Foto: Katia Ribeiro

Estamos acostumados a evitar situações que nos provoquem dor. Isso é natural, e uma maneira de se preservar, já que a dor é associada ao perigo e ao risco à integridade física. Mas e se conseguíssemos sentir a dor de uma outra perspectiva, sem entendê-la como algo nocivo? É o que propõe o método GentleBirth, que treina a mente da mulher para experienciar a dor e possíveis reviravoltas do parto com serenidade e resiliência.

Desenvolvido em 2006, o método GentleBirth nasceu a partir das vivências e do conhecimento científico da parteira irlandesa Tracy Donegan. Ele alia ferramentas e conteúdos de psicologia do esporte, terapia cognitivo comportamental, fisiologia do parto, mindfulness e hipnose para preparar a mulher para tudo aquilo que nossa cultura trata como amedrontador: dores, nervosismo, acontecimentos imprevisíveis e até a necessidade de realizar uma cesárea.

O método também oferece ferramentas para dormir melhor, estimular o vínculo com o bebê e lidar com outras questões mais difíceis, como a perda gestacional.

Como é o GentleBirth na prática

O primeiro passo para quem quer utilizar o método é participar de um workshop presencial. Nele, a mulher aprende mais sobre os assuntos abordados pelo método e descobre quais são seus medos e crenças limitantes relacionadas ao parto. Depois disso, vem o treinamento diário: um aplicativo que reúne sequências de áudios com diversas práticas que criam sinapses neurológicas positivas sobre os temas.

Para começar, não é preciso nem esperar o positivo no teste de gravidez. O GentleBirth tem a Jornada da Fertilidade, para ser praticada na pré-concepção. Depois que o bebê nasce, também há conteúdos focados no pós-parto.

O GentleBirth funciona mesmo?

Se você precisa de aval científico para começar, aqui vai: a University College Cork, da Irlanda, fez um estudo comparativo com 200 grávidas. Metade se preparou para o parto com aulas tradicionais, e a outra metade ouviu os áudios do GentleBirth. A constatação dos pesquisadores foi que o grupo que utilizou o método teve uma experiência de parto mais positiva, pois estava mais preparado para lidar com a dor. Além disso, as 100 mulheres da pesquisa que utilizaram o GentleBirth também precisaram de menos intervenções e puderam contar com mais apoio dos respectivos parceiros. Portanto, está cientificamente comprovado, o GentleBirth funciona.

Foto: Katia Ribeiro

Entrevista com a instrutora de GentleBirth Marianna Muradas

Abaixo, um bate-papo com a instrutora de GentleBirth Marianna Muradas, que é educadora Feldenkrais e parceira da Casa Moara.

Como é a prática do GentleBirth?
Marianna Muradas: Através do workshop presencial a gestante tem a possibilidade de se aprofundar nos temas e principalmente entender quais são seus medos e crenças limitantes relacionadas ao parto e ao medo da dor do parto. Junto com o workshop, o aplicativo possui áudios com diversas práticas para que ela crie novas sinapses neurológicas positivas sobre o tema. Não existe semana ideal para se começar a praticar, inclusive o método começa no período de pré-concepção, com a Jornada da Fertilidade, e continua no pós-parto com a Jornada de Parentalidade. É recomendado um treinamento diário das práticas, e é algo que é simples e super possível de ser incorporado numa rotina de vida corrida.

Existe uma maneira correta de ouvir os áudios?
Marianna Muradas:
Há áudios de Mindfulness, hipnoses, técnicas de respiração e afirmações. As hipnoses devem ser sempre feitas em local seguro e com tranquilidade, então recomendo sempre fazer ao ir deitar para dormir. Todas as outras podem ser realizadas durante o dia. A atenção plena é algo que conseguimos praticar durante o banho, ao lavar uma louça, tomando um café ou almoçando, por exemplo. As minhas preferidas para ouvir no trânsito ou enquanto caminho com os meus cachorros são as afirmações.

Como é o conteúdo dos áudios e como auxiliam a mulher a lidar com a dor do parto?
Marianna Muradas:
As hipnoses funcionam muito para auxiliar a mulher a lidar com as sensações do parto de uma maneira mais confortável, mudando o foco da dor, direcionando sua atenção para um outro lugar. Porém, estar em auto hipnose no parto não é estar insconsciente ou passiva. Muito pelo contrário, é apenas utilizar a habilidade de se focar plenamente para lidar melhor e com protagonismo durante todo o processo.

O GentleBirth abrange outras questões relacionadas?
Marianna Muradas:
Ele abrange outras áreas. Pois sabemos, através da neurociência, que o nosso foco altera a nossa fisiologia. Dessa maneira, há práticas para a mulher e o homem lidarem com a ansiedade quando estão tentando engravidar, para os medos relacionados ao parto, para a escolha da via de parto (natural, normal ou cesárea), para a amamentação, para a volta ao trabalho, sexualidade e parentalidade. Para casais hetero e homoafetivos.

O método funciona com todas as mulheres?
Marianna Muradas:
Todas que praticaram, mesmo quando não vivenciaram o parto idealizado, se beneficiaram do método em algum momento ou de alguma forma. Pois não há garantias de um parto rápido e indolor, e sim a construção da resiliência emocional e a conquista da habilidade de lidar melhor com as adversidades da vida. Na metodologia dizemos que controlamos só o que é controlável, e que só podemos controlar o nosso estado emocional. Compreender isso é algo que pode beneficiar a todos.

Você lembra de alguma história marcante de paciente que usou o GentleBirth?
Marianna Muradas:
Tenho tantas! Fico sempre extremamente emocionada quando recebo um relato de uma mãe que tinha vivenciado partos anteriores em que não tinha se sentindo respeitada, e teve uma experiência positiva de parto com o método. Eu também fui auxiliada pelo método na minha experiência de parto, e a lidar com o luto e uma perda gestacional anterior.
Mas uma história que me marcou demais foi de uma paciente da Dra. Andrea que, antes mesmo de eu começar a ministrar os cursos na Moara, teve um parto gemelar e tinha utilizado os áudios. A Andrea tinha me dito que ela tinha tido um parto lindo e eu erroneamente deduzi que tinha sido um parto normal. Quando ela me enviou o relato soube que foi uma cesárea intraparto de emergência, e aquela mãe estava extremamente tranquila e tinha vivido uma experiência positiva de parto. Com esse relato eu entendi que o principal objetivo é construir resiliência emocional e acolher todas as vias de parto, e que só a opinião da mãe importa sobre a sua experiência de parto.
Meses depois essa mesma mãe me escreveu contando que uma das bebês tinha passado por uma cirurgia cardíaca e que as práticas de Mindfulness do método estavam a auxiliando demais a lidar com esse grande desafio.

Marianna Muradas
Instagram: @vidafeldenkrais
Site: www.gentlebirth.com/mariannamuradas