Mulher durante o trabalho de parto relaxando sob o chuveiro
Foto: Katia Ribeiro

Embora muito se fale sobre as dores do parto, é possível trazer um filho ao mundo respirando profunda e lentamente, concentrada, relaxada e sentindo pouca ou nenhuma dor. E uma das maneiras de conseguir esse parto tão sereno, talvez até indolor, é utilizando o método Hypnobirthing.

O Hypnobirthing foi criado nos Estados Unidos, na década de 90, e desde então tem sido difundido pelo mundo. De acordo com os tabloides ingleses, até as duquesas Kate Middleton e Meghan Markle teriam utilizado o Hypnobirthing para dar à luz.

Hypnobirthing no Brasil

Trazido ao Brasil pela fisioterapeuta e doula Lúcia DeJu, o método tem início com um curso de 12 horas e meia de duração. Quem começa a praticar também tem um material de apoio, com áudios e leituras, para se preparar para o parto.

A instrutora recomenda começar a partir da 14ª semana, e conta que todo o conteúdo do Hypnobirthing é focado no parto, mas que muitas mulheres acabam levando as técnicas para a vida. Afinal, a capacidade de concentração e foco adquiridos durante o treinamento podem ser úteis em diferentes situações, e continuam fazendo parte do repertório da mulher depois que o bebê nasce.

Mulher de roupa preta, olhos fechados, deitada de lado, sendo amparada por integrante da equipe de assistência ao parto
Foto: Katia Ribeiro

Abaixo, Lúcia DeJu conta mais sobre o Hypnobirthing e como pode ser praticado.

Como o método funciona?
Lucia DeJu:
O Hypnobirthing é um método que envolve uma série de técnicas. A principal delas é a hipnose, mas também envolve afirmações positivas, relaxamentos conduzidos, meditações conduzidas, visualizações e algumas respirações que ajudam a gestante a se manter tranquila e relaxada durante o trabalho de parto. A ideia principal é que, relaxada, ela consegue ouvir os próprios instintos e, com o corpo funcionando muito bem, ela valida esses instintos e consegue ter um conforto e um trabalho de parto com bastante fluidez.

Como e quando começar?
Lucia DeJu:
A gente indica começar a praticar a partir da 14ª semana, porque o Hypnobirthing é bem focado na preparação para o parto, embora tenha benefícios ao longo de toda a gestação. Então a gente recomenda que inicie nesse momento em que a pessoa começa a pensar um pouco mais no parto. Ela pode fazer o curso de 12 horas e meia direcionado para gestantes e acompanhantes, mas pode começar também lendo o livro do método, que reúne todas as técnicas e explica bastante a filosofia do método, é muito legal.

A mulher deve ouvir os áudios durante o parto?
Lucia DeJu:
Uma das formas de se manter concentrada é recorrer aos áudios, mas não necessariamente. Como ela vai ter praticado muito ao longo da gestação, vai conseguir se concentrar a partir das visualizações, das afirmações positivas, sem estar sendo conduzida por um áudio.

A mulher fica de fato hipnotizada?
Lucia DeJu:
Ela fica hipnotizada, mas é importante entender o que é hipnose. É uma estratégia de foco mental, então qualquer coisa que envolve estar concentrado, prestando atenção em uma única coisa, é hipnose. Se a gestante estiver concentrada na respiração, na parte positiva daquela experiência, no relaxamento do corpo dela, na conexão com o bebê, ela fica realmente hipnotizada. E isso significa que as coisas em volta dela vão ter pouca importância, e é isso que vai ajudá-la a se manter ainda mais relaxada e permitir que o corpo funcione melhor. Quando a gente fala, por exemplo, que uma pessoa está hipnotizada pela televisão e não ouve a campainha, não vê quem passa na frente, está correto, é uma hipnose mesmo. Você escolhe colocar sua atenção em uma única coisa, e você abstrai o restante das coisas. É uma escolha, por isso que a gente fala que toda hipnose é uma auto hipnose, e você dá atenção exclusiva a uma coisa.

Como é possível que a concentração elimine a dor? O que acontece com o corpo da mulher que se preparou utilizando o hypnobirthing?
Lucia DeJu:
É possível eliminar a sensação de dor justamente porque está colocando a atenção dela em outras coisas, às vezes no relaxamento, por exemplo, e a sensação dolorosa pode desaparecer. Mas a gente acredita que não necessariamente existe a dor. Em um processo natural, um corpo saudável, um bebê saudável, não necessariamente existe a dor. Vai ser a fluidez do processo que vai garantir que a mulher vivencie essa experiência sem dor.

Um outro ponto é que se a mulher está muito relaxada, está liberando endorfina no corpo, o hormônio do bem estar. Então, quanto mais relaxada, mais endorfina, e mais sensação de bem estar. E ela conta com o efeito anestésico da endorfina, que pode ser muito útil nessa questão da dor.

Mulher grávida de biquíni, sentada no chão, de frente para um cachorro grande e peludo que delicadamente encosta o focinho na barriga dela
Foto: Katia Ribeiro

É possível usar o método em outras situações além do parto?
Lucia DeJu:
Sim, é super possível. Inclusive, muitas mulheres que utilizam no preparo para o parto costumam usar também, facilmente, em outras situações da vida, porque já entenderam as técnicas. Uma vez que você aprende a relaxar e entende que o relaxamento ajuda seu corpo a funcionar melhor, acaba sendo uma ferramenta super útil para outros momentos da vida também.

Você se lembra de alguma história marcante?
Lucia DeJu:
Eu lembro de muitas, muitas histórias! Mas uma que aconteceu recentemente foi de uma pessoa que começou o curso com 35 semanas e terminaria com 38 semanas, mas entrou em trabalho de parto com 37 semanas. Foi um susto, uma intercorrência, ela acabou precisando de uma cesárea de emergência, e essa pessoa depois me falou: ‘Foi muito bom para mim. Mesmo não sendo o parto que eu sonhei, mesmo não sendo uma situação em que eu pudesse ficar super tranquila, super feliz com o que estava acontecendo, o método e as técnicas me ajudaram muito. Eu pude permanecer tranquila, o meu corpo funcionou da melhor maneira possível’. Isso já aconteceu outras vezes e para mim é um tipo de história que anima a continuar ensinando a técnica, e que mostra que dá pra usar em outras situações além do parto natural.

O mais frequente é as pessoas se surpreenderem com a rapidez e a fluidez do trabalho de parto. Costuma ser mais tranquilo, a pessoa não costuma expressar ou sentir tanto a dor, a equipe acha que o trabalho de parto ainda não está tão evoluído, e quando vão ver, a pessoa já está no finalzinho. Mais de uma aluna teve o bebê no carro, a caminho do hospital.

Quem tiver interesse deve procurar um profissional com qual formação?
Lucia DeJu:
É importante que procure um instrutor de Hypnobirthing certificado. Eu sou a pessoa que trouxe o Hypnobirthing para o Brasil e começou a lecionar o método em português. Tem outras duas pessoas que recém se formaram, uma nos EUA e outra na Inglaterra, então também podem utilizar o método agora. E em breve vou formar outros instrutores. Então é importante ser um instrutor certificado, independente da formação de base. Mas precisa ser uma doula, enfermeira, assistente, ter um conhecimento na área de parto humanizado, e também de hipnose.

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