para filho em comparação com o tratamento iniciado tardiamente.

Há evidências de redução de sequelas neurológicas graves e de morte pós-natal em crianças com toxoplasmose congênita cujas mães foram tratadas durante a gravidez, de acordo com um estudo europeu feito com 293 fetos infectados.

Foto: Bia Fotografia / Casa Moara

Como acontece a infecção

Em países desenvolvidos, de clima temperado, acredita-se que a principal fonte de infecção materna seja a ingestão de contaminantes contidos em carnes ou subprodutos crus, mal cozidos ou curados.

A ingestão materna dos esporozoítos (ovinhos) pelo consumo de solo ou água contaminados ou frutas e vegetais contaminados com solo também é uma das principais fontes de infecção.

Os animais de alimentação (porcos, galinhas, cordeiros, cabras) são infectados pelas mesmas vias que os humanos, resultando em carne contendo bradizoitos (outra forma infectante).

Outras fontes potenciais de infecção materna incluem beber leite de cabra não pasteurizado e comer ostras, moluscos ou mexilhões crus colhidos de água contaminada.

Um transplante de órgão infectado ou transfusão de sangue é uma fonte rara de infecção.

Toxoplasmose e gatos

Embora muitas vezes os gatos levem a culpa pela toxoplasmose, é difícil se contaminar pelo contato com eles. Os felinos são os hospedeiros definitivos e, portanto, os únicos animais em que o Toxoplasma gondii pode completar seu ciclo reprodutivo. Eles podem lançar milhões de oocistos (outra forma infectante) diariamente, mas só por um período curto, que varia de uma a três semanas, e quando são contaminados pela primeira vez. Depois disso, o gato para de eliminar os oocistos nas fezes e se torna imune à doença.

A probabilidade de uma pessoa ser contaminada por um oocisto excretado pelo gato de estimação é a mesma de ser exposta ao parasita excretado por gatos de outras pessoas. Além disso, gatos domésticos que não saem para caçar e são alimentados com comida processada não oferecem riscos. Portanto, não é preciso se livrar dos gatos de estimação e evitar chegar perto de felinos durante a gestação. O único cuidado recomendado é não ter contato com a caixa de areia do animal.

Como saber se a mulher é imune ou não?

Faz parte dos exames básicos feitos no pré-natal a pesquisa da sorologia para toxoplasmose. A pesquisa é feita por exame de sangue onde são pesquisados o IgG e o IgM para toxoplasmose. Quando somente o IgG está positivo, significa que a mulher já teve contato com o toxoplasma e é imune à doença. Se o IgG é negativo, geralmente o exame é repetido com o passar do tempo para avaliar se não ocorre uma infecção na gravidez. Já o IgM positivo pode ser sinal de infecção recente.

Em países desenvolvidos, de clima temperado, 10 a 50% dos adultos entre 15 e 45 anos apresentam evidência sorológica de infecção pelo T. gondii (imunidade ou IgG positivo).

Como evitar a toxoplasmose

● Evite beber água não filtrada em qualquer ambiente.

● Evite ingerir terra, observando a higiene rigorosa das mãos após tocar o solo (por exemplo, jardinagem). Frutas e vegetais devem ser lavados antes de comer. A lavagem das mãos é a medida mais importante para reduzir a transmissão de microorganismos de um local para outro.

● A carne crua ou mal cozida é uma importante fonte de infecção. Tábuas de corte, facas, balcões e pia devem ser lavados após a preparação dos alimentos. Evite contato com mucosas (boca, olhos) ao manusear carne crua. As mulheres também devem evitar provar a carne enquanto cozinham.

● A carne deve ser cozida a 66ºC ou mais ou congelada por 24 horas em freezer doméstico (a menos de -12ºC), ambos letais para as formas infectantes. O congelamento da carne antes do consumo parece ser a intervenção mais eficaz na prevenção da toxoplasmose transmitida pela carne. A carne de gado confinado é menos provável de ser contaminada do que a carne de gado criada ao ar livre. Há evidências fracas de que a carne que foi defumada ou curada em salmoura não é segura.

● Evite comer moluscos crus, pois a água do mar pode ser contaminada por oocistos de T. gondii que sobrevivem ao tratamento de esgoto

● Possuir um gato é apenas fracamente associado à infecção aguda. No entanto, parece sensato que as mulheres grávidas com gatos peçam a outra pessoa que troque a caixa de areia diariamente (as fezes de gato frescas não são infecciosas).

● Após infecção por toxoplasmose, o ideal é que a mulher aguarde de 3 a 6 meses para engravidar.

Cuidados com os alimentos

Para evitar toxoplasmose e outras doenças que podem ser transmitidas através dos alimentos contaminados, são recomendados os seguintes cuidados em relação a compra, armazenamento, preparo, cozimento e ao servi-los:

toxoplasmose na gravidez
Ilustração: Marcella Briotto

Compra

  • Não compre alimentos já cozidos armazenados próximos a alimentos crus, mesmo que sejam armazenados no gelo.
  • Não compre alimentos em latas amassadas, rachadas ou com uma tampa protuberante.

Armazenamento

  • Certifique-se de que os produtos de carne e aves sejam refrigerados quando comprados.
  • Use sacolas plásticas para evitar que sucos de carne e peixe toquem outros alimentos.
  • Armazene itens perecíveis na geladeira dentro de uma hora após a compra.
  • Mantenha a temperatura do refrigerador entre 0 e 4 ° C e a temperatura do freezer a -18 ° C ou abaixo.
  • Congele carne e aves que não serão cozidas em 48 horas.
  • Congele atum, anchova e mahi-mahi que não serão cozidos em 24 horas. Outros peixes podem ser armazenados na geladeira por 48 horas.
  • Não guarde os ovos na porta da geladeira (já que esta é a parte mais quente da geladeira).
  • Coloque as sobras na geladeira dentro de 2 horas depois de cozinhá-las.
  • Divida as sobras em partes e armazene em pequenos recipientes.
  • Reaqueça as sobras 74 ° C antes de comer.

Preparo

  • Lave as mãos com água e sabão antes de cozinhar e depois de manusear carne crua, aves, peixe ou ovos crus.
  • Descongele carnes congeladas e pescados na geladeira ou no microondas, não deixando-as fora.
  • Marinar os alimentos na geladeira, não à temperatura ambiente.
  • Evite o contato de alimentos cozidos com garfos, colheres, facas, pratos ou áreas que possam não estar limpas.
  • Lave os garfos, colheres, facas, pratos e áreas de corte com sabão e água depois de tocar em carne crua, aves, peixe ou ovos.
  • Evite deixar os sucos de carne crua, aves ou peixe tocar alimentos cozidos ou alimentos que serão comidos crus.
  • Lave cuidadosamente todas as frutas e legumes frescos.
  • Evite receitas que incluam ovos crus.

Cozinhando

  • Use um termômetro de carne.
  • Cozinhe carne bovina, vitela e cordeiro (bifes, assados, costeletas) a 63° C e descanse por 3 minutos.
  • Cozinhe carne moída, carne de porco, vitela e carneiro a 71° C
  • Cozinhe as aves (frango, peru) a 74° C
  • Cozinhe carne de porco fresca (assados, costeletas, presunto que não esteja pré-cozida) a 63° C e descanse por 3 minutos.
  • Cozinhe o presunto pré-cozido a 60° C
  • Cozinhe o peixe até que a carne fique firme e se separe facilmente com um garfo.
  • Cozinhe o marisco até que a carne esteja firme.
  • Cozinhe os ovos até que a gema e o branco estejam firmes.
  • Ferva os sucos de carne crua ou peixe antes de usar em alimentos cozidos.

Servindo

  • Sirva os alimentos cozidos em pratos limpos com garfos, colheres e facas limpas.
  • Mantenha alimentos quentes a 60° C e alimentos frios abaixo de 4° C.
  • Nunca deixe alimentos à temperatura ambiente por mais de 2 horas, ou 1 hora, se a temperatura do ambiente for superior a 32° C.
  • Use coolers e bolsas de gelo para levar alimentos perecíveis longe de casa.

Leia a Entrevista do infectologista Thiago Zinsly Sampaio Camargo, que também falou sobre a toxoplasmose na gravidez para o blog da Casa Moara:

Casa Moara – Aumentaram os casos de toxoplasmose em SP? E no Brasil?

Dr Thiago Camargo – Existiu recentemente um grande surto em Santa Maria no RS que foi oficializado em abril de 2018 (talvez o maior do mundo, inclusive). No consultório, percebemos atualmente um número de casos maior que o habitual na cidade de SP, mas estes dados da cidade ainda estão sendo analisados pelos órgãos responsáveis. Após esta análise, que deve ser concluída em breve, saberemos se estamos tendo mais casos que o esperado normalmente.

Casa Moara – Como a toxoplasmose é trasmitida?

Dr Thiago Camargo – As formas mais comuns de contrair toxoplasmose são: ingestão do protozoário (parasita) direto do meio ambiente; ingestão de carne de animais infectados – ou de frutas ou vegetais contaminados; transmissão da mãe para o feto – também conhecida com transmissão vertical; ou transmissão através de um transplante de órgãos de um doador infectado.

Casa Moara – Quais cuidados devemos adotar para prevenir a doença?

Dr Thiago Camargo – A prevenção é baseada em: cozinhar bem as carnes; lavar as tábuas de corte e/ou outros utensílios de cozinha com água quente e sabão após o contato com carne crua; não tomar leite não pasteurizado; lavar bem frutas e vegetais; evite frutos do mar crus que possam ter vindo de águas contaminadas; evite contato com terra ou areia que possam estar contaminadas com fezes de gatos – se o contato não puder ser evitado, use luvas e depois lave as mãos com água e sabão. Gatos domésticos que são alimentados com comida processada seca ou enlatada não representam um risco – já os que comem carne crua sim.

Casa Moara – Existem vacinas para prevenir a doença?

Dr Thiago Camargo – Infelizmente não existe uma vacina para prevenção da doença. Entretanto, no Brasil, estima-se que 78% da população adulta já foi contaminada pelo toxoplasma previamente, não sendo susceptível a uma nova infecção – ou seja, já tem imunidade para a doença.

Casa Moara – Algum grupo deve ter algum cuidado especial para a doença?

Dr Thiago Camargo – As gestantes com sorologia negativa para toxoplasmose (isto é, as que nunca tiveram a doença previamente) devem ter atenção especial às formas de prevenção que conversamos acima. E, caso tenham a doença durante a gestação, a medicação especifica deverá ser iniciada. Já os pacientes imunossuprimidos (transplantados, HIV ou realizando tratamentos que diminuam sua imunidade) também devem ficar atentos. Neste caso, tanto para a infecção, como uma reativação da doença – que pode acontecer neste grupo.

Casa Moara – O que você atribui a ocorrência desse surto?

Dr Thiago Camargo – O surto recente de Santa Maria no RS ocorreu provavelmente por contaminação da água ou hortaliças. Entretanto, o parasita não foi identificado em nenhuma fonte ambiental dos pacientes infectados.

Casa Moara – Como a doença é tratada? Pode deixar sequelas?

Dr Thiago Camargo – Nos pacientes que não tem problemas de imunidade somente tratamos a forma ocular da doença. Já nos indivíduos com imunidade comprometida (HIV, transplantados, entre outros) utilizamos uma combinação de antibióticos por algumas semanas. Nas gestantes, utilizamos medicações diferentes dependendo da idade gestacional e da eventual confirmação da infecção fetal. No imunocompetente geralmente a infecção pode trazer muitos sintomas como febre, aumentos dos gânglios, cansaço e anemia, mas é auto limitada e não precisa de tratamento. É importante dizer que a forma ocular pode comprometer a visão de forma definitiva.

A infecção fetal pode trazer consequências graves, entre elas alterações cerebrais importantes, cegueira e abortamento. Entretanto, não é sempre que a gestante contaminada durante a gravidez transmite a doença para o feto. Além disso, existem medicações que diminuem a chance desta transmissão.

Fontes:

Dicas para manuseio seguro de alimentos
United States Department of Agriculture. Food Safety. Available at http://www.foodsafety.gov (Accessed on January 19, 2016).

UpToDate, Toxoplasmosis and pregnancy, Ruth Gilbert, MD, Eskild Petersen, MD, DMSc, DTM&H, last updated: Nov 26, 2018.

Casa Moara – Toxoplasmose; o que é a doença e como se prevenir

O que é necessário para uma experiência positiva de parto?

Hierarquia das Necessidades no Parto
Piramide modificada da original de Brenda Baar (@brendabaar.birth ), citada na aula de Daniela Drandic no 4º Congresso Europeu de Asssistência ao Parto, sobre a perspectiva da mulher no parto.

O trabalho de parto e o parto podem ser experiências benéficas, transformadoras e de realização para a mulher. Mesmo que nem tudo aconteça conforme idealizado, ainda é possível que a mulher sinta que vivenciou uma experiência positiva de parto.

Para que essa experiência seja positiva, o importante não é seguir um roteiro combinado. Tampouco basta que mãe e filho fiquem bem. É claro que a segurança de ambos é muito importante, mas só isso não é suficiente para uma experiência positiva de parto.

O momento da chegada de um filho se torna uma experiência positiva para a mulher quando suas necessidades são atendidas. E elas não se restringem às fisiológicas.

Pirâmide de Maslow

O psicólogo americano Abraham Maslow definiu cinco categorias de necessidades humanas: fisiológicas, de segurança, social, autoestima e as de autorrealização. Essa teoria é representada por uma pirâmide. Segundo Maslow, uma pessoa só sente o desejo de satisfazer a necessidade de um próximo estágio se a do nível anterior estiver sanada. Portanto, a motivação para realizar esses desejos vem de forma gradual.

Na base da pirâmide estão as necessidades mais básicas, diretamente relacionadas à sobrevivência. Por isso, são chamadas de necessidades fisiológicas.

Logo acima vêm as necessidades relacionadas a segurança. Esse patamar reúne todas as formas de sensação de proteção, e a garantia de que situações fora do controle da pessoa poderão ser solucionadas.

Depois da segurança vem a necessidade social. Ela tem a ver com identificação, aceitação, intimidade e afeto.

Acima dela está a necessidade de estima, ou seja, de ter o próprio valor reconhecido. Esse patamar está ligado a respeito, confiança e realizações.

No topo da pirâmide estão as necessidades mais complexas e íntimas de cada ser humano. As necessidades de autorrealização têm a ver com autoconhecimento, liberdade, autossuficiência, autenticidade, ater-se aos próprios valores.

Necessidades da mulher para uma experiência positiva de parto

A Pirâmide de Maslow é utilizada em diversas áreas de conhecimento, e se encaixa também nas necessidades da mulher para uma experiência positiva de parto.

Na Hierarquia das Necessidades no Parto, mãe e bebê saudáveis estão na base da pirâmide, e a experiência positiva está no topo, sustentada por todas as outras necessidades: acesso adequado aos serviços de saúde; cuidados baseados em evidências; direito ao acompanhante de escolha; cuidados contínuos, respeitosos e amorosos, centrados na mulher; informação; empoderamento; protagonismo da mulher.

Essa hierarquia deixa claro que uma experiência positiva independe se o parto aconteceu naturalmente, se precisou de alguma intervenção ou se foi por uma cesárea. As necessidades da mulher envolvem outras questões, que podem ser conciliadas com intervenções quando necessárias.

Como a mulher se sente com sua experiência de parto afeta sua saúde física e mental, e também interfere em sua ligação com o bebê. Por isso, é muito importante que os profissionais envolvidos com a assistência ao parto tenham como objetivo satisfazer todas essas necessidades.

Essa conduta está alinhada com as recomendações da Organização Mundial de Saúde no recém-lançado guideline Cuidados Intraparto para uma Experiência Positiva de Parto. Saiba mais sobre as recomendações da OMS.

É permitido consumir álcool na gravidez?

Ilustração: Marcella Briotto

O consumo de álcool na gravidez deve ser evitado, pois não há um nível seguro determinado, com base nos estudos atuais.

O álcool pode causar danos ao bebê, pois afeta o crescimento e o desenvolvimento fetal em todos os estágios da gravidez. Por esse motivo, sociedades médicas de vários países recomendam a abstinência alcoólica nesse período.

Evitar o consumo de álcool durante a gravidez elimina o risco de defeitos congênitos relacionados ao álcool e atrasos no desenvolvimento, incluindo problemas cognitivos e comportamentais resultantes.

Quais são as consequências do consumo do álcool na gravidez?

Não existe uma relação exata entre a quantidade de álcool consumida durante o período pré-natal e a extensão do dano causado pelo álcool na criança. No entanto, há indícios de que mesmo em pequenas quantidades a substância pode provocar danos.

Os bebês cujas mães consomem álcool durante a gravidez podem manifestar efeitos fetais do álcool, defeitos congênitos relacionados ao álcool, síndrome alcoólica fetal, ou podem estar normais.

Existe uma ampla gama de sequelas adversas em bebês expostos ao álcool. Um estudo de 2018, feito com mais de 6600 estudantes de primeira série dos Estados Unidos, relatou que a prevalência dessas sequelas variou de 1,1 a 5%.

Um estudo populacional feito com 415 mulheres na Austrália, com informações detalhadas sobre o consumo de álcool três meses antes da gravidez e para cada trimestre, sugeriu que o consumo pré-natal de álcool em pequena quantidade pode influenciar o desenvolvimento craniofacial do feto. No entanto, o significado clínico desses achados ainda é incerto.

O que dizem as pesquisas

Uma série de estudos na Dinamarca avaliou os efeitos do consumo de álcool pequeno a moderado (menos de 9 bebidas por semana) na gravidez, em resultados de desenvolvimento (QI, atenção, função executiva, função motora, comportamento), em crianças de 5 anos de idade. Os estudos não encontraram efeitos significativos do álcool nessas funções. No entanto, existem várias limitações para esses dados. Os estudos dinamarqueses não realizaram avaliações de outras complicações do álcool, e avaliaram apenas crianças pré-escolares, o que pode ser enganoso, pois essas crianças eram jovens demais para medir o impacto total que o álcool pode ter em seus cérebros.

Um estudo grande e bem projetado do estado de Washington, que acompanhou crianças até os 18 anos de idade, fez constatações diferentes. Embora metade das crianças mais velhas com Síndrome Alcoólico Fetal (SAF) exibissem escores normais de desenvolvimento ao longo do período pré-escolar, todos tinham disfunção cerebral severa confirmada aos 10 anos. Além disso, apenas 10% tinham problemas de atenção aos 5 anos, mas 60% tinham problemas de atenção aos 10 anos. Outro ponto observado foi que apenas 30% das crianças com SAF tinham um QI abaixo do normal, mas 100% tinham disfunção grave em outras áreas, como idioma, memória e nível de atividade, que o estudo dinamarquês não avaliou.

Imagem de uma gestante e de uma taça de vinho dentro de um símbolo de proibido, sugerindo que não se deve consumir álcool na gravidez

Como o álcool afeta o bebê

Padrões de consumo materno de álcool e fatores socioeconômicos e étnicos também afetam o risco de complicações. O consumo excessivo de álcool pode exercer um efeito potencialmente maior do que o consumo comparável de baixas quantidades de álcool durante vários dias (por exemplo, quatro bebidas de uma só vez versus uma bebida por dia durante quatro dias).

O álcool atravessa livremente a placenta e os níveis de álcool no sangue fetal se aproximam dos níveis maternos duas horas após a ingestão materna. A eliminação do álcool depende principalmente da capacidade metabólica materna, que varia muito entre as mulheres grávidas e pode ajudar a explicar por que quantidades semelhantes de consumo resultam em variados efeitos em bebês.

O álcool é um teratógeno com potencial para causar efeitos negativos em todas as fases da gestação. Os danos variam dependendo da quantidade e padrão de consumo de álcool, genética materna e fetal, idade materna, nutrição materna e tabagismo, entre outros fatores. As consequências mais graves da exposição pré-natal ao álcool são os efeitos físicos, mentais, comportamentais e cognitivos associados à exposição intra-uterina ao álcool.

Relação do álcool com natimortos

Em um grande estudo epidemiológico, um aumento na taxa de natimortos foi observado em todas as categorias de consumo de álcool. A taxa de morte por disfunção placentária subiu de 1,37 por 1000 nascimentos para mulheres que consomem menos de uma bebida por semana para 8,83 por 1000 nascimentos para mulheres que consomem mais ou igual a cinco doses por semana.

Álcool em pequena quantidade pode?

Há uma incerteza contínua sobre os efeitos dos níveis baixos e moderados de ingestão de álcool na gravidez. Embora vários estudos não tenham encontrado efeitos comportamentais e de desenvolvimento adversos, esses estudos apresentam várias limitações metodológicas.

Como discutido acima, um estudo relatou alterações craniofaciais com quase qualquer nível de ingestão pré-natal de álcool, mas o significado clínico dessas mudanças não é conhecido. Estudos de alta qualidade relacionados a esse tipo de bebida são necessários. Assim, não há um limiar “seguro” confirmado de exposição ao álcool durante a gravidez, e evitar o álcool pode ser a abordagem mais prudente.

A interrupção da ingestão de álcool pela mãe em qualquer momento durante a gravidez é benéfica, já que crianças nascidas de mulheres que param de beber mesmo no final da gestação têm melhores resultados do que aquelas que continuam a beber durante a gravidez.

Fonte: UpToDate, Alcohol intake and pregnancy, Grace Chang, MD, MPH, last updated: Jul 12, 2018

O que é analgesia e como funciona?

Ilustração: Marcella Briotto

Quando a dor do parto fica insuportável, utilizar analgesia pode desencadear diversos efeitos positivos. O alívio da dor diminui os efeitos adversos circulatórios, respiratórios e gastrointestinais, como o aumento de acidez no estômago. Esses sintomas são causados pela liberação de substâncias chamadas catecolaminas, que acontece em situações de estresse excessivo. O fornecimento de analgesia adequada ao trabalho de parto, quando necessária, também pode melhorar o fluxo do útero e da placenta e diminuir a incidência de depressão pós-parto.

Para aliviar a dor com recursos farmacológicos, podem ser utilizados medicamentos sistêmicos (na veia, intra-muscular ou inalatórios), locais (anestesia no nervo do períneo) e regionais (na coluna).

As melhores opções, com menos efeitos colaterais e melhores resultados, são as anestesias regionais, ou analgesias, que incluem a peridural, a raqui e as combinadas (raqui+peridural). A mais utilizada nos partos normais, nos hospitais com os melhores recursos, são analgesia combinada ou duplo bloqueio.

Infelizmente, no Brasil, não é todo hospital que tem o catéter necessário para a realização da peridural. Nesses hospitais somente a raqui está disponível. Quando só temos a raqui, ela só pode ser realizada no final do trabalho de parto, quando o bebê está quase nascendo, pois sua duração média é de apenas duas horas.

O duplo bloqueio pode ser realizado, desde que a mulher necessite, em qualquer fase do trabalho de parto. Sua duração é o tempo que for necessário para que o bebê nasça, pois podem ser realizadas doses complementares através do catéter de peridural, conforme a solicitação da mulher.

Como é feita a analgesia?

Para que a analgesia seja realizada, a mulher precisará ter um acesso venoso para a aplicação de soro e medicamentos, se houver necessidade, e precisará ficar imóvel por alguns minutos para que o anestesista faça a punção na coluna.

Primeiro é feita a raqui, que tem uma ação mais rápida, e na sequência é passado o catéter de peridural. Depois da punção, precisa ser feita uma monitoração por 15 a 20 minutos da mulher (com avaliação da pressão arterial, frequência cardíaca e oxigenação sanguínea) e do bebê (cardiotocografia). Para isso, a mulher precisa ficar deitada na cama, e pode aproveitar para dormir um pouco e descansar nesse período.

Depois da monitoração, a mulher pode se levantar, caminhar e se movimentar, pois isso ajuda na progressão do parto e na descida do bebê. De tempos em tempos a monitoração é repetida para assegurar o bem estar da mãe e do bebê.

Com o passar do tempo, a ação da anestesia vai passando. Quando a mulher sente que a dor está novamente ficando além de seu limite, pode solicitar o complemento, que será a peridural, feita no cateter já instalado na coluna. Após o complemento, nova monitoração é feita. Assim o parto vai fluindo, e as complementações vão sendo feitas conforme a necessidade da mulher.

Quanto menos complementos são necessários, menor a chance de a mulher perder a força ou os movimentos das pernas, e menor a chance de a analgesia atrapalhar o trabalho de parto. Por isso, quanto mais tardiamente a anestesia é solicitada, melhor.

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Foto: Katia Ribeiro

Pontos negativos da analgesia

  • O ambiente do trabalho de parto muda: para fazer analgesia a mulher precisa ter uma veia pega e deverá ser monitorizada deitada na cama, de tempos em tempos. O bebê também precisará ser monitorizado com maior frequência através da cardiotocografia;
  • A mulher não poderá mais entrar no chuveiro nem na banheira devido à presença do cateter de peridural na coluna, pois há risco de infecção;
  • Se a analgesia é mais intensa do que deveria, ela acaba atrapalhando a evolução do trabalho de parto. Nesses casos, a mulher não consegue se levantar e se movimentar. Ter mobilidade durante o parto é importante, pois ajuda o bebê a se posicionar melhor e descer pelo canal de parto;
  • Quando a mulher está sem analgesia, acontecem os puxos involuntários que ajudam o bebê a nascer, ou seja, o corpo da mulher faz a força para empurrar o bebê, mesmo que ela não queira. Com a analgesia, esse reflexo muitas vezes se perde, e a mulher precisa ser avisada que a contração está acontecendo para que faça uma força voluntária. Essa força nem sempre é tão eficaz quanto os puxos involuntários, e o período expulsivo pode durar até uma hora a mais;
  • Com analgesia, também aumentam as chances de ser necessário ajudar o bebê a nascer com instrumentos como o vácuo ou o fórceps.

Com tudo isso envolvido, a conclusão é que, se a mulher desejar, por estar sentindo uma dor que vai além do seu limite e não foi aliviada com os métodos não farmacológicos, a analgesia deve ser realizada. Nesses casos, ela vai ajudar na evolução do trabalho de parto e na experiência positiva da mulher com o parto.

Porém, quando a mulher está lidando bem com a dor, a analgesia não deve ser oferecida. Pois, se realizada sem uma real indicação, pode atrapalhar o processo.

A incidência de uso de analgesia varia muito de um hospital para outro, e também varia de acordo com o modelo de assistência ao parto. As menores taxas são observadas quando utilizamos o apoio contínuo no trabalho de parto, com presença de doulas, uso de água quente e informação da mulher acerca de todos os riscos e benefícios dessas ferramentas.

Para saber mais, veja a taxa de uso de analgesia pelas pacientes acompanhadas pela nossa equipe num modelo humanizado de assistência ao parto e entenda como é a dor do parto.

Conheça os métodos alternativos para alívio da dor do parto

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Ilustração: Marcella Briotto

Antes de recorrer à analgesia, a dor do parto pode ser aliviada com métodos alternativos e não farmacológicos, ou seja, recursos naturais, que não são medicamentos. Há uma grande variedade de técnicas que, trabalhando aspectos psico-emocionais e espirituais da mulher, reduzem o sofrimento dela.

No geral, os métodos alternativos são técnicas de baixo custo e acessíveis, que podem ser utilizadas na maioria dos locais onde o parto possa ocorrer.

A mulher pode usar uma ou mais técnicas combinadas, e a escolha é, em grande parte, motivada por suas preferências e pela disponibilidade das terapias.

O ideal é que a mulher, e quem vai acompanhá-la, conheçam durante o pré-natal essas possibilidades para que elas possam ser melhor utilizadas no momento do trabalho de parto.

Abaixo estão alguns recursos que podem influenciar positivamente na maneira como a mulher lida com a dor e amenizá-la.

Educação para o parto

Os cursos de preparação para o parto realizados durante o pré-natal consistem em aulas individuais ou em grupo que informam os pais sobre:

  • algumas opções de cuidados de maternidade;
  • tipos de parto;
  • práticas comuns nos cuidados da gestante;
  • manejo não-farmacológico da dor (incluindo auto-ajuda, ajuda ao parceiro e outras medidas);
  • medidas farmacológicas de alívio da dor;
  • cuidados com o recém-nascido;
  • alimentação infantil.

A educação para o parto ajuda a diminuir o medo das mulheres, possibilita uma postura mais ativa no trabalho de parto, com aumento da satisfação da mulher com o parto, diminui a necessidade de uso de anestesia, aumenta a probabilidade de um parto vaginal, aumenta a proximidade entre pais e bebê depois de trabalharem duro juntos, e traz um senso de realização com o parto.

Ambiente de nascimento

O ambiente de parto ideal para o manejo da dor é confortável, privado, silencioso e fornece lugares para caminhar, tomar banho e descansar.

Apoio ao trabalho de parto

As pessoas que apoiam uma mulher em trabalho de parto podem ser o parceiro, alguém da família ou amigos, uma doula e a equipe de assistência ao parto (obstetra e/ou obstetriz).

É bastante útil o treinamento do acompanhante para que ele conheça as técnicas que costumam ajudar no alívio da dor no trabalho de parto. A qualidade desse apoio pode impactar positiva ou negativamente na experiência de parto da mulher.

A Organização Mundial de Saúde recomenda o “suporte contínuo ao trabalho de parto”, e com isso refere-se à inclusão de um acompanhante treinado (como uma doula) para prestar cuidados não médicos. Esses cuidados podem ser sob a forma de orientação, massagem e sugestões de posições e movimentos para a mulher, continuamente, durante o trabalho de parto. Uma doula é um acompanhante que não é nem um membro da família, nem um amigo íntimo da mulher em trabalho de parto, nem um membro da equipe do hospital, que ajuda a mulher a lidar com a dor e a ansiedade e a melhorar os resultados obstétricos.

Já existem evidências de qualidade de que o apoio de uma doula está associado a maior chance de uso eficaz de métodos não farmacológicos para indução do parto e de alívio da dor.

Apoio de uma doula

A doula é uma pessoa que passou por um treinamento de parto e que fornece apoio físico, emocional e informações para a mulher e sua família antes, durante e depois do parto.

A doula fornece apoio nos aspectos não médicos do trabalho de parto e parto. Ela complementa os papeis da equipe de assistência ao parto (médicos, parteiras ou enfermeiras). Ela não substitui a equipe médica, não realiza tarefas clínicas, não fornece orientação médica nem intervém nos cuidados clínicos.

métodos alternativos
Foto: Katia Ribeiro

Dentre os papéis de uma doula estão:

  • desenvolver uma relação de confiança com a mulher e sua família para que eles se sintam mais seguros com o processo de nascimento;
  • cuidar do conforto físico da mulher, prestando assistência com sugestões de posição, respiração, visualização, banhos, higiene e técnicas não farmacológicas para controlar a dor do parto;
  • ouvir suas preocupações e fornecer apoio emocional (por exemplo, elogios, reafirmação, encorajamento);
  • fornecer informações para ajudá-la a entender melhor os termos médicos, o processo de trabalho de parto, os procedimentos médicos, as possíveis complicações e as opções para lidar com a dor e a insegurança;
  • facilitar a comunicação entre a mulher e a equipe de atendimento para ajudá-la a tomar decisões informadas e garantir que seus desejos sejam ouvidos;
  • reafirmar suas escolhas de maneira não crítica e, assim, promover sua autonomia e autoconfiança.

Como ela não é responsável por monitorar a condição médica da mãe e do bebê e presta um cuidado exclusivo para a mulher (uma por vez), ela pode se concentrar nas necessidades específicas da mulher. Ela também pode proteger o ambiente de nascimento de intrusões desnecessárias e indesejadas, como visitantes não convidados pela mulher.

Embora os parceiros e outros indivíduos (por exemplo, membros da família, amigos) também possam ser solidários durante o trabalho de parto, as doulas são treinadas profissionalmente para oferecer apoio e, muitas vezes, ficar fisicamente mais próximas da mulher em trabalho de parto, tocá-la com mais frequência, falar mais com ela e não deixá-la sozinha.

Estudos comprovam que, em partos em que doulas e parceiros estavam presentes, metade das mulheres sentiu que a doula era mais útil do que o parceiro. Também foi observado que os parceiros oferecem mais medidas de conforto físico, como massagens, quando uma doula está presente.

Saber que a doula está apoiando a mãe no parto pode permitir que um parceiro se concentre mais em sua própria experiência pessoal do nascimento de seu filho, por isso a doula ajuda não só a mulher, mas também o acompanhante.

Métodos alternativos para alívio da dor durante o trabalho de parto

É importante que a mulher receba, durante o pré-natal, informações sobre as opções de métodos alternativos de alívio da dor disponíveis, e depois avalie os riscos e benefícios de cada método. Vale observar que, embora esses planos possam ser feitos antes do trabalho de parto, a preferência da mulher no momento do parto é extremamente importante e quaisquer mudanças que ela deseje fazer devem ser respeitadas.

Os pais também devem saber que o parto e nascimento são imprevisíveis e que as circunstâncias podem exigir o uso de intervenções, a fim de garantir segurança para a mãe e para o bebê.

O apoio e a informação ajudam a mulher a assumir um papel ativo na tomada de decisões, diminuindo a sensação de desamparo e aumentando o senso de domínio, controle e bem-estar. Como consequência, ela tem uma experiência positiva com o parto.

Atividades que acalmam a mulher: respiração lenta com ou sem vocalização, contagem de respirações ou recitação de um mantra no ritmo da respiração; liberação de tensão no final da contração, apoio do acompanhante ou doula (por exemplo, encorajamento, toque suave, mãos dadas, palavras de apoio, uma toalha fria para a testa), música de escolha da mulher.

Movimento: As dimensões pélvicas variam com as diferentes posições da mulher, e essas mudanças podem ajudar a aliviar a dor do parto, assim como andar durante o trabalho de parto.

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Foto: Katia Ribeiro

Bola de pilates: O uso de uma bola de fisioterapia durante o trabalho de parto estimula o relaxamento do tronco e do assoalho pélvico, e também proporciona alívio da dor, permitindo liberdade de movimento e controle. Quando usada na posição sentada, a bola aplica uma pressão não dolorosa ao períneo, que pode bloquear parte da mensagem de dor ao nível da medula espinhal e, assim, aliviá-la. As mulheres também se levantam ou se ajoelham e inclinam a parte superior do corpo sobre a bola, o que proporciona um apoio confortável. Bolas de parto são fáceis de usar e podem ser combinadas a outros métodos alternativos para o conforto do paciente. O banho quente, por exemplo, é uma das possibilidades.

Toque e massagem: alguns estudos apontam que a dor diminui quando o toque é aplicado por parteiras, enfermeiras ou acompanhantes de mulheres em trabalho de parto.

No entanto, o toque foi às vezes relatado como incômodo ou doloroso, particularmente quando o abdômen ou a área pélvica estava sendo tocado em conjunto com uma avaliação. Por isso, é necessário entender o contexto ao avaliar o toque.

A massagem consiste em manipulação intencional do corpo para fins terapêuticos e estudos relataram sua eficácia no primeiro estágio do parto (fase de dilatação). Embora a massagem possa melhorar a dor, ela ainda tende a aumentar à medida que o trabalho de parto progride.

Não há efeitos nocivos conhecidos do uso da massagem terapêutica no trabalho de parto, mas deve ser realizada por profissionais ou leigos que receberam instrução específica.

A técnica de massagem ideal não é conhecida e são necessários mais ensaios sobre a eficácia. No entanto, a massagem continua a ser uma opção simples de método alternativo para alívio da dor, de baixo custo e segura para proporcionar alívio às mulheres em trabalho de parto.

Acupressão: acupressão ou shiatsu é a pressão com os dedos ou pequenas contas nos pontos de acupuntura. Alguns dados sugerem que é benéfico pressionar os pontos Baço 6 (localizado aproximadamente na superfície medial da tíbia baixa – ver imagem) e Intestino Grosso 4 (localizado aproximadamente no tecido carnudo atrás da mão, entre a base do polegar e a base do índice dedo).

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Ponto de acupressão Baço 6
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Ponto de acupressão Intestino Grosso 4

Além do alívio da dor, estudos mostraram que a acupressão durante o trabalho de parto pode diminuir o tempo do trabalho de parto e aumentar as chances de parto vaginal.

Aplicação de calor ou frio: usar fontes de calor ou de frio em aplicações superficiais é fácil, de baixo custo, não requer prática e pode servir como alívio da dor durante o trabalho de parto.

O calor é normalmente aplicado nas costas, abdome inferior, virilha e/ou períneo da mulher. Possíveis fontes de calor incluem uma garrafa de água morna, meia cheia com arroz aquecida, compressa quente (toalhas embebidas em água morna e torcidas), mantas elétricas ou cobertor quente. Mas tudo deve ser feito com cuidado para evitar queimaduras.

Além de ser usado para alívio da dor, o calor é usado para aliviar calafrios ou tremores, diminuir a rigidez articular, reduzir o espasmo muscular e aumentar a flexibilidade dos tecidos.

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Foto: Katia Ribeiro

Já o frio é um recurso que pode ser utilizado por meio de bolsas frias aplicadas na região lombar quando uma mulher está com dor nas costas. Formas de frio incluem uma bolsa ou luva cirúrgica cheia de gelo, pacote de gel congelado, uma garrafa cheia de gelo, latas de refrigerante geladas no gelo ou um saco congelado de legumes. As compressas frias instantâneas, geralmente disponíveis em hospitais, geralmente não são frias o suficiente para serem eficazes para a dor do trabalho de parto. Latas de refrigerante refrigeradas dão o benefício adicional de pressão mecânica quando roladas sobre parte inferior das costas.

Além do alívio da dor, o frio tem os efeitos adicionais de aliviar o espasmo muscular e reduzir a inflamação e o inchaço.

Técnicas respiratórias para relaxamento: o treinamento de relaxamento, que pode assumir muitas formas, tem sido associado à redução da dor na fase latente do trabalho de parto. A maioria das aulas de educação de parto e a maioria dos livros sobre parto apresentam técnicas de relaxamento, incluindo uma variedade de padrões respiratórios rítmicos. Eles complementam e promovem o relaxamento ou proporcionam distração da dor do parto. Essas técnicas também são usadas para melhorar o senso de controle de uma mulher.

Respiração rítmica pode contribuir mais para a capacidade de uma mulher de lidar com a dor do parto do que realmente reduzir essa dor. Incorporar relaxamento com respiração rítmica ajuda a evitar a tensão e seus efeitos de aumento da dor.

O ideal é que a mulher consiga manter a respiração rítmica durante as contrações, enquanto libera a tensão nas expirações. Ser capaz de fazer isso sem hiperventilar, a um ritmo lento (6 a 12 respirações por minuto) e a um ritmo moderadamente rápido (30 a 60 respirações por minuto), permite que a mulher adapte seu padrão de respiração à intensidade das contrações.

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Foto: Katia Ribeiro

Banho de Chuveiro: um banho quente por um período longo está relacionado com a redução da dor do trabalho de parto. Além disso, as mulheres que o utilizam relatam maior satisfação com o parto.

Música e audioanalgesia: audioanalgesia é o uso de estimulação auditiva, como música, ruído branco ou sons ambientes, para uma distração agradável ou um guia rítmico, para diminuir a percepção da dor. Não há evidências de alta qualidade de eficácia no tratamento da dor do parto, mas pequenos estudos relatam alguma redução na dor e ansiedade.

Antes do trabalho de parto, a mulher pode selecionar músicas ou sons que têm um efeito positivo sobre ela. O ideal é que durante a gravidez ela treine esse relaxamento para que seja mais fácil fazê-lo durante o trabalho de parto.

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Foto: Katia Ribeiro

A playlist criada pela mulher personaliza o evento do nascimento e pode dar a ela um maior senso de controle e de prazer. Algumas mulheres preferem usar fones de ouvido para ouvir música, porque isso proporciona uma maior concentração.

Aromaterapia: é uma terapia complementar utilizada por profissionais treinados que envolve a aplicação de óleos essenciais concentrados ou essências de plantas. O objetivo é obter as propriedades terapêuticas dessas plantas. Elas podem ser preparadas de várias maneiras, para inalação, massagem, chás ou tinturas, ou pastilhas.

Um estudo mostrou que o uso de óleo de lavanda durante o trabalho de parto trouxe uma redução significativa na intensidade da dor.

Acupuntura: acupuntura envolve a colocação de agulhas em pontos específicos do corpo, denominados pontos de acupuntura.

Para dor de parto, a colocação de agulhas e o tipo de estimulação depende do grau e localização da dor, estágio do trabalho de parto, nível de fadiga materna, tensão, ansiedade e uma variedade de outros fatores. A eletro-acupuntura, que envolve estimulação elétrica por meio de agulhas estrategicamente posicionadas, também é usada às vezes, com efeitos semelhantes à acupuntura manual na dor do parto.

Estudos mostraram que a acupuntura e a acupressão podem ajudar a aliviar a dor do parto, aumentar da satisfação da mulher, reduzir o uso de analgesia farmacológica e de partos instrumentais.

Yoga: técnicas de relaxamento, respiração e postura da Yoga parecem reduzir a ansiedade materna em relação ao parto. Estudos relataram que as mulheres que praticavam yoga durante a gravidez tiveram menos desconfortos na gravidez, dor e stress.

Hipnose: a hipnose resulta em estados alterados de consciência que impedem que experiências normalmente percebidas, como a dor, alcancem a mente consciente. Os estados hipnóticos, ou de transe, podem tornar o participante mais receptivo à comunicação verbal e não verbal, muitas vezes chamada de “sugestões”. Estima-se que a hipnose tenha sido usada por mais de um século na gravidez e no parto.

Estudos encontraram bons resultados no alívio da dor, diminuindo o uso de analgesia no parto.

A hipnose usada para o parto geralmente é a auto-hipnose: o hipnoterapeuta ensina a mulher a induzir o estado hipnótico em si mesma durante o trabalho de parto. Às vezes, seu parceiro é ensinado a sinalizá-la para o estado hipnótico.

Uma técnica hipnótica comum de alívio da dor é a anestesia de luva, em que a mulher imagina que sua mão está dormente e que pode espalhar dormência em outras áreas, colocando a mão em áreas doloridas. Outra técnica é a distorção do tempo, que permite à mulher perceber o tempo entre as contrações dolorosas como o tempo mais longo e o período doloroso mais curto do que realmente é. Há também a transformação imaginativa, técnica em que a dor é interpretada como boa e aceitável, e as contrações são vistas como ondas de energia que causam apenas uma leve sensação de pressão.

Estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS): A estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) é a transmissão de impulsos elétricos de baixa voltagem de um gerador portátil alimentado por bateria para a pele. É feita através de eletrodos colocados na pele. Alguns aparelhos de TENS são especificamente projetados para uso por mulheres em trabalho de parto. A maioria dos aparelhos de TENS permite que a mulher ajuste a frequência, a intensidade e a forma de onda.

Para executar o TENS, um par de eletrodos é geralmente colocado ao lado da coluna no nível de T10-L1 e outro no nível de S2 a S4. A mulher controla a intensidade da corrente girando um dial, e pode variar o padrão de estimulação com um botão na sua unidade TENS. Ela usa uma estimulação contínua durante as contrações e um padrão pulsante entre as contrações. O TENS provoca uma sensação de zumbido ou formigamento que pode reduzir sua consciência da dor da contração.

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T10-L1: local usado para a fase da dilatação.
S2-S4: local usado para o período expulsivo (saída do bebê)

Banho de Imersão: a imersão em água morna com profundidade suficiente para cobrir o abdômen da mulher aumenta o relaxamento e reduz a dor do parto. Em um estudo confiável de 2018 que avaliou a segurança e a eficácia da imersão durante a fase ativa do primeiro estágio do trabalho de parto (fase que a dilatação está progredindo até a dilatação total), o uso de analgesia foi ligeiramente menor para mulheres que usaram o banho de imersão. Não houve diferenças significativas no resultado geral da analgesia, duração total do trabalho de parto, taxas de parto operatório, trauma perineal ou complicações com o bebê.

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Foto: Katia Ribeiro

As mulheres podem permanecer na banheira por alguns minutos a algumas horas durante a fase de dilatação. Em um estudo feito com 327 mulheres em trabalho de parto, 82% utilizaram a hidroterapia e a duração média do uso da banheira foi de 156 minutos. Quase 30% das mulheres tiveram que ser retiradas da banheira porque desenvolveram critérios de exclusão para seu uso, incluindo febre materna ou suspeita de infecção, rastreamento anormal da frequência cardíaca do bebê, parada na evolução do trabalho de parto, sangramento vaginal excessivo ou qualquer condição que necessitasse de monitoramento eletrônico fetal contínuo (cardiotocografia).

Para evitar elevar a temperatura da mulher e com isso aumentar o risco para o bebê, a água deve estar na temperatura corporal ou ligeiramente acima dela.

O momento ideal para iniciar a imersão da água não é conhecido. Foi relatado que a imersão prolongada (mais de duas horas) prolonga o trabalho de parto e diminui as contrações uterinas ao diminuir a produção de ocitocina.

Veja no vídeo de Katia Ribeiro alguns desses métodos sendo usados durante o trabalho de parto:

Como é a dor do parto?

Ilustração: Marcella Briotto

Motivo de preocupação para algumas gestantes, a dor do parto não é igual para todas as mulheres. Ela é subjetiva, e varia de acordo com questões emocionais, motivacionais, comportamentais, sociais e culturais da mulher.

A dor do parto varia, até mesmo, entre os partos de uma mesma mulher. Fatores como posição do bebê, uso de medicamentos para acelerar o parto, ambiente e tipo de suporte para alívio da dor influenciam nessa sensibilidade.

Enquanto algumas mulheres classificam a dor do parto como insuportável, outras relatam-na como um processo tranquilo e até mesmo prazeroso. Há partos em que a mulher fica tão relaxada que sente prazer e atinge o orgasmo. Para saber mais, veja o filme Orgasmic Birth.

Muitas mulheres desejam o alívio da dor no trabalho de parto e a solicitação materna, por si só, é indicação suficiente para a analgesia de parto. Quando a analgesia é realizada adequadamente, não há aumento nos índices de cesárea. Mas é importante que, antes dela ser aplicada, outros métodos para alívio da dor sejam oferecidos. Na maioria das vezes eles cumprem bem seu papel, e evitam essa intervenção medicamentosa que não é isenta de riscos.

Quando o limiar de dor da mulher é respeitado e ela participa da tomada de decisões, escolhendo os métodos alternativos para alívio da dor ou usar ou não a analgesia, a satisfação dela com o parto tende a ser maior. Mesmo nos casos em que a dor foi considerada intensa.

Para uma experiência de parto positiva, é importante que a mulher e quem irá acompanhá-la recebam da equipe de assistência informações sobre todas as alternativas que podem ser usadas para aliviar a dor. Pois isso ajuda no melhor planejamento e preparo emocional.

Onde a dor do parto é sentida?

A dor do parto não tem um ponto certo do corpo para ser sentida e pode mudar de lugar ao longo do trabalho de parto. A origem da dor está em diferentes locais.

Na fase da dilatação, ela acontece durante as contrações. Origina-se no útero e no colo do útero e é produzida pela distensão dos receptores de dor desses locais. Além do útero, a dor do trabalho de parto pode ser percebida no abdômen, nas costas, quadril, glúteos e coxas.

Conforme o bebê desce pelo canal de parto, no final da dilatação (de 7 a 10 cm), a cabeça do bebê começa a distender o canal de parto. Com isso, a dor muda um pouco, pois o estímulo e os receptores de dor também mudam. Por esse motivo, essa costuma ser a fase mais difícil, a chamada transição entre a dilatação e o período expulsivo. É a fase em que a maioria das mulheres que precisam de analgesia vão solicitar esse recurso.

No período expulsivo (colo totalmente dilatado ou com 10 cm de dilatação), acontece um outro tipo de dor, pela distensão da vagina, do períneo e do assoalho pélvico e alongamento dos ligamentos pélvicos. Se a mulher ficou bem até aqui, raramente ela vai pensar em anestesia. Porque a distensão dos tecidos do períneo e da vagina desencadeia um reflexo para que a mulher faça força para empurrar o bebê, e isso acaba acontecendo involuntariamente. Conforme a mulher faz essa força, que chamamos de puxos, a dor é aliviada.

Foto: Lela Beltrão

Por que o alívio da dor é importante?

Uma dor além do limite da mulher que não é manejada corretamente pode provocar estresse emocional e um parto traumático. Além disso, pode desencadear alterações fisiológicas com repercussões para a mulher e para o bebê.

Quando a mulher está com essa dor excessiva, ela pode respirar mais rapidamente. Consequentemente, pode alterar o equilíbrio de oxigênio do sangue, que vai interferir também na oxigenação do bebê. Outro fator que também contribui com essa diminuição da oxigenação do bebê é a liberação de substâncias chamadas catecolaminas (adrenalina, noradrenalina e dopamina). Elas alteram a circulação sanguínea para o útero e a placenta, prejudicando a oxigenação e alterando as contrações uterinas.

Mesmo essas mudanças sendo bem toleradas em mulheres saudáveis com gestações normais, a analgesia peridural pode ser útil. Ela reverte esse desequilíbrio e diminui os níveis de adrenalina, beta-endorfinas e cortisol. Em consequência, o fluxo sanguíneo melhora e a oxigenação do bebê também.

Subjetiva, a dor do parto pode ou não ser sentida, em maior ou menor intensidade. Não é possível prevê-la. Também é difícil, para a mulher, tomar decisões durante os momentos mais intensos do trabalho de parto. Por isso, é importante que a gestante se informe, reflita e elabore um plano de parto que expresse os desejos e preferências dela, para que sejam transmitidos à equipe que acompanhará o parto.

Como acontece o parto: O papel dos hormônios

Parto Humanizado

Ilustração: Ana Persona

O parto é um evento fisiológico, que acontece naturalmente, pelo qual mãe e bebê passam no final do período da gravidez. Ele é desencadeado pelo bebê, quando este se encontra maduro.

Para que o parto aconteça, uma cascata de alterações endócrinas iniciadas pelo cérebro do bebê resulta na ativação de uma variedade de substâncias hormonais e inflamatórias que têm o efeito de coordenar três eventos principais:
 
  • Amadurecimento de sistemas e órgãos fetais essenciais, especialmente os pulmões, para os desafios na vida fora do útero;
  • Transformar o colo do útero duro da mulher numa estrutura mole e prontamente dilatável;
  • Iniciar as contrações do útero que direcionarão o bebê através do canal de parto para que aconteça o nascimento.

O corpo da mulher, que nesse momento também já se encontra preparado para esse processo, responde a esse estímulo liberando hormônios que irão preparar o canal de parto e desencadear as contrações uterinas que ajudarão o bebê a descer e nascer.

Durante a gravidez, o órgão responsável pela produção dos hormônios e oxigenação do sangue do bebê é a placenta, pois seu pulmão encontra-se em meio líquido e só fica pronto para realizar a oxigenação do sangue no final da gravidez (de 37 a 42 semanas) pois precisa produzir uma substância chamada surfactante, que impede que os alvéolos pulmonares se fechem com a entrada de ar durante a respiração. Quando acontece essa maturidade pulmonar, são liberados hormônios que vão estimular o corpo da mulher a entrar em trabalho de parto.

Ao passar pelo canal de parto, o tórax do bebê é comprimido e esse líquido que estava dentro do pulmão sai, entrando o ar que fará sua expansão e dará início à sua função de oxigenação do sangue.

Os hormônios liberados durante o trabalho de parto cumprem várias funções, e quando o trabalho de parto se inicia de maneira espontânea e evolui sem interferências externas, eles podem agir de maneira plena.

Os benefícios de esperar esse processo acontecer naturalmente são o respeito pelo momento em que o bebê ficou maduro, evolução mais efetiva do trabalho de parto, diminuição da dor e do stress e melhor adaptação da mulher e do bebê após o parto, aumentando as chances de um aleitamento bem sucedido e melhorando o vínculo entre mãe e bebê.

O Papel dos Hormônios

Cada hormônio tem seu papel e um ajuda na atuação do outro para que tudo aconteça de maneira perfeita. Eles atuam preparando o corpo da mulher para a gravidez, parto e recuperação pós parto, para crescimento e desenvolvimento do bebê e para o fortalecimento do vínculo entre a mãe e o bebê após o parto.

Esses hormônios são a progesterona, o cortisol, o hormônio liberador de corticotropina, o estriol, as prostaglandinas (substâncias semelhantes a hormônios), a relaxina, a ocitocina, as beta-endorfinas, a adrenalina, a noradrenalina e a prolactina.

O Papel dos Hormônios - Parto Humanizado

Progesterona

A progesterona é o hormônio que prepara o corpo da mulher para a gravidez e atua durante toda a gestação para sua manutenção.

Sua ação previne contrações uterinas enquanto o bebê ainda está se desenvolvendo e inibe a produção das prostaglandinas.

Para ocorrer o trabalho de parto, ela é inibida pelo estriol, que é liberado quando o bebê está maduro.

Cortisol e Hormônio Liberador de Corticotropina

São hormônios do estresse, liberados quando acontece o crescimento do bebê a ponto de distender o útero, quando a gravidez está chegando ao final. Eles provocam o aumento da produção do estriol, que vai atuar inibindo a ação da progesterona.

O cortisol ajuda no progresso do trabalho de parto e aumenta a liberação de prostaglandinas. Também promove contrações, aumentando os efeitos centrais da ocitocina na adaptação materna e na criação do vínculo entre mãe e bebê.

Estriol

É o estrogênio predominante na gestação. Ele inibe a síntese de progesterona pela placenta, prepara os músculos do útero para o parto e aumenta a sensibilidade do útero à ocitocina, hormônio que estimula as contrações de forma coordenada.

Prostaglandinas

São substâncias similares a hormônios, que ajudam no início do trabalho de parto.

São liberadas pelo útero quando este é estimulado pelo estrogênio, e atuam diminuindo os níveis de progesterona e no preparo do colo do útero e da pelve materna para o parto (associadas à relaxina).

Elas também estão presentes no sêmen.

Relaxina

Produzida pela placenta e pelo corpo lúteo dos ovários, ajuda a amolecer as articulações e ligamentos pélvicos para ajudar na passagem do bebê. Ela também permite a distensão do útero conforme o bebê cresce.

Produzida pela placenta e pelo corpo lúteo dos ovários, ajuda a amolecer as articulações e ligamentos pélvicos para ajudar na passagem do bebê. Ela também permite a distensão do útero conforme o bebê cresce.

Ocitocina

É um hormônio reprodutivo que tem grande importância no parto, aleitamento materno, estabelecimento de vínculo afetivo e no prazer sexual.

É produzida pelo hipotálamo e liberada pela neuro-hipófise.

Dentre suas funções estão a ejeção do esperma, promoção das contrações do trabalho de parto, ejeção do leite após o parto e redução do estresse.

Ela reduz o medo e promove calma, conexão, cura, crescimento e sociabilidade.

No decorrer da gravidez, ocorre um aumento dos receptores de ocitocina no útero, cérebro e mama.

Quando o bebê está pronto para nascer, conforme a cabeça fetal empurra o colo, desencadeia o estímulo para o cérebro liberar ocitocina e, com isso, iniciar as contrações do trabalho de parto. Essas contrações uterinas empurram o bebê para baixo. A cabeça dele força o colo e faz liberar ainda mais ocitocina, causando o que chamamos de estímulo por feedback positivo (veja a figura acima).

A ocitocina é a responsável pelas contrações uterinas acontecerem de forma harmônica e regular. Ela também está diretamente ligada ao reflexo da mulher para empurrar o bebê para nascer (puxos) quando o colo está completamente dilatado. A ocitocina atua também para efeitos calmantes e analgésicos

Após o parto, esse hormônio ajuda na adaptação materna e no estímulo do centro de cuidados primais, trazendo prazer no cuidado com o bebê e facilitando o aleitamento. Promove contrações uterinas eficazes que diminuem o risco de hemorragia pós-parto e uma vasodilatação do tórax materno que proporciona um aquecimento natural do bebê.

Beta-endorfinas

São os opióides endógenos, ou seja, analgésicos naturais que ajudam a aliviar a dor, responsáveis pelo estado de consciência alterado da mulher durante o trabalho de parto.

Atuam ativando os centros cerebrais de recompensa e prazer e ajudam na resposta adaptativa ao stress, tanto da mãe quanto do bebê.

São os hormônios que motivam e recompensam os comportamentos reprodutivos e sexuais e ajudam na função imune.

No pós-parto acontece um pico de beta-endorfinas que provoca a euforia materna e um efeito protetor no cérebro fetal para deficiências de oxigênio. Esse pico hormonal também estimula os centros de cuidado primal e o aleitamento materno, e dá suporte ao bebê na transição e estresse pós-parto, pois as beta-endorfinas estão presentes no colostro.

Adrenalina e Noradrenalina

São responsáveis pela resposta ao estresse chamada de “luta ou fuga”: quando a mulher em trabalho de parto percebe um perigo, atuam para diminuir o ritmo ou parar um trabalho de parto, dando tempo para “lutar ou fugir”, ou acelerar o reflexo da expulsão do bebê. Também fazem a mãe e o bebê ficarem alerta logo após o parto.

Têm efeitos importantes sobre o bebê que acabou de nascer, como a adaptação crítica à falta de oxigenação, preservação do fluxo sanguíneo no coração e no cérebro, promoção da transição respiratória e limpeza dos fluidos pulmonares, promoção de energia metabólica para o período neonatal, controle de temperatura e manutenção de um estado de alerta do bebê.

Após o parto, os níveis caem na mãe e no bebê, acontecem as contrações uterinas e uma redução do consumo de energia.

O contato pele a pele quente e sem perturbação é importante para facilitar a queda materna e neonatal dos níveis desses hormônios, ajudando na contração do útero e prevenindo hemorragia.

Prolactina

É o principal hormônio da reprodução e amamentação.

Responsável pela adaptação do corpo da mãe para a gravidez e amamentação e redução do estresse, ansiedade e tensão.

Antes do parto, ajuda no preparo respiratório do bebê. Conforme o parto se aproxima, ocorre seu aumento, que estimula a liberação de ocitocina.

Atua em picos após o parto promovendo adaptação fetal e o aleitamento.

Parto Humanizado
Parto Humanizado
Parto Humanizado
Parto Humanizado
Parto Humanizado
Parto Humanizado
Parto Humanizado

Entenda como o ganho de peso influencia a saúde da gestante e do bebê

Para avaliar o estado nutricional de uma gestante e avaliar o ganho de peso na gestação, utilizamos o índice de massa corporal (IMC), uma medida internacional usada para calcular se uma pessoa está no peso ideal.

O IMC é determinado pela divisão do peso da pessoa em quilos pelo quadrado de sua altura, em metros.

IMC=   Peso em Kg ÷ (Altura em m)²

Esse cálculo pode ser feito online, com uma calculadora de IMC.

Para adultos, o IMC ideal está entre 20 e 25, o que está associado com maior tempo de vida e menor incidência de doenças graves.

O IMC pré-gestacional também influencia nos resultados perinatais, tanto para a mãe quanto para o bebê.

Mulheres obesas têm um risco aumentado de complicações na gravidez, especialmente diabetes gestacional e pré-eclâmpsia (pressão alta na gestação), e têm um risco maior de precisar de uma cesárea.

Excesso de ganho de peso na gravidez aumenta as chances de a mulher manter o peso ganho no pós-parto e de se tornar obesa. Além disso, aumenta as chances de o bebê ficar maior do que deveria e, a longo prazo, se tornar também uma criança obesa. Outra complicação para o bebê é o risco de desenvolver diabetes ou resistência a insulina na vida adulta.

Já mulheres que engravidam no baixo peso e que têm um ganho de peso inadequado durante a gravidez têm um risco maior de terem um bebê muito pequeno, com consequências a curto e a longo prazo. Entre elas, anormalidades de crescimento e de desenvolvimento, predisposição a doenças cardiovasculares, hipertensão e doença renal crônica quando adultos.

O ganho de peso esperado durante a gravidez pode ser atribuído principalmente ao peso do bebê em desenvolvimento e ao aumento da água e gordura corporal da mãe.

Em média, o ganho de peso no nono mês é distribuído da seguinte forma:

● Bebê: 3,2 a 3,6 kg

● Depósito de gordura: 2,7 a 3,6 Kg

● Aumento do volume sanguíneo: 1,4 a 1,8 kg

● Aumento do volume de líquido nos tecidos – 0,9 a 1,4 kg

● Líquido amniótico – 0,9 kg

● Aumento das mamas – 0,45 a 1,4 kg

● Aumento do útero – 0,9 kg

● Placenta – 0,7 kg

gráfico ganho de peso parto humanizado

Recomendações para ganho de peso gestacional

Estudos avaliando o peso pré-gestacional, o ganho de peso durante a gravidez e o desfecho da gravidez geraram recomendações para o ganho de peso gestacional saudável. O objetivo dessas recomendações é aumentar a probabilidade de um desfecho favorável na gravidez.

O IMC pré-gestacional é um importante fator que influencia no peso que o bebê vai nascer e deve ser usado para orientar as recomendações para o ganho de peso durante a gravidez.

A principal recomendação desses estudos é que mulheres que planejam engravidar procurem estar dentro da faixa normal de IMC. E, de acordo com o IMC pré-gestacional, a recomendação de ganho de peso na gravidez varia da seguinte maneira:

• IMC <18,5 kg / m2 (baixo peso) – Ganho de peso de 12,5 a 18,0 kg

• IMC 18,5 a 24,9 kg / m2 (peso normal) – Ganho de peso de 11,5 a 16,0 kg

• IMC 25,0 a 29,9 kg / m2 (sobrepeso) – Ganho de peso de 7.0 to 11.5 kg

• IMC ≥ 30,0 kg / m2 (obeso) – Ganho de peso de 5 a 9,0 kg

Recomendações para ganho de peso gestacional

Mulheres que planejam engravidar devem ter calculado o seu IMC. Essa informação será usada para orientar recomendações sobre nutrição, atividade física e ganho ou perda de peso antes, durante e após a gravidez.

A ingestão calórica não precisa aumentar no início da gravidez, já que o ganho de peso semanal no primeiro trimestre deve ser mínimo (0,5 a 2 kg). No segundo e terceiro trimestres, a ingestão calórica para mulheres com baixo peso e com peso normal precisa aumentar em apenas cerca de 300 calorias por dia para atingir um ganho de peso de 0,45 kg por semana. Para mulheres com sobrepeso e obesas, é necessário um aumento ainda menor, já que o ganho de peso deve ser de aproximadamente 0,23 kg por semana.

Para a elaboração de uma dieta adequada e auxílio no ganho de peso ideal e saudável na gravidez, vale a pena consultar um nutricionista com prática nessa fase tão importante que vai influenciar a curto e longo prazo tanto a mulher quanto o bebê.

 

Ter um acompanhante torna o parto uma experiência melhor

A presença de um acompanhante de escolha da mulher durante todo o trabalho de parto é fundamental para uma boa experiência e é uma recomendação da Organização Mundial de Saúde – OMS. A OMS incentiva a presença durante o trabalho de uma pessoa escolhida pela mulher por reconhecer que isso tem como benefícios:

  • garantir um melhor atendimento para a mulher;
  • estimular o parto normal;
  • diminuir a duração do trabalho de parto;
  • diminuir o medo, a tensão e, consequentemente, aliviar a dor;
  • aumentar a sensação de prazer e satisfação no parto;
  • diminuir a ocorrência de depressão pós-parto;
  • favorecer o aleitamento materno;
  • fortalecer o vínculo entre o acompanhante, a mulher e o bebê.

Ter um acompanhante é um direito garantido por lei no Brasil. Nos hospitais particulares de São Paulo que estão alinhados com essas recomendações, é permitida a presença de um acompanhante e de uma doula. Essa distinção é feita pois entende-se que a profissional atua dando outro tipo de suporte, diferente do apoio oferecido pela pessoa que a mulher escolheu para acompanhá-la no momento do parto.

Crianças podem acompanhar o parto?

Algumas mulheres desejam ter por perto o filho mais velho. A presença de crianças no parto é possível, desde que a sala de parto não seja em ambiente cirúrgico. Quando o parto acontece fora dessa área do hospital, também é permitida a presença de mais de um acompanhante. Na cidade de São Paulo, o único hospital com centro de parto fora do centro cirúrgico é o Hospital Israelita Albert Einstein. Nos casos em que o filho mais velho estiver presente, é importante que ele acompanhe a mãe em algumas consultas para se familiarizar com a equipe. Também é aconselhável que no dia do parto tenha alguém que possa dar atenção a ele e que possa sair da sala caso a presença da criança atrapalhe a mulher a relaxar, ou se a própria criança manifestar a vontade de sair. É importante ter essa liberdade, pois nem toda criança quer estar presente na hora do nascimento, podendo entrar na sala assim que o bebê nascer, nesses casos.

Quantos acompanhantes ter?

Embora o momento seja único e especial, é sempre bom lembrar que “uma pessoa a mais no quarto, uma hora a mais no parto”. Ou seja, quanto mais gente estiver presente, maior a chance de alguém estar tenso, ou com medo, e essa tensão ser transferida para a mulher, atrapalhando a evolução do trabalho de parto.  Isso acontece porque pessoas com medo liberam adrenalina, deixando o ambiente tenso e contaminando quem esta ao redor. A adrenalina é antagonista da ocitocina, hormônio que atua para a boa evolução do trabalho de parto, e em excesso atrapalha a mulher no processo de relaxamento e liberação dos hormônios que orquestram o parto. Por esse motivo, é importante que as pessoas que estarão presentes no parto tenham as mesmas informações que levaram a mulher a escolher esse tipo de assistência. Também é fundamental que se sintam também seguras no momento do parto, para que passem essa tranquilidade e segurança para a mulher.  Ter um acompanhante torna o parto uma experiência melhor

Depoimento de uma mãe que pariu acompanhada pelos dois filhos

“Muitas pessoas têm me perguntado: o que é parto humanizado? Seus filhos participaram do parto? Segundo os profissionais que trabalham nesta área: “Humanizar é acreditar na fisiologia da gestação e do parto. Humanizar é respeitar esta fisiologia, e apenas acompanhá-la. Humanizar é perceber, refletir e respeitar os diversos aspectos culturais, individuais, psíquicos e emocionais da mulher e de sua família. Humanizar é devolver o protagonismo do parto à mulher. É garantir-lhe o direito de conhecimento e escolha”. Em relação às crianças, ter meus filhos comigo durante o trabalho de parto e a nascimento do terceiro filho foi emocionante e fez eu me sentir completa. Sempre foi um desejo meu e do meu marido que fosse assim. Mas é muito importante respeitar o real desejo da criança de presenciar aquele momento. Eles demonstrando o desejo de participar deste momento, deve haver acompanhamento e preparação, com conversas, brincadeiras, leituras e até exibição de vídeos educativos se considerar necessário. Fiz isso tanto com a primeira quanto com o segundo, de maneira diferente de acordo com a idade de cada um. A vinda de um irmãozinho novo gera sentimentos diversos nas crianças, tanto amorosos como hostis. Se os mais velhos se sentirem incluídos no processo e na recepção, isso pode ajudá-los a entender de maneira positiva as mudanças que vão ocorrer na família. Esse laço traz um ganho extraordinário. Para nós a experiência foi ímpar e tenho certeza que lembrarão para sempre com carinho deste momento”. (Depoimento de N.W.)

Entenda como são classificados os dez Grupos de Robson

Ilustração: Marcella Briotto

Nas últimas décadas tem havido um aumento progressivo na taxa de cesárea da maioria dos países, por fatores ainda desconhecidos. Esse crescimento é um grande problema de saúde pública e causa debates em todo o mundo devido, entre outros motivos, aos potenciais riscos maternos e perinatais associados.

Para ajudar na interpretação das causas desse aumento e na implementação de mudanças favoráveis, a Organização Mundial de Saúde – OMS adotou a Classificação de Robson para agrupar mulheres quando são admitidas no hospital para terem o parto, de forma que possamos comparar as taxas de grupos homogêneos.

Tradicionalmente, monitoramos as taxas de cesárea usando a porcentagem geral de partos. Variações nesta “taxa geral de cesárea” são difíceis de interpretar e comparar devido a diferenças nas características das mulheres (por exemplo, percentual de mulheres com cesárea anterior, necessidade de indução, gemelares, pélvicos, etc).

As variáveis usadas para a Classificação de Robson são: se a mulher já tem filhos, se já teve cesárea, se o bebê está de cabeça para baixo, sentado ou transverso, se é gestação única ou gemelar, se a idade gestacional está abaixo ou acima de 37 semanas, se o parto tem início espontâneo, é induzido ou se é feita uma cesárea eletiva.

De acordo com essas variáveis, classificamos as mulheres quando elas são internadas para terem o bebê da seguinte forma:

Ilustração: Marcella Briotto



Cada grupo tem riscos diferentes para cesárea, e a quantidade de mulheres de cada grupo varia de acordo com a complexidade do hospital ou serviço de saúde.

Siga o organograma e veja como a mulher que chega ao serviço de saúde ou hospital para ter o bebê é classificada:



Abaixo, veja as taxas de cesárea por grupos de Robson de pacientes acompanhadas pela obstetra Andrea Campos. Ao todo foram 1794 partos acompanhados entre 2004 e 2022, no setor privado. Os dados são comparados com os de hospitais do setor privado da cidade de São Paulo , do Brasil e com as estatísticas da Suécia, um dos países com melhores resultados perinatais do mundo.

Fonte: Sociedade Sueca de Ginecologia e Obstetrícia e Painel de Monitoramento de Nascidos Vivos, 2022.



Se quiser consultar as taxas dos Hospitais públicos e privados do Brasil, visite o painel da Secretaria de Vigilância em Saúde.



O que é episiotomia e quando deve ser feita?

A episiotomia é um corte realizado no períneo, a área entre a vagina e o ânus, para ampliar o canal de parto.

Foi popularizada no mundo todo após a década de 40, quando os partos mudaram de um ambiente domiciliar para um ambiente hospitalar. O procedimento foi difundido porque os médicos acreditavam que ajudava na diminuição do tempo do período expulsivo e facilitava o parto.

Na década de 70, movimentos sociais de mulheres começaram a questionar os procedimentos realizados rotineiramente no parto, e estudos sobre esses procedimentos foram realizados, com o apoio da Organização Mundial de Saúde – OMS. Em decorrência, em 1983 foi publicada uma importante revisão que demonstrou que, além do uso rotineiro da episiotomia não trazer benefícios, acaba sendo prejudicial.

Consequências da episiotomia

Atualmente, já está comprovado por trabalhos confiáveis que a episiotomia de rotina, ou seja, aquela que é feita em casos em que não há real necessidade, não melhora resultados perinatais. A episiotomia de rotina não diminui risco de o bebê não nascer bem e de a mulher ter incontinência urinária ou fecal no pós-parto, além de aumentar o risco de lesão perineal grave (que compromete o músculo do ânus), as chances de dor no pós parto nas relações sexuais, a perda sanguínea no parto e a necessidade de sutura, pois quando a episiotomia não é realizada, a maioria das mulheres não necessita de pontos.

Hoje em dia, o que vem sendo questionado é se a episiotomia pode ser benéfica em casos selecionados, ou se deveria ser banida da prática obstétrica. Essa resposta ainda não temos.

As diretrizes do Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG) afirmam que “os melhores dados disponíveis não apoiam o uso liberal ou rotineiro da episiotomia. No entanto, há um papel para episiotomia para indicações maternas ou fetais, como evitar lacerações maternas graves ou facilitar partos difíceis”.

O que diz a OMS

A Organização Mundial da Saúde recomenda uma taxa de episiotomia de, no máximo, 10%.  Em sua última diretriz, em 2018, reconheceu que “no presente momento, não há evidências que corroborem a necessidade de qualquer episiotomia nos cuidados de rotina, e uma taxa “aceitável” de episiotomia é difícil de determinar. O papel da episiotomia em emergências obstétricas, como o sofrimento fetal que requer o parto vaginal instrumental, ainda precisa ser estabelecido. Nos casos de necessidade, deve ser realizada a técnica médio lateral e sob efeito de anestesia local, e com o consentimento informado da mulher.”

Apesar de todas essas recomendações, a episiotomia ainda é uma prática realizada no Brasil com uma frequência acima do aceitável pela OMS.

Veja os índices:

  • Taxa de episiotomia no Brasil: 54%
  • Taxa de episiotomia na Dinamarca: 3,7%
  • Taxa de episiotomia da obstetra Andrea Campos: 1,71%

 

 

Plano de parto: como e por que fazer?

O plano de parto é um documento onde a mulher escreve suas preferências em relação ao parto que está prestes a vivenciar.

É uma oportunidade de se familiarizar com algumas situações que poderão ocorrer, saber a postura do profissional que irá acompanhá-la e mostrar quais são suas preferências.

Elaborar um plano de parto ajuda a mulher a aumentar a confiança em si mesma, em seu acompanhante e na equipe de profissionais que estará presente em seu parto. Porque, nesse momento, a mulher reflete sobre os detalhes do parto, um a um, e identifica o que é importante para ela e do que precisa para se sentir segura, apoiada e confiante no trabalho de parto.

O plano de parto deve ser um documento flexível, que muda à medida que as circunstâncias mudam, reconhecendo que intervenções médicas baseadas na melhor evidência podem ser necessárias se complicações surgirem.

O plano de parto também deve incluir planos de amamentação precoce e os primeiros cuidados com o recém-nascido.

Aqui você encontra um modelo de plano de parto para preencher, salvar e imprimir. 

Dentre as funções e benefícios do plano de parto estão:

● Proporcionar uma oportunidade para discussão entre a mulher e seu parceiro ou equipe de apoio, bem como entre o profissional de saúde e a mulher, para garantir que todas as questões importantes sejam abordadas e a equipe saiba o que é pessoalmente importante para a mulher;

● Ajudar a mulher a se envolver ativamente na tomada de decisões, um componente importante para a satisfação no parto;

● Fornecer uma estrutura para o desenvolvimento de um relacionamento colaborativo entre o profissional de saúde e a mulher. Em alguns casos, ajuda a resolver inconsistências entre as expectativas da mulher e o que é considerado a melhor prática (por exemplo: se ela tiver uma anestesia peridural, ela precisará de um cateter contínuo venoso). Também ajuda os profissionais a conhecerem a mulher de uma forma mais pessoal;

● Servir como documentação do acordo entre o profissional e a mulher, reconhecendo que as circunstâncias podem mudar.

Idealmente, os planos de parto reduzem os conflitos e mal-entendidos entre as mulheres e os profissionais de saúde em torno do nascimento, fazendo acordos antecipados sobre o que será feito em um parto que evolui normalmente e o que será necessário em caso de emergência.

A menos que haja uma necessidade médica séria, o plano de parto e as preferências pessoais das mulheres devem ser honrados.

Tópicos comumente discutidos em planos de parto:

Medidas de conforto
Mobilidade durante o trabalho de parto
Comer e beber durante o parto
Massagem
Acupressão
Bolas de pilates
Música
Posicionamento para os puxos (forças que a mulher faz para o bebê nascer)
Alívio farmacológico da dor
Analgesia

Apoio, suporte
Quem estará presente durante o trabalho de parto e parto
Uso de apoio profissional no trabalho de parto
Presença de crianças ao nascer e visitando no pós-parto
Procedimentos médicos
Tipos de monitoramento do bem estar fetal e das contrações uterinas
Uso de fluidos e medicamentos intravenosos
Ruptura Artificial de Membranas
Ocitocina

Recém-nascido
Mãe e bebê juntos por pelo menos uma hora após o nascimento
Atraso na administração de vitamina K e uso ou não de medicação ocular
Amamentação na primeira hora de vida
Alojamento conjunto sem separação entre mãe e bebê
Não utilização de água ou fórmula para um bebê amamentado

 

Como é calculada a idade gestacional?

Muita gente se confunde quando ouve, no primeiro ultrassom, a idade gestacional em semanas. Há, também, quem faça as contas e pense que não é possível estar grávida de cinco ou oito semanas, pois a concepção aconteceu há menos tempo. Dúvidas sobre essa questão são comuns, por isso, vamos esclarecer quanto tempo dura a gravidez e como a idade gestacional é contada.

A duração média da gravidez é de 280 dias, contados a partir do primeiro dia da data da última menstruação (DUM), e não a partir da concepção. Com essa data, fazemos o cálculo da data provável do parto (DPP), que é o dia em que a gravidez completa 40 semanas.

Nem sempre essa conta dá certo, pois ela leva em consideração ciclos menstruais regulares de 28 dias, e nem toda mulher tem ciclos assim. Nesses casos, a contagem da idade gestacional é feita baseada no ultrassom realizado no primeiro trimestre. O cálculo é feito dessa forma pois os três primeiros meses de gravidez constituem o período mais confiável para obtermos a informação de idade gestacional.

Uma maneira prática de fazer o cálculo da DPP é usar a Regra de Naegele, onde somamos 7 no dia da DUM e subtraímos 3 do mês da DUM. Por exemplo, se a DUM é 20 de fevereiro, A DPP será 27 (dia 20 mais 7 dias) de novembro (3 meses antes de fevereiro). Se a DUM é 28 de maio, a DPP será 04 de março.

Apesar desse nome, apenas 5% dos bebês entram em trabalho de parto espontaneamente na Data Provável de Parto, mesmo ela tendo sido calculada corretamente. Isso ocorre porque existe uma variação biológica natural no ritmo de maturação do bebê e no momento do parto, que se inicia espontaneamente.

O tempo de uma gravidez normal varia de 37 a 42 semanas, porém, esse período de cinco semanas atualmente é subdividido em três: termo precoce, termo pleno e termo tardio, levando em conta a taxa de complicações com o recém-nascido (principalmente respiratórias) que ocorrem em cada semana desse intervalo de tempo.

Então, de acordo com a idade gestacional quando o parto acontece, a gestação é classificada em:

  • Pré-termo: abaixo de 37 semanas
  • Pré-termo precoce: menos de 33 semanas e 6 dias
  • Pré-termo tardio: de 34 semanas a 36 semanas e 6 dias
  • Termo precoce: de 37 semanas até 38 semanas e 6 dias
  • Termo Pleno: de 39 semanas até 40 semanas e seis dias
  • Termo Tardio: de 41 semanas até 41 semanas e seis dias
  • Pós-termo: acima de 42 semanas

Veja abaixo as estatísticas de idade gestacional das pacientes acompanhadas pela Dra. Andrea Campos no período de 2004 a 2018. Ao todo, foram acompanhadas 1405 mulheres.

  • 6% tiveram partos com menos de 37 semanas, o período chamado “Pré-Termo” da gravidez:
  • 1% abaixo de 34 semanas;
  • 5% entre 34 semanas e 36 semanas e 6 dias;
  • 21% com mais de 37 e menos de 39 semanas, o “Termo Precoce”:
  • 6% entre 37 semanas e 37 semanas e 6 dias;
  • 15% entre 38 semanas e 38 semanas e 6 dias;
  • 60% com mais de 39 e menos de 41 semanas, o “Termo Pleno”:
  • 27% entre 39 semanas e 39 semanas e 6 dias;
  • 32% entre 40 semanas e 40 semanas e 6 dias;
  • 13% entre 41 semanas e 41 semanas e 6 dias, o “Termo Tardio”:
  • 1% acima de 42 semanas (tal percentual está diminuído devido às induções realizadas na 41a semana).

 

Saiba quais são as recomendações da OMS para um parto positivo e seguro

Em todo o mundo, cerca de 140 milhões de mulheres dão à luz todos os anos. O parto é um evento corriqueiro no dia a dia hospitalar, e os profissionais estão habituados ao seu manejo clínico. Os conhecimentos sobre parir, enquanto evento fisiológico, são aprofundados e muito difundidos, obstetras são preparados para saber como iniciar, acelerar, terminar, regular ou monitorar o processo fisiológico, para garantir um parto seguro do ponto de vista clínico.

Entretanto, o parto não se resume a isso. Embora o manejo clínico seja um conhecimento essencial, é importante também dar atenção à qualidade e aos impactos emocionais dessa experiência para a mulher. A crescente medicalização do processo e a pouca importância dada à necessidade de fazer com que as mulheres se sintam seguras, confortáveis e positivas sobre o parto compõem uma abordagem que, já é entendido, pode minar a capacidade de uma mulher de dar à luz, e afetar de maneira negativa a experiência dela com algo que deveria ser positivamente transformador em sua vida.

Os cuidados com o bem-estar emocional da mulher são tão importantes para um parto seguro e um pós-parto saudável que a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou, em 2015, a Estratégia Mundial para a Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente, um documento implementado em parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU) para estimular os países signatários, como o Brasil, a garantirem que não só as mulheres sobrevivam às complicações do parto, se surgirem, mas também que elas prosperem e alcancem todo o seu potencial para a saúde e a vida. Para atingir esse objetivo, a OMS reuniu recomendações para um parto e pós-parto seguros do ponto de vista clínico, e que também atendam as necessidades psicológicas e emocionais das mulheres.

O que a OMS recomenda para um parto seguro

O documento procura garantir que as mulheres dêem à luz em um ambiente que, além de estar seguro, de uma perspectiva médica, também lhes permita ter um senso de controle e um sentimento de realização pessoal. Para que isso aconteça, ela deve poder verdadeiramente se envolver na tomada de decisões.

Adotar uma filosofia centrada na mulher e uma abordagem baseada nos direitos humanos abre as portas para muitas das opções de cuidado que as mulheres querem, como o direito de ter um acompanhante de escolha durante todo o parto e nascimento, bem como a liberdade de se movimentar durante os estágios iniciais do trabalho de parto, e escolher sua posição para o nascimento. Essas recomendações, além de baseadas em evidências, otimizam a saúde e o bem-estar e já demonstraram ter um impacto positivo na experiência de parto das mulheres.

A Organização Mundial de Saúde determina que as unidades de saúde devem, além de fornecer o atendimento clínico específico para o trabalho de parto, garantir que as mulheres sejam tratadas com respeito, e que tenham o básico de fluidos orais e alimentos durante o trabalho de parto e o parto.

O documento da OMS preconiza também que a continuidade dos cuidados, o monitoramento regular e a documentação dos eventos, bem como a comunicação clara entre os médicos e os pacientes, são essenciais para uma boa qualidade de trabalho de parto, e toda mulher e seu bebê devem recebê-los.

A Estratégia Mundial para a Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente é complementada pela recente diretriz da OMS sobre a prestação de cuidados pré-natais para uma experiência positiva de gravidez, lançada em 2018.

A diretriz Making childbirth a positive experience (Fazendo do parto uma experiência positiva) contém 56 recomendações baseadas em evidências, detalhando os cuidados clínicos e não clínicos que são necessários durante todo o trabalho de parto e imediatamente depois do parto para as mulheres e para os recém-nascidos. Um dos principais tópicos deste documento reconhece que todo trabalho de parto é único, e que nem todos progridem na taxa de referência de 1 centímetro por hora de dilatação cervical. Esta taxa de referência tem sido usada há décadas e, em um partograma, alerta o atendente de parto de que o trabalho de parto está progredindo anormalmente quando não é alcançada essa taxa.

Ao reconhecer que a taxa de dilatação de 1 centímetro por hora pode não ser realista para algumas mulheres, a diretriz recomenda que esse fator isoladamente não seja uma indicação rotineira de intervenção médica para acelerar o parto. Na prática, há variações consideráveis em como o progresso normal do trabalho de parto é definido em termos de padrão de dilatação cervical e limites de tempo seguros. Difundindo esses conceitos, a OMS ajuda a reduzir substancialmente a taxa crescente de cesarianas desnecessárias que atualmente atingiu uma proporção epidêmica.

Medicalização do parto

Apesar de muitos esforços e pesquisas, o conceito de “normalidade” no trabalho de parto e parto não é padronizado. O modelo predominante de atendimento em muitas partes do mundo é aquele em que um profissional de saúde controla todo o processo.

Nos últimos 20 anos, houve um aumento substancial na aplicação de uma série de intervenções para iniciar, acelerar, terminar, regular ou monitorar o trabalho de parto. Há evidências de que uma proporção substancial de mulheres é submetida a pelo menos uma intervenção obstétrica durante o trabalho de parto e parto.

Gestantes saudáveis continuam sujeitas a intervenções de rotina ineficazes e potencialmente nocivas, como a tricotomia (raspagem dos pelos pubianos), o enema (lavagem intestinal), a amniotomia (rompimento da bolsa), os fluidos intravenosos, os antiespasmódicos e os antibióticos para partos vaginais sem complicações.

A medicalização excessiva dos processos de parto tende a minar a confiança da mulher em sua capacidade de dar à luz e afeta negativamente sua experiência de parto.

Isso acontece porque as intervenções de rotina nocivas são antagonistas às expectativas das mulheres sobre a experiência do parto. Um estudo qualitativo e sistemático para entender o que as mulheres querem, precisam e valorizam durante o parto serviu de base para a elaboração da diretriz da OMS. Os resultados dele mostraram que as mulheres querem uma experiência de parto positiva, que atenda ou exceda suas crenças e expectativas pessoais e socioculturais anteriores. De acordo com o documento, “isso inclui dar à luz um bebê saudável, em um ambiente seguro do ponto de vista clínico e psicológico, com continuidade do apoio prático e emocional da(s) companheira(s) de parto, e equipe clínica gentil e tecnicamente competente. A maioria das mulheres deseja um trabalho de parto e nascimento fisiológico, além de ter um senso de realização e controle pessoal por meio do envolvimento na tomada de decisões, mesmo quando intervenções médicas são necessárias ou desejadas”.

Para saber mais sobre as recomendações da OMS para um parto seguro e uma experiência de parto positiva, vale a pena ler a diretriz atualizada, com 56 recomendações abrangentes e consolidadas sobre cuidados intraparto para gestantes saudáveis e seus bebês. O documento reúne recomendações novas e pré-existentes que, quando entregues como um pacote de cuidados, garantirão uma assistência de boa qualidade e baseada em evidências em todos os contextos.

Esta diretriz atualizada, abrangente e consolidada sobre cuidados intraparto para gestantes saudáveis e seus bebês reúne as recomendações existentes e as novas e antigas da OMS que, quando entregues como um pacote de cuidados, garantirão cuidados de boa qualidade e baseados em evidências em todos os contextos.

Além de estabelecer práticas clínicas e não clínicas essenciais que sustentam uma experiência positiva de parto, a diretriz da Organização Mundial de Saúde destaca práticas de cuidados intraparto desnecessárias. Tais intervenções, que não são baseadas em evidências, são potencialmente prejudiciais, enfraquecem a capacidade de parto inata das mulheres, desperdiçam recursos e reduzem a equidade.

Veja a lista dos Cuidados Intraparto para uma Experiência Positiva de Parto da OMS de 2018.

 

Bem-vindos ao Meu Parto

A assistência obstétrica humanizada tem como objetivo proporcionar à mulher uma experiência positiva com o parto. Ela é sempre focada na segurança da mãe e do bebê. E, com o mínimo possível de intervenções, respeita o protagonismo da mulher em um momento tão único e transformador como o parto.

Mas, para que ela possa fazer escolhas conscientes e construir o parto que deseja, precisa de informações de qualidade. E, nisso, o Meu Parto pode ajudar.

Aqui, mulheres grávidas, ou com planos de engravidar, encontrarão informações confiáveis e claras sobre gestação, parto e pós-parto. Todo o conteúdo é sempre do ponto de vista da assistência obstétrica humanizada.

O Meu Parto foi idealizado pela Dra. Andrea Campos, ginecologista e obstetra que alia sensibilidade, empatia e conhecimento das evidências científicas para acolher e apoiar mulheres que escolhem vivenciar de forma plena a chegada dos seus bebês.

O objetivo é contribuir com o despertar da consciência da mulher. Com isso, ela pode se sentir empoderada e fortalecida para tomar decisões sobre o parto que deseja vivenciar.

Por isso, o Meu Parto é mais do que um canal de informação de qualidade sobre parto humanizado. Ele é, também, um espaço aberto para troca, em que dúvidas, reflexões e sugestões são sempre muito bem-vindas.

Ouvindo os anseios e preocupações das mulheres, e aliando esse espaço de escuta à experiência e conhecimento da Dra. Andrea Campos, o Meu Parto nasce para ser um ponto de apoio às mulheres que trilham o caminho para o despertar da consciência sobre a própria autonomia, e uma fonte de conhecimento e inspiração para o empoderamento.

 

O que é parto humanizado?

Ele pode ter música, dança, massagem e exercícios de respiração. Ou pode não ter. Em um parto humanizado, quem decide os métodos para alívio da dor é a mulher. Nele, não existe um roteiro, todos os recursos são escolhidos por ela e intervenções médicas só são realizadas em caso de necessidade. Em um parto humanizado, a mulher é a protagonista.

O parto humanizado não é um tipo de parto, mas uma forma de conduta segura e respeitosa da equipe médica, baseada em evidências científicas atuais e guiada por orientações da Organização Mundial de Saúde – OMS. As práticas e os cuidados obstétricos são os mesmos aplicados nos países de primeiro mundo que seguem tais recomendações. Em decorrência disso, esses países apresentam os melhores indicadores e resultados perinatais.

Dar à luz com uma assistência humanizada significa ter à disposição o melhor amparo médico e tecnológico para garantir a segurança da mãe e do bebê, e só receber intervenções quando for realmente necessário.

Como o corpo feminino é naturalmente preparado para gestar e parir, a equipe de atendimento humanizado respeita a autonomia da mulher. Em um parto humanizado, ela é protagonista desse momento. Por isso, o curso natural do trabalho de parto é respeitado, e a equipe só interfere se houver necessidade e com o consentimento da mulher.

Como é o parto humanizado

Quando opta por buscar profissionais adeptos dessa conduta, a mulher é atendida desde a gravidez por uma equipe multidisciplinar escolhida por ela. Obstetras, enfermeiras obstétricas, obstetrizes, fisioterapeutas, acupunturistas, psicólogos, nutricionistas, professores de yoga, fotógrafos e doulas são alguns dos profissionais que podem compor essa equipe, conforme o desejo da mãe, para contribuir com seu bem-estar e empoderamento.

As consultas de pré-natal acompanham a saúde da mãe e do bebê e, também, esclarecem dúvidas e tranquilizam a gestante. O profissional, que pode ser um médico ou enfermeiro obstetra, oferece informações baseadas em evidências científicas atuais que ajudam a mulher a compreender melhor o assunto e se fortalecer. Com isso, ela se sente mais segura e confiante para participar das escolhas durante a gravidez, o parto e o pós-parto.

Com uma equipe multidisciplinar, a mulher é examinada em casa por uma obstetriz ou enfermeira obstetra, quando o trabalho de parto se inicia. O ideal é que a ida para o hospital seja no momento em que o trabalho de parto entra na fase ativa. Antes disso, caso não haja necessidade de monitorar melhor a evolução, é indicado que a mulher permaneça em casa, em um ambiente tranquilo e onde se sente segura. Essa recomendação é justificada: o bem-estar da mulher ajuda o trabalho de parto a fluir. Uma internação precoce, quando o trabalho de parto ainda está numa fase inicial, chamada de latência, pode acabar gerando intervenções desnecessárias no trabalho de parto.

No hospital, o obstetra passa a acompanhar a mulher, monitorando os batimentos cardíacos do bebê e todo o andamento do processo. O trabalho do médico, nesse momento, é certificar-se de que tudo está correndo bem, e deixar a gestante livre. Ela pode comer, andar, mudar de posição, caminhar, dançar, ouvir música e sentir as contrações embaixo do chuveiro. Também tem liberdade para utilizar os recursos que algumas maternidades disponibilizam, como banheira, bola de pilates, barras e banqueta.

Doulas podem auxiliar no alívio da dor oferecendo recursos não farmacológicos, como massagens e suporte emocional, além de cuidarem do ambiente para que ele se torne o mais relaxante possível, com luz baixa, óleos essenciais e música. Mas cada um desses itens só é usado se a mulher expressar vontade, ou combinar com a equipe antes do parto.

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Por que o parto humanizado é mais seguro?

Quando uma mulher grávida comunica seu desejo de viver a experiência de um parto humanizado, sempre há alguém que tenta jogar um balde de água fria, com mitos e informações equivocadas sobre o quão “perigoso” é parir. A desinformação faz algumas pessoas acreditarem que cesáreas sem uma indicação médica são a maneira mais segura de trazer um bebê ao mundo quando, na verdade, pode acabar por acrescentar riscos.

No parto humanizado é respeitada a fisiologia do parto e as tecnologias são utilizadas conforme a necessidade, seguindo recomendações internacionais baseadas em estudos confiáveis (baseados em evidências), envolvendo menores riscos à mãe e ao bebê.

Dessa maneira, o parto humanizado pode ser desde um parto natural, que evoluiu sem necessidade de nenhuma interferência externa, até uma cesárea, que pode ser necessária e, nesse caso, diminuir o risco para aquela mulher e para aquele bebê.

Em um parto humanizado, as intervenções só são feitas quando é estritamente necessário. O tempo da mãe e do bebê é respeitado, a mulher tem liberdade de movimento e de escolha e não há cortes, empurrões nem uso de medicamentos para acelerar o nascimento ou modificar o corpo da mulher, sob o pretexto de torná-lo mais apto a parir. O corpo feminino já é, naturalmente, adequado para a gestação e o parto. Quando são necessários procedimentos para ajudar na evolução do parto, a mulher é informada e participa das decisões.

O parto humanizado é respaldado por evidências científicas atuais e conta com a tecnologia para garantir a segurança da mulher e do bebê sendo recomendado pela OMS e pelo Ministério da Saúde, porém ainda não é o atendimento padrão de todos os hospitais brasileiros. Por isso, a mulher que deseja viver a experiência de um parto humanizado precisa buscar profissionais alinhados com esses ideais, e que trabalhem seguindo a esses princípios. O Brasil é um país que vive, ainda, uma epidemia de cesáreas, e apresenta intervenções obstétricas prejudiciais como padrão.

Como surgiu o parto humanizado

No início do século passado, os partos no Brasil ocorriam no ambiente domiciliar e eram acompanhados por parteiras. Nos anos 40, os partos começaram a ocorrer em ambiente hospitalar. Nos anos 90, o hospital já havia se tornado o local onde mais de 90% dos partos ocorriam. As taxas de cesárea nos hospitais particulares passavam de 90%, assim como a taxa de intervenções nos partos normais.

Com os avanços da antibioticoterapia, das tecnologias diagnósticas e terapêuticas e da melhoria nas condições de vida, ocorreu uma redução expressiva nas taxas de mortalidade materna e neonatal, porém, essas taxas estabilizaram nos últimos 20 anos.

Em 1990, a Taxa de Mortalidade Materna no Brasil era de 143 por 100.000 nascidos vivos. Com as medidas tomadas pelo governo em prol da realização do pré-natal, houve uma queda expressiva nesse índice. Porém, essa queda não acompanhou a meta do milênio da Organização das Nações Unidas – ONU. A expectativa era uma queda de 75%, ou seja, a diminuição da Taxa de Mortalidade Materna de 143/100.000 para 35/100.000, até 2015. O Brasil só conseguiu reduzir esse número em 57%, e a partir de 2016, ele voltou a crescer.

Taxa de Mortalidade Materna no Brasil

Mortalidade materna volta a subir, leia mais

A taxa de mortalidade materna é o número anual de mortes femininas por 100.000 nascidos vivos, de qualquer causa, relacionada ou agravada pela gravidez ou seu manejo (excluindo causas acidentais ou incidentais). Inclui mortes durante a gravidez, parto, ou dentro de 42 dias após o término da gravidez, independentemente da duração e do local da gravidez, por um ano específico.

As causas de mortalidade materna se dividem em causas indiretas e causas diretas. As indiretas ocorrem por doenças pré-existentes e desencadeadas ou agravadas pela gestação, e as diretas ocorrem por complicações durante a gravidez, parto ou puerpério. As causas diretas ocorrem por intervenções inadequadas, omissões e tratamento incorreto. Elas são evitáveis em 92% dos casos e estão relacionadas a casos de hipertensão arterial, hemorragias, aborto e infecções no pós-parto. Uma contenção no número de cesáreas sem indicação médica teria um impacto nas causas por hemorragia e infecções no pós-parto, já que a cesárea está associada a maiores taxas dessas complicações.

Devido a uma elevada taxa de mortalidade materna e de complicações relacionadas a esses partos partos com intervenções desnecessárias, houve uma mobilização de grupos que, apoiados pela OMS, se organizaram para sistematizar os estudos de eficácia e segurança das intervenções na assistência à gravidez, parto e pós-parto, surgindo a partir disso o movimento pela Medicina Baseada em Evidências, que desenvolveu a metodologia de revisão sistemática através de uma colaboração internacional.

Como resultado dessa colaboração, a Organização Pan-Americana da Saúde – OPAS e a OMS realizaram uma conferência sobre tecnologia apropriada no parto com recomendações de práticas assistenciais benéficas e abandono de técnicas maléficas, juntamente com as taxas recomendadas de cesáreas, que devem ser de 10 a 15% dos partos.

As recomendações dessa conferência resultaram em uma cartilha, que tem sido atualizada e revista periodicamente, sendo a última versão de 2018. Nela estão relacionadas as práticas desnecessárias utilizadas anteriormente como rotina.

Abaixo, as práticas consideradas pela OMS desnecessárias ou prejudiciais na assistência ao parto:

  • Lavagem instestinal;
  • Raspagem dos pelos pubianos;
  • Soro de rotina;
  • Jejum durante o trabalho de parto;
  • Rompimento artificial da bolsa de rotina;
  • Parto em posição ginecológica;
  • Episiotomia de rotina: um corte na vagina para, supostamente, abrir passagem;
  • Manobra de Kristeller, que consiste em empurrões na barriga da gestante;
  • Aspiração das vias aéreas do recém-nascido;
  • Separação do bebê da mãe nas primeiras horas após o parto.

Infelizmente, muitas dessas práticas prejudiciais ou desnecessárias ainda são utilizadas em alguns partos.

 

Versão Cefálica Externa (VCE)

A apresentação pélvica é uma variante da situação ou posição longitudinal do feto onde o polo pélvico (bumbum) é o primeiro que se apresenta na bacia materna. A incidência diminui conforme a gravidez evolui até o termo (período de 37 a 42 semanas). Com 28 semanas, 25% dos bebês estão em apresentação pélvica; com 32 semanas, 7%; e após 36 semanas, 3 a 4%.

Na maioria das vezes não há uma causa aparente para a apresentação pélvica, porém, alguns fatores maternos ou fetais podem contribuir para sua ocorrência.

Fatores maternos: qualquer causa de redução do espaço superior ou inferior do útero, como a presença de tumores (miomas por exemplo), implantação cornual da placenta, anomalias uterinas e pelve reduzida.

Fatores fetais: oligoâmnio (pouco líquido, que dificulta a rotação do bebê), polidrâmnio (muito líquido, que aumenta a mobilidade fetal e o risco de trabalho de parto prematuro), anomalias fetais, placenta prévia (que cobre o colo do útero), cordão curto ou enrolado (dificultando a rotação para a apresentação cefálica), gestação múltipla e atitude fetal com as pernas esticadas em direção à cabeça (pélvico incompleto modo de nádegas).

A VCE é um procedimento que vem ressurgindo nos últimos 15 anos devido aos trabalhos que comprovaram sua segurança e sua taxa de sucesso elevada.

O que é a VCE?

A VCE é uma manobra que consiste em deixar em apresentação cefálica (de cabeça pra baixo) um bebê que estava em apresentação pélvica (sentado) ou transversa (atravessado) na gravidez próxima ao termo (nono mês), aumentando as chances de um parto normal de um bebê cefálico.

O que é a VCE?

Por que fazer?

A taxa de versão espontânea em nulíparas (mulheres que nunca pariram) após 36 sem é de 8% e a taxa de sucesso de VCE no termo é de 30 a 80% (média de 58%).

Ela reduz pela metade o número de bebês não cefálicos no termo e aumenta a possibilidade de um parto normal (1).

Porém, mesmo nos casos de VCE bem-sucedida, o índice de cesárea é de 2 a 3 vezes maior do que em mulheres com bebês em apresentação cefálica espontânea no termo. Estas cesáreas acabam ocorrendo devido a dificuldade na descida da cabeça ou por alterações na frequência cardíaca fetal (2).

Bebês submetidos a uma VCE no termo têm uma chance de 5% de voltar à apresentação pélvica.

A taxa de sucesso de VCE foi de 58% de acordo com uma revisão sistemática de 2008 incluindo 84 estudos com 12.955 VCEs a termo (3). Nesse estudo, os fatores que influenciaram nas taxas de sucesso foram:

  • Apresentação não longitudinal (bebê atravessado ou oblíquo)
  • Raça negra (tendência da apresentação fetal permanecer alta até o início do trabalho de parto)
  • Placenta com implantação posterior
  • Índice de líquido amniótico maior que 10 cm
  • Apresentação pélvica completa

A taxa de sucesso de VCE foi de 58% de acordo com uma revisão sistemática de 2008 incluindo 84 estudos com 12.955 VCEs a termo

E os fatores que dificultaram foram:

  • Nuliparidade (primeira gestação)
  • Placenta com implantação anterior, lateral ou cornual
  • Diminuição do líquido amniótico ou bolsa rota
  • Baixo peso ao nascimento
  • Pelve fetal insinuada (encaixada) na pelve materna
  • Obesidade
  • Útero tenso
  • Cabeça fetal não palpável
  • Apresentação pélvica incompleta
  • Espessura miometrial fina
fatores que dificultaram o vce

Riscos do procedimento

A pequena incidência de riscos e complicações relacionadas ao procedimento devem ser ponderadas em relação ao risco de uma apresentação pélvica persistente, incluindo risco de prolapso de cordão, provável cesárea e complicações de um parto pélvico (tanto vaginal quanto por cesárea).

A cesárea está relacionada a bem descritos riscos maternos e fetais, como taquipneia transitória do recém-nascido e trauma no parto.

Mesmo em casos de cesárea programada, complicações podem ocorrer, como o desencadeamento espontâneo de um trabalho de parto com evolução rápida e de um parto vaginal pélvico acidental.

Nesta mesma revisão sistemática citada acima, eventos adversos sérios que ocorreram após VCE, não necessariamente relacionados a VCE, foram infrequentes, justificando a recomendação de sua realização.

eventos adversos sérios que ocorreram após VCE, não necessariamente relacionados a VCE, foram infrequentes, justificando a recomendação de sua realização

Esta metanálise tem muitas limitações, pois os estudos tinham diferenças em relação ao desenho, população, técnica do procedimento e averiguação dos resultados.

Alternativas da VCE

  • Conduta expectante (não fazer nada)
  • Manobras posturais para facilitar a versão espontânea – SAIBA MAIS AQUI
  • Moxabustão
  • Acupuntura

Contra-indicações

Não há um consenso sobre as contra-indicações, mas baseado em opinião de especialistas, a VCE é contra-indicada nas seguintes situações:

Contra-indicações absolutas

  • Indicação de cesárea independente da apresentação fetal (por exemplo placenta prévia)
  • Oligoâmnio severo ou membranas rotas
  • Cardiotocografia não tranquilizadora
  • Cabeça fetal hiperextendida
  • Anomalia fetal ou uterina significante (hidrocefalia, útero septado)
  • Descolamento de placenta
  • Gestação múltipla (porém pode ser considerada para segundo gemelar durante o parto)

Contra-indicações relativas

  • Hipertensão materna
  • Obesidade materna
  • Restrição de crescimento fetal
  • Diminuição de líquido amniótico
  • Cesárea prévia (poucos dados para concluir se a VCE favoreceria nesses casos)

Pré-requisitos do procedimento

  • Ultrassom recente para confirmar a apresentação fetal, posição da placenta, volume de líquido amniótico e presença de malformação fetal ou uterina
  • Documentação do bem-estar fetal antes da tentativa de VCE
  • Consentimento informado incluindo:
    1. Por que o procedimento está sendo realizado
    2. Riscos, benefícios e alternativas
    3. Informação sobre o desconforto relacionado ao procedimento (pela manipulação da musculatura reto abdominal e ligamentos maternos)
    4. Riscos dos medicamentos que podem ser utilizados: tocolíticos, anestesia peridural ou raquidiana, imunoglobulina em casos de gestantes com tipo sanguíneo RH negativo
    5. Taxa de sucesso: 58% na revisão sistemática de 2008 com 13.000 procedimentos no termo
    6. Pequena chance do bebê desvirar e retornar à apresentação pélvica (4%)
    7. Planejamento do que fazer em caso de sucesso (indução ou alta hospitalar) ou insucesso (cesárea, nova tentativa, aguardar o início espontâneo do trabalho de parto) da VCE

Melhor momento para fazer

Existem alguns trabalhos envolvendo a VCE entre 34 e 36 semanas, mas apesar da redução da incidência de apresentação não cefálica no termo, não houve redução no índice de cesárea, sendo inconclusivos em relação ao aumento do risco de trabalho de parto prematuro.

A maioria dos guidelines das sociedades de obstetrícia oferecem para gestantes que já completaram 36-37 semanas de gravidez e que não tenham contra-indicação para o procedimento. Em caso de apresentação oblíqua ou transversa, usualmente é oferecido com 39 semanas.

As vantagens da realização próxima ao termo são o maior índice de sucesso, menor chance de reversão e o feto estar mais maduro em caso de ser necessária uma cesárea de urgência. Não há nenhuma contra-indicação específica nem limite de idade gestacional para realização de VCE após a DPP, mas dados são escassos.

VCE durante o trabalho de parto

A VCE parece ser segura para mulheres em trabalho de parto com membranas íntegras e sem contra-indicações para o procedimento.

Os benefícios teóricos de realizar nesse momento são:

  • Espera máxima pela versão espontânea
  • As condições fetais podem ser monitorizadas continuamente do procedimento até o nascimento
  • A cesárea pode ser realizada imediatamente
  • Administração de imunoglobulina pode ser postergada até o conhecimento do tipo sanguíneo do recém-nascido, nas mães de tipo sanguíneo Rh negativo

As desvantagens são:

  • Perder o melhor momento de realização de VCE se o polo pélvico se insinuar
  • A bolsa pode se romper, inviabilizando o procedimento
  • Pode ocorrer um trabalho de parto rápido

Como é realizada?

Deve ser realizada por um ou dois profissionais experientes e deve haver um acesso rápido para uma cesárea de emergência caso seja necessário. Não é necessário jejum nem acesso venoso devido à baixa taxa de complicação (salvo em casos com anestesia).

Utilizar técnicas auxiliares que aumentam a taxa de sucesso da VCE:

  • Relaxamento uterino: terbutalina 0,25 mg via subcutanea 15 a 30 minutos antes do procedimento
  • Relaxamento da musculatura abdominal: anestesia epidural ou raquidiana
  • Outros: Estímulo vibro-acústico, amnioinfusão, hidratação, analgesia, hipnose

Técnica

  • Mulher deitada confortavelmente sobre uma superfície firme
  • Realização de uma cardiotocografia
  • Confirmação da posição e apresentação fetal pela palpação
  • Lubrificar abdome materno com gel de ultrassom ou vaselina para diminuir o atrito
  • A pelve fetal é lentamente desencaixada da pelve materna inserindo as pontas dos dedos das mãos profundamente por trás da sínfise púbica materna para segurar a pelve fetal e elevá-la acima do promontório sacral. Uma vez a pelve desencaixada, mais pressão é aplicada no polo cefálico, para manter a flexão do mesmo
  • A cambalhota pode ser feita para frente ou para trás
  • Com uma das mãos, guia-se o polo pélvico em um sentido e o polo cefálico com a outra mão no sentido contrário. Leve movimento de vai e vem entre as duas mãos pode ajudar a promover a circulação fetal, mas em geral, a pressão sobre o feto deve ser lenta e constante
  • A frequência cardíaca fetal é auscultada a cada dois minutos, com interrupção do processo em caso de queda na frequência
  • Se a VCE é mal-sucedida após cinco minutos de tentativas, dar uma pausa de cerca de dois minutos antes de fazer outra tentativa. Evitar fazer mais de quatro tentativas em uma sessão

Se a VCE é mal-sucedida após cinco minutos de tentativas, dar uma pausa de cerca de dois minutos antes de fazer outra tentativa. Evitar fazer mais de quatro tentativas em uma sessão

Após o procedimento, monitorizar o bebê com cardiotocografia (pois são comuns padrões não reativos de traçado refletindo uma resposta fetal transitória ao stress) por 20 a 40 minutos após o procedimento e administrar de imunoglobulina anti Rh nas gestantes Rh negativo.

Evitar indução imediata, a não ser em casos de VCE de bebês transversos ou oblíquos, que tem maiores chances de reversão e que por esse motivo são realizadas após 39 semanas.

Em caso de insucesso da VCE, pode ser tentado novamente após um ou mais dias.

Referências bibliográficas

  1. External cephalic version for breech presentation at term. Hofmeyr GJ, Kulier R, Cochrane Database Syst Rev. 2012;10:CD000083
  2. Cesarean delivery after successful external cephalic version of breech presentation at term: a comparative study. Vézina Y, Bujold E, Varin J, Marquette GP, Boucher M, Am JObstet Gynecol. 2004;190(3):763
  3. External cephalic version-related risks: a meta-analysis. Grootscholten K, Kok M, Oei SG, Mol BW, van der Post JA, Obstet Gynecol. 2008;112(5):1143
  4. External Cephalic Version. ANDREW S. COCO, M.D., M.S., and STEPHANIE D. SILVERMAN, M.D., Lancaster General Hospital, Lancaster, Pennsylvania. Am Fam Physician. 1998 Sep 1;58(3):731-738. Link: http://www.aafp.org/afp/1998/0901/ p731.html
  5. External cephalic version and reducing the incidence of breech presentation. Royal College of Obstetricians and Gynaecologists. UK: Green Top Guideline No.20a; December 2006 (Reviewed 2010). Link: https://www.rcog.org.uk/globalassets/documents/guidelines/gt20aexternalcephalicversion.pdf