Ilustração: Marcella Briotto

O consumo de álcool na gravidez deve ser evitado, pois não há um nível seguro determinado, com base nos estudos atuais.

O álcool pode causar danos ao bebê, pois afeta o crescimento e o desenvolvimento fetal em todos os estágios da gravidez. Por esse motivo, sociedades médicas de vários países recomendam a abstinência alcoólica nesse período.

Evitar o consumo de álcool durante a gravidez elimina o risco de defeitos congênitos relacionados ao álcool e atrasos no desenvolvimento, incluindo problemas cognitivos e comportamentais resultantes.

Quais são as consequências do consumo do álcool na gravidez?

Não existe uma relação exata entre a quantidade de álcool consumida durante o período pré-natal e a extensão do dano causado pelo álcool na criança. No entanto, há indícios de que mesmo em pequenas quantidades a substância pode provocar danos.

Os bebês cujas mães consomem álcool durante a gravidez podem manifestar efeitos fetais do álcool, defeitos congênitos relacionados ao álcool, síndrome alcoólica fetal, ou podem estar normais.

Existe uma ampla gama de sequelas adversas em bebês expostos ao álcool. Um estudo de 2018, feito com mais de 6600 estudantes de primeira série dos Estados Unidos, relatou que a prevalência dessas sequelas variou de 1,1 a 5%.

Um estudo populacional feito com 415 mulheres na Austrália, com informações detalhadas sobre o consumo de álcool três meses antes da gravidez e para cada trimestre, sugeriu que o consumo pré-natal de álcool em pequena quantidade pode influenciar o desenvolvimento craniofacial do feto. No entanto, o significado clínico desses achados ainda é incerto.

O que dizem as pesquisas

Uma série de estudos na Dinamarca avaliou os efeitos do consumo de álcool pequeno a moderado (menos de 9 bebidas por semana) na gravidez, em resultados de desenvolvimento (QI, atenção, função executiva, função motora, comportamento), em crianças de 5 anos de idade. Os estudos não encontraram efeitos significativos do álcool nessas funções. No entanto, existem várias limitações para esses dados. Os estudos dinamarqueses não realizaram avaliações de outras complicações do álcool, e avaliaram apenas crianças pré-escolares, o que pode ser enganoso, pois essas crianças eram jovens demais para medir o impacto total que o álcool pode ter em seus cérebros.

Um estudo grande e bem projetado do estado de Washington, que acompanhou crianças até os 18 anos de idade, fez constatações diferentes. Embora metade das crianças mais velhas com Síndrome Alcoólico Fetal (SAF) exibissem escores normais de desenvolvimento ao longo do período pré-escolar, todos tinham disfunção cerebral severa confirmada aos 10 anos. Além disso, apenas 10% tinham problemas de atenção aos 5 anos, mas 60% tinham problemas de atenção aos 10 anos. Outro ponto observado foi que apenas 30% das crianças com SAF tinham um QI abaixo do normal, mas 100% tinham disfunção grave em outras áreas, como idioma, memória e nível de atividade, que o estudo dinamarquês não avaliou.

Imagem de uma gestante e de uma taça de vinho dentro de um símbolo de proibido, sugerindo que não se deve consumir álcool na gravidez

Como o álcool afeta o bebê

Padrões de consumo materno de álcool e fatores socioeconômicos e étnicos também afetam o risco de complicações. O consumo excessivo de álcool pode exercer um efeito potencialmente maior do que o consumo comparável de baixas quantidades de álcool durante vários dias (por exemplo, quatro bebidas de uma só vez versus uma bebida por dia durante quatro dias).

O álcool atravessa livremente a placenta e os níveis de álcool no sangue fetal se aproximam dos níveis maternos duas horas após a ingestão materna. A eliminação do álcool depende principalmente da capacidade metabólica materna, que varia muito entre as mulheres grávidas e pode ajudar a explicar por que quantidades semelhantes de consumo resultam em variados efeitos em bebês.

O álcool é um teratógeno com potencial para causar efeitos negativos em todas as fases da gestação. Os danos variam dependendo da quantidade e padrão de consumo de álcool, genética materna e fetal, idade materna, nutrição materna e tabagismo, entre outros fatores. As consequências mais graves da exposição pré-natal ao álcool são os efeitos físicos, mentais, comportamentais e cognitivos associados à exposição intra-uterina ao álcool.

Relação do álcool com natimortos

Em um grande estudo epidemiológico, um aumento na taxa de natimortos foi observado em todas as categorias de consumo de álcool. A taxa de morte por disfunção placentária subiu de 1,37 por 1000 nascimentos para mulheres que consomem menos de uma bebida por semana para 8,83 por 1000 nascimentos para mulheres que consomem mais ou igual a cinco doses por semana.

Álcool em pequena quantidade pode?

Há uma incerteza contínua sobre os efeitos dos níveis baixos e moderados de ingestão de álcool na gravidez. Embora vários estudos não tenham encontrado efeitos comportamentais e de desenvolvimento adversos, esses estudos apresentam várias limitações metodológicas.

Como discutido acima, um estudo relatou alterações craniofaciais com quase qualquer nível de ingestão pré-natal de álcool, mas o significado clínico dessas mudanças não é conhecido. Estudos de alta qualidade relacionados a esse tipo de bebida são necessários. Assim, não há um limiar “seguro” confirmado de exposição ao álcool durante a gravidez, e evitar o álcool pode ser a abordagem mais prudente.

A interrupção da ingestão de álcool pela mãe em qualquer momento durante a gravidez é benéfica, já que crianças nascidas de mulheres que param de beber mesmo no final da gestação têm melhores resultados do que aquelas que continuam a beber durante a gravidez.

Fonte: UpToDate, Alcohol intake and pregnancy, Grace Chang, MD, MPH, last updated: Jul 12, 2018