Perda do tampão, ruptura da bolsa, contrações uterinas: saiba reconhecer os sinais de que seu corpo está entrando em trabalho de parto e o momento adequado de ir para o hospital

Foto: Katia Ribeiro

Saber identificar os sinais de início do trabalho de parto é importante para se preparar e definir quando é a hora de acionar a equipe que está te acompanhando ou ir para o hospital (no caso de um parto hospitalar).

Do início do trabalho de parto até o nascimento do bebê, o corpo passa por diversos processos: as contrações uterinas vão ficando cada vez mais frequentes e intensas, o colo do útero afina e dilata até alcançar uma abertura de 10 cm e ocorre a descida do feto pela pelve materna.

Veja abaixo alguns dos indícios que revelam que seu corpo está se preparando para o início do trabalho de parto.


Saída do tampão mucoso


O tampão mucoso é uma secreção gelatinosa, produzida no início da gestação, que fica no orifício do colo do útero. Sua cor pode ser transparente, esbranquiçada, amarelada ou até mesmo avermelhada, por conta da eventual presença de sangue misturado ao muco. O tampão tem como função formar uma barreira de proteção entre o canal vaginal e o útero, impedindo que bactérias e outros microorganismos entrem em contato com o feto.

Normalmente, o tampão mucoso é expelido quando a gestação está a termo (ou seja, entre 37 e 42 semanas), e sua saída pode indicar que o colo do útero está se preparando para o trabalho de parto. No entanto, é importante ressaltar que a perda do tampão pode ocorrer semanas ou dias antes do início do trabalho de parto, e esse intervalo varia bastante de acordo com cada gestação. Por isso, recomenda-se que a mulher fique calma e preste atenção a outros sinais associados, como contrações regulares e saída de líquido amniótico pela vagina.

Perda de líquido pela vagina

A perda de líquido amniótico pela vagina indica que a “bolsa das águas” se rompeu. Normalmente, as mulheres relatam a sensação de uma grande quantidade de líquido morno escorrendo pelas pernas, com odor semelhante ao de água sanitária. Na maioria das vezes, a ruptura das membranas acontece durante a fase ativa do trabalho de parto, mas é possível ocorrer antes, ou até no momento do nascimento.

Caso a mulher ainda não esteja em trabalho de parto e perceba que sua bolsa rompeu, esse é um sinal de que as contrações devem se intensificar – mas não é preciso correr ou se desesperar. Segundo dados do Colégio Americano de Ginecologistas e Obstetras (ACOG), 80% das mulheres com ruptura precoce de membranas entrará em trabalho de parto espontâneo nas primeiras 12 horas, e 95% dentro de 24 horas. Portanto, nesses casos, é indicado que a mulher comunique sua equipe para definir os próximos cuidados, ou se dirija a um serviço de saúde para que ela e o bebê sejam avaliados. Caso o líquido apresente uma coloração escura ou tenha odor muito forte, sugestivo de infecção, deve-se procurar imediatamente o hospital.

Contrações uterinas

Foto: Kátia Ribeiro

As contrações uterinas podem ser descritas como uma sensação de enrijecimento da barriga, provocado pelo estiramento das fibras musculares, que começa na parte alta do útero e irradia para a parte baixa da barriga. Elas são responsáveis pela dilatação do colo uterino e pela descida do bebê na pelve, associadas a hormônios específicos do trabalho de parto. Tais contrações não devem ser confundidas com as “contrações de treinamento” (ou contrações de Braxton Hicks), que podem ser percebidas a partir do segundo trimestre de gestação e preparam o útero para a atividade intensa do trabalho de parto.

Mas como diferenciar as contrações de treinamento das contrações de trabalho de parto? Aqui vão algumas dicas:

  • Frequência e duração: enquanto as contrações de Braxton Hicks costumam ser irregulares e “espaçadas” umas das outras, as verdadeiras contrações ocorrem em intervalos regulares e, com o passar do tempo, ficam cada vez mais longas (maior tempo de duração) e mais frequentes (menor intervalo entre elas).
  • Intensidade: as contrações de treinamento costumam ser fracas e não aumentam sua intensidade, já as contrações de trabalho de parto ficam cada vez mais fortes.
  • Sensação de dor: as contrações de Braxton Hicks costumam ser pouco doloridas, e normalmente são sentidas na parte da frente da barriga. Elas costumam passar quando a mulher descansa ou toma um banho com água morna, por exemplo. Já as contrações de trabalho de parto continuam presentes, independente do que a gestante faça, e a dor normalmente é sentida na lombar, irradiando para a parte baixa da barriga.


Quando ir para o hospital?

Se tudo estiver correndo bem, é possível aguardar em casa até que o trabalho de parto entre na fase mais avançada (fase ativa), para então ir ao hospital. Estudos observacionais demonstram que a admissão na fase inicial do trabalho de parto está associada a maiores taxas de cesariana, maior uso de ocitocina e de antibióticos por febre materna intraparto. Já um estudo randomizado controlado comparou desfechos de mulheres admitidas na fase latente com as admitidas em fase ativa e concluiu que, nas admissões em fase ativa, as taxas de analgesia, uso de ocitocina e o tempo de permanência no hospital foram menores, enquanto a satisfação das parturientes foi maior.

Portanto, é indicado que se aproveite o início do trabalho de parto para tomar um banho, tentar descansar um pouco ou relaxar fazendo alguma atividade prazerosa.

Embora não haja consenso nesse sentido, uma das recomendações é de que a mulher procure o hospital ou avise a equipe que irá acompanhá-la quando tiver 2 a 3 contrações em 10 minutos, com duração de pelo menos 45 segundos. É possível monitorar as contrações cronometrando e anotando em um papel, ou então por meio de aplicativos para celular.

Também é importante procurar um hospital caso a gestante apresente algum sinal de alerta, como sangramento, febre ou diminuição dos movimentos fetais.

REFERÊNCIAS

ACOG. How to tell when labor begins. FAQ 004, 2011
ACOG Committee Opinion number 766 – Approaches to limit intervention during labor and birth. 2019
BRASIL. Diretriz Nacional de Assistência ao Parto Normal. Ministério da Saúde. Brasília (DF). 2016

Médica e obstetra de Parto Humanizado