Ilustração: Marcella Briotto

Motivo de preocupação para algumas gestantes, a dor do parto não é igual para todas as mulheres. Ela é subjetiva, e varia de acordo com questões emocionais, motivacionais, comportamentais, sociais e culturais da mulher.

A dor do parto varia, até mesmo, entre os partos de uma mesma mulher. Fatores como posição do bebê, uso de medicamentos para acelerar o parto, ambiente e tipo de suporte para alívio da dor influenciam nessa sensibilidade.

Enquanto algumas mulheres classificam a dor do parto como insuportável, outras relatam-na como um processo tranquilo e até mesmo prazeroso. Há partos em que a mulher fica tão relaxada que sente prazer e atinge o orgasmo. Para saber mais, veja o filme Orgasmic Birth.

Muitas mulheres desejam o alívio da dor no trabalho de parto e a solicitação materna, por si só, é indicação suficiente para a analgesia de parto. Quando a analgesia é realizada adequadamente, não há aumento nos índices de cesárea. Mas é importante que, antes dela ser aplicada, outros métodos para alívio da dor sejam oferecidos. Na maioria das vezes eles cumprem bem seu papel, e evitam essa intervenção medicamentosa que não é isenta de riscos.

Quando o limiar de dor da mulher é respeitado e ela participa da tomada de decisões, escolhendo os métodos alternativos para alívio da dor ou usar ou não a analgesia, a satisfação dela com o parto tende a ser maior. Mesmo nos casos em que a dor foi considerada intensa.

Para uma experiência de parto positiva, é importante que a mulher e quem irá acompanhá-la recebam da equipe de assistência informações sobre todas as alternativas que podem ser usadas para aliviar a dor. Pois isso ajuda no melhor planejamento e preparo emocional.

Onde a dor do parto é sentida?

A dor do parto não tem um ponto certo do corpo para ser sentida e pode mudar de lugar ao longo do trabalho de parto. A origem da dor está em diferentes locais.

Na fase da dilatação, ela acontece durante as contrações. Origina-se no útero e no colo do útero e é produzida pela distensão dos receptores de dor desses locais. Além do útero, a dor do trabalho de parto pode ser percebida no abdômen, nas costas, quadril, glúteos e coxas.

Conforme o bebê desce pelo canal de parto, no final da dilatação (de 7 a 10 cm), a cabeça do bebê começa a distender o canal de parto. Com isso, a dor muda um pouco, pois o estímulo e os receptores de dor também mudam. Por esse motivo, essa costuma ser a fase mais difícil, a chamada transição entre a dilatação e o período expulsivo. É a fase em que a maioria das mulheres que precisam de analgesia vão solicitar esse recurso.

No período expulsivo (colo totalmente dilatado ou com 10 cm de dilatação), acontece um outro tipo de dor, pela distensão da vagina, do períneo e do assoalho pélvico e alongamento dos ligamentos pélvicos. Se a mulher ficou bem até aqui, raramente ela vai pensar em anestesia. Porque a distensão dos tecidos do períneo e da vagina desencadeia um reflexo para que a mulher faça força para empurrar o bebê, e isso acaba acontecendo involuntariamente. Conforme a mulher faz essa força, que chamamos de puxos, a dor é aliviada.

Foto: Lela Beltrão

Por que o alívio da dor é importante?

Uma dor além do limite da mulher que não é manejada corretamente pode provocar estresse emocional e um parto traumático. Além disso, pode desencadear alterações fisiológicas com repercussões para a mulher e para o bebê.

Quando a mulher está com essa dor excessiva, ela pode respirar mais rapidamente. Consequentemente, pode alterar o equilíbrio de oxigênio do sangue, que vai interferir também na oxigenação do bebê. Outro fator que também contribui com essa diminuição da oxigenação do bebê é a liberação de substâncias chamadas catecolaminas (adrenalina, noradrenalina e dopamina). Elas alteram a circulação sanguínea para o útero e a placenta, prejudicando a oxigenação e alterando as contrações uterinas.

Mesmo essas mudanças sendo bem toleradas em mulheres saudáveis com gestações normais, a analgesia peridural pode ser útil. Ela reverte esse desequilíbrio e diminui os níveis de adrenalina, beta-endorfinas e cortisol. Em consequência, o fluxo sanguíneo melhora e a oxigenação do bebê também.

Subjetiva, a dor do parto pode ou não ser sentida, em maior ou menor intensidade. Não é possível prevê-la. Também é difícil, para a mulher, tomar decisões durante os momentos mais intensos do trabalho de parto. Por isso, é importante que a gestante se informe, reflita e elabore um plano de parto que expresse os desejos e preferências dela, para que sejam transmitidos à equipe que acompanhará o parto.